14 junho 2022

AS GALGAS DO JORNALISMO

14 de Junho de 1972. Mao (Zedong) estaria a morrer... mas não morreu, ou, pelo menos, houve que esperar mais quatro anos! 14 de Junho de 1952. A escolha de Eisenhower para candidato presidencial dos republicanos parecia comprometida... mas ele acabou por ganhar, não apenas a nomeação, mas até a própria eleição! E este é apenas um par evocativo, coincidente na data, das inúmeras galgas que o Diário de Lisboa terá publicado ao longo dos seus 70 anos de existência. O que é que os seus leitores faziam então?... Não faziam nada. Uma semana depois, esta edição do jornal de há 50 anos já teria sido usada para forrar o caixote do lixo lá de casa e só os leitores mais atentos teriam fixado que um dia destes o seu jornal matara o líder chinês prematuramente.
No século XXI já não é assim. As galgas podem ter reflexo nas redes sociais, os comentários negativos que geram, como as moscas, não agridem mas chateiam, e, para tentar controlar isso, os próprios jornais abrem as suas páginas ao comentário crítico. E, como acontece no caso do jornal Público (abaixo), criam uma figura supostamente independente (alguns tentam-no, mas não é o caso do que irei falar) do provedor do leitor, para tentar limitar os estragos, acolhendo as críticas mais civilizadas. O que tende a acontecer é que o tal provedor do leitor - normalmente um jornalista - raramente dá a razão ao leitor e costuma defender o colega até ao limiar do absurdo. Como aconteceu no caso que se insere abaixo. Que começou com uma notícia anunciando bombasticamente que a Noruega fora o país europeu que mais portugueses expulsara em 2021. Houve (pelo menos) um leitor que escreveu para o provedor do leitor reclamando da veracidade da notícia e, investigando ele o tema, com uma explicação adicional quanto aos pontos fracos (a incompetência) de quem redigira a notícia. Mas é penoso ler a resposta do provedor (do leitor), de que abaixo destaco apenas uma síntese. O protesto (...) é fundamentado. (...) à inexactidão da notícia (...) só acessoriamente é imputável à jornalista. E o leitor não tem razão porque o público não é um jornal ideal nem especializado... Descaramento e facciosismo não lhe faltam, ao provedor que devia ali estar para prover ao leitor e afinal está para prover à corporação dos jornalistas.
Felizmente houve quem deixasse na caixa de comentários um, em que me reconheço: «O leitor que reclamou não exige que um jornal como o público tenha jornalistas especializados em todas as matérias mas sim que tenha jornalistas com o sentido crítico necessário a questionar a informação que lhes é fornecida em primeiro lugar.»(...) «É (também) grave que o provedor se baste com os erros dos outros para desculpar a qualidade de informação do jornal.» Ámen! Na semana seguinte o provedor (do... leitor) virou as agulhas para outro tema, e discorreu sobre «a guerra dos militares contra a imprensa», quando o sinto mais qualificado para dissertar sobre a guerra dos jornalistas contra os leitores que os criticam fundamentadamente.

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