31 agosto 2018

SOBRE A IRRELEVÂNCIA DE CERTAS ABORDAGENS DA ARGUMENTAÇÃO

ESTES HOMENS APOIAM O VOSSO DIREITO A EMPUNHAR ARMAS:
ESTES HOMENS OPÕEM-SE:
EM QUEM É QUE VOCÊS CONFIAM?
Embora o elenco de baixo seja constituída por figuras muito menos veneradas (e simpáticas) que o primeiro, está muito mais bem actualizado sobre as capacidades do armamento moderno: sabem, nomeadamente, em que consiste o múltiplo poder de fogo de uma metralhadora, arma que os de cima, por muito maior que seja a sua estatura moral, nunca existiu durante as suas vidas e não sabem o que seja... Não é uma questão de confiança, é uma questão de saber.
 
PS - E, por falar em saber, não sei se o autor deste quadro saberá que Alexander Hamilton (acima, à direita) morreu com um tiro, num duelo...

30 agosto 2018

MARCELO PREPARANDO-SE PARA O COMBATE AO ESTILO DE «APOCALYPSE NOW»

Como acontecia com o capitão Willard no filme Apocalypse Now, também o presidente Marcelo tem momentos em que tem de se preparar para missões difíceis. A reentrada política aproxima-se... Será que é desta vez que Marcelo quer abater António Costa como Willard fez ao coronel Kurtz? A fotografia é de Paulo Novais. O filme de Francis Ford Coppola. A música dos Doors.

29 agosto 2018

QUANDO AS NOTÍCIAS «NACIONAIS» NEM ERAM PUBLICADAS NA IMPRENSA LOCAL

A história que vou contar já tem 48 anos. Passou-se na ilha da Armona e a explicação para o que vou descrever compreender-se-á talvez melhor com uma pequena vistoria do vídeo abaixo, as formações arenosas extremamente irregulares - mudam praticamente todos os anos - que caracterizam os bordos da ilha, especialmente na fachada aberta para o oceano. A ilha oferecia duas propostas de praia: uma virada para a ria, de águas mais tranquilas e logo junto ao cais de desembarque, e outra mais custosa, (havia que caminhar um pedaço), até às águas mais batidas da costa. A irregularidade das formações arenosas dessa costa podiam iludir quem não a conhecesse num dia em que, à chegada, estivesse maré vaza. O areal pareceria enorme, o mar permanecia em alguns lagos e reentrâncias, rodeados por penínsulas alguns metros acima do nível das águas. E havia quem se iludisse e que tivesse que regressar apressadamente quando do enchimento da maré. Certo dia, um grupo mais afoito distraiu-se mesmo e, quando deu por ela, o ilhéu onde se haviam instalado - e com todo o aspecto de vir a ficar também submerso - já estava a mais de uma centena de metros da verdadeira praia. Uma centena de metros que o grupo teria que percorrer a nadar. Quem soubesse nadar. Para encurtar uma história de aflições, houve a sorte de ter passado um barco no local para os recolher, quando a cena já estava a ficar mesmo preocupante. Foi um dia de praia diferente para mim, isso é verdade, mas não houve nenhum jornal olhanense ou algarvio que publicasse uma linha sobre o assunto. Para quê? Agora, este mesmo género de episódios têm direito a cobertura nacional(!). Passaram-se 48 anos desde esse dia de Verão de 1970 e, muito provavelmente, centenas de episódios bastante semelhantes terão ocorrido. Agora há alguns deles que passaram a ser noticiados. E a pergunta permanece: Para quê? (O porquê percebe-se: é que agora há uma Autoridade Marítima interessada em promover a sua actuação.)

