Ainda a propósito da “cimeira” de economistas que hoje teve lugar num hotel de Lisboa a ajudar o líder do PSD a reflectir e consolidar saídas para a crise, vale a pena relembrar que dos sete nomes que você conhece (Eduardo Catroga, João Salgueiro, Ernâni Lopes, António de Sousa, Medina Carreira, Mira Amaral e António Nogueira Leite) há quatro que já desempenharam o cargo de Ministro das Finanças. Por ordem cronológica foram eles Medina Carreira (1976-78), João Salgueiro (1981-83), Ernâni Lopes (1983-85) e Eduardo Catroga (1993-95). Ou seja, por uma questão de rigor (não estivéssemos nós a tratar de finanças...), convém especificar que eles deixaram de ocupar aquele cargo há 32, 27, 25 e 15 anos, respectivamente…
Façamos então uma suposição em jeito de brincadeira e viajemos até 23 de Julho de 1976, data da posse do 1º Governo Constitucional (acima). E, face às dificílimas condições financeiras que o nosso país então atravessava, deitemo-nos a adivinhar qual teria sido a atitude do então novo Ministro das Finanças, Henrique Medina Carreira, se os comentários públicos daqueles que o haviam precedido há 32 anos atrás, Costa Leite (Lumbrales) (1940-50), há 26 anos atrás, Artur Águedo de Oliveira (1950-1955), ou há 15 anos atrás, António Manuel Pinto Barbosa (1955-65) fossem de teor idêntico àqueles que lhe ouvimos a ele actualmente?... A começar pelo primeiro, que lhe poderia atirar em cara que, no tempo dele, a economia portuguesa até tinha superavites na Balança Comercial…
A minha filha tirou o 9º ano. Fez um esforço, mas tirou-o. Afinal, não sei para quê! Está desempregada.
Cecília Pinto, 42 anos
A frase aparece em destaque na capa do Público de hoje, por debaixo da fotografia da autora. Se ela acha que a filha fez um esforço ao cumprir a escolaridade mínima obrigatória e se a jornalista que a entrevistou (Ana Cristina Pereira) nem se apercebeu do paradoxo implícito na sua queixa (será que, com menos escolaridade, a sua filha conseguiria o emprego que assim não tem?...) , nem me sinto capaz de fazer qualquer comentário de valia a mais este preciosomomento do jornalismo...
Há um filme discreto de 1992, protagonizado por Eddie Murphy, em que este é um aldrabão simpático chamado Thomas Jefferson Johnson que, num dos seus esquemas, se apodera dos cartazes e restante material promocional de um congressista que morrera durante a campanha eleitoral. O nome do falecido era Jeff Johnson e Murphy aproveitou essa coincidência para criar o slogan: Jeff Johnson, o nome que você conhece. Acabou sendo eleito para o Congresso apenas para descobrir que era um menino naquelas lides…
Numa notícia publicada pelo Expresso ontem pode ler-se: Eduardo Catroga, João Salgueiro, Ernâni Lopes, António de Sousa, Medina Carreira, Mira Amaral e António Nogueira Leite já confirmaram a presença (n)uma "cimeira" de economistasque aceitaram o convite para ajudar o líder do PSD (Pedro Passos Coelho) a reflectir e consolidar saídas para a crise. No encontro estará também o novo vice-presidente do PSD especializado em economia e finanças, Manuel Rodrigues. O que é importante nesta notícia é, precisamente ao contrário do que acontecia com o slogan de Eddie Murphy, o nome que você não conhece: o de Manuel Rodrigues. Ele é que pode ser o protagonista da solução porque os outros nomes você conhece e todos eles, em maior ou menor grau, já apresentaram as suas receitas para salvar a humanidade o que, como escreveu Almada Negreiros, só deixou uma coisa por fazer: salvá-la. Porque se a geração dos nomes conhecidos a tivesse salvo, então todas estas "cimeiras" seriam dispensáveis…
A Batalha de Verdun foi um episódio da Primeira Guerra Mundial, uma Batalha que se travou nos arredores e pela conquista da cidade francesa do mesmo nome (acima em 1915) nos dez meses que medeiam entre Fevereiro e Dezembro de 1916. Apesar da Guerra ter sido mundial, a Batalha de Verdun foi travada apenas entre franceses e alemães e permaneceu desde aí uma espécie de questão privada entre os dois países¹. Foi uma batalha em que os dois lados se empenharam com uma determinação, uma raiva instintiva e uma capacidade de sofrimento que normalmente só se costumam encontrar nas guerras civis². É assim que o mote Não Passarão teve em Verdun a sua primeira aparição, 20 anos antes do seu emprego mais conhecido durante a Guerra Civil de Espanha (1936-39). E que aparece uma fotografia do instantâneo da morte de um soldado em acção (acima) como antepassada pioneira – e porventura mais legítima… – da mais famosa fotografia de Guerra do Século XX, de Robert Capa, sobre o Miliciano no momento da sua morte (abaixo), que foi obtida durante aquela outra Guerra Civil (1936) e que as investigações mais recentes cada vez apontam mais para que tenha sido uma fotografia encenada… Embora a fotografia de Capa seja indiscutivelmente muito melhor do ponto de vista estético, a de Verdun, que foi retirada de um filme, é muito mais rica em conteúdo. O soldado a ser atingido é aquele que aparece mais próximo da câmara, será o graduado que estaria a liderar o ataque e que, por isso mesmo, terá sido o primeiro escolhido para alvo pelos atiradores alemães, mostrando a realidade que o comando heroícopode não compensar. Ideologicamente, a Batalha de Verdun foi também isso, o fim de um certo tipo de heroísmo romântico, o que se traduziu na evolução dos heróis que produziu.
