Se na publicação anterior nos referimos à incompetência dos jornalistas em compreender a notícia - que até era bombástica, tratava-se da abdicação do Papa! - notícia essa que lhes estava a ser anunciada em latim, neste caso, mais prosaico e mais recente, a falha foi compreender o contexto em que a notícia fora anunciada originalmente: tratava-se de uma brincadeira das suas companheiras do programa da manhã... Que, como se percebe acima, foi levada absolutamente a sério por alguns órgãos que dão notícias. Estes da imagem acima são alguns dos que são tão medíocres que nem se incomodam por manter a notícia depois de ela ter sido fragorosamente desmentida. Outros apagaram-na discretamente... Adenda: abaixo, a não-notícia comentada pelas próprias protagonistas.
28 fevereiro 2023
A ABDICAÇÃO DE BENTO XVI
28 de Fevereiro de 2013. Há dez anos, às 20H00 de Roma, o papa Bento XVI renunciava às suas funções. A última vez que algo de semelhante acontecera fora 600 anos antes, em 1415, com o papa Gregório XII. Mas o mais interessante acontecera algumas semanas antes, quando o papa anunciara urbi et orbi a sua intenção de abdicar. Fizera-o a 11 desse mês, por ocasião de uma reunião em que, na agenda, constava apenas que se anunciaria qual a data para a futura cerimónia de canonização dos Mártires de Otranto. E foi nesse momento anódino que, como se observa no vídeo acima, o papa começou a ler uma declaração em latim - que, por acaso, é a língua oficial do Vaticano. O episódio serviu para revelar que entre os poucos jornalistas destacados para a cerimónia não havia nenhum com suficiente domínio dessa língua para acompanhar o discurso em directo. Foi com dificuldade que os jornalistas presentes puderam confirmar posteriormente a bomba que o papa anunciara. Por uma vez, deu para perceber as vantagens de uma sólida formação clássica (incluindo conhecimentos de teologia e latim) para os correspondentes colocados em Roma. Foi uma lição que já deve estar esquecida. Quanto às razões de saúde então também evocadas para a resignação, o tempo encarregou-se de as desmentir. Bento XVI, que faleceu recentemente em 31 de Dezembro de 2022, abdicou porque assim quis.
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27 fevereiro 2023
AS «TERNURAS POLÍTICAS» DO JORNAL PÚBLICO: O BLOCO DE ESQUERDA É UM PELUCHE FOFINHO (1)
Enquanto que o Observador é um partido político que, por conveniências estéticas, mimetiza ser um jornal (ou agora uma rádio), tenho do Público uma opinião distinta: há por lá quem pretenda fazer dele um jornal a sério. Mas nem todos. Há por lá, desde há muito, um bloco (passe o trocadilho) que demonstra ter uma ternura muito particular pelo Bloco de Esquerda. Ainda a meio deste mês, dei aqui conta dessas inquietações de um grupo selecto de jornalistas do Público - Para onde caminha o Bloco de Esquerda? Análise de Ana Sá Lopes. (Frankly my dear, I don't give a damn) E ontem à noite e hoje de manhã voltam à carga naquele mesmo jornal com um artigo sobre a apresentação da candidatura à liderança de Mariana Mortágua a que se seguiu um pop-up de Última Hora a anunciar que a mesma Mariana Mortágua estava a formalizar a candidatura à liderança do BE. (Frankly my dear, I don't give a damn) Admito que sejam outros critérios editoriais, mas por mim este arrebatamento parece-me um pouco excessivo, a notabilidade do Bloco não será assim tanta, basta tomarmos em consideração que se trata de um partido que está representado por 5 deputados em 230. E, por outro lado, para além da estridência, há a questão do rigor e da imparcialidade da notícia dentro da própria formação política. Do pouco que me interessa do assunto fica a pergunta: é só a Mariana Mortágua que se candidata à liderança do Bloco de Esquerda? Consta que não, mas o Público não esclarece e, por mim, conviria que houvesse disputa interna (e, já agora, que o Público o esclarecesse com igual destaque). É que, se havia algo que distinguia o Bloco do PCP na extrema esquerda, e que conferia alguma moralidade aos primeiros em relação aos segundos, era não se registarem aqueles unanimismos esclerosados dos 99,9%, que são tão típicos de qualquer organização comunista. Não restam dúvidas que esta candidatura de Mariana Mortágua é a candidatura institucional da continuidade no Bloco e vem na continuidade da ternura do peluche que no Público se privilegie a sua cobertura em detrimento das eventuais concorrentes.
PS - Sempre apareceu uma lista alternativa. O Público noticiou a apresentação de ambas as listas, embora, sem surpresa, o desenvolvimento seja maior na notícia da candidatura institucional (900 palavras) do que na outra (700 palavras). É o princípio de Orwell: somos todos iguais, mas há uns que são mais iguais que os outros.
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A EFEMÉRIDE ÓBVIA
27 de Fevereiro de 1933. Há 90 anos declarava-se um incêndio no Reichstag. Por muito que se tenha opinado depois disso acerca da autoria, existe hoje um consenso entre todas as análises mais confiáveis de que o autor foi um militante comunista holandês chamado Marinus van der Lubbe. O que também é consensual é a opinião de que os nazis (que haviam chegado ao poder há menos de um mês) se apoderaram com todo o oportunismo do acontecimento para o explorarem politicamente para sua vantagem e detrimento das organizações da esquerda - nomeadamente os comunistas. Eleições realizadas sob Lei Marcial (veja-se o vídeo abaixo) dificilmente poderão ser consideradas eleições livres.
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26 fevereiro 2023
ÀS PESSOAS QUE ANDAM DE MARTELO NA MÃO, TODOS OS PROBLEMAS LHES PARECEM CABEÇAS DE PREGO
É compreensível que haja temas a que se dê mais atenção que a outros. Mas não a ponto dessa fixação nos tornar obtusos ao quadro mais geral dos problemas. No caso acima, convém recordar previamente que o propósito global do Serviço Nacional de Saúde é cuidar da saúde dos portugueses. De todos os aspectos da saúde e de todos os portugueses. A questão da IVG é um desses aspectos. Mas, há que admiti-lo, nem sequer será dos mais graves e prioritários, num cenário em que, infelizmente, se tem constatado que o Sistema passa por dificuldades muito mais sérias e graves do que as de «conseguir fazer um aborto legal e gratuito no SNS». Nesse quadro mais geral do problema, quando o SNS se confronta com a recuperação de tudo o que ficou por fazer durante a pandemia (cirurgias, tratamentos, rastreios), esta fixação de algumas opinadoras no caso específico da IVG afigura-se um daqueles caprichos que nada devem às prioridades reais do sistema. Parecem-me aquelas pessoas que, porque têm um martelo na mão, abordam todas as causas que abraçam como se fossem cabeças de prego.
