Quando, no início da semana passada, foram divulgadas imagens vídeo de um ataque aéreo a um grupo de civis em Bagdade que tinha tido lugar em Julho de 2007, deixou-me menos impressionado o que as imagens mostram (acima) do que aquilo com que se fica da apresentação de todo o incidente: da montagem, parece que estamos a assistir a cenas de um daqueles violentos filmes de acção (com Norris, Seagal ou Vandame), sem quaisquer pausas para que possamos reflectir nas consequências – os mortos e os feridos... – dos actos dos protagonistas.
Se, por um lado, nos ufanamos de estarmos a evoluir para uma sociedade que se torna cada vez mais aberta e mais desprovida de censuras oficiais, de que o aparecimento daquele vídeo é um paradigma, por outro, essa nova sociedade parece criar falsos ritmos, onde deixa de haver tempo para reflexões para a exibição das consequências da violência e da morte, nem que elas se expressem por intermédio de um cadáver de uma mula coberta de moscas, como acontece com a fotografia acima, tirada em 1943 numa estrada qualquer da Sicília durante a Segunda Guerra Mundial...
Costuma reconhecer-se que a censura mais eficaz é aquela que não aparece, a que é interiorizada de antemão por aqueles que produzem a informação. E quando temos uma informação que produz noticias onde há mortes mas não há cadáveres, está-se perante uma amenização perigosa das consequências da violência e da guerra. O mesmo fenómeno que transformou a fotografia acima, tirada em 1950 durante a Guerra da Coreia, num selo postal norte-americano evocativo de 1994, mas de onde os cadáveres à beira da estrada foram cuidadosamente removidos…
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