Assim, no princípio da batalha, ainda em Fevereiro de 1916, o promovido a herói era o Tenente-Coronel Émile Driant (1855-1916), que morrera em combate à frente do seu Batalhão, um oficial que também era político e deputado e que podemos ver acima com os seus grandes bigodes e os seus braços cruzados, em pose desafiadora. Mas cinco meses transcorridos, em Junho de 1916, o herói do momento já era o Comandante (Major) Sylvain Raynal (abaixo, 1867-1939) que, apesar deste seu aspecto de tio bondoso, resistira até aos limites do possível depois de cercado em Forte Vaux, antes de ter de se render aos alemães³.
Mas as minhas fotografias favoritas são aquelas que combinam a mensagem deliberada do autor a aspectos corriqueiros que lhes dão toda uma outra humanidade. Na fotografia abaixo, também tirada em Verdun em 1916, a atenção principal de quem a tirou quer-nos concentrar nos cadáveres espalhados pela borda da estrada, especialmente no mais próximo, o que perdeu as duas pernas. Porém a riqueza humana da fotografia é o soldado do lado direito, de tronco inclinado, com os braços esticados à sua frente e um olhar embaraçado para a câmara, numa postura de alguém apanhado a apertar/desapertar a braguilha…
Resolvi contribuir para essa diversão com um outro momento de bom humor eleitoral, usando um exemplar do boletim de voto distribuído aos austríacos no dia do referendo de 10 de Abril de 1938. Perguntava-se: «Concorda com a reunificação da Áustria ao Reich alemão promulgada a 13 de Março de 1938 e pretende votar no partido do nosso líder Adolf Hitler?» Uma coisa era, para já, certa: Nunca se vira uma coisa assim tão engraçada com uma bola para oSIMenormeao lado doutra tão pequenina para o não… Foi uma característica que a deve ter colocado numa situação decisiva de vantagem: 99,73% dos eleitores preferiram preencher a cruz na BOLA GRANDE... que galhofa não deve ter sido.
Há uns quatro meses atrás, contei aqui neste blogue a história sumária de Robert McNamara e do seu papel marcante como Secretário da Defesa durante a Guerra do Vietname (1961-1968). Valerá a pena relê-la para apreciar em toda a sua plenitude a ironia de uma notícia que mão amiga e atenta me fez chegar sobre a prevalência que o PowerPoint alcançou para sustentar os estudos e apresentações das situações militares nas Forças Armadas norte-americanas. Intitulado Encontrámos o Inimigo e Ele chama-se PowerPoint, o artigo do NYTimes faz uma discrição que oscila entre o sóbrio e o irónico sobre o uso e abuso daquele utilitário entre os militares norte-americanos. O exagero já chegou a um limite em que um comandante de um pelotão colocado no Iraque, quando questionado em que é que ele gastava mais tempo deu a resposta: a fazer slides de PowerPoint. Instado a responder a sério, ele disse que estava a falar a sério… Mas o clímax do absurdo atingir-se-á quando se vê um dos slides (acima) que foi apresentado pelo próprio General McChrystal quando pretendeu explicar a complexidade da estratégia militar norte-americana para o Afeganistão… De tão evidente, o próprio acabou demarcando-se da cena por que o seu Staff o estava a fazer passar, ao comentar secamente: - …e quando percebermos aquele slide todo, então é porque teremos ganho a Guerra. A audiência rebentou em gargalhadas.