DENUNCIAR A PUBLICIDADE ENGANOSA
Esta fotografia, captada algures na década de 1920, é demonstrativa de como se podia denunciar a publicidade enganosa muito anos do aparecimento das redes sociais (O anúncio na porta promove um dentista indolor; o que a criança está a escrever a giz é que ele é um mentiroso).
A VITÓRIA DA «TOURADA»
26 de Fevereiro de 1973. Tem lugar no Teatro Maria Matos o já então tradicional Festival RTP da Canção que nesse ano se notabilizou pela vitória de uma canção - Tourada, cantada por Fernando Tordo - que se notabilizou na época (e desde então) pela sua letra inusitadamente atrevida. Tratava-se de uma letra de um atrevimento revisteiro, mais do que propriamente irónica, já que todos os que a escutavam percebiam as alusões feitas e, mesmo quando quem ouvia perdia a intenção original do autor (Ary dos Santos), reconstituía o sentido da alusão com outra pessoa. Exemplo: no último verso da canção - ...e diz o inteligente que acabaram as canções... - a convicção geral era que aquela referência era ao presidente do Conselho Marcello Caetano, quando afinal o visado era o antigo ministro da Educação, José Hermano Saraiva, e a forma particularmente assertiva como ele acabara uma comunicação televisiva ao país a propósito de uma crise académica de Coimbra na Primavera de 1969: «A ordem vai ser restabelecida na Universidade de Coimbra!»
De qualquer maneira, fosse o correcto ou o adaptado o sentido dado à letra, esta era de uma insolência que só costumava ser tolerada pelo aparelho de censura do regime em locais específicos (como os palcos do Parque Mayer) Neste caso, e devido à popularidade do festival e à sua transmissão televisiva, tivera uma audiência de milhões. Dentro do regime, dividiam-se opiniões, entre as personalidade mais irascíveis e o lóbi da tauromaquia, e quem pensasse que interferir no processo depois do que acontecera seria contraproducente: pior a emenda que o soneto, a propósito do que não passava de um festival de canções. Foram os últimos que prevaleceram e tinham razão: há que reconhecer que o atrevimento da letra não tinha qualquer ressonância fora de Portugal e que não incomodaram o regime, por muito que algumas histórias actuais queiram atribuir repercussões ao episódio que nunca existiram. Comprovando-o, apreciem as imagens do vídeo que serviu de apresentação da Tourada nos restantes países europeus: é um bilhete postal promovendo turisticamente o país, como acontecera nas edições precedentes.
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25 fevereiro 2023
«EU PUNHA JÁ O MOEDAS A FUNCIONAR»
Aborrecem-me estes pruridos excessivos por ocasião do falecimento de alguém que se notabilizou por algo que não é objectivamente censurável para o falecido, mas apenas inoportuno evocar. A realidade é que aquilo que terá dado mais projecção pública a José Manuel Espírito Santo foram algumas das suas intervenções como membro do conselho de administração do BES, nomeadamente esta citada abaixo, em que, perante o colapso iminente do banco, ele incentivava o primo Ricardo, a pôr o Moedas a funcionar. A história mostrou-nos que o Moedas afinal não funcionou (provavelmente o problema estava acima das suas possibilidades), mas todos percebemos que o comentário não é nada abonatório do conceito em que o actual presidente da Câmara de Lisboa era tido pela família Espírito Santo. Mas era assim mesmo, e, por muito inconveniente que pareça para Carlos Moedas, é um episódio relevante neste dia em que se anuncia o malogrado falecimento de José Manuel Espírito Santo e em que se escrevem tantas coisas simpáticas a seu respeito.
24 fevereiro 2023
O DISCURSO DE SÉRGIO SOUSA PINTO E O RESTO
Ainda a respeito do primeiro aniversário da invasão da Ucrânia, vale a pena ouvir o discurso proferido hoje por Sérgio Sousa Pinto na Assembleia da República. É um excelente orador e foi um excelente discurso, recuperando exemplos históricos que são impossíveis de refutar com seriedade. Acrescento que é também significativa a reacção que o mesmo suscita, no final, nas bancadas: para além do PS, também o PSD e a IL aplaudem-no de pé e mesmo no Chega há quem o aplauda, embora permanecendo sentado, nomeadamente André Ventura. O silêncio verifica-se no outro extremo do hemiciclo, onde tanto os deputados do Bloco como os do PCP se destacam pela apatia. Por momentos, parecem reconstituir-se ali as trincheiras da antiga Guerra Fria. Mas não, que essa já acabou. Só que estas ocasiões transformam-se numa chatice para aqueles na esquerda moderada que têm um discurso que demoniza a nova extrema-direita, enquanto procuram absolver a velha extrema-esquerda.
EXERCÍCIO DE IMAGINAÇÃO
Hoje, dia de aniversário da invasão da Ucrânia pelos russos, é um exercício de imaginação apropriado avaliar as consequência do que teria acontecido neste último ano se o inquilino da Casa Branca se chamasse Donald Trump. Na sequência da invasão russa, os norte-americanos proporiam a Zelensky e ao governo ucraniano que se refugiasse na Polónia, para que ali constituíssem um governo no exílio. Mesmo que se esboçasse uma resistência militar à invasão, os ânimos dos combatentes teria sido outro, porque o conteúdo das reacções oficiais teria sido outro. O sucesso russo teria sido muito mais provável. E caso ele tivesse acontecido, se a Rússia de Putin tivesse vencido a Ucrânia de Zelensky, o resto da Europa estaria a viver agora num clima de total insegurança, acompanhada de uma instabilidade ao nível global. Para mais, e sobrepondo-se às declarações apologéticas que facilmente se adivinham proferidas por Donald Trump, haveria a questão da dependência energética do gás russo a incentivar a acomodação entre os países europeus mais dependentes e a Rússia prepotente. E todos aqueles populistas autocratas, que se ouvem por aí a defender as posições russas, poderiam acarinhar com muito mais projecção a pessoa e o estilo autocrático de Vladimir Putin, aproveitando-se simultaneamente do isolacionismo de Donald Trump para defenderem um maior distanciamento geo-estratégico entre europeus e norte-americanos. É tudo isso que tem estado em jogo e é uma sorte para a Humanidade que o primeiro erro que Vladimir Putin cometeu foi não ter reconhecido a sua oportunidade quando a teve - com o palhaço de Donald Trump na Casa Branca.
