31 maio 2023

ADORO ESTAS HISTÓRIAS...

...porque elas demonstram quanto estes assuntos não se baseiam em qualquer critério objectivo. Portanto, o que há de esperar deles é a existência de múltiplas fraudes. Para contraste, um dos meus sommeliers preferidos só tem duas notações para o vinho que eu lhe dou a provar: ou escorrega bem ou escorrega mal. Outro dos meus sommeliers também é binário, mas atribui notações diferentes: ou o vinho é bom ou então: papá, isto é uma zurrapa! Não são apreciações sofisticadas, não há aromas nem taninos, mas sobra-lhes em honestidade o que lhes faltará em poesia, comparando-a com a desta outra apreciação a um vinho qualquer que aqui publiquei vai para mais de 15 anos:

«A pureza e sensualidade da fruta alentejana estão dentro do copo, vincadas pela personalidade da ameixa. As especiarias surgem por detrás deixando rasto a baunilha e noz-moscada, de agradável perfil, tudo avivado por uma frescura notável, equilibrada. Na boca mostra raça, estrutura, equilíbrio respeitável para quem tem 14º de corpo. Termina longo, fresco, vivo, com persistência de sabores a madeira, fruta e especiarias. Os taninos polidos, domesticados, cooperam com a acidez dando profundidade ao corpo no final de boca. Um conjunto imediato, apetecível, muito alentejano nos sabores.»

Ou seja, um chorrilho de disparates e de lugares comuns, cuja prática subsiste porque as pessoas, em geral, preferem seguir estas tretas aparentemente sofisticadas a aplicarem-se elas próprias a educar o seu paladar e a seguir os seus gostos. Poucos serão os que se dedicam a denunciar a prática, e sobretudo a mal prática, como se comprova e se denuncia neste caso belga acima. Há sempre espertalhões prontos a aproveitarem-se da estupidez alheia e nestes casos demonstra-se como é tão fácil ser-se espertalhão.

NOVA AVARIA NA SKYLAB

31 de Maio de 1973. O lançamento da estação espacial norte-americana Skylab dera-se a 14 de Maio (como se assinalou no blogue). Algumas vicissitudes haviam acontecido (repare-se acima como não existe o painel do lado esquerdo...), as equipas em terra procuravam solucionar os problemas que surgiam e era tudo isso que alimentava o noticiário.

30 maio 2023

AFINAL HAVIA OUTRO...

Ao ler o nome do artista, dei por mim a pensar que aquele comentador de TV do PSD, que pronuncia os zzzzs de uma forma muito identificativa, possuía outros predicados musicais que eram desconhecidos dos seus admiradores... Mas não, afinal este outro José Eduardo Martins tem mais de 80 anos e é brasileiro, além de não ter a reputação de possuir um temperamento algo intempestivo... No fim, fica a nota de que já nem usando três nomes as pessoas evitam o risco de serem confundidas umas com outras.

O PAPA JOÃO XXIII IRIA MORRER "CURADO"

30 de Maio de 1963. Tornou-se um padrão canónico do jornalismo que, quando as agonias das figuras públicas se arrastam por demasiado tempo sem desfecho, ou se esquece o assunto ou (como aqui acontece, já que é difícil esquecer um papa moribundo...), pega-se em tudo o que forem indícios, ainda que ténues, de recuperação, para continuar a dar um certo interesse à notícia. Neste caso de há 60 anos, depois de duas semanas de uma degradação crescente do estado de saúde do papa João XXIII, parecia que houvera uma súbita e miraculosa recuperação («...as perdas de sangue diminuem e o pulso está sereno...»;«...permitindo esperar que o desenlace fatal não sobrevirá nas próximas semanas.»). Só parecia. João XXIII virá a falecer em 3 de Junho.

29 maio 2023

A PRIMEIRA ESCALADA DO EVEREST

29 de Maio de 1953. Pela primeira vez, uma equipa de alpinistas conseguiu alcançar o cume do monte Everest, o sítio mais elevado de todo o planeta, a 8.848 metros acima do nível do mar. Os dois alpinistas que cometeram a proeza foram o neo-zelandês Edmund Hillary e o nepalês Tenzing Norgay (acima, na fotografia tirada na ocasião pelo seu companheiro de expedição). O valor simbólico da proeza pode ser avaliado pelo facto daquela ter sido a nona expedição que os britânicos haviam organizado desde 1921 para alcançar aquele mítico cume. A notícia só veio a ser conhecida quatro dias depois (2 de Junho), a tempo de ser divulgada simultaneamente com a cerimónia da coroação da rainha Isabel II, e também a tempo de ser noticiosamente ofuscada por essa coroação.

O CONCURSO DE «MISS SARAVEJO CERCADA»

29 de Maio de 1993. Tem lugar em Saravejo, capital da Bósnia, cercada pelo exército sérvio, um concurso de beleza sui-generis, intitulado «Miss Saravejo cercada». Na cerimónia final de consagração da rainha de beleza, uma jovem de 17 anos chamada Inela Nogić, em vez da coroa, ceptro e faixa, que são tradicionais na ocasião, foi exibida a faixa que se vê acima, onde se lê, em inglês, «Não os deixem matar-nos», referindo-se aos contínuos bombardeamentos de artilharia do exército sérvio que cercava a cidade há 14 meses. Embora noticiado na época, o episódio só veio a receber uma verdadeira promoção mundial dali por dois anos, por causa de uma canção intitulada Miss Saravejo juntando as interpretações de Bono (dos U2) e de Luciano Pavarotti. Mas as últimas palavras deste poste guardo-as para a própria Inela e para a honestidade da sua resposta quando perguntada acerca da canção que a celebrizou:

28 maio 2023

«MAIS QUATRO MESES POR TER GOZADO COM TODOS NÓS, MAIS OITO MESES POR CONTINUAR COM AQUELE AR CONVENCIDO A PARECER QUE NÓS É QUE LHE DEVEMOS DINHEIRO A ELE, MAIS UM ANO POR TER INVENTADO AQUELE ESQUEMA DE ESTAR DOENTE COM "ALZHEIMER"»

Para a justiça, e tanto, ou talvez pior, que um pobre que nunca gozou de qualquer graça, como aqui acima parodiam os da Porta dos Fundos, a vida também não se afigura fácil para um rico depois de ele cair em desgraça como é o caso dos Espírito Santo. Com a diferença que é socialmente aceitável manifestar simpatia pela parcialidade adversa da justiça quando se trata de desgraçados como o Washington, e não é tolerável manifestá-la quando se trata do Ricardo. Esse, presume-se já beneficiou da parcialidade favorável da justiça. E, a rematar, há ainda aquela juíza que votou vencida, que lhe queria dar mais quatro anos de prisão, quiçá por causa da gravata ser às bolinhas... 

