30 abril 2019

PARABÉNS, ANTÓNIO GUTERRES

30 de Abril de 1949. O nosso secretário-geral da ONU completa hoje 70 anos. Embora a importância do cargo que ocupa seja muito menor do que a nossa comunicação social o fez parecer quando da sua candidatura de 2016 e, para mais, quando a visibilidade do desempenho das suas funções é ameaçada negativamente por figuras com o caparro mediático de Trumpes, Putines, Xis e afins, que não fiquem dúvidas do quanto a presença de António Guterres no cargo cimeiro da ONU é lisonjeira para a pátria que o viu nascer. Num Mundo que fosse racional, ele seria naturalmente mais importante do que o Cristiano Ronaldo, o outro grande filho da pátria lusitana que é conhecido por esse Mundo fora, mas o Mundo (e como tão bem saberá Guterres...) nada tem de racional, atribui mais importância ao 600º golo marcado pelo futebolista do que a qualquer iniciativa pela Paz que seja protagonizada pelo político. Por vezes, ainda bem que é assim, já que os golos não são anuláveis depois do fim do jogo, mas os acordos podem saldar-se por um fracasso completo, como aconteceu, de resto, recentemente no Iémen. Contudo, a grande actividade de Guterres de que somos regularmente notificados é com ele a distribuir bacaulhazadas com tudo o que é gente importante por esse Mundo fora.
Nas fotografias vêmo-lo a cumprimentar os seus dois antecessores no cargo, respectivamente Kofi Annam do Gana e Ban Ki-moon da Coreia do Sul. O processo de candidatura de Guterres ao cargo de secretário-geral da ONU revelou-se um daqueles momentos seminais, para acabar com a ficção da aplicabilidade de uma política externa comum da União Europeia: embora Guterres fosse, desde o princípio, um candidato bastante forte, os nossos amigos da Europa de Leste alinharam três candidatos concorrentes; e a Alemanha alinhou uma candidata sua, correspondendo ao adágio popular, cada um trata de si, e Deus, de todos. Uma outra consequência (indirecta) da candidatura vitoriosa do aniversariante de hoje, é que foi só depois dela se concretizar que tivemos a certeza que o professor Marcelo se candidataria à presidência da República. Numa altura em que até Ferro Rodrigues se dispõe a votar nele (Marcelo), até parece um absurdo reconhecer que, se António Guterres não tivesse feito esta opção internacional, muito dificilmente Marcelo se teria atrevido a apresentar-se contra Guterres. E assim não teríamos tido este privilégio de ter esta presidência-espectáculo em Belém. Também por isso, parabéns António Guterres!
A caricatura foi retirada daqui.

VOCÊS AINDA SE LEMBRAM?...

Há precisamente sete anos. E, se vale a pena evocá-los, não será para exonerar agora Mário Centeno de responsabilidades, que as reduções dos défices nunca se concretizam por milagre e têm um preço a pagar. Mas é importante conduzir a proporções decentes os argumentos de uma corrente de opinião que agora quer transformar os antecessores de Centeno numa espécie de percursores do seu sucesso. Porque, ao ler o que um dos seus antecessores prometia há sete anos, deixa de haver espaço para fantasias dessas. Os factos da História julgaram-no: ou as metas do então ministro das Finanças eram uma colossal aldrabice ou então ele era um incompetente colossal. Não se tratou de uma questão da sorte e azar do jogo político.
...e é preciso, no mínimo, ingenuidade empírica, para pressupor que as diminuições dos défices se comportam aritmeticamente. Quem passou pela experiência sabe que o que é difícil nunca são os primeiros cortes, são os últimos, quando já não se sabe por onde mais cortar e tem que se ir ao osso. É o tipo de conhecimento que se adquire na prática, não a dar aulas de economia. Segundo os últimos dados, a dívida pública portuguesa situava-se em 121,5% do PIB em finais de 2018.

29 abril 2019

A EVOLUÇÃO DA POPULAÇÃO PRISIONAL DOS ESTADOS UNIDOS

Desde sempre, o sistema prisional norte-americano criou uma reputação de ser terrível. Num filme já com cinquenta anos intitulado Take the Money and Run (acima), Woody Allen faz uma paródia a esse respeito, criando um anti-herói que se revelava um fracasso como criminoso mas que, mesmo assim, perseverava em evadir-se das prisões. A tão celebrada prisão de Alcatraz já então fora desactivada, tendo albergado os seus célebres hóspedes entre 1934 e 1963. Hoje é um museu.
Mas, por detrás das idiossincrasias do submundo do crime norte-americano, serão poucos os americanos e ainda menos os estrangeiros que se aperceberam o que aconteceu com a população prisional dos Estados Unidos desde 1969, quando Woody Allen parodiava o sistema. Como se vê pelo gráfico acima, o número de prisioneiros quintuplicou nestes últimos cinquenta anos. As causas para um tal crescimento não parecem ter sido uma degradação da situação criminal na América, mas antes um crescendo de adopção de medidas cada vez mais punitivas na repressão do pequeno crime. A partir de 1980 (administração Reagan e as que se seguiram, Bush pai, Clinton, Bush filho) e sob slogans como "War on Drugs" ou "Law and Order" entrou-se num frenesim que tornou a população prisional dos Estados Unidos na mais elevada do Mundo, tanto em termos absolutos quanto relativos. Atente-se ao gráfico abaixo da esquerda, e vê-se que, no indicador relativo (população prisional por 100 mil habitantes), os Estados Unidos superam em muito todos os restantes países: por exemplo, o índice norte-americano é o quíntuplo do português. Mas a verdade é que raramente se assiste à discussão do problema, analisando a eficácia dos resultados dessas políticas extremas de encarceramento.
Em contraste, a série de TV de cariz popular Cops é um sucesso: está em exibição há 30 anos. É muito comum que o episódio seja preenchido por uma perseguição dinâmica atrás de um meliante (normalmente de uma minoria étnica...) que, no fim da arfante acção policial, é capturado com um punhado de charros no bolso, pretexto para que ele vá dentro por causa da War on Drugs e que os polícias se consolem dizendo para as câmaras que ao menos, assim o haviam tirado das ruas. Tudo aquilo parece uma gigantesca terapia ocupacional inconsequente. Porque, em comparação com os outros países, as ruas das cidades americanas não parecem particularmente mais seguras só porque as suas prisões estão substancialmente mais cheias...