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O CENTENÁRIO DE UMA RÚSSIA AMEAÇADORA
Hoje, 24 de Fevereiro, quando se completa precisamente um ano que a Rússia invadiu a Ucrânia, é uma oportunidade imperdível evocar esta notícia de há precisamente cem anos (24 de Fevereiro de 1923), onde o Diário de Lisboa se interrogava se a Rússia se estaria a preparar para um conflito militar. Não houve conflito mas o receio existia porque a Rússia tem uma História assente no expansionismo à custa dos países vizinhos. E não vale a pena estar a discutir os acontecimentos actuais com aqueles que argumentam pretendendo que essa História não existiu.
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23 fevereiro 2023
...AINDA O FAMOSO BALÃO CHINÊS
Finalmente o Pentágono tornou pública uma fotografia com alguma nitidez do famoso balão chinês. Trata-se de uma selfie de um piloto de avião U-2 que o sobrevoou, ao balão, de onde se pode colher uma imagem com alguma nitidez daquilo que estava dependurado por debaixo. De facto, mesmo não se percebendo para que possa servir aquela parafernália (com antenas e tudo), aquilo tem um aspecto bastante suspeito que justificará o seu abate. Este está explicado. Fica por explicar o abate dos outros balões.
ESTIMULAR A MEMÓRIA DOS LEITORES/OUVINTES DO OBSERVADOR
Neste exercício de noticiar sondagens e dar-lhes dos resultados a interpretação que for mais conveniente para os propósitos políticos de quem noticia, há que ter cuidado para não abusar do método e da (falta de) memória dos leitores. Ou bem que as sondagens têm um valor intrínseco, e as conclusões que delas eles (os da comunicação social) querem extrair são para ser comparadas, ou bem que não. Se não, então toda o conteúdo da notícia terá que ser considerado hipotético, o que não costuma ser o caso. Não é o caso do Observador que noticiava a 25 de Janeiro que o PSD estava à frente do PS pela primeira vez desde 2017 (acima). Em rigor, se o PSD estava à frente do PS deixou de estar, porque a sondagem que o mesmo Observador noticiou ontem dá-os em empate técnico. E não faz qualquer sentido noticiar que houve mais uma queda dos socialistas (abaixo). Então eles já não tinham caído tanto em Janeiro que já haviam sido ultrapassados pelo PSD?... Pela lógica das sondagens e, se os socialistas agora estão em empate técnico com o PSD, então é porque recuperaram simpatias neste último mês. Ou então, lá no Observador já nem se lembram do que haviam noticiado aqui há um mês, a propósito da sondagem anterior...
A BASE NAVAL AMERICANA DA BAÍA DE GUANTANAMO
23 de Fevereiro de 1903. Entrada em vigor do Tratado que cede em regime de aluguer intemporal a área da baía de Guantanamo, situada no sul da ilha de Cuba (veja-se o mapa acima). Ocupando uma área de 177 km², o território foi concebido originalmente para se tornar uma base naval e um depósito de carvão da Marinha dos Estados Unidos, numa época em que o carvão era o combustível dos couraçados e a autonomia destes últimos era muito reduzida quando em comparação com os padrões modernos. Mesmo tendo perdido essa razão primordial para a sua existência a partir da substituição do carvão pelo petróleo, a base manteve-se. Mas a importância da base de Guantanamo só adquiriu relevância quando, a partir de 1959, e ao contrário do que acontecera até então, passou a existir em Cuba um regime hostil aos Estados Unidos. O governo cubano tentou por todos os meios que os Estados Unidos abandonassem a base, mas as sucessivas administrações americanas recusaram-se: ao contrário de outros acordos do género, este não contempla qualquer prazo de vigência e os inquilinos persistem em continuar. Já no século XXI, a base adquiriu uma notoriedade redobrada quando foi escolhida para local de uma prisão militar que, pela peculiaridade da sua localização (não é um território dos Estados Unidos), escapa aos direitos e garantias legalmente concedidos a qualquer preso nos Estados Unidos. Ao todo, terão estado ali detidos cerca de 780 prisioneiros provindos dos mais variados países do Mundo, mas com o traço comum de serem muçulmanos. Foi mais uma daquelas iniciativas que contribuiu para o nadir reputacional por que os Estados Unidos passaram no início deste século.
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22 fevereiro 2023
DEPOIS DO MISTÉRIO DOS BALÕES NA AMÉRICA...
...temos o mistério das bolas de ferro que dão à praia no Japão. Saber do que se trata não se sabe, e quem se dispuser a ler os detalhes da notícia percebe que a bola já lá estava esquecida naquela praia há mais de um mês, antes portanto dos misteriosos balões americanos que provocaram esta última moda dos objectos misteriosos. Mas, mesmo com atraso, o que é mais importante em jornalismo já está feito: dar-lhe uma alcunha apelativa - Dragon Ball. Digam lá se o trocadilho não tem piada...
