30 junho 2022

O ADIVINHO (VI)

O DIA MAIS LONGO

30 de Junho de 1972 foi um dia mais longo. Não no sentido metafórico do título do livro de Cornelius Ryan narrando o dia do desembarque na Normandia (acima), mas um dia mais longo no sentido literal. Como se pode perceber pela notícia abaixo, à meia noite daquele dia acrescentou-se mais um segundo, o que o tornou, ainda que marginalmente, um dia mais longo do que todos os outros.

29 junho 2022

O ADIVINHO (V)

O ASSASSINATO DE MOHAMED BOUDIAF

29 de Junho de 1992. Há 30 anos e também diante das câmaras de TV como acontecera com Sadat do Egipto, o presidente argelino é assassinado. A Argélia daquela época é um país visivelmente bastante mais dilacerado do que o fora o Egipto depois da assinatura dos Acordos de Camp David. Sem se ter tornado num país comunista depois de 1962, o desmoronamento da União Soviética deixara a Argélia numa posição tão desamparada quanto muitos antigos satélites soviéticos. Os trinta anos precedentes tinham decorrido sob a égide de um regime militar autoritário dirigido por uma clique abrigada sob a sigla daquela que fora a Frente de Libertação Nacional (FLN) que travara a guerra de independência contra a França. A FLN da década de 1980 era uma organização decrépita e caduca como um partido comunista do Leste europeu. Quando o «ar do tempo» forçou a realização de eleições finalmente livres em Dezembro de 1991, o desagrado popular consolidou-se na votação maioritária numa Frente Islâmica de Salvação (FIS). Era conferir legitimidade democrática a uma organização que prometia que o não seria (democrática) depois de chegar ao poder. Contudo, como as eleições haviam sido organizadas à francesa (i.e., em dois turnos), o regime - agora designado ironicamente por os militares, quase como se se tratasse de uma ditadura latino-americana ou aqueles protagonistas que conduziram o nosso PREC - ainda foi a tempo de se salvar, adiando a segunda volta sine die. E é nessa fase que os militares vão buscar Mohamed Boudiaf (1919-1992) para conferir respeitabilidade a um regime em degradação. Mohamed Boudiaf fora um dos dirigentes históricos da FLN da guerra (1954-1962) e que perdera depois quando das guerras que se haviam sucedido à paz. Preso e condenado à morte em 1964, exilara-se. O que o tornava precioso para os militares em 1992 é que fora um dirigente histórico do FLN, continuara vivo e, por ter vivido afastado dos círculos do poder, não podia ser associado à corrupção que maculava o regime. O preço a pagar por este último (e importante) predicado é que Mohamed Boudiaf, ausente desde 1964, era uma pessoa desconhecida entre a esmagadora maioria dos argelinos (⅔ dos argelinos ainda não haviam nascido quando Boudiaf se exilara). Outro problema, e esse era um risco corrido por quem, por detrás das cortinas, montara a manobra, era se Boudiaf alinharia com o papel protocolar que lhe havia sido conferido, presidindo sim, mas a um Alto Conselho de Estado acabado de criar, formado por cinco pessoas. Os cinco meses e meio que decorreram entre a posse de Mohamed Boudiaf e o seu assassinato parecem indiciar que a sua conduta não decorreu de acordo com o esperado. Significativamente, o seu assassinato teve lugar durante uma reunião de quadros (vídeo abaixo), acções em que Boudiaf estaria à procura de uma via própria entre a guerra civil que se anunciava entre militares e militantes islâmicos. A acusação oficial de que terão sido estes últimos os seus assassinos resvala num certo cepticismo indiferente, conhecidas as iniciativas de Boudiaf em mostrar alguma pedagogia no combate contra a corrupção da FLN, nomeadamente tentando pegar no exemplo do seu antecessor militar Chadli Bendjedid - o que provocou um grande mau estar! O peso das suspeitas é tão grande de um lado quanto doutro. Personagem interessante, pela brevidade da sua passagem pelo poder quando conjugada com a sua falta de contemporização para com o papel que esperavam dele, Mohamed Boudiaf bem podia ter-se tornado num daqueles mitos históricos, um belo protagonista para a História Contrafactual.