Depois de os militares terem rejeitado os seus métodos há 42 anos, argumentando que a gestão de uma grande empresa e a condução de uma guerra contra-subversiva são dois negócios diferentes, Robert McNamara (que morreu no Verão passado) acaba por se ver vingado quando os quadros militares modernos caem precisamente nas mesmas armadilhas de excesso de informação que os compêndios de gestão de empresas andam há mais de uma década a tentar solucionar…
Por estes dias são muitos os postes evocativos do 25 de Abril aqui pela blogosfera. Não quero deixar de me associar à efeméride mas faço-o de uma maneira imaginativa que disfarce o atraso evidente. Por isso baptizei este poste de 24 e 26 de Abril. Poderá parecer um pouco cínico mas pretendo mostrar através de duas edições de um típico jornal de província daquela época, no caso a Gazeta das Caldas (da Rainha), como é que é da natureza humana que nestas ocasiões o povotodo acaba por estar com o MFA, mesmo aquele que não estava…
O exemplar acima data de 20 de Março de 1974, quatro dias depois da intentona fracassada que precedeu o 25 de Abril e que teve origem no Regimento de Infantaria 5, que estava sedeado precisamente nas Caldas da Rainha. O Director da Gazeta local entendeu apropriado escrever o seguinte editorial:
1. A insurreição de opereta, que partiu do aquartelamento local e inverteu ao chegar a Lisboa teve aqui a sua origem a poderia ter tido noutra qualquer instalação militar do País. Ou então os «estrategas» da inversão preferiram a cidade por estar mais próxima da capital. 2. Preocupam os caldenses o presente e o futuro do concelho ante o renome com que ficou, após a difusão do acontecimento e a infeliz escolha da urbe para ponto de partida da rebelião-farsa. 3. As autoridades civis e as forças da Ordem cumpriram mui prontamente o dever de a contrariar e a isso não ficará alheio o Governo, por certo, ao avaliar do fácil coarctar das veleidades. Os caldenses devem, pois, ficar tranquilos. 4. Nem receiem perda de prestígio da unidade militar aqui fixada, nem temam haja sido maculado o honroso passado do Regimento de Infantaria 5.
5. As Caldas e o seu regimento mantêm-se firmes. Nada buliu a honra e dignidade: nem desta “pequena pátria”, de todos nós, nem da ilustríssima unidade militar. 6. As considerações que precedem não têm, basilarmente, conteúdo político. Situam-se no campo do regionalismo, bem caldense. 7. Politicamente importa afirmar aos que, no ultramar e no estrangeiro, lerem estas linhas, sendo portugueses, que nada, absolutamente nada, aconteceu. Nas Caldas e seu termo, como pelo território do continente português, todos estamos em segurança, não há alterações da ordem pública. 8. Não suponham os nossos filhos e irmãos, que asseguram a perenidade de Portugal, que afirmam a presença lusíada além-mar e que sustentam os combates de supressão do terrorismo, haver algo mudado na retaguarda. Esta é uma rocha em que podem sentir firme apoio.
Percebe-se logo que esta Gazeta já é de depois do 25 de Abril (4 de Maio). Quase tudo o que ela contém desmente o que fora escrito na edição de cima, a começar pelo notícia principal, onde se fala da homenagem popular aos militares da arrancada de Março, a iniciativa que fora então classificada como uma rebelião-farsa. Mas o Director dispôs-se a justificar-se noutro editorial:
1. O Povo e as Forças Armadas restituíram o País à normalidade das instituições políticas. Puseram termo a um regime de excepção que usava da autoridade para restringir as liberdades naturais em vez de as garantir e tornar efectivas. 2. Tudo aconteceu por tal forma, clara, entusiástica e unânime, que é evidente ter recebido Portugal o que há muito esperava com a maior das ansiedades. 3. Aceitar e bendizer, de braços abertos, o Movimento Militar e a sua lídima representante – que é a Junta de Salvação Nacional – é um imperativo nacional em que nos integramos com fé nos destinos democráticos da Pátria e animados do propósito sincero de cooperar na redenção da comunidade lusa ao calor das liberdades cívicas. 4. Só espíritos fechados às realidades não viam que excepção não podia eternizar-se como regra e que esta – o auto-governo dum povo – é a que se encontra na normalidade de instituições erigidas por si mesmas – não impostas. Para mais foi patente a do governo deposto para resolver os grandes problemas nacionais. 5. Avulta que a Nação se mostra – e desde há anos – provida de educação cívica e dotada de capacidade para gerir os seus próprios destinos. Uma vez mais está provando isso. 6. Este é o nosso acto de fé. Ao praticá-lo lembramos as circunstâncias de pressão em que anteriormente se vivia e à qual não podíamos furtar-nos. Ao afirmar a nossa completa adesão à Proclamação da data histórica que foi a do 25 de Abril de 1974 e aos princípios aí enunciados pela Junta de Salvação Pública da presidência do General Spínola, estamos animados do ideal de introduzir no periódico caldense a estrutura adequado a torná-lo num arauto do Povo. 7. Pretendemos que Gazeta das Caldas – nascida democraticamente em 1 de Outubro de 1925 – fique aberta a todos, a dentro duma imprensa livre, sem peias de censura ou exame prévio. Pomos como penhor e aval da genuinidade do nosso querer, a boa-fé, o desinteresse e a honestidade com que sempre procedemos. Servimos sem nos servirmos.
Muito menos palavrosa que o editorial, uma pequena (mas não discreta) nota no canto superior direito da primeira página será mais explícita sobre aquilo que estava a suceder.
Através de telefonema, que teve lugar na manhã de Segunda-Feira, dia 29, o director deste jornal deu a um representante das forças democráticas caldenses garantias de integração imediata de Gazeta das Caldas no espírito e na acção da Junta de Salvação Nacional. Estão a ser cumpridos os compromissos espontaneamente assumidos.