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DAS SAUDAÇÕES AO EXÉRCITO VERMELHO ÀS VAIAS AO EXÉRCITO RUSSO
O mês de Fevereiro de 1943 foi um mês em que os britânicos assinalaram de maneira particularmente efusiva o 25º aniversário do Exército Vermelho como se percebe pelas variadíssimas homenagens que o vídeo acima exibe. Essas homenagens culminaram num espectáculo que foi realizado a 21 de Fevereiro de 1943 no Royal Albert Hall, com direito a discurso de Anthony Eden (Churchill estava adoentado) e rematado com a execução de A Internacional, que era então o hino da União Soviética. No dia seguinte, há precisamente 80 anos, inspirando-se no clima vigente, o jornal londrino Daily Mail publicava a caricatura abaixo, da autoria de Leslie Gilbert Illingworth. E é por observar esta caricatura alusiva aos 25 anos do exército vermelho que me lembrei de chamar a atenção para o contraste da atitude britânica de há 80 anos e a da actualidade, quando, depois de amanhã, a 24 de Fevereiro, o exército russo também tiver uma velinha para apagar, em comemoração da sua invasão da Ucrânia...
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21 fevereiro 2023
ALFREDO BARROSO: UM CASO ÓBVIO DE NEPOTISMO
O nepotismo é muito mais praticado do que pronunciado em Portugal. Não se usa muito a palavra: favorecimento excessivo dado a sobrinhos ou outros parentes próximos em detrimento de outras pessoas mais qualificadas, especialmente no que diz respeito à nomeação para cargos. Mas quase todos conhecem o conceito, nem que seja porque já se deparam com casos flagrantes. A 21 de Fevereiro de 1978, aparecia esta notícia no Diário de Lisboa, no quadro das especulações sobre quem participaria do II Governo Constitucional. E a notícia, como se pode ler acima, era que o sobrinho (Alfredo Barroso) do tio (Mário Soares) não iria, afinal, ocupar a secretaria de Estado da Administração Regional e Local. A notícia era que o rumor que circulara não era verdade. Mas o mais engraçado era a explicação dada ao jornal pelo sobrinho do tio (que, por sinal, era o primeiro-ministro do governo). Ele tinha sido convidado mas, «dadas as implicações que a sua saída poderia levantar ao nível dos serviços do gabinete do primeiro-ministro, não fo(ra) considerada oportuna a sua inclusão no elenco do II Governo Constitucional». Ou seja, por ele, o Alfredinho até nem se importava de ter aceite o cargo, o tio é que ia sentir muito a sua falta... Claro que mentes mais retorcidas, menos ingénuas e com a clarividência dos 45 anos entretanto passados, podem não se convencer com esta versão dos acontecimentos. Se calhar não fora o tio e a falta que ele lhe fazia, bem podia ter sido o próprio Alfredo a esquivar-se. É que, nestes 45 anos que decorreram de lá até hoje, Alfredo Barroso nunca conseguiu ser grande coisa, a não ser quando esteve debaixo das asas protectoras do tio.
Uma nota final, em paralelo ao tema principal. A secretaria de Estado que Alfredo Barroso declinou veio a ser ocupada por Miranda Calha em 27 de Fevereiro seguinte. Esse mesmo dia é também o da tomada de posse do novo ministro da Administração Interna do II Governo, Jaime Gama. O ministério da Administração Interna era o que tutelava a secretaria de Estado em causa, e o primeiro titular do cargo, Alberto Oliveira e Silva, havia-se demitido menos de um mês depois de ter tomado posse. Mas este ambiente político de há 45 anos não tem nada a ver com o actual. Estas broncas eram abafadas e é por isso que há quem tenha imagens ideais do passado, que não correspondem de todo ao que aconteceu.
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20 fevereiro 2023
SOBRE O IMPACTO DA ESTUPIDEZ NA DISCUSSÃO POLÍTICA NO SÉCULO XXI
Este é um programa de rádio britânico a respeito do qual, confesso, nem me incomodei a pesquisar grande coisa. Mas tenho a desculpa de que esses esclarecimentos adicionais são dispensáveis tal o impacto do que acontece ao longo destes 18 minutos e meio. Em síntese, o anfitrião do programa (que se chama James O'Brien) está à conversa com um ouvinte (identificado como Andy), a respeito da avaliação que já se pode fazer (três anos depois - 30 de Janeiro de 2020) da saída do Reino Unido da União Europeia. O tema é interessante mas mais interessante é a forma como se processa o debate. O anfitrião tenta repetidamente (e desespera...) que o convidado - um defensor do Brexit - concretize em factos as opiniões que proclama genericamente. É um esforço árduo... e baldado. A maioria dos factos apresentados por Andy, por serem falsos e/ou incoerentes, são contraditados por James O´Brien e as explicações de Andy tornam-se num contínuo saltitar superficial de assunto em assunto, já que as opiniões de Andy, quando James lhe pede sustentação, mostram não ter qualquer consistência. O que Andy se recusa terminantemente a reconhecer é que o Reino Unido piorou com a saída da União Europeia (ao contrário do que fora prometido). O que é óbvio*. E eu lembrei-me das discussões com quem se recusava a reconhecer que Donald Trump era completamente incompetente para ocupar o cargo para o qual fora eleito; ou com quem se recusa a admitir a culpa russa, já que foi a Rússia a desencadear a actual guerra, invadindo a Ucrânia. A divergência de opiniões sempre existiu. Mas este formato estúpido e obtuso, como o de Andy, de não admitir sequer aquilo que é óbvio, no século passado era só característico dos extremos políticos, tanto de comunistas como de fascistas. No século XXI parece estar muito mais disseminado e é isso que propulsiona todo este sucesso de demagogos que se apresentam com soluções simples para problemas complexos.
* Tão óbvio que até Nigel Farage o reconhece. O que Nigel Farage faz é arranjar um outro género de desculpa para explicar o fiasco do Brexit. (que a culpa foi dos primeiro ministros conservadores - May, Johnson, Truss, Sunak - que não o implementaram devidamente...)
O PRINCÍPIO JORNALÍSTICO DO, QUANDO NÃO SE SABE NADA DO ASSUNTO MAS ELE EXCITA A CURIOSIDADE DOS LEITORES, INVENTA-SE UM BOCADINHO...