28 junho 2022

O ADIVINHO (IV)

COMO OS GLADIADORES DO COLISEU DE ROMA

28 de Junho de 1997. Las Vegas, Nevada, Estados Unidos. Combate de boxe em que está em disputa o título mundial de pesos pesados. Participantes: Mike Tyson, o campeão titular e Evander Holyfield, que já fora o detentor do título no início da década. O combate, previsto para 15 assaltos, tornar-se-á histórico, mas não pelas melhores razões. Foi inicialmente interrompido uma vez logo ao terceiro assalto quando Tyson mordeu o adversário na orelha. Perante a gravidade do incidente, ele foi sancionado com a perda de dois pontos mas, depois de avaliada a condição de Holyfield e para benefício de um espectáculo que envolvia milhões de dólares, o combate ainda prosseguiu. Para ser interrompido logo imediatamente depois de reatado, depois de uma segunda mordidela (na outra orelha...) de Tyson a Holyfield. Dessa vez, teve de ser: Mike Tyson foi desqualificado. Nas imagens televisivas via-se Tyson a cuspir o pedacinho de orelha que trincara e arrancara a Holyfield. Seguiu-se uma cena de pancadaria geral junto ao ringue envolvendo as equipas de apoio dos dois pugilistas. Há 25 anos pareceu que o mundo sórdido do pugilismo iria decair ainda mais, numa reedição do que haviam sido os combates de gladiadores do coliseu da Roma clássica.

27 junho 2022

O ADIVINHO (III)

O FIM DA ERA DOS «MÍSTERES»

27 de Junho de 1982. Chega a Lisboa o novo treinador de futebol do Benfica para a próxima época, um sueco relativamente desconhecido que dá pelo nome de Sven-Göran Eriksson. Tem 34 anos, é só dois ou três anos mais velho do que os jogadores mais veteranos do plantel. E o feito que merecera a aposta do Benfica fora a surpreendente conquista da Taça UEFA na época anterior, ao serviço do IFK Gotemburgo, diante de um superfavorito Hamburgo SV. Ainda não se sabia, mas este seu contrato de dois anos iria assinalar-se pela conquista de dois Campeonatos e uma Taça de Portugal, para além da comparência na final da Taça UEFA, perdida para o Anderlecht da Bélgica, o primeiro retorno do Benfica a uma final das competições europeias em 15 anos. Estatisticamente, o registo de Eriksson veio a ser 76% vitorioso, com 46 vitórias (11 empates e 3 derrotas) em 60 jogos disputados como treinador do Benfica. Mas, mais do que o registo desportivo, aquilo que de mais importante Eriksson virá trazer ao futebol português terá sido uma mudança de atitude.
Uma sobriedade nórdica de temperava as paixões efervescentes do meio e uma modéstia pessoal - aprendeu a falar português, por exemplo - que contrastava com a atitude tradicional dos treinadores de futebol estrangeiros até aí que, quando desembarcavam em Portugal, era invariavelmente para ensinar. O treinador era o mister e essa seria uma das poucas palavras em inglês que os nossos jogadores conheciam. Quanto a aprender a língua local, os místeres nem pensavam nisso, daí a vantagem até então dos treinadores brasileiros. Aquela conduta de Eriksson tornou-o apreciado transversalmente em Portugal, pelos benfiquistas mas também por quem não o era (descontando os radicais da clubite), a ponto de uma marca de aguardente o ter escolhido como seu promotor, aparecendo nos outdoors com um hoje famoso chapéu branco. Hoje, o treinador sueco é uma das grandes saudades do Benfica. Entretanto, Portugal deixou de importar treinadores de futebol para passar a exportá-los. É excelente, mas disso não se fala, não se escreve e mal se comenta, porque a sina nacional é queixarmo-nos...