No mesmo dia 4 de Maio de 1974, o semanário Sempre Fixe publicava um cartoon de João Abel Manta que enchia a sua primeira página.
- Não me chateie! Já disse que só lhe posso virar a casaca lá para Setembro.
Em África a morte política ainda é, frequentes vezes, o sinónimo de morte física. A fotografia acima data de Fevereiro de 2002 e passa-se em Angola. Ao fim de uma perseguição de várias décadas as forças militares governamentais angolanas haviam finalmente apanhado e liquidado Jonas Savimbi, o líder da UNITA que havia regressado à guerrilha depois de 1992. A fotografia mostra o seu cadáver sem qualquer dignidade, de meias, depois de lhe terem roubado o que calçava, e de calças em baixo, expondo umas boxers de riscas azuis e brancas. Dando-lhe o retoque político final, um dos autores da proeza exibe a bandeira vermelha e verde da UNITA com o seu famoso galo negro.
Por muito chocante que seja esta divulgação crua da fotografia com o cadáver de Jonas Savimbi, houve quem tivesse feito pior… Em meados de 1990, quando o poder governamental na Libéria se desagregara, o próprio Presidente liberiano Samuel Doe acabou por ser capturado, interrogado e torturado por um dos líderes de uma das facções que se haviam insurgido (vídeo acima). Posteriormente, foi morto e o seu cadáver exibido todo nu numa fotografia que também correu mundo (abaixo). O carácter heterogéneo do armamento exibido pelos executores (AK-47, M-16, FN) era um indício de que os captores não pertenciam a um exército regular. Nem sequer irregular. Fora obra dum gang.
Quase me dispenso de apresentar a famosíssima cena de Marilyn Monroe no filme O Pecado Mora ao Lado (The Seven Year Itch) em que ela aproveita um ventilador do metropolitano para se refrescar numa quente noite de Verão. Aquele preciso momento em que a saia branca se alça mostrando-lhe parte das pernas e fazendo-nos imaginar tudo o resto tornou-se um dos momentos icónicos do cinema. Porém, há uma certa ironia no facto de, como se vê acima, no filme nunca se ver Marilyn globalmente, imagem que apenas podemos apreciar em fotografia.
Para além disso, tendo sido tiradas várias fotografias daquele momento, criou-se a dificuldade suplementar de escolher a fotografia que verdadeiramente captará a essência daquele momento. A preferida parece ser a que inseri cima, que é a utilizada em galerias ou em posters. Mas este será mais um daqueles casos em que discordo das preferências das maiorias… Escolhi a de baixo, porque a de cima é grosseira, com uma Marilyn Monroe intrusiva, olhando directamente para nós. Ora eu acho que a sensualidade de Marily está em, recatadamente, deixar-se olhar… Prova que haverá mais quem analise a cena como eu é o facto dessa espécie de recato ter sido preservado quando 30 anos mais tarde a cena foi recreada por Kelly LeBrock no filme A Mulher de Vermelho (The Woman in Red). Claro que o branco deu lugar ao vermelho e o que antes era subtil tornou-se óbvio, nomeadamente os efeitos cómicos, de que a melhor cena será a da parte final, quando um patusco Gene Wilder de pasta e gabardina se vai colocar também em cima do ventilador e, ao som da mesma banda sonora, se tenta menear tal qual Kelly fizera…
O sistema eleitoral uninominal de maioria simples, que é usado nas eleições dos países anglo-saxónicos (acima, os resultados eleitorais das eleições britânicas de 2005) e que alguns gostariam de importar para Portugal parece ser um sistema demasiado gabado, especialmente pela proximidade entre eleitores e eleitos, para as anacrónicas distorções de representação popular que ele pode provocar. Tomemos o exemplo da simulação das próximas eleições britânicas que é apresentada no quadro abaixo: Para que os três grandes partidos concorrentes a essas eleições tivessem uma representação semelhante em número de lugares no Parlamento eleito, os Liberais Democratas (a amarelo no mapa inicial) precisariam de alcançar 37,3% dos votos, os Conservadores (a azul) 30,6% mas os Trabalhistas (a vermelho) apenas 24,2%. Ou seja, o sistema acaba por penalizar a formação que tem uma distribuição de votos mais homogénea à escala nacional (Liberais) em favor das que têm essa distribuição mais concentrada (sobretudo os Trabalhistas).
