29 abril 2019

A EVOLUÇÃO DA POPULAÇÃO PRISIONAL DOS ESTADOS UNIDOS

Desde sempre, o sistema prisional norte-americano criou uma reputação de ser terrível. Num filme já com cinquenta anos intitulado Take the Money and Run (acima), Woody Allen faz uma paródia a esse respeito, criando um anti-herói que se revelava um fracasso como criminoso mas que, mesmo assim, perseverava em evadir-se das prisões. A tão celebrada prisão de Alcatraz já então fora desactivada, tendo albergado os seus célebres hóspedes entre 1934 e 1963. Hoje é um museu.
Mas, por detrás das idiossincrasias do submundo do crime norte-americano, serão poucos os americanos e ainda menos os estrangeiros que se aperceberam o que aconteceu com a população prisional dos Estados Unidos desde 1969, quando Woody Allen parodiava o sistema. Como se vê pelo gráfico acima, o número de prisioneiros quintuplicou nestes últimos cinquenta anos. As causas para um tal crescimento não parecem ter sido uma degradação da situação criminal na América, mas antes um crescendo de adopção de medidas cada vez mais punitivas na repressão do pequeno crime. A partir de 1980 (administração Reagan e as que se seguiram, Bush pai, Clinton, Bush filho) e sob slogans como "War on Drugs" ou "Law and Order" entrou-se num frenesim que tornou a população prisional dos Estados Unidos na mais elevada do Mundo, tanto em termos absolutos quanto relativos. Atente-se ao gráfico abaixo da esquerda, e vê-se que, no indicador relativo (população prisional por 100 mil habitantes), os Estados Unidos superam em muito todos os restantes países: por exemplo, o índice norte-americano é o quíntuplo do português. Mas a verdade é que raramente se assiste à discussão do problema, analisando a eficácia dos resultados dessas políticas extremas de encarceramento.
Em contraste, a série de TV de cariz popular Cops é um sucesso: está em exibição há 30 anos. É muito comum que o episódio seja preenchido por uma perseguição dinâmica atrás de um meliante (normalmente de uma minoria étnica...) que, no fim da arfante acção policial, é capturado com um punhado de charros no bolso, pretexto para que ele vá dentro por causa da War on Drugs e que os polícias se consolem dizendo para as câmaras que ao menos, assim o haviam tirado das ruas. Tudo aquilo parece uma gigantesca terapia ocupacional inconsequente. Porque, em comparação com os outros países, as ruas das cidades americanas não parecem particularmente mais seguras só porque as suas prisões estão substancialmente mais cheias...

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