O PRIMEIRO ENSAIO NUCLEAR PAQUISTANÊS

28 de Maio de 1998. O Paquistão realiza o seu primeiro ensaio nuclear. A detonação (subterrânea) tem lugar numa remota montanha da província do Baluchistão. Seguir-se-á um segundo ensaio, dois dias depois, noutro sítio de testes, em local desértico, mas ainda no Baluchistão. O primeiro teste fora feito utilizando bombas com urânio enriquecido, o segundo teste será com uma bomba de plutónio. Percebe-se hoje que este conjunto de ensaios era uma demonstração política da aquisição da capacidade nuclear parte do Paquistão, uma aquisição que já tivera lugar anos antes, mas que só agora em exposta, em resposta a dois ensaios nucleares que a Índia acabara de realizar entre 11 e 13 de Maio.

APOSTO QUE...

Este vídeo foi publicado há três semanas, teve, até agora, 114 mil visualizações, e descreve-nos, de uma maneira sucinta, compactada em pouco mais de 20 minutos, uma viagem aérea de Lisboa a Nova Iorque num Airbus 330 da TAP. Quem se der ao trabalho de o ver, aperceber-se-á que as conclusões são simpáticas, elogiosas, lisonjeiras mesmo, para o serviço prestado pela companhia aérea. Reconheça-se porém, que estes canais de vídeo do You Tube a respeito de viagens aéreas (1) (2) costumam ser de uma grande indulgência nas suas avaliações. Mas, não fora isso, aposto que, se as conclusões fossem as opostas, haveria quem, entre a comunicação social, já teria dado toda uma outra divulgação ao vídeo...

27 maio 2023

OS PROBLEMAS QUE SUBSISTEM DENTRO DA ÁREA DE INFLUÊNCIA RUSSA

Esta reunião teve lugar na passada Quinta-Feira, dia 25 de Maio, e agrupou, para além da Rússia tutelar, naturalmente representada por Vladimir Putin, os seus homólogos das antigas repúblicas soviéticas da Arménia, Azerbaijão, Bielorrússia, Cazaquistão, Quirguistão, Tajiquistão e Uzbequistão. O que a reunião teve de anómalo, quando estas cerimónias costumam ser cuidadosamente coreografadas, foi a intervenção inesperada do primeiro-ministro arménio, Nikol Pashinyan, que interrompeu Vladimir Putin quando este presidia, para ripostar às declarações prévias do presidente azeri, Ilham Aliyev, a respeito do conflito de Nagorno-Karabakh. É engraçado vermos Vladimir Putin, que gosta de organizar cerimónias do género onde aparece a falar grosso, a ter que assumir a voz da moderação quando são outros que aparecem a falar igualmente grosso, ainda para mais estragando-lhe a encenação da sua cerimónia. Os fracassos na Ucrânia parecem ter o seu preço...

O MOTIM DO CONTRATORPEDEIRO GREGO

Depois de ter ocorrido uma tentativa abortada para uma insurreição naval na Grécia contra a Junta dos Coronéis que tomara o poder em 1967, o capitão e os oficiais de um dos navios de guerra da Marinha grega que participava em exercícios da NATO entre a Itália e a Sardenha, o contratorpedeiro Velos, decidiram-se a pedir asilo político ao país aliado que lhes estivesse mais próximo: a Itália. A guarnição do navio fundeou-o a 3,5 milhas náuticas (6,5 km) da costa em Fiumicino (onde se situa o aeroporto de Roma) e uma delegação de três oficiais veio a terra para, a partir das instalações do aeroporto, anunciarem a sua decisão às agências noticiosas internacionais, numa conferência de imprensa encabeçada pelo capitão do navio, o Antiploiarchos (capitão de fragata) Nikolaos Pappas. Pappas, seis oficiais e vinte e cinco outros membros da tripulação anunciaram a sua intenção de pedir asilo e permanecerem na Itália como refugiados políticos. Mais do que isso, correu um documento que foi subscrito por quase todos os 170 membros do navio, que acabou por não ser apresentado por receio de retaliações para com as famílias daqueles que apenas cumpriam o seu serviço militar. O episódio tornou-se num embaraço enorme para o regime grego. As notícias da época (acima) davam um grande ênfase à inspiração monárquica da revolta - o antigo rei Constantino II da Grécia encontrava-se desde finais de 1967 no exílio. Era essa a impressão também dos dirigentes da Junta que, no seguimento deste episódio, aproveitarão a ocasião para transformar a Grécia numa república em Junho de 1973. Mas os factos futuros virão indiciar que por detrás desta iniciativa terá estado mais a oposição democrática à Junta em Atenas. A questão de regime e do envolvimento do monarca terá sido muito acessória, ao contrário do que acima se lê. O referendo de 1973 que se pronunciou a favor da república foi repetido em Dezembro de 1974, depois da queda da Junta, com outras condições de liberdade de voto e os resultados vieram a ser muito semelhantes. Nikolaos Pappas e alguns dos oficiais exilados vieram a ser readmitidos na Marinha depois da queda da Junta. Tornado numa pessoa simbólica parta a Grécia democrática por causa deste seu gesto de há 50 anos, Pappas veio a retirar-se com a patente de almirante.