20 de Fevereiro de 1953. Com a Guerra Fria em gelo ardente, tudo o que acontecia - ou aconteceria - por detrás das muralhas do Kremlin, naquele universo misterioso-sinistro onde se acoitava Staline, era tópico que excitava a curiosidade dos leitores do lado de cá. Há precisamente 70 anos o Diário de Lisboa fiava-se nas qualificações do Daily Telegraph londrino, para destacar na sua primeira página a perspectiva de uma próxima retirada de Vyacheslav Molotov, o ministro dos Negócios Estrangeiros soviético, um dos homens do restrito círculo íntimo do ditador georgiano. A explicação parecia convincente: a fragilidade da saúde de Molotov (a caminho de completar 63 anos) que «nunca fo(ra) muito saudável», lembrara o jornal inglês. Este é um daqueles artigos de emoldurar e pendurar na parede porque tudo o que lá consta veio a ser desmentido. A curto prazo veio a ser desmentido porque Molotov não se retirou, antes pelo contrário: Staline morreu dali a duas semanas (a 5 de Março) e o fragilizado Molotov foi um dos mais proeminentes candidatos à sua sucessão, só tendo sido afastado dos círculos do poder em 1957, depois de ter perdido essa luta. Mas também é um artigo que veio a ser desmentido a longo prazo quanto à questão da fragilidade da saúde de Molotov, que veio a morrer apenas dali por mais de 33 anos, com 96 anos de idade!
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19 fevereiro 2023
A BATALHA DO PASSO DE KASSERINE
19 a 22 de Fevereiro de 1943. A batalha do Passo de Kasserine foi uma batalha travada entre tropas do Eixo e Aliadas no quadro das campanhas do Norte de África. Foi sobretudo o primeiro grande recontro militar entre unidades alemãs e norte-americanas no decurso da Segunda Guerra Mundial. E saldou-se por uma vitória táctica dos atacantes ítalo-germânicos, embora estes últimos tivessem falhado ao não alcançar o objectivo estratégico da operação, a conquista da cidade argelina de Tébessa, onde aquartelava o principal campo de abastecimento logístico dos norte-americanos. Apesar disso, as perdas materiais materiais e humanas dos Aliados foram pesadas e sentidas especialmente pelos norte-americanos que, até aí, não tinham enfrentado qualquer resistência significativa desde Novembro.
Mas, apesar da seriedade do impacto psicológico desta primeira derrota americana, o desequilíbrio de meios entre combatentes era tal que, rapidamente, os atacantes vitoriosos tiveram que retirar e os Aliados recuperaram a iniciativa. Podemos vê-los na fotografia acima, logo a 26 de Fevereiro a reconquistar o terreno perdido, progredindo cautelosamente pela estação de caminho de ferro de Kasserine por causa das minas e armadilhas deixadas para trás pelos soldados do Eixo. Uma boa sugestão de leitura que recomendo a respeito deste exército inexperiente dos Estados Unidos é este «An Army at Dawn», que se lê com muito agrado (sem tradução disponível): foi o vencedor do Prémio Pulitzer em 2003.
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OS EXERCÍCIOS DA ARTILHARIA ANTIAÉREA
Luanda, 19 de Fevereiro de 1963. A cidade angolana era palco dos primeiros «exercícios de fogos reais antiaéreos». Dois anos depois de ter sido palco das primeiras acções de subversão por parte dos movimentos nacionalistas, a capital da província ultramarina portuguesa de Angola exibia a sua capacidade de defesa contra um ataque por aeronaves. Como em outros aspectos, estas exibições do dispositivo militar português nas colónias destinavam-se mais a ser consumidas pelas populações locais e pela opinião pública doméstica, do que propriamente como intimidação aos inimigos. Concretamente, e enquanto na Guiné, como aqui já havia explicado, não havia grande utilidade para as fragatas portuguesas combaterem a hipotética marinha do PAIGC ou da FLING, em Angola as hipóteses do MPLA ou da UPA virem a constituir uma hipotética força aérea com capacidade para bombardear Luanda afiguravam-se igualmente remotas...
Uma nota final: aparentemente, nestes exercícios, havia uma extrema - e compreensível - relutância dos pilotos da Força Aérea em colaborarem como «alvos» para a afinação da pontaria dos artilheiros AA. Um elogio será devido, ao fim de todos estes anos, aquele que virá a ser um dos futuros Alto-Comissários em Angola (depois do 25 de Abril), o general Silva Cardoso, que era um bravo.
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18 fevereiro 2023
AFINAL O FRENESIM AMERICANO DE ABATER BALÕES...
...terminou num discreto anti-clímax, conforme se pode perceber pela notícia da Associated Press que abaixo se reproduz (e mais abaixo se traduz). Em suma e descontando o balão dos chineses (que havia provocado o frenesim), os americanos deitaram mais três balões abaixo e nem eles, nem os canadianos, os encontraram depois. Ficou um bocado ridículo...
«Os militares norte-americanos anunciaram que haviam encerrado as suas buscas por objectos aerotransportados que haviam sido abatidos perto de Deadhorse, no Alasca, e sobre o Lago Huron em 10 e 12 de Fevereiro.
Num comunicado divulgado esta Sexta-feira, o Northern Command americano disse que a decisão foi tomada depois de os Estados Unidos e o Canadá terem “conduzido buscas sistemáticas em cada uma das áreas, usando uma ampla variedade de recursos, incluindo imagens e sensores aéreos, sensores e inspecções de superfície e varrimentos ao subsolo, e não terem localizado destroços.
O Northern Command anunciou que os perímetros de segurança aérea e marítima foram levantados em qualquer dos locais.
Este anúncio encerrou três semanas dramáticas em que caças americanos derrubaram quatro objectos no ar - um grande balão chinês em 4 de Fevereiro e três outros objectos muito menores cerca de uma semana depois disso sobre o Canadá, o Alasca e Lago Huron. Estes serão os primeiros derrubes conhecidos, em tempo de paz, de objectos não autorizados no espaço aéreo dos Estados Unidos.»
Este anúncio encerrou três semanas dramáticas em que caças americanos derrubaram quatro objectos no ar - um grande balão chinês em 4 de Fevereiro e três outros objectos muito menores cerca de uma semana depois disso sobre o Canadá, o Alasca e Lago Huron. Estes serão os primeiros derrubes conhecidos, em tempo de paz, de objectos não autorizados no espaço aéreo dos Estados Unidos.»