Acima, pode ver-se um exercício meu verificando qual teria sido o resultado de tal sistema eleitoral se aplicado em Portugal nas eleições constituintes de 1975, num quadro eleitoral de 121 círculos de 51.000 eleitores inscritos em média. O PS (amarelo) tê-las-ia ganho com a maioria absoluta de 75 lugares, o PPD (laranja) teria tido 41 e o PCP (vermelho) teria eleito 5. As simulações para as eleições seguintes (1976, 1979, etc.) fazem menos sentido, já que os votos dos eleitores tenderiam a adaptar-se aos candidatos favoritos em cada círculo eleitoral. Porém, vale a pena destacar quais teriam sido as consequências deste método num outro momento de grande bipolarização da vida política nacional, o das eleições de 1987 (acima). O PSD, vencedor com 50,2%, ganharia 114 lugares e o PCP, com 12,1%, concentrados no Alentejo conseguiria os restantes 7. Mas o PS, por causa da distribuição nacional dos seus 22,2% de votos não teria conseguido alcançar nenhuma representação parlamentar. É uma daquelas situações tão concretamente absurdas que tornam as divagações sobre o assunto supérfluas…
Nota: Tanto em 1975 como em 1987 o PPD/PSD teria ganho os 6 círculos insulares (3 açorianos e 3 madeirenses).
Eu nem sei bem como se designarão aquelas duas primeiras páginas interiores que existem nos álbuns clássicos (de capa dura) de Banda Desenhada. Nos de Astérix, este acaba de sovar um romano de que já só se vêm os pés enquanto na outra página Obélix com um molho de romanos amachucados debaixo do braço se queixa de fraqueza a Panoramix que se recusa a dar-lhe a poção mágica. Nos de Blake & Mortimer (à esquerda) ou de Tintin (à direita) os autores e editores optaram por uma apresentação mais clássica para essas entrecapas (chamemos-lhe assim…): quadros mostrando a galeria de personagens das várias aventuras. Noutros casos ainda, como os de Bernard Prince (à esquerda) ou de Blueberry (à direita), os temas escolhidos já tinham muito de abstracto e simbólico…
Contudo, a minha entrecapa favorita e suspeito que a de muitos os leitores que teriam a minha idade quando se iniciaram na BD é indiscutivelmente a de Michel Vaillant. O autor, Jean Graton, desenhava cabeças cúbicas que se distinguiam apenas pela cor do cabelo mas aqueles desenhos de todos aqueles automóveis da entrecapa dos seus álbuns… até davam a impressão que era fácil desenhá-los.
Anteontem o Estado português colocou duas emissões de títulos da dívida pública num valor total de 1.075 milhões de Euros, como aqui noticia muito discretamente o Jornal de Negócios. Tivesse aquela operação fracassado e a notícia sobre ela teria sido catapultada para os títulos da primeira página não só do Jornal de Negócios como dos outros jornais que não os de negócios. E indubitavelmente atrás das gordas da primeira página viriam os imbecis do costume¹ explicar que tudo se devera à clarividênciados mercados… Ora isto é seleccionar o destaque dado aos acontecimentos em função de preconceitos económicos e políticos - sobretudo políticos... Não é por ignorância, que também a há. Nem tem nada a ver com cães que mordem em homens ou homens que mordam em cães. É apenas desonestidade intelectual…
À força de o ter visto repetidamente na televisão qualquer português adulto deve ser capaz de cantar com Beatriz Costa a canção da Agulha e o Dedal que a actriz interpreta – acompanhada das instruções empolgadas de António Silva! – no filme A Canção de Lisboa (acima). Por causa do seu uso e abuso televisivo, criou-se uma certa opinião de desdém a respeito destes filmes que eu julgo ser injusta. Tomemos o caso precisamente deste filme, mas olhemos agora com uma outra atenção para aquilo que acontece antes daquele famoso quadro musical…
O júri de cinco membros estava completamente dividido quanto àquela que deveria ser eleita A costureira do bairro e é o seu presidente (António Silva) que toma o assunto decididamente em mãos com a conivência tácita dos restantes jurados: com uma absoluta falta de vergonha nomeia a própria filha que nem sequer fora uma das quatro já indicadas pelos colegas. O filme A Canção de Lisboa data já de 1933 mas certamente que alguém conhece um tipo de nepotismo muito parecido que se terá passado há pouco tempo nalgum outro canto de Portugal…
Quanto ao resto, e como costuma escrever José Pacheco Pereira (normalmente com outros objectivos…), está lá (quase) tudo. As técnicas de gestão das reuniões – como a da invocação da solenidade (Toca o hino!) para calar a contestação – devem ter evoluído muito pouco desde 1933 e há sempre que contar com a desresponsabilização que nos é inata. Aqui, nenhum dos membros do júri se atreveu depois a contestar frontalmente a decisão que fora tomada em nome deles assim como no meu poste de ontem o José Severino fora lesto a dizer … isso eu já não sei.
A consequência destes comportamentos é que, por exemplo, sejam poucos os oeirenses (que sou) que se sintam pessoalmente responsáveis por terem eleito um escroque para presidente do município ou sejam poucos os associados do Sporting (que não sou, nem sequer simpatizante) que se sintam pessoalmente responsáveis ao descobrirem que elegeram – por uma esmagadora maioria de 89,43%! – um presidente do clube que se está a revelar um pateta… Ao contrário do vídeo abaixo, parece ser sinal de sabedoria não nos dispormos a saltar assim tão facilmente, Olé! Olé!