28 abril 2019

O 50º ANIVERSÁRIO DE SALAZAR

28 de Abril de 1939. Dia do 50º aniversário de Salazar, à época presidente do Conselho de Ministros e acumulando esse cargo com as pastas das Finanças, da Guerra e dos Negócios Estrangeiros. Não se pode dizer que, perante o mundo em perigo, o ditador delegasse responsabilidades. Numa das páginas interiores do Diário de Lisboa desse dia, aparece a notícia acima, evocando o aniversário, ocupando um quarto de página. O contraste era patente com o espaço que fora dispensado pelo mesmo jornal oito dias antes por ocasião do mesmo 50º aniversário, mas do Fuehrer alemão, Adolf Hitler. Mas não seria apenas a estudada modéstia de Salazar a responsável por uma assim tão discreta proclamação de simpatia por aquele que assumira a condução da Revolução Nacional. A responsabilidade era, por estranha coincidência, do mesmo Adolf Hitler que pronunciara naquele dia um discurso ferrabrás a que o Diário de Lisboa dedicara três do total das oito páginas de que constava a edição daquele dia (Sexta Feira).
A leitura dos cabeçalhos faz-nos perceber quanto o estilo de Adolf Hitler era muito próprio, ousado, intimidatório e provocador, hoje empregar-se-ia talvez o qualificativo de «bullying». Muitos autores reencenaram este período, especulando por outros desfechos, mas revisitando os jornais da época, como aqui se tem vindo a fazer, é difícil perceber como teria sido possível evitar a Segunda Guerra Mundial. 

27 abril 2019

UMA EXCELENTE PÁGINA DE INFORMAÇÃO

27 de Abril de 1969. Escondida lá para o interior da edição daquele dia do Diário de Lisboa (página 19), aparecia aquilo que os factos posteriores viriam a comprovar ser uma excelente análise da situação política em França, precisamente no dia em que se realizava um importante referendo naquele país. Uma das notícias diz que o resultado do referendo poderia pôr termo a era de de Gaulle, já que este condicionara a sua permanência no cargo de presidente do resultado que se verificasse. Poderia... e pôs: de Gaulle considerou-se pessoalmente derrotado e demitiu-se do cargo. A outra notícia presciente é aquela que identifica quem serão os possíveis sucessores de de Gaulle, na eventualidade da sua demissão. Georges Pompidou e Alain Poher são os dois nomes mencionados e serão precisamente eles os que se apresentarão à segunda volta (decisiva) das eleições presidenciais de 15 de Junho. Ainda mais dois comentários a respeito de outras notícias na mesma página: a atenção desmesurada que é dedicada à retirada de um batalhão norte-americano (+- 500 homens) da frente de combate no Vietname do Sul, pretende dar visibilidade ao início do desengajamento militar dos americanos, que fora prometido pelo presidente Nixon durante a campanha eleitoral. E falar de uma reforma agrária no Brasil durante a vigência do regime militar é só uma piada...

De notar, a curiosidade de que Charles de Gaulle abandonaria o poder com 78 anos, depois de cerca de 30 em que pontificara na política francesa. Era aquilo que o jornal denomina por o fim de uma era. Pompidou e Poher eram, em média, 21 e 19 anos mais novos que o antecessor. Para contraste, na actualidade e nos Estados Unidos, a idade do recém apresentado candidato democrata Joe Biden será precisamente os mesmos 78 anos, na eventualidade de ele vencer as eleições presidenciais de 2020. E esse, estará a começar o seu mandato... O seu rival Bernie Sanders é até um ano mais velho! O seu adversário Donald Trump pode ser considerado um jovem: só tinha 70 anos - e terá 74 na eventual recondução - quando tomou posse em 2016, embora na ocasião tivesse batido o record do presidente mais velho a tomar posse, até aí detido por Ronald Reagan em 1981. Não se fala do tema, mas é a manifestação da gerontocracia.

26 abril 2019

PORQUÊ O SUCEDÂNEO E NÃO O ORIGINAL?

Joe Biden anunciou finalmente a sua candidatura à presidência dos Estados Unidos, para uma eleição que terá lugar daqui a ano e meio, mas onde os pré-candidatos do partido democrata já ultrapassam a vintena. Mas, para a escolha dentro do partido democrata, que deverá estar decidida daqui por um ano, é claro que o anúncio da pré-candidatura do antigo vice-presidente de Barack Obama o coloca num outro patamar de atenção. O lançamento foi ontem, e o primeiro vídeo de campanha (acima) dificilmente podia ser mais explícito: o alvo a abater é Donald Trump, o mais exótico dos presidentes norte-americanos dos últimos cem anos, senão mesmo de sempre. Na mensagem, e mais do que a ambição do candidato, é a excepcionalidade do comportamento de Trump que parece constituir o leitmotiv que motiva Biden a sair da sua reserva e candidatar-se. Eleitoralmente, fará sentido e talvez se venha a revelar uma mensagem eficaz. Mas a pergunta que se impõe é: se a excepcionalidade da presença de Trump na Casa Branca é assim tão grande, porquê recorrer, para o desalojar de lá, ao ex vice presidente, que tem 76 anos, quando ele existe o ex presidente com provas dadas em eleições com apenas 57? (Adenda: porque não pode, veja-se o esclarecimento na caixa de comentários)

25 abril 2019

O NONO CONGRESSO DO PARTIDO COMUNISTA CHINÊS

25 de Abril de 1969. Terminava o 9º Congresso do Partido Comunista Chinês que viera a decorrer desde o princípio do mês. Haviam comparecido 1.512 delegados e as sessões haviam-se prolongado por mais de três semanas. Entre as decisões principais, havia sido eleito o Comité Central de 170 membros efectivos e 109 suplentes. Desses 279 membros, os sinólogos haviam encontrado apenas 53 nomes que haviam transitado do Comité Central precedente, que fora eleito em 1956. Esta renovação de 81% dos membros do mais importante órgão dirigente na China eram sintoma e consequência da Revolução Cultural iniciada em 1966. Na prosa bombástica tão característica do comunismo chinês, a declaração final do Congresso incluía uma passagem em que se assegurava que "O Exército (chinês) esmagará o imperialismo americano e o revisionismo soviético". Mas o discurso inaugural de Mao, o relatório apresentado por Lin Biao e a nova constituição do partido (aprovada por unanimidade dos 1.512 delegados), não haviam sido divulgados, abrindo caminho para as especulações dedutivas dos sinólogos ocidentais. Pelo que se observava, a ascendência de Lin Bao confirmava-se (nas imagens acima ele aparecia sentado à direita de Mao), mas também a perenidade da presença de Zhou Enlai (que está sentado no lado oposto). Mas a sinologia, especialmente se aplicada ao quem é quem nas estruturas do PC chinês era uma disciplina não apenas exigente, como também capaz de intimidar qualquer leigo: bastava pronunciar com desenvoltura o nome dos membros do Bando dos Quatro! E quem é que não se maravilhava perante aqueles que faziam a distinção cristalina entre Yao Wenyuan e Wang Hongwen?!