O CENTENÁRIO DE HENRY KISSINGER

«Nunca, na história dos povos, tantos deveram tanto a tão poucos.» Winston Churchill terá dito isto dos pilotos da RAF em 1940, a respeito da Batalha de Inglaterra. Da minha lavra, adaptando o mesmo raciocínio e a respeito de Henry Kissinger, que hoje completa cem anos, nunca, na história do jornalismo e da propaganda, um político norte-americano terá sido tão incensado por tão pouca coisa. Comprovando ainda agora esse disparate, acima, uma revista séria como a The Economist ainda o dá como capaz de nos dar explicações sobre como evitar a Terceira Guerra Mundial. Assinalo a data porque cem anos é uma idade bonita, mas faço-o aqui no Herdeiro de Aécio como o fiz aqui há dois anos e meio com George Shultz, um sucessor de Kissinger, porventura muito mais merecedor de destaque histórico e comparativamente esquecido. Sobre o centenário de hoje, e sobre a irritante - e muito pouco merecida - promoção que desde há mais de 50 anos sobre si incide, já aqui escrevi várias coisas pouco abonatórias: (1), (2), (3).

26 maio 2023

EPISÓDIOS MERITÓRIOS DA POLÍTICA PORTUGUESA

Na sequência das conclusões do inquérito sobre as origens «da fuga de informação na Comissão Parlamentar de Inquérito à TAP», Eurico Brilhante Dias, o líder parlamentar do PS, depois de instado, acabou por apresentar umas semi-desculpas pelas acusações que fizera de que a fuga fora dali originária. Mas não foi nada disso que foi um episódio meritório da política portuguesa. O que é de elogiar - e que, mais uma vez, terá passado ao lado da comunicação social, vá-se la saber porquê... - foi a celeridade e a eficácia do relatório produzido pela equipa dirigida pela deputada socialista Alexandra Leitão para apurar a questão. Conforme se comprova pelas notícias que acima seleccionei, demorou cerca de umas duas/três semanas (canto inferior esquerdo), e chegou a conclusões cristalinas: «não ficou provado que a divulgação tenha ocorrido após a entrada» destes documentos na Assembleia da República (canto inferior direito). Acresce à conclusão, que certamente a redactora saberia que uma redacção daquelas colocaria o líder parlamentar da sua própria bancada a fazer a figura de parvo que se comprova. Mas isto é - e devia ser sempre - assim: cada qual forja a sua própria reputação. A reacção de Brilhante Dias, refutando as conclusões do inquérito baseado numa intuição, é a que é...

25 maio 2023

A CONFERÊNCIA TRIDENT EM WASHINGTON D.C.

25 de Maio de 1943. Termina uma conferência em Washington D.C., reunindo os dirigentes norte-americanos e britânicos, e que teve por objectivo decidir as opções estratégicas para o prosseguimento das operações militares da Segunda Guerra Mundial. A conferência recebeu o nome de código de Trident, pelo qual é hoje correntemente referida. Uma fotografia de conjunto, feita nos jardins da Casa Branca, mostra-nos os protagonistas: sentados, Winston Churchill e Franklin D. Roosevelt. Por detrás deles, e também da esquerda para a direita, aparece o marechal John Dill (que era o responsável pelo órgão de coordenação militar anglo-americano na capital dos Estados Unidos), o general Hastings Ismay (o assessor militar de Churchill), o marechal do Ar Charles Portal (chefe de Estado Maior da RAF), general Alan Brooke (chefe de Estado Maior do exército britânico), almirante Dudley Pound (chefe de Estado Maior da Royal Navy) e, entre os americanos, o almirante William Leahy (assessor militar de Roosevelt), o general George Marshall (chefe de Estado Maior do exército), o almirante Ernest King (chefe de Estado Maior da marinha) e o general Joseph McNarney (em representação da USAAF, ramo então ainda dependente do exército). A profusão de fardas na fotografia de conjunto não deixa quaisquer dúvidas quanto ao carácter eminentemente militar da conferência.

A CAMPANHA PROMOCIONAL DO FIAT 127

Por estes dias de há cinquenta anos, a FIAT lançava uma campanha publicitária do seu novo Fiat 127, preenchendo toda uma página de revista ou jornal submetida ao mote «já houve quem» tivesse feito algum acrescento ou modificação ao modelo acabado de lançar. Tinha impacto, pelo menos para mim.

24 maio 2023

A "MAIS HONRA" DE BRUNO DE CARVALHO

Há precisamente cinco anos apertava-se cada vez mais o cerco à presidência de Bruno de Carvalho, no Sporting. Nesse dia, o actual presidente, Frederico Varandas, apresentava-se como uma hipotética alternativa ao problemático «líder dos leões». Mostrando que para a comunicação social moderna ele há pessoas que são notícia só porque sim, Bruno de Carvalho continua a aparecer nos noticiários, embora já não tanto por causa do futebol.

23 maio 2023

«É UMA ESTÉTICA NOVA; A MIM COMOVE-ME»

Ter visitado o teatro romano de Orange em França ou a arena de Nîmes despertou-me, no local, algumas memórias das saudosas aventuras do Astérix, que aqui gostaria de compartilhar.

ARQUEOLOGIA DA APRENDIZAGEM

Em 23 de Maio de 1973, por uma primeira vez, por um capricho que hoje não consigo explicar, decidi-me a registar as datas em que consultava o meu Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, 5ª Edição («muito corrigida e aumentada»). Como se comprova pela fotografia acima, o dicionário em referência ainda existe, guardando os registos arqueológicos desses tempos longínquos. De quando em vez, para certas funções específicas (como o emprego de locuções latinas), o mesmo dicionário superioriza-se com vantagem aos seus concorrentes on-line.

22 maio 2023

LULA ESTÁ CHATEADO COM ZELENSKY E NÓS TEMOS PENA

Quando uma potência de pequena/média dimensão, como é o caso da Ucrânia, se torna a protagonista de um conflito internacional cuja dimensão a supera, tem que acautelar-se para que os seus interesses vitais não sejam sacrificados pelos grandes - e verdadeiros - protagonistas da disputa. A História está repleta de exemplos de grandes potências que estiveram dispostos a sacrificar aquilo que pertencia aos seus aliados subordinados, como expediente para apaziguar as grandes potências adversárias. No nosso caso concreto e até à Primeira Guerra Mundial e por diversas vezes, o Reino Unido mostrou-se disposto a ceder as grandes colónias portuguesas em África em benefício - e para apaziguamento - da Alemanha; mas talvez o caso mais escandaloso tenha ocorrido em Munique em 1938, quando esse mesmo Reino Unido e a França retalharam a Checoslováquia em benefício - e para apaziguamento - daquela mesma Alemanha, num processo diplomático em que a sacrificada Checoslováquia nem foi convidada a estar presente... Não é difícil deduzir que em Kyiv essa história do sacrifício de Praga de 1938 estará muito presente para não o repetir. A Ucrânia será uma potência de pequena/média dimensão, mas não muito propensa a deixar-se domesticar e muito cuidadosa para com aqueles, como o Brasil, que se arrogam uma importância política internacional que ninguém lhes parece reconhecer.