RECORDANDO UM DOS ASSOMOS DE RESPONSABILIDADE DE VASCO PULIDO VALENTE

A notícia é de 20 de Agosto de 1980 e o poste teria sido publicado com mais oportunidade nesse dia da semana passado, quando se completavam precisamente 38 anos deste assomo de responsabilidade de Vasco Pulido Valente. Na notícia, dava-se conta que Vasco tinha demitido Maria Velho da Costa. Apareceu publicada no Diário de Lisboa e, obviamente, como quase tudo que era publicado naquele jornal, é uma notícia tendenciosa: Maria Velho da Costa era uma das três Marias das Novas Cartas Portuguesas e também dispunha de boa imprensa (nomeadamente no próprio Diário de Lisboa, como se constata abaixo). Leia-se então atentamente a noticia e em lado algum se específica em que consistia o cargo de Maria Velho da Costa. Depreende-se que fosse um bom cargo, já que lhe permitia estar dois meses em Inglaterra a desempenhar outras funções, já que é bastante improvável associar o âmbito de actuação do Tribunal Russell (o jornal dá-lhe um título mais pomposo*) com a secretaria de Estado da Cultura portuguesa. Mas é preciso ter memória apurada para recordar que Vasco também teve estes momentos em que foi responsável por ter que fazer mais alguma coisa do que mandar bitaites e deixar-se fotografar com muito livros atrás dele...
* O Tribunal Russell era uma organização que se pretendia passar por independente, mas que estava perfeitamente conotada com os comunistas no quadro das duas facções rivais da Guerra Fria. Era considerado um dos seus instrumentos de propaganda. Exemplarmente, a sua causa mais célebre foi o julgamento da actuação dos americanos no Vietname, mas quando aconteceu o mesmo com os soviéticos no Afeganistão, o tribunal ignorou olimpicamente o assunto.

28 agosto 2018

REGRESSO ÀS AULAS...

O que se vê acima é aquilo que pode acontecer quando a mudança das prateleiras e dos cartazes num supermercado se processa a um ritmo... parcimonioso.

27 agosto 2018

A BATALHA DE 27 DE AGOSTO, CONHECIDA DO OUTRO LADO DA FRONTEIRA POR «AMBOS NOGALES»

