A MODÉSTIA

Já não é a primeira vez que me apercebo que ter feito parte do V Governo provisório pode não ser propriamente um activo no currículo dos que dele fizeram parte. Quase 35 anos depois (2009) da sua existência efémera e por se ter tornado governador-civil de Setúbal, o Dr. Manuel Macaísta Malheiros, militante socialista e um dos membros daquela equipa ministerial, resumiu assim, em entrevista, o seu percurso durante o ano e meio que se seguiu ao 25 de Abril de 1974:

Após o 25 de Abril, assume as funções de Chefe de Gabinete do Secretário e Estado, Vera Jardim, no primeiro Governo de Vasco Gonçalves.
Posteriormente assume as funções de Director – Geral das Actividades Económicas.
Exerceu, igualmente, neste período, funções na Comissão Administrativa na Câmara Municipal de Alcácer do Sal.
Acompanhou o PREC com todos os problemas, no 28 de Setembro, no 11 de Março até ao 25 de Novembro, quando foi demitido do cargo que desempenhava nas Actividades Económicas, pelo então Ministro Magalhães Mota.

Também o seu CV (abaixo) assume uma hierarquização bizarra quanto ao que aconteceu nesse ano, só referindo o facto de ter sido Ministro do Comércio Interno do V Governo provisório depois de mencionar ter sido o chefe de gabinete de um Secretário de Estado de um outro governo provisório e de ter sido director-geral (da Fiscalização Económica). De onde se percebe, aliás e cruzando as informações, terá sido demitido depois do 25 de Novembro pelo Ministro que lhe sucedeu no cargo, Joaquim Magalhães Mota do (então) PPD. Desforra por uma rivalidade técnica ou política? Não importa, o Dr. Macaísta Malheiros veio a prosseguir depois uma carreira na magistratura...

Haverá quem queira ver nos detalhes acima o percurso de um socialista, mas daqueles que no 25 de Novembro estava conciliadoramente em cima do muro ou até do lado errado dele, por não se aperceberem então da diferença entre o socialismo em liberdade e o das mais amplas liberdades democráticas. É que houve (e subsiste) muito disso por aí. Mas, muito provavelmente, tanta discrição poderá ter sido provocada pela modéstia...