Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,
De ser inteligente para entre a família,
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim.
Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças.
Quando vim a olhar para a vida, perdera o sentido da vida.
Aniversário de Álvaro de Campos (trecho)
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos ainda os festejavam como nos tempos de Fernando Pessoa e o costume era que o aniversariante é que recebia as prendas. Com total limpidez, não havia nada destes ditos desafios que o facebook agora nos endossa para «criarmos uma angariação de fundos» para apoiarmos uma «causa que nos seja importante» apenas a pretexto da aproximação do nosso aniversário. Dão-nos o exemplo de um amigo que já caiu na aldrabice foi sensível ao desafio. Embora não sejamos nós a pagar, estamos a ser o estopim de um gesto em que se vende a sensação de sermos benemerentes, está tudo pensado: aparece-nos uma lista pronta com sugestões para escolher qual o destinatário da benemerência (é só preciso clicar sobre Seleccionar Organização). Mas a sensação de vigarice é reforçada pela informação (indirecta) de que nos podemos quedar pelas boas intenções, que do manejamento do contante, eles, os proponentes, se encarregarão, de preferência recorrendo à evasão fiscal, tal a bondade da causa («vamos tratar de processar os donativos sem aplicar taxas»). Por uma vez, estou sem adjectivos que qualifiquem isto. Só a abordagem é logo uma vergonha!
Sem comentários:
Enviar um comentário