24 abril 2019

A IRONIA É...

A ironia é, afinal, uma «moeda» de circulação muito limitada, um facto que só se descobriu depois da popularização das redes sociais.
Nas redes sociais, os irónicos descobrem-se frequentemente a «falar sozinhos». É um expediente cómico regularmente votado ao fracasso.
Paradoxalmente, o uso refinado da ironia está por detrás da reputação de algumas séries televisivas como Blackadder.

23 abril 2019

A «ARTE» PÓSTUMA

No passado fim de semana encontrei na livraria esta novidade editorial de Michael Crichton, conhecido por ser o autor de O Parque Jurássico, informação que, aliás, é destacada na capa. O que não se lê na capa é que se trata de um feito de ressurreição (adequado à quadra pascal), já que o original foi editado em 2017 e o escritor morreu muito antes disso, em 2008. Aliás, este autor tem mostrado uma prolífera produção de além tumba pois, com esta, já vai na sua terceira obra póstuma, todas elas acompanhadas de explicações mais ou menos verosímeis quanto às razões que haviam levado à sua não publicação em vida do autor. Repare-se que, excluídas dessas explicações, não constou a que ao próprio autor lhe houvesse desagradado o seu próprio produto final e assim se abstivesse de o publicar. Confesso que, num caso de indulgência excessiva, já caí (e comprei) (n)as obras anteriores, mas à terceira - esta - já não embarco: só cairá quem quer. Reconheço que ele há obras póstumas que merecem a publicação e mesmo o destaque - assim, de memória, estou a lembrar-me de O Processo de Franz Kafka, obra que, além de póstuma, se apresenta inacabada. Mas a bibliografia de Michael Crichton foi acrescentada de 3 - Livros - 3 que foram publicados um, três e nove anos depois da morte do autor! Concordemos que é demasiada arte póstuma!

21 abril 2019

A IRLANDA DO NORTE À BEIRA DA GUERRA CIVIL

21 de Abril de 1969. A Irlanda do Norte era dada como estando «à beira da guerra civil». Na semana anterior, a causa dos católicos recebera um poderoso impulso moral por causa da vitória de uma jovem radical de 22 anos chamada Bernardette Devlin na eleição intercalar do círculo de Mid-Ulster, que fora até aí ocupado por um deputado unionista protestante. Fora uma eleição renhidamente disputada com a participação de mais de 91,5% dos eleitores registados*. Bernardette Devlin tornava-se a mais jovem deputada eleita para o Parlamento Britânico, e a sua figura mostrava ter um grande potencial para que ela se transformasse num ícone da causa nacionalista católica irlandesa e da defesa dos direitos civis da comunidade católica da Irlanda do Norte. Como reacção a uma situação política muito tensa e como noticiava o jornal «Tropas britânicas encontravam-se hoje de prevenção para guardar instalações importantes na Irlanda do Norte, após 36 horas de desordens em que mais de 250 pessoas ficaram feridas. Nove dos postos de correio de Belfast, atacados com bombas de gasolina, encontravam-se ainda a arder às primeiras horas da manhã de hoje, e aumentavam os receios nesta cidade de que se registassem mais desordens durante o dia.» A convocação dos militares não pôs fim à crise. Devlin não se tornou na nova Pasionaria da causa nacionalista irlandesa, culpa talvez do seu radicalismo. Mas o titulo da notícia anuncia-se profético porque a Irlanda do Norte iria entrar, a partir de Agosto daquele ano, numa verdadeira guerra civil. As imagens dos anos que se seguiram (estas abaixo são de quatro anos depois, em Abril de 1973), mostram um ambiente de país em que os habitantes dos bairros católicos parecem estar sob ocupação estrangeira.
* Em Portugal só houve uma taxa de participação semelhante nas eleições de 25 de Abril de 1975.

20 abril 2019

VASCO AINDA NÃO ESCREVEU NADA SOBRE O RELATÓRIO MUELLER MAS «THE SHOW AIN'T OVER TILL THE DRUNK LORD WRITES»

O Vasco é conhecido por muitos um pensador, mas é considerado por uns quantos por ser um pensador cómico. Escreve um diário num jornal. Consta que tem muita influência na opinião pública. Embora a esmagadora maioria das opiniões que se podem ler a seu respeito não sejam nada abonatórias quanto ao conteúdo e método dos seus pensamentos. Só que, infelizmente como tira teimas, Portugal não é a Ucrânia, e os cómicos como o Vasco não se dispõem a concorrer à presidência. Mesmo que pareçam muito mais sabichões, se calhar desconfiam que não iriam obter assim tantos votos. No diário que escreve, um dos tópicos que tem merecido a atenção recorrente de Vasco Pulido Valente é a América sob Donald Trump.
Mas, tanta terá sido a regularidade, que se destaca a excepção desta semana que findou, onde a tão apregoada publicação do relatório Mueller (ainda que necessariamente sombreado) já não lhe mereceu a atenção e as reflexões que o anúncio da entrega desse mesmo relatório lhe havia provocado, por contraste, a 24 de Março. Desatenção, falta de tempo, ou, por esta vez, o cronista céptico abocanhou a narrativa do procurador Barr e não parece disposto a dar a mão à palmatória? A omissão de Vasco é um grande sombreado. Contudo, há uma expressão americana de que muito gosto e que aqui pode ser empregue, adaptada: "The show ain't over till de fat lady sings" que, neste caso, se deve refrasear para "The show ain't over till the drunk lord writes".

O 50º ANIVERSÁRIO DE ADOLF HITLER

20 de Abril de 1939. Foi a data do 50º aniversário de Adolf Hitler e, mais surpreendente que a notícia que a ocasião fora assinalada por «imponentes manifestações em toda a Alemanha», será porventura o destaque que é dado na primeira página no Diário de Lisboa para anunciar isso mesmo. A situação internacional permanecia muito tensa e sabia-se o que esperar dos espectáculos coreografados que as ditaduras totalitárias se haviam especializado em montar. O dia fora considerado feriado nacional na Alemanha e as celebrações revestiram-se do mais variados aspectos, onde as paradas e outras formas de expressão militar assumiram lugar de destaque.
Menos evidente, mas igualmente importante, foi o aproveitamento da ocasião para o reavivar dos laços com a diáspora alemã espalhada pelo mundo. A foto de baixo, por exemplo, mostra as decorações montadas a propósito do aniversário no Clube Alemão da cidade australiana de Adelaide! Numa outra nota, não tão cordial, refira-se que nesse mesmo dia, a polícia nova-iorquina tinha estado muito atenta às celebrações que o Volksbund realizara na cidade, também a propósito do aniversário do Führer, impedindo-os de usar uniformes e de desfilar por causa de algumas posturas municipais... As relações entre os dois países haviam esfriado acentuadamente.