«TOTALER KRIEG - KÜRZESTER KRIEG»
Republicação
18 de Fevereiro de 1943. Diante de um auditório entusiástico, mas selecionado, Joseph Goebbels, o ministro da Propaganda do III Reich, pronuncia um discurso no Palácio dos Desportos de Berlim que se celebrizará (o discurso, o palácio já era célebre...). É um dos mais famosos exercícios de propaganda de toda a Segunda Guerra Mundial - e, ao mesmo tempo, uma das peças mais insuperavelmente hipócritas do género. Depois da derrota de Stalinegrado, que só ficara conhecida no princípio do mês, o representante do Reich pretende-se institucionalmente surpreendido com esse desfecho acidental, e vem espoletar um sobressalto cívico à sociedade alemã: pois se isso aconteceu (acidentalmente), então a Alemanha irá desencadear uma guerra total (totaler krieg), que se descobriu agora ser também o melhor processo para a encurtar (kürzester krieg). Até parecia que os sangrentos vinte meses que haviam transcorrido depois da invasão da União Soviética haviam sido um fait divers... - só até Agosto de 1942, houvera 336.000 mortos, 1.127.000 feridos, 76.000 desaparecidos, milhão e meio de baixas. Mas há oitenta anos, Goebbels proclamava que só a partir daí é que a Alemanha se iria passar a empenhar a sério na Guerra - acreditasse nisso quem quisesse...
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17 fevereiro 2023
AS COREOGRAFIAS COM TRIOS DINÂMICOS, OUTROS TRIOS (QUE NÃO SE FORMAM) E O MINISTRO-SABONETE-DO-BANHO
Ontem tivemos direito a um espectáculo sobre «as medidas do Governo para a habitação». A ocasião foi cuidadosamente coreografada e as fotografias que a comunicação social publicou devidamente triadas para dar da ocasião uma sugestão de um trio dinâmico compreendendo o primeiro ministro e os dois ministros das pastas envolvidas: Finanças e Habitação (acima). Entretanto, não nos encadeando com tal produção teatral e ainda falando em trios governamentais, que é feito da sagaz sugestão da deputada socialista Alexandra Leitão (abaixo) para que a problemática negociação com os professores viesse a ser protagonizada por um outro trio de ministros? (Presidência, Educação e Finanças) A sugestão tem a qualificação de pertencer a uma anterior ministra com o pelouro da Administração Pública, portanto é alguém que conhecerá qualificadamente os meandros daquilo que estará em discussão. Que, como se sabe, transcenderá o âmbito do ministério da Educação. Assim como ontem aquilo que se apresentou transcendia em muito o âmbito do ministério da Habitação. Enfim, tudo isto só para assinalar o contraste do comportamento de Fernando Medina, que aparece de carinha laroca no trio de cima, para nos parecer que foge como o diabo da cruz do outro trio de baixo, que aquilo com os professores arrisca-se a só para dar merda. Em menos de um ano de actividade Fernando Medina conquistou para si a alcunha de ministro-sabonete-do-banho: por muito que o tentemos agarrar, o gajo escapa-se sempre banheira fora.
A FORMALIZAÇÃO DE UM PACTO ESTATUTÁRIO ASSOCIANDO OS TRÊS PAÍSES DA «PEQUENA ENTENTE»
A «Pequena Entente» fora originalmente o resultado de assinaturas de tratados bilaterais de segurança mútua assinados ao longo de 1920, 1921 e 1922 entre a Checoslováquia, a Jugoslávia e a Roménia (acima, assinaladas a verde). Todos estes três países tinham expandido as suas fronteiras (a Checoslováquia tinha mesmo surgido!) quando do final da Grande Guerra (1914-18), e isso acontecera à custa da implosão do Império Austro-Húngaro. Portanto, o receio que os associava era o perigo de um revanchismo dos países derrotados em 1918: Áustria, Hungria e, sobretudo, Alemanha. Por detrás da associação entre aqueles três países era notório o apadrinhamento da França. Durante o primeiro decénio da sua existência, a «Pequena Entente» pouco mais fora do que um protocolo diplomático «in being» (transposição de uma expressão do inglês, «fleet in beeing», com o significado de uma frota que é importante apenas por existir, sem correr o risco e a necessidade de se engajar em batalhas navais para demonstrar as suas capacidades).Só que em 1933 o comportamento da Alemanha começara a modificar-se e as previsões eram que se iria modificar ainda mais com a chegada de Adolf Hitler ao poder. A 17 de Fevereiro de 1933 era notícia a assinatura no dia anterior em Paris(!...), de um pacto de funcionamento associando os três países da «Pequena Entente». O futuro da próxima meia dúzia de anos viria a demonstrar que este reforço dos laços entre eles poucas consequências práticas teriam. E o futuro muito mais longínquo (60 anos depois) viria a expor à evidência as fragilidades de dois deles e, por consequência, da própria «Pequena Entente» como aliança defensiva: Checoslováquia e Jugoslávia desapareceram com o fim da Guerra Fria.
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16 fevereiro 2023
ESCLAREÇAMOS O QUE INTERESSA...
Recuperando um poste intitulado Falemos do que interessa... (Dezembro de 2021), eu creio já ter demonstrado quanta atenção dedico à agenda sentimental do presidente da República, nomeadamente se tiver havido alterações ao programa. Ainda no mês passado a consagrada revista de coscuvilhices Flash me dera o grato prazer de assegurar que «Marcelo Rebelo de Sousa volta(ra) para os braços de Rita, a "eterna namorada" que dá ponderação e calma ao Presidente». Era tranquilizador, tanto mais que se sentia uma corrente entre a opinião publicada que atribuía o feitio mais implicativo de Marcelo nos últimos tempos a novas influências. O primeiro-ministro António Costa também deve estar ao corrente de alguns conteúdos da Flash... Mas é esta mesma Flash que, ainda ontem, e a propósito do velório de Manuel Rocha, o marido de Fátima Campos Ferreira, publica duas fotografias da presença de Marcelo dando a mão a uma senhora de cabelo alourado. Esclareçamos isto, senhores(as) da Flash! Então, ainda há um mês voltara para a Rita e agora é outra? Será esta a tal que lhe serrazina as orelhas com as taxas de execução do PRR e depois são os ministros do Costa que apanham por tabela?
