Foi graças à minha amiga Ana e as suas Garfadas On-Line que fiquei a saber que havia uma escala para medir o picante denominada Escala de Scoville. O nome foi-o buscar a um norte-americano, Wilbur Scoville (1865-1942), que a estabeleceu baseado em critérios objectivos vai para mais de 100 anos (1912). Como se observa acima, a escala varia de zero a dezasseis milhões e saber da existência de tabela tão cientificamente rigorosa foi uma surpresa completa para quem até agora se limitara a avaliar a agressividade da coisa pelo seu aspecto ou pelos tradicionais um, dois ou três pimentos bem vermelhos à frente da denominação dos pratos nos cardápios dos restaurantes indianos e/ou mexicanos. Constatando-se assim que há escalas científicas para aspectos dos mais improváveis do nosso quotidiano, pergunto-me se alguém conhecerá por aí uma escala que, em vez do picante, avalie o descaramento político? É que, para os mais distraídos, recorde-se que há 50 meses que Pedro Passos Coelho dirige um governo que tem sido repetidamente repreendido por estar a acentuar as desigualdades sociais em Portugal. E é só agora, depois de nem sequer ter fingido fazer algo que fosse a esse respeito que, a um mês das eleições, se resolve a anunciar que elege o combate às desigualdades sociais como prioridade? É do mais picante que pode haver no manobrismo político...
31 agosto 2015
QUEM SE LEMBRA DA TRAGÉDIA DO ESTÁDIO DO HEYSEL?
Comemora-se hoje o décimo aniversário de uma tragédia que custou a vida a quase mil (953) peregrinos iraquianos por ocasião de uma tradicional peregrinação xiita. Antes das cerimónias, numa das colunas de dezenas de milhares que se iria concentrar no santuário em Bagdade, alguém apontou para alguém dizendo que se tratava de um bombista suicida e gerou-se o pânico precisamente quando parte dessa coluna atravessava uma das mais importantes pontes (Al-Aimmah) que cruza o rio Tigre. As mortes ocorreram por esmagamento no próprio tabuleiro da ponte e nos acessos (acima) e também por afogamento, quando as pessoas em desespero se atiraram ao rio. Hoje, não encontrei nenhuma evocação deste acontecimento na imprensa ocidental. O contraste é colossal quando em comparação com episódios idênticos ocorridos por cá, como será o caso do Heysel e da final da Taça dos Campeões de 1985, que causou 39 mortes e que é repetidamente evocado todos os anos (este ano foi o 30º aniversário). Sendo o aniversário mais recente e sendo o número de vítimas 25 vezes superior, não restem dúvidas que o interesse do Ocidente pelo que se passa naquelas paragens é diminuto e, não desculpando o seu inaceitável barbarismo, percebe-se por estas constatações porque é que os radicais islâmicos quando pretendem chamar a atenção da imprensa internacional para as suas acções preferem decapitar os ocidentais. Aos locais, e como se constata, mesmo que morra um milhar deles, não se costuma prestar particular atenção. E em alternativa, os leões estão extintos naquelas paragens desde há muito...
30 agosto 2015
O BONECO E OS BONECOS
Acorde-se que a imagem supra bem poderia ser aproveitada para um cartaz da coligação ou então tornar-se um trecho subliminar para os seus tempos de antena da próxima campanha eleitoral. Mas não. Trata-se apenas uma passagem do telejornal da RTP2 de anteontem, 28 de Agosto de 2015. Dizer que a imagem de Pedro Passos Coelho recebe ali um tratamento favorecido é um understatement. Imagine-se, por momentos e para comparação, se seria possível que Jerónimo de Sousa fosse apresentado antes de uma qualquer notícia expectável por uma fotografia igualmente sorridente e simpática enquadrada por detrás também pelo escudo nacional e, já agora, pela foice e pelo martelo... O mais interessante será porém que a notícia que serve de pretexto para tal boneco tem muito pouco a ver com o investir no interior e se revela afinal uma não notícia porque, nas palavras do próprio apresentador João Fernando Ramos, o primeiro-ministro recusa fazer cenários do governo até às eleições ou, como surgiu em rodapé (cerca dos 21 minutos de telejornal), Passos não fala dos “compromissos” de Cavaco. O microfone surgiu diante de Passos Coelho para que ele dissesse que não dizia nada...