Quanto à condução da sua actividade diplomática, a prioridade de Zelensky será para com as potências que forneçam aos ucranianos meios de combate e de resistência. É por isso e para isso, cativar os países que ainda estejam verdadeiramente indecisos para a sua causa, que o presidente ucraniano andará a saltitar por esse mundo fora, como aconteceu recentemente com a sua presença na Liga Árabe. Depois, na hierarquia das prioridades da Ucrânia, há que prestar atenção àquelas potências que verdadeiramente contam e que só se fingem indecisas: estão do lado russo da barricada - leia-se, a China. Com a China, Zelensky joga uma diplomacia subtil: Xi Jinping vai a Moscovo e Zelensky convida-o para ir também a Kyiv; claro que Xi não vai, embora arranje um sucedâneo de manobra diplomática - uma conversa telefónica - que satisfaz as duas partes mas que não engana ninguém: tal qual a situação internacional se apresenta, os líderes importantes que vão a Moscovo não vão a Kyiv e vice versa. Restam os outros, os líderes que não têm importância alguma, como será o caso de seis líderes africanos, encabeçados pelo presidente da África do Sul, que anunciaram recentemente a sua intenção de lançar uma missão de paz, visitando as duas capitais. O Brasil com Lula da Silva é mais um país que pertencerá a este último grupo de aplicados minions, com o inconveniente de Lula da Silva já ter proferido declarações que o tornaram mal quisto entre as potências ocidentais. Para mais, numa cimeira do G-7, o Brasil nem está presente por inerência, antes e apenas por convite. Ou seja, na ocasião Lula da Silva é tão convidado como Zelensky. Se este último lhe deu tampa e se baldou ao encontro é porque não terá visto grande vantagem na sua realização - foi má educação. Ou talvez tenha sido um correctivo diplomático aplicado em quem se pensa mais do que aquilo que é...

ABERTURA DE EXPO 98

O espectáculo de gala da abertura da Expo 98 teve lugar no serão de 21 de Maio de 1998, mas foi só no dia seguinte que os portugueses acordaram, via comunicação social, para a categoria do acontecimento.

21 maio 2023

AS «TERNURAS POLÍTICAS» DO JORNAL PÚBLICO: O BLOCO DE ESQUERDA É UM PELUCHE FOFINHO (4)

Até já começava a parecer mal que, com a aproximação da data da realização da XIII Convenção do Bloco de Esquerda (que será no próximo fim de semana), os jornalistas apaniguados do jornal Público não voltassem a injectar ainda um pouco mais de publicidade e promoção na candidatura de Mariana Mortágua (como aqui fui dando conta, a campanha do jornal começou desde Fevereiro - (1) (2) (3) (4)). O artigo ou, pelo menos, este artigo, que não garanto ser o último, já ainda há por lá umas colunistas bloqueiras para dizerem ainda mais coisas bonitas a respeito de Mariana Mortágua, o artigo, escrevia, lá apareceu hoje, e o título escolhido por Ana Begonha é conforme e não desilude as expectativas de que a próxima dirigente do BE é uma pessoa fora de série, talhada desde a infância no Alvito para altos voos. A única coisa que lhe faltará, ao artigo, e que acima acrescentei, é o cabeçalho oficial de jornal do partido - Esquerda. Merece, porque o artigo, apesar de oficioso e publicado no Público, é de uma conformidade e ortodoxia que é digna de um comunicado do Avante! anunciando Paulo Raimundo como novo secretário-geral do PCP. Como acontece com os noticiários dos comunistas, onde impera o unanimismo, li o artigo da jornalista bloquista e não dei por qualquer sugestão que fosse sobre as divergências políticas existente e a discutir na próxima convenção. Para isso, há que consultar outro jornal, o Observador, onde se pode seguir uma entrevista - crítica - dada por um dos históricos da organização, Mário Tomé. Sobre este último, «revolucionário e feminista», como certa vez o descreveu estupidamente Catarina Martins, reconheço-lhe a liberdade de dizer os disparates que quiser - uma das vantagens de se viver na Democracia que ele quis derrubar em 25 de Novembro de 1975. Neste caso, estou convicto que o Observador dar-lhe-á este protagonismo porque é o amigo da onça de uma eleição pré-anunciada (a de Mariana Mortágua). Mas o meu problema é outro. O meu problema é encontrar um órgão de comunicação social em Portugal onde se possa ser informado simultaneamente sobre a excelência da Mariana Mortágua sem perder de vista que, mesmo lá no Bloco, há quem não possa com ela. Noutros tempos, chamava-se a isto pluralismo de opiniões. Parece ter acabado essa «coisa».

O CASO PAULO PEDROSO - DE ONDE OS MAGISTRADOS E OS POLÍTICOS SAEM TODOS MUITO MAL NA FOTOGRAFIA

21 de Maio de 2003. O juiz Rui Teixeira apresenta-se na Assembleia da República para proceder à detenção do deputado socialista Paulo Pedroso. A iniciativa é ousada - uma confrontação directa entre poder judicial e poder legislativo - mas é sobretudo mediatizada porque, como se vê acima, a acção do juiz, supostamente discreta, foi conhecida em antecipação pela SIC. O episódio vai tornar-se literal e metaforicamente num filme. Um triste filme. Onde, à força de se agredirem reciprocamente através de notícias plantadas na comunicação social, as duas classes vão-se expor ao ridículo. Cortesia dos juízes, ficámos a saber pelas escutas disponibilizadas para a comunicação social todas as manobras que os amigos políticos de Paulo Pedroso desenvolveram para evitar o desfecho (abaixo), nomeadamente o famoso desabafo - ao telemóvel - de Eduardo Ferro Rodrigues de que «se estava a cagar para o segredo de justiça!...»
Num registo ainda de expletivos (agora meu) e como retaliação, por cortesia dos políticos (do PS), estes últimos foderam como puderam a carreira de Rui Teixeira (abaixo).
Quinze anos depois, tudo terá acabado de uma forma satisfatória para os dois lados: Paulo Pedroso lá recebeu uma indemnização; Rui Teixeira lá foi promovido. Mas o assunto conferiu muito má reputação a qualquer dos intervenientes.