19 abril 2019

OS «PATINS» PARA A SECRETÁRIA DE IMPRENSA DA CASA BRANCA?

Uma das conclusões colaterais, porém cristalinas, da publicação do Relatório Mueller «sobre a interferência russa nas eleições presidenciais de 2016», é que aquela que é a porta voz oficial da Casa Branca, Sarah Sanders, foi apanhada a mentir. A mentir com todos os dentes que tem na boca. Na sua deposição, em que a seriedade das suas palavras poderia ter consequências adversas, Sanders veio esclarecer que a admissão que fizera numa conferência de imprensa repleta de jornalistas, que «o director do FBI (Comey) perdera a confiança dos seus agentes», fora um comentário produzido no «calor do momento», em não a opinião que emitira «não se fundara em nada». (was not founded on anything) Ou seja, ficou-se a saber ontem, Sarah Sanders não só inventara tudo como o dissera com a maior segurança e desfaçatez. Pouco generosos, os seus interlocutores (jornalistas) tiveram a atenção de fazer uma montagem de vídeo, rememorando o diálogo então travado (acima). Mesmo aqueles que não percebam o diálogo conseguem reconhecer a linguagem corporal dos intervenientes, a insistência céptica dos jornalistas, e aquilo que agora se confirma ter sido uma fuga para diante na aldrabice por parte de Sarah Sanders.

Seria grave se a Casa Branca de Donald Trump não já estivesse demonstrado já reger-se por outras regras e ter uma relação especial com a Verdade (e o ridículo). Do outro lado da barricada política, a Fox News deu de imediato oportunidade a Sarah Sanders de aparecer em cena, vitimizando-se, embora já não sob juramento.... 

A EXPLOSÃO DA TORRETA DO USS IOWA

19 de Abril de 1989. Nos finais da década de 80, as videocâmaras haviam-se tornado populares, permitindo que particulares filmassem cenas que haviam passado sem o ser até aí. No caso acima, um dos membros da tripulação do USS Iowa, um grande couraçado americano, usava a sua para filmar um dos exercícios a bordo do navio, quando a torreta diante de si explodiu. O grave acidente causou a morte de 47 dos 58 marinheiros que então se encontravam na torreta, mas o que me faz evocar o episódio é o quanto as imagens produzidas por um acidente a sério se revelavam um desapontamento, pelo menos quando comparadas com as tratadas pelos efeitos especiais dos filmes.

18 abril 2019

INSTINTIVO...

...ninguém resiste ao toque do seu telemóvel, nem mesmo o cego profissional...

MARCELO CAETANO EM LOURENÇO MARQUES

18 de Abril de 1969. No decurso da visita que estava a efectuar ao Ultramar, Marcelo Caetano estava em Lourenço Marques (actual Maputo). Eu também lá estava. Foi um dia muito concorrido para ir ver o presidente do Conselho conforme mostra o filme amador acima. Eu também tinha uma daquelas bandeirinhas que se entrevêm. E recordo-me que, à passagem do carro que transportava este Marcelo, ele era acompanhado por uma turba que o acompanhava em passo de corrida, com um daqueles entusiasmos festivos sem qualquer causa aparente, gozar a festa pela festa, uma atitude que só os laurentinos pareciam ter.

17 abril 2019

TEMOS QUE «APRENDER» IMENSO COM OS ESTADOS UNIDOS...

Aqui há coisa de uma semana o Jornal Económico deu destaque à discrepância de vencimentos entre os gestores de topo e a média da remuneração das empresas em bolsa. Nos Estados Unidos, porque lá as coisas são sempre muito maiores, essa nossa discrepância até assume um aspecto civilizado, como se pode ler na edição de hoje do Le Monde.

A REMOÇÃO DE DUBČEK

17 de Abril de 1969. Com a substituição de Alexandre Dubček à frente do Partido Comunista Checoslovaco concluíam-se finalmente os objectivos de Moscovo da remoção da ala reformista da direcção do PCC, processo que se iniciara de forma espectacular oito meses antes, com a invasão do país pelas unidades militares soviéticas e dos seus aliados mais fiéis. O desfecho demonstrava a um Mundo (que nunca tivera ilusões) e a um grupo muito selecto e compenetrado de comunistas (que as perdera), que a contemporização com o Kremlin não apaziguara Moscovo, que o jogo da colaboração estivera viciado desde a invasão, e que o que aí vinha apenas seria pior - a notícia anunciava cento e onze prisões mas isso, percebia-se, era apenas o começo de uma repressão agora descaradamente assumida. Recorde-se com alguma ironia que Dubček fora escolhido precisamente por ser o homem que oferecia mais confiança aos soviéticos...

16 abril 2019

NOTÍCIAS TÍPICAS DA ÉPOCA DAS GRANDES CONSPIRAÇÕES

16 de Abril de 1929. A Ditadura Militar ainda não completara três anos de existência e o governo era presidido pelo coronel Vicente de Freitas. A opinião pública ainda não se desabituara das grandes conspirações seguidas de furtivas movimentações de tropas que precipitavam mais uma permuta dos figurantes no poder. E os jornais compraziam-se em alimentar essa opinião pública com os relatos de tudo o que, mesmo vagamente, o evocasse. Assim acontecia com esta edição do Diário de Lisboa de há precisamente noventa anos que, sob o título de Ordem Pública, puxava para título as declarações do tenente-coronel (Ernesto Durval) Pestana Lopes, assegurando que não prendera nenhum general. Compreenda-se a importância do esclarecimento: se a conspiração tivesse envolvido um general, a "coisa" havia sido mais séria... Mas não, embora haja que reconhecer que as Polícias tinham andado activas ao longo do dia, publicando nada menos que três notas a propósito:

A primeira nota refere-se um boato segundo o qual o sr. tenente-coronel Pestana Lopes, director das Polícias, ia ser nomeado governador de Macau. Declara a Polícia: que o lugar nem está vago, nem tem probabilidades de vagar; que ainda que se desse a vaga, era quase certo que o sr. tenente-coronel não fosse convidado; e que ainda que o convite fosse feito, não o aceitaria.