Mas tudo o que acima se descreve faz parte de uma paisagem infelizmente tradicional da assimetria entre a cobertura noticiosa do governo e da oposição na televisão. A surpresa, a inocência e/ou a ignorância surgem quando descubro no facebook o apresentador João Fernando Ramos naturalmente brioso do seu trabalho, a usar precisamente a mesma imagem que acima destacámos para ilustrar e publicitar o seu trabalho durante a emissão que protagonizou e aí surge-me a pergunta, que creio pertinentíssima: independentemente de terem que o fazer, já que se trata de profissionais de televisão, será que esses profissionais se aperceberão dos jogos de que por vezes fazem parte?...
Adenda: Porque a abstracção é um exercício complicado, alguém me sugeriu que montasse o fundo da notícia como se ela fosse a respeito de Jerónimo de Sousa tal qual sugiro no texto, para realçar porque certos políticos são retratados de forma favorável e outros nunca o são. Eis Jerónimo (com Heloísa) numa montagem pouco sofisticada mas à qual, existindo realmente e passando durante o telejornal, tenho a certeza que os comunistas nunca poriam objecções...
A TERCEIRA PERNA
O que me intriga no cabeçalho da notícia acima do Sol é a importância dada nela à palavra oficialmente. Aparentemente, posso interpretá-la como tendo havido um jurado ajuramentado que o mediu, ao pénis, de fita métrica em riste, em compita com o pénis, içá-lo será obra de uma outra engenharia, mas perguntar-se-á: o que distinguirá aquele desgraçado de um seu companheiro de infortúnio que possua um pénis só oficiosamente descomunal?...
O TEMPO EM QUE OS ALEMÃES FIAVAM
Não costuma ser valorizado que, quando da eclosão da Guerra Civil de Espanha (1936-1939), foi o governo republicano legítimo que conseguiu ficar com as reservas de ouro que o país havia acumulado. E que reservas! Recorde-se que a Espanha se mantivera neutra durante a Primeira Guerra Mundial e que, por causa disso, robustecera o seu tesouro até às 700 toneladas de ouro – as quartas maiores mundiais de então, depois das norte-americanas, britânicas e francesas. O destino de ¾ desse ouro, transferido para a União Soviética durante a Guerra Civil é, ainda hoje, assunto de controvérsia, mas, para o que nos importa, é que os insurrectos, que mais tarde vieram a ser conhecidos por nacionalistas e a vencer o conflito, o começaram sem grandes meios financeiros para alimentar e sustentar a máquina de guerra necessária para vencer.
Os italianos e os alemães (e também os portugueses) que os apoiaram desde a primeira hora – Julho de 1936 – fizeram-no por razões ideológicas e, surpresa para quem tem ouvido falar da falta de confiança alemã para com os seus parceiros meridionais nestes tempos que correm, fizeram-no a crédito. Hitler fiou a Franco e mais, se Franco pedira originariamente 10 aparelhos de transporte Junkers Ju-52 (acima), Hitler entregou-lhe 20 para que se acelerasse o transporte aéreo do contingente rebelde destacado em Marrocos para regressar à Espanha propriamente dita. Mesmo não havendo ouro nos cofres os alemães não se mostraram esquisitos e aceitaram ser pagos posteriormente em géneros, em matérias-primas como minério de ferro, de cobre, volfrâmio ou mercúrio. Mas isso já não é propriamente novidade, o anormal foi a demonstração de confiança.
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29 agosto 2015
DOURO, FAINA FLUVIAL
Embora eu ache que a qualquer dos dois assuntos foi dada uma cobertura noticiosa despropositada, manda a coerência que, se a ministra Assunção Cristas gostou de aparecer nas fotografias a dar a cara por causa da produção de pera rocha a 20 de Agosto passado também o deveria fazer nas mesmas circunstâncias a propósito (do fim) da produção da sardinha, na semana seguinte.
O que não vale é, para colmatar a lacuna, fazê-la aparecer nas notícias enquadrada por umas fotografias pseudo-piscatórias: é que nunca tínhamos dado conta que os barcos-rabelo tradicionais (abaixo) também davam para aquela faina e que afinal a sardinha é peixe de água doce...
«ASK NOT WHAT...»