A batalha que se evoca travou-se a 27 de Agosto de 1918, há precisamente cem anos, mas a história que a explica começou mais de 60 anos antes, em 1853, quanto os Estados Unidos, representados pelo diplomata James Gadsden compraram ao México uma parcela de território de 78.000 km² (área acima assinalada a amarelo) por 10 milhões de dólares. O processo recebeu o nome de Aquisição Gadsden (Gadsden Purchase). O que interessa para a continuação da história é que o novo traçado das fronteiras, traçadas a esquadro no mapa, veio a dividir uma pequena e remota povoação com o nome de Nogales. Passou a haver a Sul uma Nogales mexicana, no estado de Sonora, e a Norte, uma Nogales norte-americana, no estado do Arizona. E uma fronteira internacional a separá-las, como se pode observar pela fotografia que se segue, tirada por volta dos finais do século XIX, em que a zona de fronteira aparece claramente demarcada por uma larga avenida, onde no lado esquerdo se está no México e no direito nos Estados Unidos. Instalaram-se depois uns marcos centrais assinalando o local preciso por onde passava a fronteira, mas, até 1918, não existiu propriamente qualquer barreira física que impedisse os habitantes de cada lado da cidade de se deslocarem ao outro.
Vinte anos passados, em 1918, a logística da separação da cidade ainda era essencialmente a mesma, mas a atitude dos nogalenses de cada lado mudara substancialmente. Vivia-se um decénio de grande instabilidade revolucionária no México e grande parte dessa disputa política, uma verdadeira guerra civil, travava-se a tiro. Alguns desses combates transbordaram para o lado norte-americano da fronteira. E os Estados Unidos reagiram a isso invadindo o México em busca dos prevaricadores, mas sem qualquer concertação diplomática com as autoridades mexicanas, desencadeando a hostilidade destas. Para piorar o ambiente, a entrada dos Estados Unidos na Primeira Guerra Mundial em 1917 alterara a economia local, nomeadamente os tradicionais fluxos de contrabando que contribuem sempre para a prosperidade destas cidades fronteiriças. Produtos norte-americanos muito apetecidos no México eram agora racionados. O incidente que está na origem da suposta batalha envolve precisamente dois funcionários da alfandega: o do lado americano queria ainda revistar um passante mexicano quando este já se encontrava em zona neutra de regresso; o seu homólogo mexicano disse ao compatriota para ignorar a ordem. Uma das sentinelas do posto alfandegário americano terá então disparado um tiro de aviso. O transeunte, pensando-se visado, atirou-se para o chão. O funcionário do lado mexicano, pensando-o atingido, ripostou em direcção à sentinela, matando-a. O funcionário do lado americano matou o seu homólogo e em menos de nada, havia uma fuzilaria dos dois lados daquela avenida.
A fuzilaria, começada pouco depois das 4 da tarde, durou cerca de três horas e meia até quase ao pôr do sol, o suficiente para que uma das vítimas do tiroteio tivesse sido o presidente da câmara local (mexicano), que viera de lenço branco tentar pôr termo aos combates. No total morreram 4 militares e 2 civis do lado americano, enquanto os mexicanos reconheceram 15 mortos do seu lado. Os militares norte americanos reclamaram ter causado quase dez vezes isso: 130 mortos. Há um século, e tendo em conta a referência dos milhares de baixas que então se ouviam nas frentes europeais, ainda não devia ser politicamente desaconselhável dar uma imagem de se ser (desnecessariamente) carniceiro. Na sequência da batalha foi definitivamente construída uma cerca separando a cidade, cuja aparência (acima uma foto de 2011) pode ser um pouco enganadora. A cidade mexicana (à esquerda), que conta hoje com 234.000 habitantes, é onze vezes mais povoada do que a sua irmã do outro lado da fronteira, com os seus 21.000 habitantes. Com o assunto do Muro com o México a ser uma das coqueluches do discurso de Donald Trump, até me surpreende que esta administração não se tenha aproveitado deste centenário para, evocando o acontecimento, entusiasmar as suas hostes, amesquinhar os mexicanos, e arranjar mais uns sarilhos internacionais como o presidente Trump tanto gosta.

Adenda: Está explicado. Não vinha nada a calhar que Trump falasse do assunto quando, no mesmo dia, pretendia apresentar um novo acordo de tarifas com o México.

AS «SELFIES» COM MARCELO E OS 44,2% DE PORTUGUESES - ESTRANHAMENTE - REFRACTÁRIOS

Mesmo que as sondagens da Eurosondagem nunca sejam para levar muito a sério, o assunto em foco também são as selfies com Marcelo, o que quer dizer que está uma coisa bem para a outra... Ora o que o Expresso nos informa é que, segundo os dados de uma sondagem, 52,5% dos portugueses querem tirar uma selfie com Marcelo. Mais do que isso, segundo a mesma sondagem, 3,3% já têm uma selfie com Marcelo. O que, sem o parecer, é uma proeza de respeito: foram 336.800 selfies já tiradas (se confiarmos nas estimativas da população portuguesa), o que dá uma média de 374 selfies por dia desde que Marcelo tomou posse (ou seja, uma selfie de quatro em quatro minutos!). Pode parecer excessivo mas, tome-se em conta, como acontece no caso acima, que Marcelo deve ter muitas selfies colectivas (estão ali 15 pessoas ou mais, o que equivale ao trabalho de uma hora inteira); e, por outro lado, como ele respondia sempre que lhe perguntavam onde arranjava tempo para ler aqueles livros todos na TVI, o presidente dorme muito pouco!... Mesmo assim, neste ritmo despachado que é o seu, se Marcelo quiser contentar todos os portugueses que a notícia diz que querem tirar uma selfie consigo, os 52,5% ainda em fila de espera, vamos precisar de mais 39 anos, o que faria da duração da presidência de Marcelo uma coisa ainda mais extensa do que o governo do doutor Salazar...
Mas, verdadeiramente preocupante do ponto de vista político em toda esta questão das selfies não serão alguns potenciais desiludidos, serão os 44,2% de portugueses (100% - 52,5% - 3,3% = 44,2%) revelados por esta sondagem e que se mostram refractários ao desejo de quererem uma selfie com Marcelo. Como é que se pode conceber tal? Quem é que não gosta do Marcelo? É uma verdadeira falta de patriotismo não ter essa ambição! Isso e mostrar indiferença pelo Cristiano Ronaldo.