José Severino (José Manuel Garcia Marques Severino, como ele tem o cuidado de precisar…) é um pasteleiro português injustamente esquecido. É o protótipo de um daqueles portugueses sempre deferentes e prestáveis mas rápidos a descartarem-se de responsabilidades (…isso agora eu já não sei…), com quem cometeram o engano de convidar para o programa televisivo errado, e que parece termarcado os costumes da sociedade portuguesa quando assumiu em plena televisão que podia ser aceitável reconhecer-se que nem sempre podemos perceber de tudo: …eu é mais bolos, não é?...
Falando mais a sério, a piada do sketch televisivo com Herman José e Lídia Franco é construída baseando-se no facto da entrevistadora se ter apercebido que tinha diante de si a pessoa errada. E se ela não se tivesse apercebido disso?... Foi o que aconteceu num programa da BBC há uns 4 anos atrás, quando o que parece ter começado na distracção de uma secretária, continuado por um encadeamento de erros levou a que um convidado chamado Guy Kewney, um jornalista especializado em informática, fosse substituido por Guy Goma, que estava na BBC a responder a um anúncio de emprego…
À vista desarmada, como se observa na fotografia acima, os dois Guys não têm mesmo nada a ver um com o outro (…) e torna-se quase assustador constatar que, não apenas a apresentadora, como também em toda a equipa de produção daquele programa de televisão parecia não haver ninguém que fizesse a mínima ideia sobre o assunto que se ia abordar… nem conhecesse sequer de vista o especialista convidado. E naquele caso, o assunto a tratar era a batalha judicial que as duas Apples (a construtora informática e a editora dos Beatles) estavam a travar a propósito dos respectivos logotipos (abaixo). O convidado Guy Goma, como o nosso José Severino, é que era mais bolos… Tratava-se de um imigrante congolês (falava portanto com um sotaque carregadíssimo…) que esteve convencido (até aos últimos segundos!) que tudo aquilo não passava dos procedimentos bizarros para a sua entrevista de emprego… Depois, como o prestável José Severino, resignou-se a tentar fazer o seu melhor. O irónico é que enquanto se considera que ele se terá safado na entrevista ao vivo sobre o tema que ele não dominava, acabou por fracassar no que devia dominar e na outra entrevista, pois não conseguiu o emprego…
A Entrevista: A entrevistadora (Karen Bowerman – KB): – …Guy Kewney é o editor do website de tecnologia Newswireless. O entrevistado (Guy Goma - GG) mostra uma cara de pânico. KB – Olá, muito bom dia para si. GG –Bom dia. KB – Ficou surpreendido com este veredicto… GG – Estou muito surpreendido de ver… este veredicto a chegar porque não estava à espera dele. Quando vim disseram-me outra coisa e eu vim. Foi uma grande surpresa, de qualquer forma. KB – Uma grande surpresa, pois claro. GG – Exactamente. KB – No que diz respeito aos custos envolvidos pensa que mais gente irá fazer downloads da net? GG – Na verdade se andarmos por aí vamos ver uma data de gente a fazer downloads da internet e do website e de tudo o que se quiser. Mas eu penso que, aaah, é muito melhor para o desenvolvimento e, aaah, informar as pessoas do que elas querem e criar-se a maneira mais fácil e mais rápida, se for isso que elas desejarem. KB – Parece mesmo que da maneira que a indústria da música está agora a evoluir as pessoas querem ir ao website e fazer o download da música. GG – Exactamente. Pode-se ir a qualquer lado, ao cyber café, e pode-se ir lá sacar nas calmas. Vai ser uma maneira fácil para qualquer pessoa ir buscar qualquer coisa à internet. KB – Obrigada. Muito obrigada.
Chamaram-me a atenção para o programa Sinais de Fogo da passada Segunda-Feira com a presença de Carlos Pimenta e de Henrique Neto. Há que reconhecer que o comportamento deste último foi tristíssimo. Tal como José Severino (ver o poste mais acima), também Henrique Neto no tema da energia eleera mais bolos, mas sem as desculpas de ter ido para ali por engano e da ignorância de que ia contracenar com o assertivíssimoCarlos Pimenta, aquele que transmite convicção em tudo o que afirma – mesmo nos disparates.
O pintor francês Eugène Delacroix (1798-1863) pintou a sua famosa tela A Liberdade dirigindo o Povo em, e a propósito da Revolução de, 1830. A Liberdade, personalizada na figura de Marianne, a alegoria da República Francesa, dirige aquilo que parece ser o assalto dos revoltosos de peito literalmente nu e descalça, enquanto segura a bandeira tricolor na mão direita e uma espingarda na esquerda.