Na famosa passagem do discurso inaugural de John F. Kennedy de 1961, depois de ele se dirigir aos seus concidadãos (And so, my fellow Americans: ask not what your country can do for you - ask what you can do for your country), há uma continuação muito menos conhecida em que os destinatários são os cidadãos dos outros países (My fellow citizens of the World, ask not what America will do for you but what together we can do for the freedom of Man). Não sei o autor do cartaz de paródia abaixo a conheceria, a essa segunda passagem, e a teria tido em consideração quando o concebeu. Mas, conhecer essa continuação da citação torna o cartaz muito mais acerado: não parecendo para já estar em causa a Liberdade, no estado actual da União Europeia não se percebe o que é que poderemos fazer em conjunto (zusammen) com os alemães, para além de nos tornarmos comparativamente cada vez mais pobres enquanto a Alemanha prospera.
28 agosto 2015
NÚMEROS (em versão Raquel Varela)
Depois da versão original do meu amigo Ricardo Leite Pinto e da minha, permitam-me acrescentar uma terceira versão de números, agora na perspectiva da grande comunicadora que é Raquel Varela. Reconheça-se que comunicador sem outro atributo – José Hermano Saraiva era também um grande comunicador – pode tornar-se num eufemismo codificado, qualificando alguém que consegue criar uma grande empatia com um auditória enquanto se presta a dar os mais despudorados pontapés no rigor científico do tema sobre o qual comunica. É o caso. Anteontem, Raquel Varela publicou no facebook uma estatística bombástica sobre a taxa de insucesso das empresas recém-formadas (start-ups): 97%. No meio do corrupio de encómios que se segue à constatação acompanhados da consequente arenga ideológica, alguns admiradores mais rigorosos (assinalados abaixo a amarelo) pediram-lhe informações onde aceder às fontes de que se socorrera para tal afirmação. Ora, quando se esperaria que a resposta fosse o título de um ou dois documentos e as correspondentes páginas, senão mesmo o endereço electrónico das fontes de que se socorrera no caso delas estarem directamente acessíveis, a primeira resposta de Raquel Varela foi que as fontes são do INE (obrigado, se fossem da NASA é que me surpreenderiam...); depois Raquel acrescenta que se encontrariam dados acessíveis em teses do ISEG e também do IAMPEI (teria sido útil facilitar o acesso às tais teses, nomeando algumas que estivessem on-line); depois disso seguem-se finalmente dois links, um deles (este http://www.iapmei.pt/resources/download/EmpresasPortugal2012_INE_Mar2014.pdf (onde não encontrei dados que suportassem a afirmação de Raquel Varela) e um outro que, ela confessa não conhecer (alguém lho forneceu...), mas não lhe parecer desinteressante (http://www.researchgate.net/publication/262184651_impacto_do_micro-negcios_na_economia). Mais uma vez, sobre o concreto, nada.
Depois disso e mais uma vez Raquel Varela reconforta-nos com a informação que os dados têm origem no INE (não é o que está em causa mas sim onde é que ela foi buscar os famigerados 97%?), que há umas 50 teses sobre isto (será isto a comprovação que a taxa de insucesso das empresas recém-constituídas em Portugal é de 97%?), mas na tese que a seguir insere em esclarecimento(?) (http://repositorio.ucp.pt/bitstream/10400.14/15550/1/Master's Thesis_Pedro Filipe Abreu.pdf), e apesar das suas 149 páginas, confesso não ter conseguido encontrar lá mais uma vez a demonstração directa ou indirecta dos tais 97% de empresas recém constituídas e falidas. Pode até haver a intuição que o número de fracassos naquele género de empresas será bastante elevado, mas a verdade é que, com aquela afirmação, Raquel Varela concretizou essa intuição apoiada em dados que, no final do diálogo acima, continua sem se perceber onde os terá ido ela recolher (ao documento tal e à página tal!). Para o caso de Raquel Varela e o seu auditório não terem percebido até aqui o que se lhe critica, vai uma certa distância da comprovação concreta dos dados de uma afirmação, à apresentação de um sortido de documentos a respeito do tema a pretexto do qual essa afirmação fora proferida. Não, ao contrário do que o meu amigo Ricardo antecipava – e espero que ele não se aborreça por voltar ainda desta vez ao tema – os números estão muito longe de terem perdido qualquer terreno para as letras.
