11 julho 2018

«ARNHEM» por ANTONY BEEVOR

Para quem já lera Uma Ponte Longe Demais (Cornelius Ryan) e It Never Snows in September (livro não traduzido para português - Robert Kershaw), mais um livro de divulgação sobre a Operação «Market Garden», como é o caso deste Arnhem de Antony Beevor, não teria sido propriamente uma prioridade nas minhas leituras. Contudo, dá-se a circunstância de o livro ter aparecido como um dos de potencial interesse na livraria adjacente ao Memorial de Caen quando o visitei (abaixo). E foi por isso que o comprei quando o comprei. Diga-se que os € 17,95 que dei por ele valeram muito mais que os € 19,80, verdadeiramente excessivos, que paguei pela visita ao Memorial - mas essa é toda uma outra história.
As obras do britânico Antony Beevor sobre as grandes batalhas da Segunda Guerra Mundial são de qualidade bastante díspar: há-as muito boas, como é o caso da referente a Estalinegrado, há as que não adiantam grande coisa ao que já existia publicado sobre o assunto, casos do desembarque da Normandia, das Ardenas e da Queda de Berlim, e há ainda aquelas que são uma pastilha, como a da Batalha de Creta. Este Arnhem pertence ao segundo grupo. Encontrei lá um pormenor ou outro que achei interessante, mas não seriam precisas as 380 páginas que o livro contém para isso. Contudo, umas das boas características de Beevor é a força das opiniões que forma. Já arranjara um(a espécie de) sarilho com os russos quando descrevera o comportamento reprovável das tropas russas quando da Queda de Berlim, enquanto outro dos seus problemas de antipatias é doméstico, por causa da muito má imagem que formou e costuma transmitir quanto às decisões e motivações do marechal Bernard Montgomery, que foi o querubim da propaganda de guerra britânica durante o conflito e que ainda assim se mantêm para uma apreciável fracção de leitores (britânicos) deste género de livros. A estes se devem as mais veementes críticas ao livro na respectiva página da Amazon, acusando o autor de criticar Montgomery para assim aparecer mais simpático junto dos potenciais leitores americanos. É um daqueles processos de intenção que os factos (não alternativos) se encarregam de desmentir como se perceberá por esta última história.
Um dos pormenores engraçados que descobri foi a razão porque o general Maxwell Taylor (acima), o comandante da 101ª Divisão Aerotransportada que participara na Operação Market Garden, não veio a estar presente em Bastogne, quando da Ofensiva das Ardenas em Dezembro de 1944, dando assim oportunidade ao seu 2º comandante Anthony McAuliffe de se celebrizar com a sua resposta (Nuts!) à intimação de rendição dos alemães. Como se lê na página 355, numa das suas inspecções à frente de combate, no caso a do 3º batalhão do 501º Regimento, Taylor deu ordens para que o pelotão de morteiros da unidade fizesse fogo sobre algumas referências à distância para que ele pudesse aferir do grau de eficácia da sua pontaria. Avisaram-no que era um exercício que se arriscava a ser chato, que os alemães iriam retaliar, mas ainda assim o general insistiu. E, como os militares do sector previam, os alemães lá retaliaram, o que obrigou a que toda a comitiva tivesse de se abrigar. Sentindo necessidade de compensar a desfeita, Maxwell Taylor deu em armar-se em general destemido sob o fogo inimigo... e apanhou com um belo estilhaço no cu. É um daqueles ferimentos em combate que se tornam mais jocosos que trágicos. Descrever assim as vicissitudes de um dos generais americanos tidos por pertencentes a esse corpo de elite que são as tropas aerotransportadas parece-me desmentir a acusação mais acima de que as críticas se circunscrevem aos generais britânicos para cativar os leitores norte-americanos.

2 comentários:

  1. Kakakakakakakakakaka! Esta foi ótima do Beevor. Embora critique Montgomery, Beevor foi justo em A Batalha da Normandia. Sem Montgomery, nenhum outro general, Inglês ou Americano, teria o perfeccionismo e o talento para planejar a operação em seus mínimos detalhes e como consequente, o numero baixíssimo de baixas frente aos Alemães. Não fosse os americanos, como o Maxwell Taylor, tão burros em recusar os Funny de Percy Hobart, os americanos não pagariam o pato em Omaha! Estou aguardando ansioso a edição Brasileira. Há, todos os livros de Beevor foram essenciais em conhecimento e prazer em ler a 2º Guerra Mundial. A Batalha de Creta foi ótimo, não entendi o termo Pastilha, e pelo relato do Beevor, como os britânicos perderam a batalha ganha e deram a VC para o general Freyberg?

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  2. Se me é permitida a sugestão, diversifique os autores que lê para além de Antony Beevor e, se quer mesmo saber a resposta à pergunta que formula, fique a saber que a atribuição de VC, nomeadamente a oficiais generais como Freyberg, tem muito mais a ver com opções políticas do que a actos de bravura. Aliás, se ler este outro poste que aqui publiquei,
    aperceber-se-á que, entre os britânicos na Segunda Guerra, quanto maior havia sido o fiasco militar, mais condecorações (incluindo VCs) eram distribuídas...

    Mas, para compreender isso, tem que ler mais uns historiadores de guerra além do Beevor, uns que avaliem os ingleses assim como ele avalia os americanos...

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