A segunda nota alude aos boatos referentes a uma conspiração monárquica, e está redigida nos termos seguintes: «Correndo o boato, evidentemente no intuito de desnortear a opinião sinceramente republicana de que há elementos monárquicos que activamente conspiram no intuito do restabelecimento do regime deposto, o Governo desmente categoricamente tal boato, pois nada consta a esse respeito na Polícia de Informações. Mas ainda que tal boato fosse verdadeiro, nenhum receio poderia haver, porquanto o Governo, apoiado no Exército e na Marinha, garante que combaterá intransigentemente qualquer movimento de carácter político, seja qual for a cor da bandeira que pretendam arvorar.» (...)

A terceira nota é a que se refere a uma conspiração que a Polícia de Informações descobriu e inutilizou. E por isso merece ser transcrita na íntegra: «A Polícia de Informações do ministério do Interior tem nestes últimos dias efectuado muitas prisões, entre elas a do engenheiro António Maria da Silva, o qual se acha seriamente comprometido num movimento revolucionário que esta polícia acaba de inutilizar por completo. O sr. dr. Daniel Rodrigues, que a polícia pretendeu prender na sua residência e na Caixa Geral de Depósitos, evadiu-se, bem como o sr. dr. Domingos Pereira, andando a mesma polícia em sua perseguição.» (...)

Afinal, o conteúdo da notícia desmentia a sugestão do seu título, e a inexistência de um general era apenas uma mera questão de (falta de) requinte entre as conspirações em curso... Vê-se por aqui que, a técnica de enfatizar o desmentido do acessório, para não corroborar o essencial, é antiga como o caraças! De Pestana Lopes, que aqui se percebe ser um dos pilares do regime (e que, por isso, a outra facção de regime queria mandar para Macau), consta que era um dos mais pertinazes inimigos de Salazar, que já era então ministro das Finanças. Mas essa é toda uma outra história...

15 abril 2019

EXEMPLO DE UMA NOTÍCIA PERFEITAMENTE INÚTIL

O que torna esta notícia acima merdosa não tem nada a ver com o facto de ela se mostrar favorável à candidatura de Donald Trump. Tem a ver com o facto de ser publicada sem que haja qualquer esforço do(s) autor(es) em lhe dar um contexto, já que é óbvio que o leitor médio não tem qualquer ideia de grandeza do que será uma capacidade de arrecadação de fundos bem sucedida numa campanha presidencial. E já agora, ele(s) também não. Vai daí, o que é publicado é apenas a ressonância da propaganda da campanha para a reeleição do presidente. Por acaso, o tema da capacidade para a angariação de fundos até tem sido promovido na América, como se vê pela notícia abaixo, datada do princípio deste mês, em que o New York Times se dedica ao mesmo exercício do que acima faz o SAPO24, só que, nesse caso, o jornal americano o faz em prol do candidato democrata Bernie Sanders (no mesmo estilo opaco e merdoso, acentue-se). Tudo o que se lê a tal respeito tem que ser visto em perspectiva, a tal perspectiva que os jornalistas se esquecem sempre de adicionar. No caso, o primeiro aspecto é que os 18 milhões angariados por Sanders têm que ser comparados com os 30 milhões de Trump depois de tomar em conta que Sanders é apenas um dos mais de vinte candidatos presidenciais do lado do partido democrata, enquanto que, até agora e como é tradicional, ninguém a sério se apresentou do lado republicano para disputar as primárias com o inquilino da Casa Branca. Ou seja, Sanders é apenas um dos receptores de fundos de um dos lados, enquanto do outro existe um monopólio e é sabendo disso que se percebe que a diferença não é assim tão grande. O SAPO24 não se esqueceu de nos explicar isso - porque não foi à procura de contexto, nem falou de Sanders sequer! Como também se esqueceu de explicar de como os milhões que refere são apenas uma gota de água no que vai ser gasto nas campanhas: há quase quatro anos, em Agosto de 2015 e ainda a eleição presidencial estava a mais de um ano de distância, e o número de que se falava já nessa altura era de 250 milhões! E aí, por sinal, Donald Trump nem aparecia em lugar de destaque entre os candidatos, numa demonstração que, apesar do dinheiro dar sempre jeito, o desfecho desta competição vai ser entre votos nas urnas e não entre notas de dólar nas carteiras. Teria ficado bem ao SAPO24 enfatizar isso. Enfim, que tal teria sido pegar na peça de propaganda da candidatura de Donald Trump e, em vez de só a traduzir, aproveitá-la para escrever uma verdadeira notícia?...

14 abril 2019

A CARTA DE FRANKLIN ROOSEVELT PARA ADOLF HITLER

14 de Abril de 1939. Por causa da tensão internacional, o presidente norte-americano envia uma carta de 7 páginas ao chanceler alemão. A História demonstrou o quanto a iniciativa de apaziguamento se revelou infrutífera. Mais do que isso e como se pode ver no video depois da carta, Adolf Hitler aproveitou-se da carta para, para além de recusar a proposta, fazer troça pública e ostensivamente do gesto de Franklin Roosevelt.

Sua Excelência Adolf Hitler
Chanceler do Reich Alemão
Berlim (Alemanha)

