Winston Churchill proferiu discursos magníficos na Câmara dos Comuns ao longo da sua extensíssima carreira política, mas aquele que o Diário de Lisboa dava conta na sua edição de há cem anos não era desses. Muito pelo contrário, era um discurso para esquecer. Um dos grandes problemas do Reino Unido de há cem anos era a revolta na Irlanda e a guerra subversiva que ali se declarara entre a maioria católica irlandesa e as autoridades britânicas. Uma guerra que coexistia com uma guerra civil entre a maioria católica e a minoria protestante que se concentrava no Ulster, no Nordeste da ilha. Por esta altura, em Londres - onde Churchill sobraçava a pasta das Colónias - já se percebera que o controle de toda a Irlanda era insustentável. A questão seria a forma de que revestiria a separação da Irlanda do Reino Unido. Fora assinado um tratado em Dezembro de 1921, mas as condições por ele estabelecidas provocara uma cisão entre os nacionalistas irlandeses. Era para a ala mais radical desses nacionalistas, encabeçada por Eamon de Valera, que Churchill discursara ameaçadoramente. E a sua ameaça, como se percebe pela passagem do discurso que é destacada pelo jornal, era descarada, envolvendo a questão do regime - republicano ou monárquico - da nova Irlanda independente. Estes anos não são os melhores da carreira de Churchill, cujas biografias os percorrem da maneira mais acelerada que podem. Tanto assim que, para além dos futuros biógrafos, também os eleitores presentes se manifestavam: nas eleições do final daquele ano de 1922, Churchill iria perder o seu assento parlamentar.
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