27 agosto 2015
AS VAIADELAS QUE EM PORTUGAL COSTUMAM SER ESPONTÂNEAS E APARTIDÁRIAS
Angela Merkel visitou ontem um centro de refugiados e foi recebida com vaias de um grupo que a imprensa internacional (e a portuguesa por arrasto, aprecie-se o conjunto de cabeçalhos acima) não hesitou em qualificar de extrema-direita e em quantificar em cerca de 50 pessoas. O que me intriga é porque será que, por cá, já se tendo instalado uma tradição de fazer esperas aos governantes para os vaiar (fossem eles do PS, sejam eles agora do PSD/CDS), não me lembro que haja a mesma preocupação por parte da nossa imprensa em destacar as afinidades ideológicas de quem vaia (que sabemos normalmente próximos do PCP - a extrema-esquerda) nem em procurar ser-se mais rigoroso quanto ao número dos que o fazem (algumas dezenas, uma meia centena)...
Note-se que é muito mais do que uma questão de se simpatizar ou não com José Sócrates (acima) ou com Pedro Passos Coelho (abaixo). É uma questão de não nos dispormos a que a comunicação social manipule as nossas simpatias. No vídeo abaixo, por exemplo, é evidente o expediente da contestatária em carregar propositadamente com a criança ao colo para dissuadir a reacção dos polícias. Só isso justificará a decisão de levar uma criança para uma situação de potencial aperto como aquela. Mas não se percebe se quem filmou e quem fez a montagem daquelas imagens se terá apercebido desse detalhe que a desfavorece. Afinal de contas, ninguém gosta de quando uma senhora destas pendura a criança no colo só para obter primazia nas caixas prioritárias do supermercado...
OS CATCH-22 DA SOCIEDADE PORTUGUESA
Fernando Nogueira tornou-se no verdadeiro Homem de Confiança da política portuguesa depois de a ter abandonado em 1995. Como acontecia com a lógica absurdamente auto-contraditória do romance de Joseph Heller Catch-22¹, também na política portuguesa não se pode ser um dirigente gerador de confiança e permanecer nela ao mesmo tempo. Para a manterem há que abandoná-la, se lá permanecerem, perdem-na. Mas, num contraste paradoxal também merecedor da comparação ao Catch-22 e tomando o exemplo recente da atenção acrítica dedicada aos ensinamentos de Horta Osório, não parece haver nada que abale a nossa confiança nos dirigentes financeiros por muito má figura que um Zeinal Bava ou um Ricardo Salgado façam....
¹ Alguém mentalmente insano poderia requerer a sua dispensa de participar em acções de combate, que seria indeferida, porque a apresentação do requerimento seria, por si só, a comprovação da sua sanidade mental.
26 agosto 2015
TV NOSTALGIA – 80
McCloud, uma série de TV cujo enredo se centrava nas aventuras de um xerife rústico vindo das berças do Novo México para a metrópole nova-iorquina. Como se suspeitaria, para que o xerife seja xerife a acção da série está sempre a pisar os limites da verosimilhança. Cometendo sucessivos atentados à minha nostalgia e à forma como recordo os heróis o You Tube tem tido a delicadeza de publicar episódios destas séries velhas de 40 anos para que eu as reaprecie em toda a sua qualidade. O episódio abaixo é o nº 2 da 1ª temporada da série, que foi transmitido – a preto e branco! – pela RTP na 2ª Feira, 27 de Novembro de 1972.
NÚMEROS (a minha versão)
Outro dia deparei-me com um artigo de um amigo, antigo de 27 anos (o artigo, não o amigo que conta alguns mais...) escrito, salvo erro, no número inaugural da revista Sábado (Junho de 1988), onde ele constatava que no confronto entre as letras e os números, as primeiras perdem cada vez mais terreno para os segundos. Recordo que se vivia então em tempos de apogeu do cavaquismo, em que a tecnocracia numérica parecia vaticinada para esmagar as argumentações literárias da política clássica. Parecia, mas era falso alarme. E não foi a queda do Muro, um pouco posterior, a responsável pela reversão da tal ameaça. Era a ameaça que era falsa porque as letras, em prosa e poesia, rapidamente recuperaram o seu lugar primordial e mostram-se mais prósperas que nunca. Veja-se o exemplo destes dois conhecidos livros que, já em pleno Século XXI, foram sucessos editorias apesar de basearem a sua argumentação em números. Os autores de um e outro trabalharam meticulosamente séries temporais que conduziram a conclusões que refutavam aquilo que, à data da sua edição, havia sido dado por axiomática e ideologicamente adquirido. No caso de The Skeptical Environmentalist (que se tornou um sucesso editorial quando da sua publicação em inglês em 2001)...