Com certeza que se apercebeu que, por todo o Mundo, centenas de milhões de seres humanos vivem hoje no receio constante de uma nova guerra ou mesmo de uma série de guerras.
A existência deste receio – e a possibilidade desse conflito – são uma preocupação do povo dos Estados Unidos em nome do qual falo, tal como a devem ser a dos povos de outras Nações de todo o Hemisfério Ocidental. Todos eles sabem que qualquer grande guerra, mesmo que se cinja a outros continentes, repercutir-se-á sobre eles, quer durante a sua existência, quer em consequências para as gerações vindouras.
Por causa do facto de, após as tensões agudas que o Mundo viveu nas últimas semanas, parecer existir agora um momento de relaxe – não existem movimentações de tropas em curso – este será momento oportuno para eu lhe enviar esta mensagem.
Em ocasião prévia, dirigi-me a si em defesa da resolução dos problemas políticos, económicos e sociais por métodos pacíficos e sem o recurso às armas.
Mas a evolução dos acontecimentos parece ter feito regressar a ameaça das armas. Se a ameaça persistir, parece inevitável que uma boa parte do Mundo caminhará para uma ruína comum. Todo o Mundo, Nações vencedoras e vencidas e neutrais, sofrerão. Recuso-me a acreditar que o Mundo esteja, necessariamente, preso a esse destino. Pelo contrário, parece-me claro que os líderes das grandes Nações têm o poder de libertar os seus povos de um desastre quando se parece impor. É igualmente claro que, no seu próprio íntimo, os próprios povos aspiram a que desapareçam os seus medos.
Todavia, é infelizmente necessário tomar em consideração os factos recentes.
Três Nações da Europa e uma de África viram a sua existência como países independentes terminada. Um vasto território de uma outra Nação independente no Extremo Oriente é ocupado por um Estado vizinho. Relatos, que confiamos não sejam verdadeiros, apontam para que outros actos de agressão se prevêem ainda contra outras Nações independentes. É claro que o Mundo se encaminha para um momento de desfecho catastrófico a não ser que se encontre uma maneira mais racional de conduzir os acontecimentos.
O senhor tem afirmado repetidamente que o senhor e o povo alemão não deseja a guerra. Se isso for verdade, não há necessidade que haja qualquer guerra.
Não há nada que possa persuadir os povos da Terra que qualquer governo tem o direito ou a necessidade de infligir as consequências de uma guerra no seu ou noutro povo com excepção da óbvia situação de auto-defesa.
Ao afirmar isto, nós, Americanos, dizemo-lo sem ser por egoísmo ou medo ou fraqueza. Se o fazemos agora é empregando a voz da força e da amizade pela Humanidade. Continua a ser para mim claro que os problemas internacionais podem ser resolvidos à mesa das negociações.
Não é por isso argumento em prol da discussão pacífica que um das partes assuma que, a não ser que receba garantias prévias que o desfecho seja a seu contento, não deporá as suas armas. Nas mesas de negociações, como nos tribunais, é necessário que as duas partes participem na discussão de boa fé, assumindo que haverá vantagens recíprocas; e é costume e necessário que as armas sejam deixadas à porta do local das negociações.
Estou convencido que a causa da Paz Mundial receberia um grande reforço se as Nações de todo o Mundo recebessem uma declaração franca sobre as políticas actuais e futuras dos Governos.
Porque os Estados Unidos, como uma das Nações do Hemisfério Ocidental, não está envolvido directamente nas controvérsias que apareceram na Europa, confio que o senhor esteja disposto a me fazer uma declaração desse teor, como chefe de uma Nação bem afastada da Europa, para que eu possa, agindo unicamente com as responsabilidades e obrigações de um intermediário amistoso, possa transmitir essa declaração a outras Nações por ora apreensivas com o curso que a política do seu Governo possa vir a tomar.
Está na disposição de assegurar que as suas forças armadas não atacarão ou invadirão o território ou as possessões das seguintes Nações independentes: Finlândia, Estónia, Letónia, Lituânia, Suécia, Noruega, Dinamarca, Países Baixos, Bélgica, Grão Bretanha e Irlanda, França, Portugal, Espanha, Suíça, Liechtenstein, Luxemburgo, Polónia, Hungria, Roménia, Jugoslávia, Rússia, Bulgária, Grécia, Turquia, Iraque, as Arábias, Síria, Palestina, Egipto e Irão?
Essa garantia teria que claramente se aplicar não apenas ao momento presente como também a um futuro suficientemente distante para criar a oportunidade para trabalhar por métodos pacíficos para uma Paz mais duradoura. Sugiro por isso que a aplicação da palavra “futuro” seja entendida para um período mínimo de não-agressão assegurada de dez anos, até a um quarto de século, se nos atrevermos a pensar a tal distância prospectiva.
Se uma tal garantia for dada pelos seu Governo, eu transmiti-la-ei de imediato aos Governos das Nações que acima mencionei e questionarei de imediato, como estou razoavelmente seguro que acontecerá, se cada uma daquelas Nações estará disposta a dar-lhe a mesma garantia, reciprocamente.
Será o tipo de gesto que trará um alívio imediato a todo o Mundo.
Proponho que, a acontecer, dois problemas essenciais venham a ser discutidos no ambiente distendido resultante, e nessas discussões o Governo dos Estados Unidos terá muito gosto em participar.
As discussões a que me refiro relacionam-se com a forma mais imediata e efectiva para que os povos do Mundo se possam aliviar do fardo do rearmamento que está progressivamente a levá-los para um desastre económico. Em simultâneo, o Governo dos Estados Unidos estaria preparado para tomar parte em discussões para uma forma mais prática de criar vias mais amplas para o comércio internacional, com o objectivo de que todas as Nações do Mundo possam ser capazes de comprar e vender no mercado mundial assim como assegurarem os meios de obterem os materiais e produtos para uma vida económica pacífica.
Ao mesmo tempo, aqueles outros Governos para além do dos Estados Unidos e que estejam directamente interessados podiam desenvolver as suas próprias discussões políticas no que respeita aquilo que considerassem necessário e conveniente.
Reconhecemos os problemas complexos do Mundo que afectam toda a Humanidade, mas sabemos que o estudo e a discussão dos mesmos se deve realizar num ambiente de Paz. O Ambiente de Paz não pode existir se as negociações forem eclipsadas pela ameaça da força ou o receio da guerra.
Creio que não interpretará mal o espírito de franqueza desta missiva. Os chefes dos grandes Governos nesta hora crucial são literalmente responsáveis pelo destino da Humanidade nos anos mais próximos. Não podem falhar na audição das orações dos seus povos para que se protejam do previsível caos da guerra. A História os tornará responsáveis pela vida e felicidade de todos, até aos mais humildes.
Espero que a sua resposta faça com que seja possível que a Humanidade perca o medo r recupere a segurança por muitos anos.
Uma mensagem similar foi endereçada ao Chefe do Governo Italiano.

Franklin. D. Roosevelt

Porque é importante hoje em dia, invocar a carta e ver o vídeo da resposta de Hitler? Para constatar o quanto os protagonistas da situação internacional podem mudar tanto em oitenta anos: se pensarmos numa política externa vocacionada para o bullying e o fanfarronismo, pensamos de imediato no actual sucessor de Roosevelt, Donald J. Trump; mas se pensarmos numa figura prestigiada e ponderada da cena internacional, uma das figuras que mais facilmente nos ocorre será a longínqua sucessora de Hitler, Angela Merkel...