20 maio 2023

«AVEC LE TEMPS...»

Avec le temps
Avec le temps, va, tout s'en va
(...)

O BREXIT FOI UM FIASCO - À POLÍTICA O QUE É DA POLÍTICA, À RELIGIÃO O QUE É DA RELIGIÃO

Só faltava mesmo a admissão pública de Nigel Farage de que o Brexit foi um fiasco. Não há de ser o último a reconhecê-lo, que estas coisas esvaziam-se como água a sair de uma banheira, mas o momento é interessante, como se Farage fosse uma coisa qualquer a flutuar nas águas que escorrem ralo abaixo. As justificações que ele arranja (abaixo) para que o Brexit tenha sido um fiasco nem interessam: estão à altura da densidade do homem. Não é isso. O caso é que o episódio é interessante para fazer a distinção entre opções políticas erradas, avaliadas com um mínimo de racionalidade, e devoções religiosas mascaradas de opções políticas, que nunca se dispõem a admitir um erro, quaisquer que sejam os factos: quantos comunistas estarão dispostos a admitir, 34 anos depois do colapso, que "Soviet Union was a failure"?...

19 maio 2023

O DISCURSO ETILIZADO D«AS TAXAS E TAXINHAS» DE UM COMPLETO CRETINO

Depois de duas semanas em França, em que me alojei em cerca de uma dúzia de locais e hotéis diferentes, em todos eles tive que pagar, solicitada à parte, uma taxe de séjour por dormida. O valor varia, conforme a municipalidade (a prática é comum a vários países europeus, veja-se o link), mas os hoteleiros franceses fazem questão de o cobrar em separado, distanciando-se da taxa. Confesso que, cada vez que o episódio se repetia, me lembrava deste episódio acima, velho de uns oito anos, quando António Pires de Lima era um ministro e se entretinha a proferir em plena Assembleia da República este género de discursos histriónicos, a respeito da criação de receitas autárquicas baseadas na cobrança de taxas sobre as dormidas. Para a qual ele alertava dos perigos... Já então era um disparate mas hoje comprova-se ainda mais o quanto António Pires de Lima ou estava a argumentar de má fé, ou então não percebia nada sobre o que estava a comentar. Um completo cretino que chegou a ministro, que isto da incompetência do titular para o cargo não começou com o Galamba.

OS JORNALISTAS E OS LOUVORES A QUE ELES SE ACHAVAM COM DIREITO

19 de Maio de 1923. No centro da primeira página do Diário de Lisboa desse dia aparece esta crónica assinada pelo jornalista Norberto de Araújo que se torna dificilmente desculpável pelos padrões actuais. Começa pela referência a um louvor que fora conferido ao jornalista e político Louis Derouet, como autor de um livro que relatava a viagem presidencial que, no ano anterior, o presidente António José de Almeida, fizera ao Brasil, por ocasião do centenário da independência daquele país. Mesmo que não conheça o conteúdo do livro, tenho a certeza que o seu autor não terá sido louvado por, para além dos discursos presidenciais e outros convencionalismos, o livro mencionar aquilo que de extraordinário se verificou naquela viagem: o completo fiasco que foi o facto do navio que transportava o presidente ter-se avariado sucessivamente em pleno Atlântico; tanto assim, que o presidente português estava ainda em pleno oceano no dia das cerimónias (7 de Setembro), tendo estas decorrido com a presença dos outros convidados solenes... excepto o português. Uma vergonha! Convenientemente abafada nos jornais da época e, constata-se aqui, também abafada em livro, com direito a louvor (e condecoração) governamental ao autor. Mas esta é apenas metade da vergonha. A outra metade da vergonha consta do resto da crónica, quando o seu autor se põe a pedir louvores idênticos para os cinco jornalistas (entre os quais, o próprio Norberto de Araújo...) que haviam acompanhado o voo atribuladíssimo de Gago Coutinho e Sacadura Cabral, que, passo a citar, «fizeram prodígios de jornalismo» (...) «não se limitando a narrar factos, mas, mais do que isso, atirando ideias, realizando diplomacia, renovando energias aparentemente mortas, criando esse ambiente dentro do país que tornou possível ao sr. ministro da Marinha assinar esse telegrama que é um título de honra do sr. Azevedo Coutinho: "Vai seguir outro Fairey"» Por tudo isso, por todo esse ânimo, Norberto de Araújo põe-se a jeito escancaradamente na primeira página do jornal onde escreve, para, também eles, receberem um louvor. Ou seja, não lhe parece mal que a propaganda seja agraciada. Sob o feito hiperbolado dos dois aviadores, volto a repetir o que já aqui havia escrito: entusiasmo aparte, a viagem demorou 70 dias; 114 anos antes, em 1808, o rei D. João VI demorara apenas 55. Sob o pedido de Norberto de Araújo, cito-o por uma última vez, no princípio do último parágrafo deste artigo deplorável: «Não devia ser eu talvez a escrever estas palavras». Pois não. Nem ele, nem ninguém.