26 junho 2022

O ADIVINHO (II)

AS PROLONGADAS «TOURNÉES» DE UM FIDEL CASTRO TORNADO »SUPERSTAR» DO MARXISMO-LENINISMO

26 de Junho de 1972. Fidel Castro chegava a Moscovo, para uma visita oficial à União Soviética que se prolongaria por quinze dias, com um roteiro bastante alargado, abrangendo várias deslocações no vasto território soviético. Esta visita era, aliás, o término de um extenso périplo que tomaria a Fidel Castro um total de mais de dois meses a completar, e que o fizera visitar entretanto e sucessivamente: a Guiné Conakry e a Argélia, em África, e a Bulgária, a Polónia, a Roménia, a Hungria, a Alemanha Oriental e a Checoslováquia, na Europa. A coreografia (com muitos abraços mas dispensando os beijos entre homens da cultura eslava, já que Fidel não gostava de passar por maricón...), e como se pode comprovar pelas imagens abaixo, era sempre a mesma. Mas, para além do aspecto coreográfico, que a repetição que as imagens abaixo torna ridículo, a duração da viagem do líder revolucionário cubano comprovava dois aspectos políticos importantes: a) que o regime comunista cubano se consolidara e aguentava perfeitamente uma ausência tão prolongada do seu líder; b) e, precisamente por essa mesma ausência prolongada, sugeria que Fidel Castro não era pessoa com perfil ou preocupações para assumir o governo propriamente dito de Cuba
Sofia, Bulgária, 12 de Maio
Budapeste, Hungria, 30 de Maio
Varsóvia, Polónia, 6 de Junho
Bucareste, Roménia, 9 de Junho
Berlim, Alemanha Oriental, 13 de Junho
Praga, Checoslováquia, 22 de Junho

25 junho 2022

O ADIVINHO (I)

O «TOUR DE FRANCE» DE 1947

25 de Junho de 1947. Começava em Paris a 34ª edição da Volta à França em bicicleta, competição que é designada normalmente naquele país como o Tour (a volta). Era (e continua a ser) a mais importante do calendário velocipédico mundial. Mas aquele ano era muito especial porque a prova recomeçava a ser disputada depois de um interregno de sete anos (desde 1939), interrupção que se devera à Segunda Guerra Mundial. O Tour de há 75 anos tinha assim o sabor para os franceses de um certo regresso à normalidade. Como se pode apreciar pelo mapa acima, era uma verdadeira volta à França, disputada em 21 etapas contíguas, num total de 4.642 km, durante 26 dias, terminando a 20 de Julho onde começara: Paris.
O ciclismo permanecia uma modalidade muito popular - quiçá a mais popular na altura - em França. Os franceses constituíam naturalmente a maioria dos 100 ciclistas presentes na competição. Essa centena de ciclistas desdobrava-se em dez equipas de dez elementos. Seis equipas eram franceses: uma nacional (acima) e cinco regionais. Nota de popularidade, a equipa nacional francesa, aparecia em promoção na foto acima a rodear o pugilista Marcel Cerdan, que era famoso não apenas como boxeur, mas também por ser o namorado de Edith Piaf. Sobre a mesma foto, repare-se a importância dada à imprensa escrita, cujos títulos aparecem em cartazes por detrás: Le Parisien e L' Équipe.
Nesta outra fotografia da equipa regional da Ilha de França, os patrocínios (que ainda não se chamavam assim...) são do jornal Franc-Tireur e da revista Ambiance. Também as etapas nada tinham a ver com o que hoje acontece: na terceira etapa, disputada entre Bruxelas e o Luxemburgo (ver o mapa inicial), o vencedor demorará onze horas(!) a percorrê-la. (E repare-se como o traçado do Tour incluía regiões francófonas adjacentes à França...) E as estradas também não eram sempre alcatroadas (foto abaixo), embora o entusiasmo popular seja o de sempre. O ciclista fotografado no que parece ser uma difícil etapa de montanha, virá a ser o vencedor final. Mas, sobre isso, já eu escrevi aqui no Herdeiro de Aécio.