13 abril 2019

O CENTENÁRIO DO MASSACRE DE AMRITSAR


13 de Abril de 1919. Depois do fim da Grande Guerra, as elites indianas esperavam dos britânicos a concessão de um estatuto de autogoverno que os equiparasse, de alguma forma, aquele que era usufruído pelos Domínios do Canadá, da Austrália, da Nova Zelândia ou da África do Sul. O investimento que os indianos haviam feito na causa imperial durante a guerra - 1.440.000 soldados mobilizados, cerca de 65.000 mortos - esperava por esse retorno. Só que as autoridades britânicas não queriam nem ouvir falar em tais reivindicações. Refira-se que cerca de 450.000 desses indianos haviam sido recrutados no Punjabe, uma região fértil do Norte da Índia (Punjabe quer dizer cinco rios), onde coexistiam três das grandes religiões da Índia: muçulmanos, hindus e também sikhs. Em Amritsar, capital religiosa desta última confissão, a 13 de Abril de 1919 (um Domingo) dava-se a coincidência de se concelebrar o festival de Ram Naumi por parte dos hindus com o dia de Baisakhi, que era o primeiro dia do Ano Novo sikh. A cidade estava apinhada, abrigando cerca do triplo do que seria a sua população normal de 160.000 habitantes. O ambiente era tenso e a atenção policial era intensa mas o exercício de prepotência mortífera a que as autoridades britânicas se dedicaram teve todo o absurdo que esta reconstituição acima demonstra (foi retirada do filme Gandhi). Mais do que a brutalidade e as vítimas (379 mortos e 1.100 feridos, segundo os números oficiais), as consequências políticas para a presença britânica na Índia foram arrasadoras, ao fazerem desaparecer os moderados entre o movimento nacionalista indiano, aqueles que ainda estariam dispostos a negociar com as autoridades coloniais uma transição pacífica e progressiva da Índia até a um estatuto equivalente ao dos outros Domínios. Os 28 anos que decorrerão até à independência serão um contínuo braço de ferro com os nacionalistas a forçar o calendário dos acontecimentos.

12 abril 2019

COMO É MESMO O NOME?...

O camarada aqui debaixo nem sabe se algum dia irá sair do anonimato, mas já se quer fazer distinguir pela arrogância disparatada de como se presume conhecido. Para já, conseguiu um auxílio precioso de Assunção Cristas que, a seis meses das eleições legislativas, teve a presciência de o colocar no sexto lugar das listas do CDS que concorrerá por Lisboa. Uma mais valia parlamentar, portanto, mas só se aquele partido chegar a conseguir eleger seis deputados por Lisboa (algo que só aconteceu uma vez nos últimos vinte anos).
Se os deputados sabem todos o nome dele, como é mesmo seu nome?

11 abril 2019

BURACO NEGRO É O SÍTIO ONDE CARLOS MOEDAS DESEJAVA QUE TIVESSEM DESAPARECIDO AS SUAS PREVISÕES DE HÁ OITO ANOS...

Carlos Moedas é o palhaço que se força a aparecer em todas as ocasiões mediáticas. Não é muito fácil imaginarmos um membro da administração americana pendurar-se para aparecer quando de um anúncio de uma descoberta da NASA. Mas Moedas, nesse aspecto, ainda não saiu de Beja (fazendo, nesse aspecto, lembrar José Sócrates e os prodígios tecnológicos do computador ibero-americano). Acresce ao ridículo da situação, uma verdadeira vergonha alheia, quando buraco negro é uma daquelas expressões que se presta a muitos trocadilhos associáveis ao que foi o medíocre desempenho de Carlos Moedas no governo de Passos Coelho, o homem encarregue de se pôr de joelhos cada vez que a tróica nos visitava.. Mas, mais do que atitudes, fiquemo-nos por aquilo que é objectivo e que Moedas antecipara e que hoje é um embaraço merecedor de ser vazado para um buraco negro: a constatação que o governo do PSD não conseguiu fazer subir o rating português junto das agências de notação para níveis aceitáveis. Num registo menos apalhaçado: a imagem do buraco negro correu acefalamente mundo, mas foi preciso um maduro que lhe sobrepusesse o sistema solar para que tivéssemos uma ideia da escala do que estávamos a ver...

A QUEDA DE IDI AMIN


11 de Abril de 1979. Derrube de Idi Amin. O ditador do Uganda tem que abandonar de helicóptero a capital do Uganda, Kampala, quando a cidade foi conquistada pelo exército tanzaniano, que estava acompanhado de algumas unidades político-militares de exilados ugandeses, embora estas últimas apenas lá estivessem para conferir alguma aparência política de guerra civil ao que não passara de um conflito canónico entre os dois países. Mas, por aquela vez, as proclamações que se costumam fazer nestas ocasiões, de que o país vencedor não tivera ambições expansionistas quando da invasão, até se vieram a comprovar substancialmente verdadeiras pelos factos posteriores. A acção militar tanzaniana visara o afastamento de Idi Amin, ditador absoluto no Uganda e protagonista político de comportamento imprevisível.
Valha a verdade que Idi Amin era, pelo menos à escala mediática da época, muito maior do que o seu país. Tendo tomado o poder oito anos antes (1971) num golpe militar, o gigantesco e corpulento Amin (1,93!) havia-se tornado uma figura conhecida e caricata do panorama político internacional (acima) por causa do seu comportamento errático e das suas decisões intempestivas. Por detrás dessa avaliação, notava-se uma indisfarçável sobranceria dos países ocidentais em relação às condições primitivas das sociedades civis dos países africanos. Guardado estava o bocado, para que, quarenta anos mais, e agora de maneira democrática, uma figura com um retrato físico (Trump tem 1,90) e psicológico muito semelhante (só que em branco e louro...) ocupasse o poder em Washington... Veja-se abaixo que não fui o primeiro a pensar na analogia.

10 abril 2019

A EUROPA DE PREVENÇÃO

Há oitenta anos e na sequência da invasão italiana da Albânia, as notícias eram que os exércitos de toda a Europa haviam entrado de prevenção, atitude acompanhada de proclamações destinadas a auditores específicos. Note-se a página abaixo do Diário de Lisboa de 10 de Abril de 1939, em que as curiosidades maiores são a ausência de referências à Alemanha entre os países mencionados, ao mesmo tempo que o destaque principia em países que lhe são fronteiriços e que se sentirão mais directamente ameaçados por essa mesma Alemanha, como serão os casos da Holanda e da Suíça. Sem se nomear expressamente qualquer país, percebia-se claramente de onde seriam de esperar as perturbações ao status quo internacional.

09 abril 2019

OS SETE ASTRONAUTAS DO PROJECTO MERCÚRIO


9 de Abril de 1959. Apresentação em Washington D.C. dos primeiros sete astronautas seleccionados para o projecto Mercúrio, projecto esse que visava a realização de um primeiro voo tripulado no espaço. O acontecimento contou com a presença de cerca de 200 jornalistas, que (ignorância oblige) se interessaram mais pelos aspectos da vida pessoal dos seleccionados do que pelas competências técnicas que os haviam levado até ali. Foi o início de uma fase, que terá perdurado por uma década ou um pouco mais, mas hoje esquecida, do astronauta que possuía o glamour de uma estrela de cinema.  Nos meses que se seguirão, o conjunto vai ser passeado e fotografado em circunstâncias várias, como se se tratassem de concorrentes de um concurso de misses...

