27 junho 2022

O FIM DA ERA DOS «MÍSTERES»

27 de Junho de 1982. Chega a Lisboa o novo treinador de futebol do Benfica para a próxima época, um sueco relativamente desconhecido que dá pelo nome de Sven-Göran Eriksson. Tem 34 anos, é só dois ou três anos mais velho do que os jogadores mais veteranos do plantel. E o feito que merecera a aposta do Benfica fora a surpreendente conquista da Taça UEFA na época anterior, ao serviço do IFK Gotemburgo, diante de um superfavorito Hamburgo SV. Ainda não se sabia, mas este seu contrato de dois anos iria assinalar-se pela conquista de dois Campeonatos e uma Taça de Portugal, para além da comparência na final da Taça UEFA, perdida para o Anderlecht da Bélgica, o primeiro retorno do Benfica a uma final das competições europeias em 15 anos. Estatisticamente, o registo de Eriksson veio a ser 76% vitorioso, com 46 vitórias (11 empates e 3 derrotas) em 60 jogos disputados como treinador do Benfica. Mas, mais do que o registo desportivo, aquilo que de mais importante Eriksson virá trazer ao futebol português terá sido uma mudança de atitude.
Uma sobriedade nórdica de temperava as paixões efervescentes do meio e uma modéstia pessoal - aprendeu a falar português, por exemplo - que contrastava com a atitude tradicional dos treinadores de futebol estrangeiros até aí que, quando desembarcavam em Portugal, era invariavelmente para ensinar. O treinador era o mister e essa seria uma das poucas palavras em inglês que os nossos jogadores conheciam. Quanto a aprender a língua local, os místeres nem pensavam nisso, daí a vantagem até então dos treinadores brasileiros. Aquela conduta de Eriksson tornou-o apreciado transversalmente em Portugal, pelos benfiquistas mas também por quem não o era (descontando os radicais da clubite), a ponto de uma marca de aguardente o ter escolhido como seu promotor, aparecendo nos outdoors com um hoje famoso chapéu branco. Hoje, o treinador sueco é uma das grandes saudades do Benfica. Entretanto, Portugal deixou de importar treinadores de futebol para passar a exportá-los. É excelente, mas disso não se fala, não se escreve e mal se comenta, porque a sina nacional é queixarmo-nos...

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