16 de Julho de 1975. Empurrado para uma página interior, a do Desporto, o Diário de Lisboa dá conta daquilo que designa como a "recuperação" (entre aspas) de um atleta búlgaro, «várias vezes campeão nacional» do seu país que fazia dois anos desertara e recebera asilo político na Alemanha Ocidental. Segundo continuava a história, a "recuperação" dera-se porque o exilado cometera o erro de continuar a encontrar-se com «uma amiga» mas em Berlim-Leste, na Alemanha Oriental, um dos países comunistas aliados da Bulgária. A notícia não especifica, mas terá sido certamente a reputada Stasi a "recuperar" o exilado político e a entregá-lo às autoridades búlgaras, onde se encontrava em «regime de detenção preventiva». As ditaduras são sempre a mesma coisa, sejam de esquerda ou de direita. Mas o que vale a pena assinalar é a dualidade de critérios das notícias neste jornal comunista, pois se o exilado em questão fosse, por exemplo, um cantor chileno, e os autores da "recuperação" fossem os espanhóis (então ainda sob a ditadura franquista) era certo e sabido que o Diário de Lisboa não o iria noticiar desta mesma forma ligeira na página interior dedicada às Artes e Espectáculos... Esta coisa das fake news, a adulteração das notícias, não começou com as acusações de Trump; ele deu-lhe foi um novo nome a uma prática que, como vemos, é bem antiga...
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