Cada país possui uma história diferente da sua repressão, o que quer dizer que cada país terá uma história própria para os seus exilados. Coexistindo no final da década de 1960, os exilados políticos portugueses e brasileiros possuíam características completamente distintas. Embora compartilhando as mesmas referências culturais predominantemente francófilas, os primeiros eram normalmente mais veteranos que os segundos, todos recém-chegados na sequência da progressiva soberba assumida pelo regime militar brasileiro (acima).
Porém, alguns dos exilados brasileiros possuíam uma notoriedade e popularidade que ofuscavam completamente a de qualquer dos seus homólogos portugueses. Isso tornava muito mais difícil a censura pelas autoridades brasileiras de obras sobre o exílio como é o caso de Samba de Orly, um sucesso musical de Chico Buarque (acima, a regressar ao Brasil em 1970). Orly era o nome do aeroporto internacional de Paris¹, o destino predilecto dos exilados embora, paradoxalmente, o próprio Chico Buarque tivesse optado pela Itália.
Os exilados portugueses podiam exprimir-se de uma forma muito mais melancólica do que os brasileiros, mas acabaram por ter direito aos seus dias de glória, por ocasião do 25 de Abril. O retorno dos exilados que, no Brasil e durante a década de 1970 se esteve a fazer de uma forma muito discreta e a conta-gotas, através de uma negociação individual de cada exilado com as autoridades do regime militar, tornou-se em Portugal numa enorme vaga abrangendo o regresso triunfante e simultâneo de todos os exilados.
A consequência dessa diferença é que, enquanto em Portugal o retorno dos exilados se veio a tornar num episódio com contornos exageradamente épicos (acima, os de Álvaro Cunhal – de avião – e de Mário Soares – de comboio – nos finais de Abril de 1974), no Brasil a selectividade e a discrição desse regresso o tornou dissimulado da opinião pública. Nos inícios da década de 1980 já esse assunto do regresso dos exilados se tornara pretexto para galhofa, como se pode observar pelo trecho do programa Viva o Gordo abaixo.
¹ Actualmente o principal aeroporto de Paris é o de Roissy.
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