Por causa daquele quadro, a presença de mulheres na vanguarda das revoluções tornou-se um tema recorrente entre os revolucionários inspirados pelos ideais vindos de França. Na Revolução republicana portuguesa de 5 de Outubro de 1910 por exemplo, podemos ver uma fotografia com a vivandeira¹ Amélia Santos a ser o centro das atenções numa das barricadas erigidas pelos revoltosos. Mas, com os franceses tradicionalmente desinteressados com aquilo que acontece em Portugal, a outra grande imagem que eles passaram a associar entre Marianne e uma revolução foi uma fotografia tirada em Maio de 1968, por ocasião dos acontecimentos de França. Trata-se de uma fotografia com detalhes interessantes: por exemplo, a protagonista, Caroline de Bandern, era… inglesa².
Na fotografia, o que domina é a expressão esfíngica e triste da Marianne, sentada aos ombros de um amigo, que parece pairar sobre um rés-do-chão popular composto de punhos cerrados, expressões militantes e palavras de ordem. Mas a bandeira de Marianne (da FLN do Vietname do Sul) nem era dela, mas do amigo que a tinha deixado subir às suas cavalitas, por causa dos pés doridos...
¹ Palavra adaptada do francês vivandière. Mulher que vende mantimentos às tropas. ²Como Daniel Cohn-Bendit era alemão.
Vale a pena ler este artigo (clicar em cima da imagem para o ampliar e ler) de Francisco Sarsfield Cabral. Porém, ao contrário daquilo que se pode deduzir pelo que escreveu o autor, tenho poucas esperanças que os protagonistas do capitalismo tenham a presciência suficiente para o conseguir reformar.
Há momentos em que se impõe escrever aquilo que apenas o decoro impediu que já se devesse ter esclarecido. Durante os últimos 36 anos a filha de Humberto Delgado, Iva, tem sido conhecida como a incansável promotora de eventos que preservem a memória do pai, actividade que merecerá o nosso maior respeito. Durante esses mesmos 36 anos, também tem havido uma espécie de pacto tácito que faz com que alguns aspectos mais controversos da vida do General assassinado pela PIDE sejam cuidadosamente referidos para a sua reputação não seja afectada.
Um desses aspectos controversos é o de como classificar o papel de Arajaryr Moreira de Campos, a brasileira que foi assassinada conjuntamente com Humberto Delgado em Villanueva del Fresno em Fevereiro de 1965, para a qual se convencionou o estatuto de secretária… O que a biografia de Humberto Delgado diz é que ele partiu para o exílio no Brasil em 1959. Em contrapartida, não há qualquer referência ao facto da família se lhe ter juntado… Nada prova, mas também nada desmente, a hipótese de Delgado ter então refeito a vida, para usar uma expressão da época… É o decoro que faz com que já não valhe a pena aprofundar essa questão, mas seria esse mesmo decoro, conjugado com a sensibilidade para a saturação alheia, que teria feito reconhecer como dispensável a enésima entrevista à viúva de Humberto Delgado, hoje com 102 anos, onde ela aparece a responder às perguntas auxiliada pela sua incontornável filha Iva… O título da entrevista é O meu marido dançava muito bem porque, na verdade, nenhuma delas lá estava, nem sequer por perto, nalguns dos momentos mais importantes da vida do General Delgado…
O dia 25 de Julho de 1909 amanhecera nublado nas costas inglesas da região de Dover. Numa das suas famosas colinas um homem agitava freneticamente uma grande bandeira tricolor, na esperança de ser visto. Do meio do nevoeiro que cobre o mar começava-se a ouvir um barulho estranho, semelhante a uma motocicleta. O homem da bandeira tornou-se mais frenético quando, de repente, quase se pareceu materializar uma frágil geringonça do meio de todo aquele nevoeiro. O piloto (Louis Blériot) viu a bandeira que de terra desesperadamente lhe agitavam, reduziu a potência do motor e fez uma aterragem que mais se assemelhou a uma queda de 20 metros, partindo não só o trem de aterragem como também uma das pás do hélice do avião ao contacto brutal com o solo, enquanto o homem da bandeira corria para auxiliar o piloto gritando entusiasmadamente Vive la France! Não existiram mais nenhumas testemunhas desse momento histórico: tratou-se da primeira travessia aérea do Canal da Mancha. Convém recordar que este voo internacional teve lugar apenas há uns 100 anos, nesta mesma ocasião em que, por causa da interdição dos voos em parte do espaço aéreo europeu durante os últimos cinco dias, se noticia já que foram cancelados 63 mil voos, afectando mais de 6 milhões de passageiros. O progresso técnico foi precisamente esse... A pretexto da travessia criou-se uma discussão que não era apenas técnica, mas também visionária e sobretudo política sobre o significado e o alcance da proeza de Louis Blériot acabara de cometer. Como acontece sempre nessas circunstâncias, havia os entusiastas e os cépticos. Mas houve certos aspectos daquela discussão que parecem manter-se estranhamente actuais. Tipicamente, no dia seguinte ao da travessia, se do lado do Canal de onde partira o aviador um dos jornais franceses noticiava Blériot atravessou a Mancha! do lado da chegada havia quem constatasse, tristemente, A Inglaterra deixou de ser uma ilha. Ideologicamente, um século pode não ser nada…
- Posso dizer a frase? - Tem de dizer a frase! - Quando o vulcão troveja fica tudo em terra. Posso pedir o disco? - Pode. - É o Drive dos Cars. Posso dedicar o disco? - Pode. - É para o Aníbal e a Maria…
Pierre Elliot Trudeau (1919-2000) foi uma daquelas personalidades de que se pode dizer com propriedade que ultrapassou o seu próprio país – o Canadá. Pierre Trudeau foi o 15º Primeiro-Ministro do seu país durante 15 anos, de uma primeira vez entre 1968 e 1979 e, depois de um interregno de um ano, entre 1980 a 1984. Trudeau era também um dos poucos membros da minoria francófona canadiana a conquistar aquele posto nos 100 anos de História com que contava o Canadá à data da sua primeira vitória eleitoral.