....os desmentidos eram para os ambientalistas e o seu catastrofismo ecológico – a superpopulação, a escassez de recursos, o aquecimento global que não se confirmavam pela interpretação dos números. No caso de Le Capital au XXIeme Siècle (que se tornou um sucesso editorial quando da sua edição também em inglês no ano passado) os desmentidos são os liberais e as propaladas vantagens do funcionamento do capitalismo sem a interferência de um estado preferencialmente mínimo – entregues a si mesmo os mecanismos automáticos de mercado tendem a perpetuar as elites ao longo de gerações e a acentuar as assimetrias em termos de distribuição da riqueza nas sociedades. Um livro e outro foram (e estão a ser) criticados, mas à base de muito conversa, muitas letras a refutar os números. Mas o que matou a importância de The Skeptical Environmentalist, apesar da valia da argumentação estatística de Lomborg, foi o esquecimento. Para quem acha que ele existe, o aquecimento global do planeta continua a existir, agora porque sim, dispensando o que digam os termómetros. E o mesmo padrão de tratamento pareço estar a detectar com o livro mais recente de Piketty. Apesar dos temores do meu estimado Ricardo, os números não só não venceram como foram discretamente remetidos ao ostracismo quando deles se podem extrair conclusões incómodas.
25 agosto 2015
O PEQUENO LIVRO AZUL - e não vermelho - COM OS PENSAMENTOS DOS PRESIDENTES DOS CONSELHOS DE ADMINISTRAÇÃO - e não de Mao Zedong...
Quiçá em homenagem a António Borges, de que se comemora hoje o segundo aniversário da sua morte, António Horta Osório, outro guru vindo dos sucessos no estrangeiro, assumir-se-á agora como o seu aparente sucessor/doutrinador, pelo destaque dado ao que terá dito na Universidade de Verão do PSD. A potente cobertura mediática dada à sua mensagem¹ é de tal forma esfuziantemente acrítica que nos faz lembrar aquelas cenas de consagração onde os discípulos de Mao brandiam os seus exemplares do pequeno livro vermelho como se os pensamentos do mestre se tratassem dos dogmas mais importantes do Mundo. Até podemos mudar a cor ao livro (para azul), já que a ideologia liberal é radicalmente diferente do comunismo na sua devoção maoista, mas há que reconhecer que a inflexibilidade e a monotonia como as fórmulas salvadoras² costumam aparecer repetidas pelos doutrinadores de ambas as ideologias, as torna estranhamente parecidas. Engraçado como há pessoas como José Manuel Fernandes que estiveram e estão nas duas.
¹ Citada no Correio da Manhã, Diário Económico, Diário de Notícias, Expresso, Jornal de Negócios, Observador, RR, RTP, TSF, TVI24
² No caso de Borges e Osório a necessidade de (ainda mais) reformas estruturais (sem as concretizar), de competitividade, de vivermos dentro das nossas posses, controlando a dívida, de estímulo à concorrência, baixando o peso do Estado. No caso de Arnaldo Matos e Garcia Pereira era o reconhecimento que só aquela ideologia libertadora e de combate devia ser levada ao proletariado e a todos os oprimidos porque só ela poderia possibilitar que a revolta das massas removesse milhares de anos de exploração de classe e desse à luz o mundo novo do comunismo.
O SOBREVOO DE PLUTÃO
Este vídeo resulta da montagem de sucessivas fotografias de Plutão durante as quatro horas de maior aproximação da sonda New Horizons àquele planeta em Julho passado. O vídeo dura apenas 16 segundos mas isso também nos deve servir de referência para a velocidade assombrosa a que a sonda viaja pelo espaço e cruzou o seu objectivo, importante para ela poder ter atingido Plutão apenas nove anos e meio depois de ter partido da Terra: são 16,26 km por segundo ou 58.536 km por hora, a essa velocidade ir-se-ia de Lisboa a Paris em minuto e meio!
24 agosto 2015
SOBRE O CALÇADO DOS «BOXEURS»
Este é dedicado a um amigo, leitor regular deste
blogue, de quem aprendi a importância de se apresentar bem calçado em qualquer match
de boxe, a propósito de um travado, espontaneamente e salvo erro, lá para as
bandas da rotunda da Boavista. De facto, só um praticante regular daquela nobre
arte conhece, por experiência própria, a importância do jogo de pernas...
AS SUPERIORIDADES...