18 maio 2023

O «CHARME» RUSSO E A ESTÉTICA GERMÂNICA

18 de Maio de 1973. Leonidas Brejnev chega a Bona, a então capital da Alemanha Federal. É a primeira vez que o mais alto dirigente soviético visita o país e «apenas a segunda» vez que aquele dirigente faz uma visita a países ocidentais. Tem tudo para que a visita seja qualificada - como seria de esperar... - de «histórica». Cinquenta anos passados ninguém se lembra da «histórica» visita, a não ser aqui o Herdeiro de Aécio que, aqui há uns anos, recuperou uma das fotografias da ocasião para a comentar (abaixo), e que agora aproveito para republicar em jeito de efeméride.
Percebe-se com o distanciamento temporal que um dos elementos que terá contribuído para amenizar a frieza da Guerra Fria terá sido a condescendência como a Ocidente eram encaradas as pretensões charmosas junto do belo sexo de Leonid Brejnev. Já aqui me referi à sua famosa fotografia de Junho de 1973 a apreciar Jill St. John, a namorada do momento de Henry Kissinger. Há cinquenta anos, Brejnev fizera uma visita oficial à República Federal da Alemanha, quando se encontrou em Bona, com Willy Brandt e nesta outra fotografia apanhamo-lo por sua vez num caprichado beija-mão a Rut Brandt perante o olhar divertido do marido. Pena que a estética da foto seja afectada pelo padrão e formato agressivo da saia da primeira dama que, mais do que pela exuberância que era tão característica daqueles anos 70, choca por nos fazer lembrar uma das guaritas das sentinelas da Wehrmacht da Segunda Guerra Mundial... A fotografia é de Thomas Hoepker.

17 maio 2023

MAZAMET, A CIDADE PETRIFICADA

(Republicação)
17 de Maio de 1973. Há 50 anos teve lugar na cidade francesa de Mazamet uma acção espectacular de sensibilização em prol da prevenção rodoviária. A cidade contava então com 16.610 habitantes, que corresponderiam, grosso modo, ao número de mortos registados nas estradas de França no ano anterior: 16.545. Ao som de uma sirene e sob o título de Mazamet, Cidade Morta, organizou-se um evento em que os cidadãos foram convidados a sair à rua e a fingirem-se de mortos durante um quarto de hora enquanto equipas de fotográficas e cinematográficas exibiam o impacto condensado numa cidade das perdas humanas devidas a acidentes de trânsito. Como se percebe pelas fotos, a iniciativa foi acolhida com entusiasmo pela população daquela pequena cidade occitana, houve mesmo quem se deixasse "atropelar" ou feito outras alusões explícitas aos acidentes rodoviários. A imaginativa ideia terá tido um grande impacto: uma reportagem sobre a cidade desaparecida do mapa for transmitida pela televisão francesa, acompanhando legislação sobre a obrigatoriedade do uso de cinto de segurança e sobre novos limites de velocidade. A curto prazo, o impacto do documentário terá sido grande. Outra coisa se poderá concluir no médio e longo prazo: o número de mortos nas estradas decresceu em mais de 75% nestes 50 anos (3.700 mortos em 2017), mas esse resultado dever-se-á tanto ao comportamento dos condutores, quanto a melhores métodos de construção das vias (evitando cruzamentos e outros pontos nevrálgicos, por exemplo), como também ao melhoramento dos sistemas de protecção passiva das viaturas (airbags, abs, etc.).
Curiosamente, e regressando às imagens de Mazamet, cá em Portugal e por essa mesma altura, a revista Tintin andava a publicar semanalmente as pranchas de uma história intitulada A Cidade Petrificada, uma aventura em que uma cidade inteira era atacada com um mega aparelho de ultra-sons, deixando todos os seus habitantes inanimados e prostrados pelas ruas, com a mesma aparência da encenação de Mazamet.

16 maio 2023

(A COR DAS CUECAS DE) FRANCISCO ASSIS EM FELGUEIRAS

16 de Maio de 2003. Nem mesmo a presença das câmaras de televisão conseguiu dissuadir os agressores de Francisco Assis, quando ele tentava participar numa reunião concelhia do PS em Felgueiras. Fazia-o como dirigente distrital (do Porto) do partido, mas nem mesmo esse elevado estatuto foi suficiente para dissuadir alguns militantes locais do PS que se comportassem da forma vergonhosa que as imagens mostram. Este é um dos momentos que mais facilmente recordamos quando se fala da história do PS e é uma pena que a ocasião não tenha sido evocada, entre outras efemérides, quando dos prolongados discursos do mês passado por ocasião do grande jantar que assinalou o 50º aniversário do partido. Das dezenas de intervenientes que se vêem a ameaçar e a agredir Assis, só quatro compareceram em tribunal, julgados por agressão agravada. Um foi absolvido e os outros três condenados a multas. Mas o que de melhor se retira de todo este episódio de que hoje se celebra o 20º aniversário (este suponho que não irá ser comemorado, nem em Felgueiras...), foram os comentários trocados por quem assistia em directo, via televisão, à cena. Havia quem comentava elogiosamente o aparente sangue frio de Francisco Assis, mesmo já tendo perdido os óculos quando apanhou com um caixote do lixo na cabeça; a esses elogios havia quem respondia com um trejeito desdenhoso e o comentário: «Ah, eu queria ver era de que cor é que estão as cuecas dele...» A expressão e o cepticismo tiveram sucesso! De há vinte anos para cá, a expressão «a cor das cuecas de Francisco Assis» tornou-se sinónimo da veracidade íntima de uma atitude política. (Política pronunciada com um P acentuado, como Francisco Assis o costuma dizer - mas essa uma outra história de uma outra expressão associada a Francisco Assis...)

15 maio 2023

«LA MER»

Poucos saberão que «La Mer» de Charles Trenet, foi originalmente inspirada pela contemplação da laguna de Thau, no extremo sul de França. Hoje, ao atravessar a Camarga, rodeado de braços de mar como o da laguna, veio-me à memória aquele sucesso musical de 1946.

DAQUELA VEZ FOI MESMO DIFERENTE

15 de Maio de 2013 foi o dia marcado para a apresentação do livro "Desta vez é diferente. Oito séculos de loucura financeira". A apresentação esteve a cargo do então ministro de Estado e das Finanças, Vítor Gaspar. A cerimónia, pontuada por incidentes provocatórios de activistas que se instalaram na audiência, pode ser escolhida, a esta distância de dez anos, como um momento simbólico da expressão de uma saturação para com os fracassos de um plano ideológico que se disfarçara por detrás de uma indiscutível urgência financeira. O que aconteceu depois demonstrou que o equilíbrio financeiro (entretanto alcançado) poderia ser atingido de outras formas. Mas ali, e propositadamente diante de Vítor Gaspar, que protagonizava o plano ideológico da troika, de uma maneira irónica e inesperada, o título do livro acabou por se adequar à situação confrangedora que se gerou. Daquela vez, ridicularizada, a apresentação foi mesmo diferente...