24 junho 2022

O INCIDENTE DO VOO 009 DA BRITISH AIRWAYS

24 de Junho de 1982. Os pilotos do Boeing 747 da British Airways que realizava o grande voo de ligação entre Londres e Melbourne, na Austrália, assistem estupefactos à perda encadeada da potência em todos os quatro motores do aparelho! Eram cerca de 20:40 (hora local) e o avião voava então a mais de 11 mil metros de altitude sobre o Oceano Índico, realizando a ligação entre as cidades de Kuala Lumpur, na Malásia, e Perth, na Austrália Ocidental, quando entrou, sem que os pilotos reparassem (era de noite),  numa enorme nuvem de cinzas vulcânicas resultantes da erupção de um vulcão javanês. A admissão das cinzas nos quatros reactores do Boeing 747 havia provocado a sua paragem quase simultânea e era assim que um avião de 200 toneladas de peso (quando vazio!) se via obrigado a planar(!) sobre o oceano enquanto fazia um apelo para aterrar de emergência no aeroporto mais próximo, o de Jacarta, nessa mesma ilha de Java (Indonésia). Felizmente, porque o facto de ter de planar fez com que o avião perdesse altitude e, com isso, saísse da nuvem de cinzas, fez com que os pilotos recuperassem a potência nos motores, depois do que lhes devem ter parecido 13 eternos minutos sem qualquer motor operacional... O Boeing 747-200 acabou por aterrar com os reactores a funcionar sem mais incidentes no aeroporto de Jacarta, embora quase sem visibilidade, já que as cinzas haviam desbastado e riscado os vidros das janelas frontais da cabine de voo! O episódio tornou-se famoso depois disso, também porque teve um desfecho feliz, e chamou a atenção para um perigo para a aviação que não havia sido tomado devidamente em consideração até aí. Em Abril de 2010, a erupção de um vulcão islandês, com aquelas mesmas características de forte emissão de cinzas para a alta atmosfera, interrompeu preventivamente uma substancial parcela do tráfego aéreo na Europa.

ASTÉRIX E OS NORMANDOS (XV)

23 junho 2022

ASTÉRIX E OS NORMANDOS (XIV)

OS «DEFAULTS» QUE NÃO SÃO POR "CULPA" DO SYRIZA

Aqui há coisa de dois anos, em Março de 2020, o Líbano entrou em default pela primeira vez, deixando de pagar as suas dívidas externas. No mês passado, Maio de 2022, aconteceu precisamente o mesmo com o Sri Lanka. Acontece. Contudo, a noticiar qualquer daqueles dois casos, num gesto que eu não considero de todo uma coincidência, o jornal Observador limitou-se a transcrever artigos da Lusa: o do Líbano e o do Sri Lanka. Ora isto é descaradamente pouco para quem produziu tanta opinião (veja-se abaixo) quando do-default-da-Grécia-que-esteve-quase-a-ser-mas-não-foi (título do Observador a 20 de Maio de 2015). Aparentemente, nestes novos casos e apesar da reputação intelectual que granjeara em 2015, o jornal Observador não se mostrou interessado em saber o que todos (ou qualquer um d)aqueles dez pensadores teriam para opinar sobre o que terá conduzido o Líbano ou o Sri Lanka àquela situação financeira. Talvez porque nesses outros casos não haja assim um Syriza jeitoso para culpar, desconfio eu... Ele há as notícias e ele há a propaganda política.

22 junho 2022

ASTÉRIX E OS NORMANDOS (XIII)

