31 de Julho de 1968 foi o dia da transmissão do primeiro episódio de «Dad's Army» na BBC. A série cómica nunca foi transmitida em Portugal, embora os portugueses reconheçam o estilo do humor por causa de outra série dos mesmos autores que também decorre na Segunda Guerra Mundial: «'Allo, 'Allo!». Neste caso percursor de «Dad's Army», em vez da ocupação e da resistência em França, a paródia incide sobre os próprios britânicos e os seus preparativos para a defesa na hipótese de uma invasão alemã da Grã-Bretanha em 1940 e nos anos seguintes. O dispositivo de defesa britânico incluía unidades territoriais («Home Guard») compostas de voluntários, que eram civis durante o dia, mas que preenchiam as noites e seus tempos livres em tarefas de antecipação da invasão. Esses voluntários eram indivíduos inelegíveis para o serviço militar (normalmente por causa da idade), o que conferia às unidades um aspecto grisalho, algumas contingências quanto ao seu desempenho em manobras e ainda essa alcunha de o exército do paizinho, que a série se limitou a recuperar. O humor gira à volta das idiossincrasias dos membros de uma dessas unidades locais, na vila costeira imaginária de Walmington-on-Sea.
Logo o genérico da apresentação (acima) é uma animação com umas setas com Union Jacks a desembarcarem de peito feito no continente, apenas para levarem uma tareia das setas com as cruzes gamadas, uma indicação que a série constitui uma revisitação irónica do passado e da narrativa heroica que se construíra à volta desse período de 1940-41. (as fotografias e o vídeo são a preto e branco porque os originais assim o eram: a BBC 1 só passará a emitir a cores em Novembro de 1969). Mais de 25 anos passados, em 1968 era uma nova geração de ingleses que reapreciava os acontecimentos, geração essa que já se apercebera que a tal «finest hour» da retórica churchilliana, os sacrifícios de guerra e os, praticamente esquecidos, sacrifícios do pós-guerra não haviam impedido que a prosperidade dos britânicos, quando em comparação com a de outros povos, assim como a condição do país como superpotência mundial, fossem agora coisas do passado. Em Inglaterra, uma nova geração tinha direito a exprimir a sua reapreciação sobre esse passado. E em Portugal faltavam ainda três dias para que a antiga geração caísse da cadeira. O mesmo género de humor era impensável embora quem fizesse a mesma revisitação irónica ao passado, tinha que concluir algo de muito parecido: que, apesar da indisputável habilidade negocial como Portugal preservara a sua neutralidade durante a Guerra, o país se encontrava então, quando em termos relativos, política e economicamente, muito mais frágil do que já estivera 25 anos antes.