O MAPA DE UMA DERROTA

(Republicação ampliada)
A 15 de Maio de 1973, numa reunião dos altos comandos militares da Guiné Portuguesa foi apresentado o mapa abaixo (copiado daqui), onde se mostravam as regiões da província ultramarina onde o inimigo (PAIGC) promovia acções de guerrilha. Tratava-se à época de um documento classificado, sinal de rigor e impermeabilidade àqueles retoques que a propaganda costuma acrescentar.
Para um poder colonial que, como qualquer outro, tem como tarefas primordiais a pacificação e a manutenção da segurança do território sobre o qual exerce autoridade, aquela mancha que cobria então cerca de 85% da província, em expansão depois de dez anos de conflito armado, pode ser compreendida hoje, apesar de algumas obtusidades, como a confissão gráfica da derrota portuguesa na Guiné. O boletim informativo relativo à actividade da guerrilha naquela quinzena parecia reflectir, na medida do possível, as perspectivas sombrias.

14 maio 2023

«RESPECT» PELA CANDICE RENOIR... E NÃO SÓ

Candice Renoir é uma série policial de origem francesa que decorre em Sète, cidade muito típica do sul de França, junto ao mar. Como, desde 2013, já houve dez temporadas (e respectivos episódios), já terá havido homicídios suficientes para assassinar uns 10% da população real da cidade, mas um dos segredos da permanência da série é a personalidade da protagonista, interpretada pela actriz Cécile Bois. O genérico (acima) tem por banda sonora o «Respect» de Aretha Franklin, um tema apropriado também para a maior fã da série que conheço, alguém susceptível de impor «Respect». Seria engraçado que as duas se encontrassem em Sète...

O LANÇAMENTO DA SKYLAB

(Republicação)
14 de Maio de 1973. Lançamento do laboratório espacial Skylab. Não se tratando de um feito capaz de concitar as atenções da opinião pública como o fora a Corrida para a Lua, este lançamento era uma outra proeza técnica de respeito, com a colocação de um colosso de 77 toneladas em órbita (a ISS actual é mais do que o quíntuplo disso, mas foi montada progressivamente ao longo de 13 anos). A missão correu globalmente bem, mas com incidentes que perturbaram a imagem de sucesso do programa. Em baixo, os vídeos com o momento do lançamento e uma reconstituição animada de como terá sido o percurso até à entrada em órbita com o desdobramento dos equipamentos auxiliares.

13 maio 2023

«...ON NE SAIT JAMAIS»

Ouvi esta velha expressão de Jean Gabin apenas há dias, em Orange, França, reaproveitada muito a propósito quanto à volubilidade das nossas caras metades para compartilhar sobremesas no restaurante. Nunca querem, mas é sempre prudente trazer uma colher suplementar...

12 maio 2023

O MURAL DE DIEGO RIVERA

12 de Maio de 1933. De Nova Iorque chegava uma notícia sobre as notícias que a pintura de um mural do pintor Diego Rivera havia desencadeado. O mural denominava-se Homem na Encruzilhada e fora concebido para fazer parte do enorme lóbi de um arranha-céus nova-iorquino de 259 metros acabado de construir. Tratava-se de um mural composto por três painéis: o homem na encruzilhada confrontava-se de um lado com a fronteira da evolução ética e do outro com a fronteira do desenvolvimento material. O autor, o mexicano Diego Rivera, já era então (aos 46 anos) um artista consagrado, embora também fossem sobejamente conhecidas as suas simpatias políticas comunistas. Mas, por um outro lado, ainda mais irónico, quem encomendara o mural fora o multimilionário John D. Rockfeller Jr. A controvérsia que atravessava então a imprensa nova-iorquina assentava não só no carácter propagandistico da obra, mas sobretudo no conteúdo da propaganda. O mural acabou por ser apagado, mas o pintor acabou por o repintar numa escala menor no Palácio das Belas Artes na cidade do México. Por causa da controvérsia, é hoje uma das obras mais conhecidas do pintor Diego Rivera.

11 maio 2023

A BATALHA DE ATTU

(Republicação)
11 de Maio de 1943. A ilha de Attu é a mais ocidental e a mais remota das ilhas do arquipélago das Aleútas no Alaska, território dos Estados Unidos. Tem 893 km² mas um clima terrível e a sua população nunca foi além das poucas centenas de pessoas. Hoje é desabitada. Mas, em 7 de Junho de 1942, os japoneses haviam ali desembarcado para criar um ponto de fixação que pudessem posteriormente utilizar conforme a evolução da Segunda Guerra Mundial no Teatro de Operações do Pacífico. Poderiam usar a ilha para ameaçar os Estados Unidos continentais; poderiam também usá-la como uma cunha nas comunicações entre os norte-americanos e os seus aliados soviéticos, caso estes últimos viessem a entrar em guerra com o Japão. Mas há precisamente oitenta anos, menos de um ano depois da invasão e ocupação japonesas, os norte-americanos desembarcaram por sua vez na ilha, para desalojar os japoneses. A batalha durou 18 dias e, apesar de se estar em Maio, parte dos combates travaram-se em condições meteorológicas em que chegou a nevar, como se se tratasse da campanha da Rússia. Dada a desproporção dos efectivos (os 15.000 atacantes eram cinco vezes mais do que os 3.000 defensores), o desfecho da batalha nunca esteve em causa, apesar da ferocidade suicida da resistência japonesa. No final, os norte-americanos fizeram apenas 28 prisioneiros, o que representava apenas 1% da guarnição japonesa. O seu comandante, o coronel Yamasaki, morreu apropriadamente, liderando uma última carga suicida à baioneta sobre o inimigo. Entre as baixas sofridas por este último, foram mais as ocorridas por doenças e pelo frio (1.814) do que as causadas directamente pelos combates (1.697). Numa Guerra do Pacífico dominada pelas condições tropicais em que a esmagadora maioria dos combates foram travados, este episódio é uma curiosa e pouco conhecida excepção.

