Quem lesse a edição de 21 de Junho de 1950 do Diário de Lisboa ia deparar-se com este artigo do jornalista francês Gustave Aucouturier (1902-1985), então a trabalhar para a Agência France-Presse, onde se procedia a uma análise desenvolvida e interessante da posição dos Estados Unidos entre os seus aliados no Extremo Oriente: o Japão e as Filipinas, mas também a Formosa, onde se refugiara o governo nacionalista chinês e a Coreia do Sul, resultante da ocupação dividida da península coreana depois da Segunda Guerra Mundial. A França, representada pelos pontos de vista de Aucouturier, não era um observador inocente, afadigada como estava a travar uma guerra na Indochina. E depois havia também a questão da defesa da Europa contra uma eventual agressão soviética. Mas o que torna esta análise significativa, era algo que era desconhecido tanto do autor como dos leitores do artigo nesta data da sua publicação há precisamente 70 anos. Dali por cinco dias, a 25 de Junho, a Coreia do Norte iria invadir o Sul e iniciar a Guerra da Coreia, tornando o prolixo exercício intelectual num assunto jornalístico escaldante! Para dar uma dimensão da surpresa, cinco dias antes (20 de Junho), o secretário de Estado norte-americano da época, Dean Acheson (1893-1971), afirmara taxativamente a uma comissão de senadores, numa reunião à porta fechada, que era «improvável» que a Coreia do Norte viesse a atacar a Coreia do Sul.
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