HÁ CEM ANOS FALAVA-SE DA FUTURA PONTE SOBRE O TEJO
16 de Fevereiro de 1923. Numa entrevista ao Diário de Lisboa, o ministro Domingos Pereira descrevia a futura ponte sobre o Tejo(!): uma das maiores do mundo, 16 arcos por onde poderiam passar os maiores navios... A questão que destoaria desta magnífica visão futurista do Tejo era a pasta sobraçada pelo ministro visionário: a dos Negócios Estrangeiros... O que é dificilmente compaginável com um anúncio tão empolgado de uma grandiosa obra de construção civil... Valha a verdade que, para compensar e sobre o destino de João Chagas (que era o ministro plenipotenciário em Paris), aí Domingos Pereira acertou em cheio: João Chagas não estava mesmo disposto a sair!
Porém, na edição do dia seguinte (17 de Fevereiro), aquele mesmo jornal publicava uma notícia onde era evidente o cepticismo quanto à exequibilidade da obra que arrebatara na edição anterior o ministro Domingos Pereira. Era a versão de há cem anos do polígrafo...
15 fevereiro 2023
CERTIFICADO DE VACINAÇÃO
Além de me encontrar vacinado múltiplas vezes contra a covid, gostaria de exibir este meu outro certificado de vacinação acima, comprovando que me encontro vacinado desde há muito anos contra outras doenças como seja análises políticas sobre aquilo que acontecerá ao bloco de esquerda. Quanto à resposta da pergunta acima colocada a Ana Sá Lopes, hoje, como resposta faço minhas as famosas palavras abaixo de Rhett Butler para Scarlett O'Hara em «E Tudo o Vento Levou»: Frankly, my dear, I don't give a damn!... Quanto ao palhaço João Marques de Almeida que, há oito anos e meio, profetizava o fim do bloco de esquerda, pode ser que finalmente acerte numa profecia. Que raio, um gajo não pode ser assim tão medíocre durante tanto tempo e continuar a escrever no Observador!... Ou então, pode.
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O METEORO DE CHELIABINSK
15 de Fevereiro de 2013. Vantagem constatada do avanço científico do socialismo soviético, a Rússia só bem tarde, a partir do último decénio do século XX, é que entrou na fase de popularização dos automóveis particulares. A condução na Rússia, com a profusão de acidentes de trânsito do mais bizarro possível, a que não falta o requinte exótico das estradas cobertas de neve*, tornaram-se assim numa imagem de marca da Rússia pós-soviética, popularizadas pelas imagens das câmaras de filmagem que as companhias de seguro passaram a incluir nas viaturas russas, com a finalidade de resolverem com mais celeridade os litígios em casos de acidente. É sobretudo a essas câmaras que se deve uma cobertura vídeo impar do fenómeno do meteoro de Cheliabinsk, que ocorreu há dez anos. Tivesse o fenómeno ocorrido num outro país e a inexistência de câmaras nos automóveis teria reduzido as imagens do acontecimento a uma fracção dos dez minutos de imagens que estão disponíveis acima. Embora de forma indirecta, quiçá involuntária, a Ciência deve aqui ainda alguma coisa à sociedade socialista construída por Lenine, Estaline e os seus sucessores.
* Em países com as mesmas condições meteorológicas, casos da Suécia ou da Finlândia, em vez dos acidentes espectaculares, as estradas cobertas de neve parecem responsáveis pela produção de uma série infindável de grandes condutores de competição.
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14 fevereiro 2023
IMAGENS ASSUSTADORAS
Aquilo que noutros tempos eram histórias assustadoras, obrigam, nos dias que correm, a serem acompanhadas das imagens assustadoras correspondentes, sem as quais não de pode esperar empatia do público. Estas imagens são as (do que resta) de um motor de um Boeing 777 da United Airlines que voava de São Francisco para Honolulu. O Boeing 777 tem apenas dois motores e quando a explosão ocorreu o avião voava ainda sobre pleno oceano, a cerca de 190 km do destino. Os passageiros terão passado pelos mais longos 40 minutos das suas vidas, até à aterragem de emergência. O episódio ocorreu há precisamente cinco anos. Antigamente só saberíamos dele se, por acaso, alguém conhecido fosse no avião. Hoje somos inundados por incidentes de voo do género, criando uma percepção num determinado sentido, que é o que convém a quem vive de noticiar. As estatísticas de segurança da aviação civil demonstram-nos precisamente o contrário.
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VIAGEM DE UM EXTREMO AO OUTRO DO DISPARATE
14 de Fevereiro de 1923, Quarta-Feira de cinzas. Imediatamente depois do Carnaval um dos interesses da opinião pública eram as sanções aplicadas a alguns dos foliões, como este caso acima, de 16 desses foliões mais ousados, que foram multados em 16$00 por se terem vestido de mulher para uma festa. Os incidentes do julgamento são narrados num tom indisfarçavelmente jocoso. Eram os padrões da época. Em cem anos evolui-se deste disparate acima para outro diametralmente oposto, quando um travesti invadiu uma representação teatral para protestar pelo facto de uma personagem travesti não ser protagonizada por um actor correspondente. Fica a pergunta pertinente: como é que daqui por cem anos serão apreciadas estas iniciativas que agora se consideram tão politicamente assisadas?
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13 fevereiro 2023
O NONAGÉSIMO ANIVERSÁRIO DE PAUL BIYA
13 de Fevereiro. O presidente camaronês Paul Biya festeja hoje o seu 90º aniversário. Tanto como a sua provecta idade (é o chefe de Estado mais velho do Mundo depois da morte de Isabel II de Inglaterra), o outro aspecto que o torna digno de registo consiste no facto de ocupar o cargo há mais de 40 anos, desde Novembro de 1982. Um palmarés de apego ao poder interessante, mesmo sendo inferior aos 49 anos de poder de Fidel Castro em Cuba (1959-2008), é, ainda assim, superior aos intermináveis 36 anos de poder de Oliveira Salazar cá por Portugal (1932-1968). Mesmo que a prolongada ditadura pessoal de Paul Biya nos Camarões passe desapercebida às atenções dos que travam batalhas ideológicas em prol dos extremos, brandindo o exemplo pernicioso de Salazar mas esquecendo Fidel, ou então vice versa, a questão é que o presidente camaronês passou do prazo de validade. Qualquer visita dele ao estrangeiro, ocasião em que se torna muito mais difícil preservá-lo da exposição pública numa redoma institucional, todas essas visitas redundam em momentos embaraçosos como o exibido acima, verificado há dois meses em Nova Iorque por ocasião de uma cimeira que ali teve lugar. Em suma: pobres camaroneses, que vergonha passam!