07 abril 2019

VICE

Vice está muito longe de ser "The best film of the year". Para que as caricaturas sejam boas - e este filme é um retrato caricatural do ex-vice-presidente de George W. Bush - é preciso que quem as aprecia conheça bem o caricaturado. Ora, até mesmo durante a campanha presidencial de 2000, que o levaria ao cargo que dá titulo ao fime, Dick Cheney sempre permaneceu uma figura secundária, e isso mesmo entre a opinião pública norte-americana. O filme perde por isso: para a maioria tornar-se-á difícil perceber onde começa o exagero. Mas, mesmo que encaremos com desconto aquilo que ali é contado que aconteceu durante os anos da presidência atribuídos a George W. Bush, o que parece retroactivamente assustador é que tudo aquilo que nos é mostrado da actividade da administração Bush - a invasão do Iraque em lugar de destaque - terá acontecido sob holofotes e microfones mas sem qualquer escrutínio significativo por parte da opinião publicada. Pelo que aconteceu e não foi escrutinado na altura em que acontecia, será caso para perguntar se, mau grado a parafernália de barulho noticioso que nos debitam, qual é o verdadeiro valor noticioso do que nos noticiam nos dias que correm. Será que daqui por dez anos, com filmes recapitulativos como este, teremos uma imagem completamente diferente do que se está a passar na Casa Branca sob Trump, ou o que é que está de facto a acontecer nos bastidores com o Brexit?...

A INVASÃO ITALIANA DA ALBÂNIA

7 de Abril de 1939. A Itália invade a Albânia. A resistência albanesa colapsará em poucos dias e o país é anexado. No campeonato dos amores próprios ofendidos dos ditadores belicistas da Europa, é desta forma que Mussolini responde a Hitler, que se esquecera de o avisar das suas intenções de invadir a Boémia e a Morávia, ou ainda de recuperar Memel à Lituânia. Ainda faltam cinco meses para a eclosão da Segunda Guerra Mundial, mas este acompanhamento compassado destes momentos de uma diplomacia cada vez mais musculada permite perceber melhor como o Grande Conflito não foi sentido pelos observadores como um inesperado balde de água fria, antes como uma progressiva entrada numa banheira de água a escaldar.

05 abril 2019

A GRANDE CISÃO DO GRUPO PARLAMENTAR DO PSD

5 de Abril de 1979. A actualidade política de há quarenta anos era dominada pela cisão verificada no grupo parlamentar do PSD, o segundo maior do hemiciclo, com 73 deputados. Metade abandonavam o partido, passando à condição de deputados independentes (37). Dali por oito meses, quando da realização das eleições intercalares, a grande maioria desses dissidentes foram à vida. Porque tinham outra vida. O que não se garante que aconteça com os potenciais dissidentes parlamentares do PSD nestes dias que correm (abaixo). A promoção seleccionada que por aí se faz de uma andorinha ou de outra andorinha naquele partido, não esconderá o facto que os deputados do PSD, por muito que seja o seu dissídio, se desabituaram de voar em bandos desde essa altura. E lá diz o ditado popular que uma andorinha não faz a Primavera...

04 abril 2019

A MORTE DO REI DO IRAQUE

4 de Abril de 1939. A morte de um monarca é sempre um tema noticioso, para mais se ele morre num acidente rodoviário, apenas com 26 anos. O seu filho e sucessor, Faiçal II, tinha apenas 4 anos, o que impunha a criação de uma regência e a consequente disputa sobre quem seria o regente. Tudo se combinava para que o modelo da monarquia ocidental, transplantado depois da Grande Guerra para alguns países árabes pelos britânicos (Iraque, Jordânia), tivesse mais revezes que sucessos.
Nem de propósito, noticiado com alguma casualidade negligente pelo Diário de Lisboa, mas sintoma do péssimo estado das relações anglo-iraquianas, em Mossul os manifestantes haviam aproveitado o momento de luto para incendiar o consulado britânico local, assassinando o consul...

03 abril 2019

SUCESSOS E PROMESSAS DO PANORAMA MUSICAL HÁ CINQUENTA ANOS

Há cinquenta anos, a sensação «pop» da semana era o cantor Marvin Gaye cantando uma nova versão rearranjada the «I Heard It Trough The Grapevine» (abaixo). A versão de Gaye permanece, até hoje, a de referência daquela canção. Repare-se na supremacia gozada pela música anglo-saxónica: os top ten que são mencionados são os de Londres e Nova York.

Quiçá o facto de se estar na semana que antecedia a Páscoa e o noticiário apresentar-se, por isso parco em outras notícias, algum espaço suplementar era conferido à música.
Numa outra página da mesma edição do jornal, e também em local de destaque, constava a promessa solene dos responsáveis da televisão sueca de deixar de participar no festival da canção da Eurovisão. A notícia ia mesmo ao ponto de atribuir a um desses responsáveis a qualificação do festival de um «programa medíocre». Essa promessa (não o sabiam os leitores de então) seria clamorosamente desmentida pelo futuro. A Suécia, ausente da competição em 1970, regressaria em 1971 e, dali por quase precisamente cinco anos (6 de Abril de 1974) venceria pela primeira vez o certame com a canção Waterloo dos ABBA (abaixo). Depois disso, venceria a competição por mais cinco vezes, um dos países mais bem sucedidos no tal de «programa medíocre».

02 abril 2019

DOIS VÍDEOS IMPRESSIONANTES DE ASSASSINATOS À QUEIMA ROUPA


Qualquer destes dois vídeos é impressionante pela violência que contêm. São assassinatos escusados. O de cima é muito mais conhecido, já tem 44 anos e foi filmado em Portugal durante a fase do PREC e, como no próprio se explica, foi exibido pelas «televisões de uma Europa cada vez mais atenta ao processo português». A atenção vale ali por eufemismo de horror. O vídeo de baixo tem apenas sete semanas, aconteceu nos Estados Unidos, e tratou-se de mais uma daquelas intervenções policiais que acabam com a morte do civil envolvido, um acontecimento infelizmente muito comum na América (a média é de cerca de mil mortos por ano nas mesmas circunstâncias). Este envolveu alguém com notoriedade. As televisões da Europa já nem passam tais incidentes policiais, que a atenção dos europeus agora dispersa-se por outros interesses, depois de incorporar a sensação que a polícia americana se comporta com os civis como um exército de ocupação da Segunda Guerra Mundial. Não fora eu tê-los reunido aqui, nunca seriam para apresentar em conjunto, porque as causas e as críticas políticas de um são as opostas à do outro. Os sons do tiroteio, o descontrolo dos intervenientes e a violência gratuita são os mesmos, mas qual será o interesse político comparar a polícia da América de Trump ao Copcon do Portugal de Otelo e Vasco Gonçalves?... E, contudo, não se percebe que se trata de duas faces da mesma moeda?