O ASSASSINATO DO MARECHAL DE CAMPO

22 de Junho de 1922. Assassinato de Sir Henry Wilson (1864-1922), marechal de campo do exército britânico, que fora o chefe do estado-maior imperial (CIGS) desde Fevereiro de 1918, nos meses finais da Primeira Guerra Mundial, até Fevereiro de 1922. Wilson, que era de origem irlandesa protestante, foi assassinado por dois membros emboscados pertencentes à ala mais radical do exército republicano irlandês (IRA). Na altura, ao princípio da tarde, o marechal Wilson regressava fardado de uma cerimónia, e saía de um automóvel à porta de sua casa em Londres com a sua esposa, quando o alvejaram com 6 tiros. Dois policias e o motorista de Wilson foram também alvejados no processo de perseguição aos autores do atentado (Reginald Dunne e Joseph O'Sullivan), que acabaram capturados pelos transeuntes que os quiseram linchar. Além deles dois, no dia seguinte os serviços de contra-informação britânicos desencadearam uma operação entre a comunidade irlandesa de Londres, prendendo mais 18 suspeitos. Dunne e O'Sullivan escaparam ao linchamento popular, mas seriam condenados por assassinato e enforcados ainda em 10 de Agosto de 1922, sete semanas apenas depois do atentado. Mas o mais interessante em tudo isto, é perceber como, há 100 anos, um atentado terrorista desta dimensão, praticado em plena Londres, demorou quatro dias a ser devidamente noticiado pelo Diário de Lisboa (acima)! Comprovadamente, as pessoas sobreviviam sem aquela riqueza informativa dos dias de hoje.

ONDE É QUE TU ESTAVAS...?

22 de Junho de 1972. Esta notícia de há 50 anos é um dos inúmeros exemplos demonstrativos de, como no tempo dos blocos da Guerra Fria, a relação dos vizinhos próximos da União Soviética tinham de ser subservientes para com ela. Isto acontecia apesar de, em quase todos os outros aspectos, a Finlândia ser uma democracia. Mas neste aspecto não era uma democracia. O Sol da Terra (como Álvaro Cunhal denominava o império soviético) irradiava com muito calor, especialmente para os países que lhe ficavam mais próximos. O filme Um Dia na Vida de Ivan Denisovich baseara-se no livro homónimo do escritor russo Alexandre Soljenitsyne e fora realizado, numa co-produção anglo-norueguesa, em 1970, no ano em que o escritor ganhara o Prémio Nobel da Literatura conferido pela Academia Sueca. Um Prémio Nobel extremamente incómodo para Moscovo, que proibiu o escritor de o ir receber pessoalmente a Estocolmo. O tema central do filme (abaixo), como aliás se refere na notícia, são as condições de vida num típico campo de concentração russo na época de Staline. Foi Artista Bastos (o boneco de Baptista Bastos, criado por Herman José) que popularizou a expressão «Onde é que tu estavas no 25 de Abril?», sugerindo uma denúncia daqueles que eram da outra e que se haviam bandeado para esta na ocasião. Pois bem, eu nunca deixo de especular o que é que andariam a fazer por aquela altura, sabendo o que já se sabia, aqueles que hoje se confessam comunistas arrependidos.
Ironicamente, dali por duas semanas aquele mesmo filme iria ser estreado em Lisboa. Lauro António, o crítico de cinema do mesmo Diário de Lisboa não o achou particularmente anti-comunista. E, das duas uma: ou Lauro António não percebera o filme lá muito bem; ou então eram os finlandeses que andavam num frenético excesso de zelo. Maliciosamente, e quanto ao aspecto da censura que o filme sofrera (que o crítico decerto conheceria), ainda se pode acrescentar a hipótese de que seria Lauro António que não estaria a querer ver o filme.

21 junho 2022

TRANSFORMAR UM «ANDAR A CORRER ATRÁS DO PREJUÍZO» NUM CAPÔ DE «ROLLS-ROYCE»

O «aumento histórico de pensões» garantido pelo primeiro-ministro para 2023 destina-se a colmatar o aumento, também histórico, dos preços e da inflação que se está a registar em 2022. Ou seja, naquela terminologia sempre pouco imaginativa dos paineleiros e comentadores de futebol, aumentar as pensões para o próximo ano é estar-se a correr atrás do prejuízo. Mas mais do que o aumento (que há de ser para o ano...), o que não me restam grandes dúvidas é que estas declarações são devidamente estudadas e estruturadas para que sejam seleccionadas pelos jornalistas para aparecerem destacadas no título. Quem as prepara, sabe o que a casa gasta... A prova está acima à vista. E o expediente, na sua simplicidade (só) aparentemente ingénua, faz-me lembrar a imaginação de quem, já há mais de 50 anos, inventou no Brasil um capô de Rolls Royce, para instalar no VW carocha...

ASTÉRIX E OS NORMANDOS (XII)