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12 fevereiro 2023
A MODA DO BALÃO, DOS BALÕES E DE OS DEITAR ABAIXO
Depois da moda do balão, a que a comunicação social americana dedicou uma semana inteira de atenções, até ele ser deitado abaixo em glória, seguiu-se a descoberta de mais balões, prenunciando um frenesim de busca e abate de balões, a fazer-me lembrar uma cena patusca do filme Gente Gira, já com uns 40 anos.
AFINAL TODOS SABIAM DO ALTAR DO PAPA...
Desta vez, e sem ser preciso Polígrafo ou caranguejola equivalente, Bernardo Ferrão demonstrou na SIC que praticamente todos os que se fizeram de desentendidos por ocasião da polémica dos custos do altar do papa, já o haviam discutido em toda a sua magnificência estética e, ainda por cima, fizeram-no à frente das câmaras de televisão. As imagens que Ferrão foi recuperar e exibir datam de 4 de Agosto de 2022 e nelas vemos (assinalados da direita para a esquerda) Carlos Moedas, Marcelo Rebelo de Sousa, Ana Catarina Mendes (seja muito justamente aparecida nesta questão de onde se tem conseguido desenfiar, Catarina!) e o senhor bispo Américo Aguiar, porventura o mais hipócrita de todos em toda esta polémica, ao reclamar-se «magoado» com o custo do empreendimento. Nas imagens só ficou a faltar a presença concordante de José Sá Fernandes mas, ao contrário do cartaz que o popularizou vai para 20 anos, há mais de uma dúzia (de anos) que se tornou evidente que o Zé, o senhor providência cautelar, nunca fez falta quando se trata de fazer coisas. Por isso é que, em todo este assunto, e porque não tem sido preciso interpor nenhuma providência cautelar, ele se tem mostrado tão útil quanto uma viola num enterro. Quanto aos outros quatro, fica deles uma imagem de irresponsabilidade e hipocrisia. Ao senhor bispo haja ao menos quem o absolva pelos pecados depois da confissão. Aos outros três não há absolvição possível: são todos políticos...
A LIBERTAÇÃO DOS PRISIONEIROS NORTE-VIETNAMITAS
12 de Fevereiro de 1973. Na sequência da assinatura dos acordos de Paz em Paris no mês anterior, procede-se à permuta dos prisioneiros de guerra. Como em tudo na Guerra do Vietname, as atenções mediáticas concentram-se no retorno dos prisioneiros norte-americanos, mas, no mesmo dia e algures na província de Quang Tri (por onde passava a zona desmilitarizada que separava o Vietname do Norte do Vietname do Sul), tem lugar o retorno de uma parte dos prisioneiros do Vietname do Norte, transportados em barcos de uma para outra margem (as unidades que se vêem do outro lado pertencem ao exército do Vietname do Sul). Esta fotografia é rara porque, se por um lado e como se disse acima, as atenções iam todas para os prisioneiros norte-americanos libertados, por outro, as fotografias da guerra que costumavam ser feitas do lado do Vietname do Norte são todas rígidas e encenadas para indisfarçáveis usos como instrumentos de propaganda. Aqui, a indisfarçável alegria dos prisioneiros ao regressarem à liberdade era tão genuíno que se dispensavam as encenações.
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11 fevereiro 2023
A PROVA DOS FACTOS
Aos Sábados, o jornal Público tem uma rubrica intitulada A Prova dos Factos onde se dedica àquele exercício tonto de validar se aquilo que apareceu publicado estaria ou não correcto. Tornou-se um hábito os órgãos de comunicação social terem uma coisa daquelas, que, como já aqui descrevi, não suscitam grande credibilidade entre o público a não ser entre os imbecis, porque nunca explicam os critérios dos assuntos que elegem para validar (a uns sobrevalorizam, outros omitem) e sobretudo porque aquilo que fazem acaba por se revelar tão superficialmente incorrecto quanto a notícia original que escolheram para validação. Também aos Sábados o mesmo jornal Público publica um artigo assinado por uma figura denominada Provedor do Leitor que analisa as reclamações apresentadas pelos leitores. De quando em vez, as reclamações incidem sobre A Prova dos Factos, como aconteceu hoje (11 de Fevereiro de 2023). E, mais do que isso, dá-se a coincidência de que, ainda há dez meses (16 de Abril de 2022), o tema do artigo de Sábado do provedor - embora fosse outro provedor - fora precisamente o mesmo, uma análise crítica de um exercício de A Prova dos Factos. O que eu convido o leitor a fazer, caso seja assinante do Público, é a proceder a uma leitura comparativa do artigo de José Manuel Barata-Feyo com o artigo de José Alberto Lemos. E depois, dispensando as ajudas daquele que assinam A Prova dos Factos, tire as suas próprias conclusões (sozinho) sobre a conduta e julgamento do provedor do leitor do Público do ano passado e em comparação com o deste ano. Eu sou contra a infantilização dos leitores. Em querendo, eles conseguem chegar sozinhos à prova dos factos.
HISTÓRIAS DA CAROCHINHA, MAS DE CAROCHINHAS VOADORAS
A notícia desta última sexta-feira é que os Estados Unidos abateram mais um objecto desconhecido no seu espaço aéreo. Tão desconhecido que não conseguem precisar se se tratava de um outro balão ou se se trataria de um drone, muito embora consigam esclarecer-nos quanto à altitude (40.000 pés) e quanto às dimensões: as de «um pequeno carro». Mas também não se informa onde terá caído e que medidas estarão em curso para recuperar os destroços d«o pequeno carro». Em contrapartida e contraste, sabe-se quase isso tudo a respeito do balão chinês, abatido no sábado passado, só que aí não se sabe nada sobre as dimensões e peso da barquinha do balão, apesar de ele ter sido acompanhado durante dias seguidos e já se terem recolhido os destroços. É impressionante o número de perguntas que ficam por responder e a incompetência dos jornalistas em assinalar o que fica por responder. Chega a ser agressivo (da nossa inteligência).
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