Todos os anos cerca de dois milhões de muçulmanos concentram-se em Meca, na Arábia Saudita, para fazer o haje, a peregrinação à cidade santa que, por obrigação e tendo meios para isso, qualquer muçulmano tem que realizar pelo menos uma vez na vida.. Ao contrário de ir a Roma e ver o Papa, aquela obrigação tem que ser realizada num período específico do ano, o que provoca colossais concentrações de peregrinos no santuário (acima). E colossais desastres, quando se produzem estampidos entre essas multidões nos seus espaços fechados, que nunca foram concebidos para conter tanta gente. A 2 de Julho de 1990, há precisamente 28 anos, aconteceu um primeiro grande acidente do género, num túnel de acesso ao santuário. Morreram 1.426 pessoas pisoteadas e sufocadas, entre elas um apreciável número (680) de peregrinos de origem indonésia. Noutras circunstâncias, aquilo que ocorreu ter-se-ia transformado numa enorme tragédia mundial (alguém está a imaginar o impacto de (por exemplo) um centésimo daquelas vítimas (14 mortos) na praça de São Pedro em Roma?...) mas, no caso, conluiaram-se o tradicional secretismo das autoridades sauditas com o completo desinteresse dos grandes órgãos de informação ocidentais por tudo o que se passasse em países esconsos em que os mortos fossem muçulmanos. A comprovar isso, só no dia seguinte é que os jornais portugueses noticiavam a catástrofe, no caso que se recupera abaixo, na página 9, num cantinho da página e - embora isso não fosse culpa do jornal - com uma contagem das vítimas muito inferior à realidade. Para contraste com a actualidade, em que o excesso penderá até talvez para o outro lado, e sem que a comparação sirva de desculpa para o terrorismo islâmico, mesmo assim vale a pena recordar que era esta a importância mediática dos muçulmanos antes de 11 de Setembro de 2001.
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