Se nos tempos históricos a superioridade era moral e exclusivamente dos Comunistas como então pregou Álvaro Cunhal, no Século XXI a superioridade deixou de ser moral, exprime-se de outras formas mais concretas e mudou-se dos Comunistas para os Liberais como se comprova por estes cartazes onde se nota, em reforço da sua superioridade, o respeito pela etiqueta: as senhoras do CDS vêm antes dos senhores do PSD!
Por exemplo, e mesmo não vindo a propósito, é pensando no penteado de Maria de Belém que se concebe que a sua candidatura é muito mais transversal do que a de Sampaio da Nóvoa...
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NO QUE TODA GENTE PENSA MAS NÃO SE PODE CONVERSAR
Segundo uma notícia chegada de França, publicada, entre outros, pelo Jornal de Notícias, um casal morreu ao cair da muralha de uma fortaleza quando fazia amor. Os corpos nus foram encontrados no fosso, doze metros mais abaixo do local onde jaziam as roupas. É uma daquelas notícias onde o trágico das duas mortes se mistura com outros sentimentos menos confessáveis, caso da nossa insaciável curiosidade (agora tornada impossível de satisfazer) de saber as circunstâncias precisas em que se deu a queda do casal: A queda deu-se durante ou após o acto? Terá sido alguma posição mais kamasutrica nas ameias da muralha que correu mal? Como a Humanidade pode ser reles!
23 agosto 2015
UM TÍTULO CARREGADO DE PÊS: PACHECO PEREIRA, O POVO, A PERA-ROCHA E PAULO PORTAS
A de cima é uma fotografia que apanhei por aí na net, um José Pacheco Pereira fotografado no restaurante Solar dos Presuntos exibindo o sorriso desengraçado de figura mediática que nunca se adaptará a esse estatuto e à admiração do povo adulador em concreto. O do meio é um cartaz da juventude do CDS (quando eles eram populares) e a razão para elaborarem um cartaz tão precisamente dedicado ao mesmo aristocrático Pacheco Pereira deve-se ao facto de ele ter sido o cabeça de lista...
...do PSD às eleições europeias de 1999. Quanto à razão para que nessas eleições os populares do CDS dessem tanta importância a personalidades que defendessem a pera-rocha é que o seu cabeça de lista nessas eleições era Paulo Portas, capaz de, não só defender a pera-rocha, como de se mascarar (fotografia abaixo) em defensor da dita pera. A de Paulo Portas é uma pose também aristocrática mas antagónica à de cima: são os que gostam de povo e se adoram mascarar...
PS (mas de post-scriptum): Dezasseis anos transcorridos daquelas eleições, ganhas em Portugal pela lista do PS encabeçada por Mário Soares, a relação dos portugueses com a Europa afigura-se-me pior do que o estatuto da pera-rocha.
O QUICO DE ÉDOUARD GOUBERT
Assim como Portugal com Goa, Damão e Diu, também a França possuía, embora em menor dimensão (508 km²), um conjunto de possessões na Índia (acima). A versão da História que subsiste é que, ao contrário do que aconteceu com o caso português em 1961, elas foram integradas na União Indiana sem quaisquer problemas em 1954. Um daqueles pormenores de efemérides que li recentemente, veio esclarecer-me que não foi tanto assim. A efeméride a que me refiro é a de 16 de Agosto de 1962 quanto, só então e oito anos depois dos factos, a Assembleia Nacional ratificou o Tratado em que a França cedia os territórios à União Indiana. A esta disposição de encerrar formalmente os problemas coloniais pendentes não seria estranho o facto de a mais importante colónia francesa, a Argélia, ter-se tornado independente de facto e de jure no mês anterior, em Julho de 1962. O que se passara em 1954 é que a União Indiana promovera discretamente um golpe de força – mas não com muita força... – em que derrubara a administração colonial francesa em Yanaom, um dos enclaves constituintes da Índia francesa. Não por acaso, o processo foi precisamente idêntico ao ocorrido nesse mesmo ano mas mês e meio depois em Dadrá e Nagar Haveli, enclaves portugueses. Se a reacção oficial portuguesa foi frontalmente hostil, a reacção francesa foi de uma hostilidade carregada de nuances. Em 21 de Julho de 1954 a França assinara os Acordos de Genebra, onde reconhecia a derrota na Indochina. Os dias da França como potência colonial na Ásia estavam contados. A França iria ceder na prática na Índia mas reservando-se o reconhecimento formal para melhor altura – oito anos depois, como acima se refere, já num outro quadro conceptual da presença francesa no Mundo¹. Mas a mudança do governo francês em 1954 foi também um alerta para as elites locais fazerem uma inflexão na sua atitude face a uma cada vez mais inexorável anexação pela União Indiana. E aí é engraçada, porque simbólica, a figura de Édouard Goubert (1894-1979), o deputado representante da colónia na Assembleia Nacional francesa (abaixo à esquerda), filho de francês e de franco-indiana, com a sua formação jurídica feita em Paris, um francófono e francófilo não muito dado a exotismos - tinha 60 anos à data da anexação... - que, para salvar a sua carreira e também para benefício da fábula histórica da anexação pacífica da Índia francesa, é hoje representado pintado (abaixo à direita) e até mesmo em estátuas com o quico – à Nehru – do nacionalismo indiano na cabeça.