Na realidade, embora classificado como francófono, Pierre Trudeau era bilingue, porque a mãe, como se deduz do apelido Elliot, era de ascendência escocesa. Quanto à vitória eleitoral de Pierre Trudeau em Junho de 1968 à frente do Partido Liberal, ela foi também um fenómeno sociológico só possível naquela época, que ficou conhecido como a Trudeaumania (acima). A pacífica flower generation da Califórnia, que também se revoltara em Maio em Paris, no Canadá encantara-se com o Primeiro-Ministro, como se ele fosse uma estrela rock… Há que reconhecer que Pierre Trudeau, apesar dos seus 49 anos, e mesmo pelos padrões de hoje, continuaria a ser um político muito pouco convencional, uma verdadeira mina para os jornalistas que o acompanhavam, como quando tiraram a fotografia acima em que ele se deixa deslizar pelo corrimão de umas escadas quando se preparava para dar uma conferência de imprensa. Era esse o tipo de imagens que criava uma enorme empatia com a geração jovem porque – o tempo o veio a provar... – as suas atitudes eram mesmo genuínas. Pierre Trudeau nascera numa família abastada, o que lhe permitira adquirir uma formação académica cosmopolita, o que era raríssimo nos anos 40: além do Canadá estudara nos Estados Unidos (em Harvard), em França (SciencesPo) e em Inglaterra (LSE). Trata-se de um percurso académico que o fez aproximar-se de certas teses socialistas e durante a década de 50, no auge do Macartismo, Trudeau terá chegado mesmo a constar da lista de canadianos que estariam impedidos de entrar nos Estados Unidos por causa das suas simpatias… Mas o que o diferenciou e o tornou famoso mundialmente não terão sido as ideias mas sobretudo o seu estilo, um estilo não conformista que o fez permanecer solteiro até aos 52 anos e depois casar com uma mulher (mais acima) que era 30 anos mais nova do que ele: Margaret Sinclair, depois Trudeau. Com a nova ajuda de Margaret e dos filhos do casal, as famosas fotografias instantâneas de Pierre (acima), enriqueceram-se em temas, como foi o caso desta fotografia abaixo, tirada por ocasião da visita oficial de Trudeau a Cuba em 1976… Não é todos os dias que vemos crianças de colo co-participar em cerimónias oficiais ao lado de um Fidel Castro todo circunspecto batendo a continência… Aliás, ali se justapõem dois conceitos distintos de Revoluçõesdos anos 60¹... Mas a fotografia mais célebre de Pierre Trudeau será provavelmente a de outro instantâneo de uma pirueta dada por si no Palácio de Buckingham em 1977, mesmo por detrás da Rainha Isabel II (que, recorde-se, também é a soberana do Canadá) e do Principe Carlos, por ocasião de uma visita ao Reino Unido.
Por essa altura, já o casamento dos Trudeau tinha chegado ao fim. Embora ainda não divorciados (só o viriam a fazer em 1984), mas fiéis a eles mesmos, Margaret nem se incomodara a acompanhar o marido naquela visita oficial. Mas no fundo, a imprensa nunca os compreenderia. Ainda em Maio de 1979, na noite da derrota eleitoral que levaria Pierre a perder o cargo, só mesmo a imprensa é que se mostrava impressionada porque Margaret passara a noite a divertir-se numa discoteca nova-iorquina, numa fotografia que correu mundo. Lembrei-me de Pierre Trudeau por causa do recente episódio em que José Sócrates qualificou o comportamento da tia de Francisco Louçã no Parlamento. Quem nos dera que Sócrates fosse no resto como Trudeau, mas também este teve um problema parecido quando lhe leram nos lábios um Fuddle Duddle (uma versão benigna de Fuck Off!) a meio de um debate parlamentar. No Canadá compuseram uma canção de rock com a letra inspirada (abaixo). Em vez de pudenda indignação, creio que se devia fazer o mesmo em Portugal…
¹ Uma tem por ícone (e poster) Che Guevara, a outra Jimi Hendrix. Hoje haverá tendência para se misturarem mas convém recordar que Che não tocava guitarra e Jimi não costumava andar armado…