10 maio 2023

GRANDE BRANDÃO!

(Republicação)
No vídeo acima o orador barbudo é o aldrabão lusitano típico – basta ouvi-lo na introdução, tratando o Brandão por meu amigo, coisa que o desenrolar dos acontecimentos demonstrará à evidência que eles não são… E que resolve apostar tudo na atitude do Brandão, prevendo que ele seja portuguesinho e bem educado e não crie chatices sem necessidade, desmentindo-o à frente de todos:

...se algum problema houver com o advogado, o meu amigo (e esta maneira de tratar o interlocutor por amigo é todo um programa político....) está credenciado, está mandatado, para recorrer a qualquer advogado para o defender! É verdade ou é mentira, Brandão?
É mentira!

E o verniz do artista estala todo logo ali… Para mim, o Brandão - que nem chega a aparecer nas imagens - devia fazer escola na política e no jornalismo em Portugal: fala quando deve, responde às perguntas, diz o que pensa e é conciso!!!

09 maio 2023

«SABE O QUE É O COLÉGIO MILITAR?»

Lembro-me muito bem deste serão televisivo de há cinquenta anos porque, sendo então aluno do Colégio Militar, tivemos todos direito a ver um programa a respeito da instituição que passou na RTP2. Éramos mais de 100 para um só televisor, mas a fascinação de muitos de se poderem ver a si próprios no pequeno ecrã superava isso tudo. O programa está hoje disponível no arquivo da RTP.

A INUTILIDADE DE UMA CONSTITUIÇÃO

Republicação
9 de Maio de 1948. Há precisamente 75 anos entrava em vigor uma nova Constituição da República da Checoslováquia. O país tornara-se uma ditadura: os comunistas haviam procedido a um Golpe de Estado dois meses e meio antes (21 a 25 de Fevereiro de 1948), mas este novo documento, que viera a ser redigido compassadamente desde o final da Segunda Guerra Mundial para substituir a anterior Constituição (redigida em 1920), ainda não incorporara a nova correlação de forças e o novo poder incontestado dos comunistas. Mas também, aparentemente, não interessava nada: no final desse mês (30 de Maio), uma daquelas milagrosas listas unitárias totalmente controlada pelos comunistas (aqui chamava-se Frente Nacional) arrebanhava 89,2% dos votos e a unanimidade da representação parlamentar. 214 dos 300 eleitos eram comunistas enquanto nas eleições anteriores de 1946, eles haviam conseguido 114, sem maioria absoluta. Por uma questão de decoro, durante os próximos doze anos (1948-1960), o regime comunista checoslovaco conseguiu conviver com uma Constituição de consensos mas anacrónica para a realidade do regime, até a substituir por uma outra (abaixo) que consagrava finalmente a Checoslováquia como a República Socialista em que se tornara. Uma constituição compatível não é algo de verdadeiramente indispensável para o verdadeiro revolucionário empenhado na construção de uma sociedade socialista (...ou uma ditadura comunista, depende da semântica). A Checoslováquia fica muito longe de Portugal, mas este exemplo checoslovaco não deve ter andado longe das cogitações de um pequeno punhado selecto de pessoas verdadeiramente instruídas que lideravam o nosso PREC, quando por cá se discutiu depois do 11 de Março de 1975 o âmbito das competências da Assembleia Constituinte que se elegeria em 25 de Abril daquele ano, cujos eleitos poderiam redigir a constituição que lhe aprouvesse, desde que assegurando que o poder executivo continuaria firmemente nas mãos do MFA (e da respectiva facção gonçalvista)...

08 maio 2023

A NEUTRALIDADE SUECA EXPLICADA PELO SEU MINISTRO DOS NEGÓCIOS ESTRANGEIROS

8 de Maio de 1943. Este artigo, em que o ministro sueco dos Negócios Estrangeiros, Christian Günther, discorre acerca da neutralidade do seu país em plena Segunda Guerra Mundial e contém aquele segredo dos bons diplomatas profissionais quando o querem: é um texto repleto de palavras, que não dizem substantivamente nada. Günther era um dos dois únicos ministros independentes de um governo de unidade nacional que fora formado por causa da Segunda Guerra Mundial e a sua posição era a mediana entre os dilemas históricos da Suécia. De uma perspectiva abstracta, as simpatias culturais das pessoas da elite sueca, como Günther, iam para a Alemanha, na sua guerra contra a Rússia. Por outro lado, e na perspectiva da realpolitik, os aliados anglo-saxónicos da Rússia (e inimigos da Alemanha) pareciam-lhe os beligerantes que poderiam assegurar mais garantias de segurança à Suécia depois do conflito.

07 maio 2023

«JE SUIS CHARLIE»

(Republicação)
7 de Maio de 1973. Haviam decorrido apenas cinco anos depois dos memoráveis acontecimentos de Maio de 1968, mas uma das edições do princípio daquele mês do (hoje famoso) Charlie Hebdo (dos atentados de Janeiro de 2015) denunciava em capa os cuidados de muitos dos protagonistas dos acontecimentos em se fazerem agora esquecidos: «Maio de 68, que é que lhes aconteceu?»; «Há cinco anos o papa ocupava a Sorbonne», grita a criança inconvenientemente, enquanto o papa visado, engravatado, desabafa «Puto estúpido!». «Ser-se Charlie» é fazer-se humor à custa destas reviravoltas que também abundaram em Portugal nos anos imediatamente a seguir a 1973, mas que infelizmente não foram tratados por nós com tanto humor. Ainda em Maio, mas três anos depois, a 5 de Maio de 1976, depois das primeiras eleições legislativas portuguesas, o Comité Central do MES (que elegera zero deputados e recebera 31.000 votos nessas eleições) produzia um extenso comunicado onde o Diário de Lisboa destacava para título a passagem: "Democracia burguesa não tem viabilidade em Portugal". Ora, não é engraçado lembrar que o actual presidente da Assembleia da República, Eduardo Ferro Rodrigues, militava e, salvo erro, integrava mesmo o Comité Central de tão presciente organização política? Às vezes dá gozo recordar estas coisas e ser-se um «petit con»...