¹ Para comparação, Portugal veio a reconhecer de jure a anexação das suas possessões indianas treze anos depois de ela ter ocorrido.
22 agosto 2015
AS CAUSAS E AS CONSEQUÊNCIAS
Eu acredito plenamente que o PSD seja um partido de causas e que o seu actual presidente as tenha abraçado, a algumas...
...até que são ostensivamente antagónicas com as dos seus antecessores. Isso não é contraditório com o reconhecimento que, lá fora, na Europa...
...se recompensa bem quem se desgastou cá dentro abraçando certas causas de uma forma que não se recompensa quem abraça outras.
O patriotismo não é exclusivo de nenhum português mas os pins das bandeirinhas na lapela andam há quatro anos a irritar-me...e cada vez mais.
Uma coisa me parece certa, seja qual for o futuro da carreira profissional de Pedro Passos Coelho, comece ele logo depois de 4 de Outubro ou muito depois disso: nunca mais ele há-de ter de estar envolvido em acções de formação manhosas destinadas a técnicos de aeródromos onde nunca terá aterrado nenhum avião.
Uma coisa me parece certa, seja qual for o futuro da carreira profissional de Pedro Passos Coelho, comece ele logo depois de 4 de Outubro ou muito depois disso: nunca mais ele há-de ter de estar envolvido em acções de formação manhosas destinadas a técnicos de aeródromos onde nunca terá aterrado nenhum avião.
REPUTAÇÕES INJUSTAS
Durante décadas a farinha Amparo gozou da reputação de sortear cartas de condução e desde a última década, só para justificar a decisão de Jorge Sampaio e apesar do ego do visado, Pedro Santana Lopes também goza da reputação de ter sido o primeiro-ministro mais incompetente do regime. São injustiças que se cometem...
21 agosto 2015
A NOIVA
Eu bem sei quanto se pode tornar inconveniente esta nossa tendência para comentarmos os gostos alheios mas, porra, se a noiva da foto fuma, bebe (uma cervejola poisada no degrau da escada), gosta de usar mini-saias travadas e está grávida era mesmo necessário ir para a cerimónia de véu e vestida de branco? Para mais quando usa uns sapatos que nada combinam com o resto? Não conheço a identidade do fotógrafo... nem, já agora, da noiva. Mas endereço-lhe os meus votos de muitas felicidades.
OS CARTAZES E O NOVO PARADIGMA DA CRIATIVIDADE GRÁFICA NA POLÍTICA
Apesar de um arranque que foi um desapontamento (acima), os cartazes para as próximas eleições têm sido uma agradável surpresa, tanto em qualidade quanto em quantidade – não sei se o ephemera do José Pacheco Pereira chegará para tantas encomendas de arquivo. O número de cartazes que surgem parecem as exportações do Paulo Portas: cada dia que passa bate-se um record. Melhor: toda esta criatividade dever-se-á ao empreendedorismo do povo português, que foi uma das bandeiras deste governo e deixará decerto a coligação muito feliz, apesar da forma severíssima como os cartazes julgam a sua governação. Aliás, a própria expressão os cartazes parece estar a adquirir uma vontade colectiva própria daquela mesma forma como especialistas económicos como Camilo Lourenço se costumavam referir a os mercados. A culminar, os custos de concepção serão nulos, o que não desagradará nada aos partidos, nem mesmo aos que mais defendem os direitos dos trabalhadores. De lamentar apenas que toda esta criatividade sarcástica acabe por não chegar realmente às paredes e expositores de Portugal como os cartazes mereciam.
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