22 maio 2023

LULA ESTÁ CHATEADO COM ZELENSKY E NÓS TEMOS PENA

Quando uma potência de pequena/média dimensão, como é o caso da Ucrânia, se torna a protagonista de um conflito internacional cuja dimensão a supera, tem que acautelar-se para que os seus interesses vitais não sejam sacrificados pelos grandes - e verdadeiros - protagonistas da disputa. A História está repleta de exemplos de grandes potências que estiveram dispostos a sacrificar aquilo que pertencia aos seus aliados subordinados, como expediente para apaziguar as grandes potências adversárias. No nosso caso concreto e até à Primeira Guerra Mundial e por diversas vezes, o Reino Unido mostrou-se disposto a ceder as grandes colónias portuguesas em África em benefício - e para apaziguamento - da Alemanha; mas talvez o caso mais escandaloso tenha ocorrido em Munique em 1938, quando esse mesmo Reino Unido e a França retalharam a Checoslováquia em benefício - e para apaziguamento - daquela mesma Alemanha, num processo diplomático em que a sacrificada Checoslováquia nem foi convidada a estar presente... Não é difícil deduzir que em Kyiv essa história do sacrifício de Praga de 1938 estará muito presente para não o repetir. A Ucrânia será uma potência de pequena/média dimensão, mas não muito propensa a deixar-se domesticar e muito cuidadosa para com aqueles, como o Brasil, que se arrogam uma importância política internacional que ninguém lhes parece reconhecer.

Quanto à condução da sua actividade diplomática, a prioridade de Zelensky será para com as potências que forneçam aos ucranianos meios de combate e de resistência. É por isso e para isso, cativar os países que ainda estejam verdadeiramente indecisos para a sua causa, que o presidente ucraniano andará a saltitar por esse mundo fora, como aconteceu recentemente com a sua presença na Liga Árabe. Depois, na hierarquia das prioridades da Ucrânia, há que prestar atenção àquelas potências que verdadeiramente contam e que só se fingem indecisas: estão do lado russo da barricada - leia-se, a China. Com a China, Zelensky joga uma diplomacia subtil: Xi Jinping vai a Moscovo e Zelensky convida-o para ir também a Kyiv; claro que Xi não vai, embora arranje um sucedâneo de manobra diplomática - uma conversa telefónica - que satisfaz as duas partes mas que não engana ninguém: tal qual a situação internacional se apresenta, os líderes importantes que vão a Moscovo não vão a Kyiv e vice versa. Restam os outros, os líderes que não têm importância alguma, como será o caso de seis líderes africanos, encabeçados pelo presidente da África do Sul, que anunciaram recentemente a sua intenção de lançar uma missão de paz, visitando as duas capitais. O Brasil com Lula da Silva é mais um país que pertencerá a este último grupo de aplicados minions, com o inconveniente de Lula da Silva já ter proferido declarações que o tornaram mal quisto entre as potências ocidentais. Para mais, numa cimeira do G-7, o Brasil nem está presente por inerência, antes e apenas por convite. Ou seja, na ocasião Lula da Silva é tão convidado como Zelensky. Se este último lhe deu tampa e se baldou ao encontro é porque não terá visto grande vantagem na sua realização - foi má educação. Ou talvez tenha sido um correctivo diplomático aplicado em quem se pensa mais do que aquilo que é...

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