26 agosto 2018

A BATALHA DE CRÉCY

26 de Agosto de 1346. Teve lugar em Crécy aquela que foi primeira grande batalha da Guerra dos Cem Anos. O exército inglês de Eduardo III alcançou ali uma surpreendente vitória sobre o exército francês de Filipe VI. Tive o privilégio de visitar o local e o museu há cerca de uns dois meses. E esta evocação dedicar-se-á mais a essa visita do que à batalha propriamente dita. O museu, municipal, era simplicíssimo. É compreensível: tratando-se de uma derrota francesa, mesmo que - ou sobretudo... - em território francês, nunca deve ter havido generosidade nos financiamentos para a evocação de tal acontecimento funesto. Em contrapartida, e sublimando os meios, o acolhimento foi simpaticíssimo. Na foto acima, podemos ver, embora numa outra visita, aquele que foi o nosso anfitrião enlevado nas suas explicações diante de uma maqueta sobre os detalhes de como decorrera a batalha. No nosso caso, os visitantes eram bem menos (dois), mas terá havido mais participação da assistência e existe uma descrição, flagrantemente lisonjeira, de que a conversa, pluridisciplinar, empolgou visitantes e visitados. O que me mais me marcou a respeito da visita pode observar-se nesta fotografia abaixo: são aqueles 6 rectângulos verdes, onde se adivinham, mais do que se conseguem identificar, o desenho de setas vermelhas e azuis. Cada um dos 6 rectângulos é uma versão - autor identificado - de como pode ter sido a batalha de Crécy. Ou seja, nesta batalha travada há 672 anos, sabendo-se o essencial, há ainda muita latitude para presumir os detalhes. As certezas ficam para as reconstituições. E, pelo que aprendi, pela simpatia como fui acolhido, é da mais elementar justiça dar publicidade aos mais recentes apelos de financiamento daquele museu.

25 agosto 2018

O MAIOR DA... «CANTADEIRA»? E ELA CANTA AFINADA?


O vídeo acima já circula pelas redes sociais há uns três meses. Foi colocado logo depois do início da crise do Sporting e recupera uma entrevista de 2016 onde aparece um Bruno de Carvalho a falar de si mesmo na terceira pessoa, prometendo censurar os seus próprios excessos. Dadas as circunstâncias, é patético. Mas, dado que é carnaval futebol, ninguém leva a mal. Mas o que estranho, nos milhentos comentários indignados que invariavelmente se seguem às variadas publicações do vídeo que fui encontrando, é que, até agora, nunca dei por nenhum que chamasse a atenção para a gaffe do presidente que, a certa altura (0:30), emprega a expressão «o maior da Cantadeira» quando o que ele quereria dizer era «o maior da Cantareira» (Cantareira: bairro do Porto onde se exibia o Chico Fininho). Ora este é o género de gaffe linguística que se regista num clube que, por coincidência, possuía (na época) um treinador que era precisamente famoso pelas gaffes... Que se pode acrescentar? Tal presidente, tal treinador? Ou que o primeiro, não sendo rústico como o segundo, pode ser tão ignorante quanto ele? Ou que só faz sentido gozar com a ignorância dos rústicos? Ou ainda que há um certo género de gaffes que estão para além da compreensão da massa dos associados e do resto do mundo do futebol?...

A OFERTA PÚBLICA DA ARAMCO

As notícias do Negócios e do Eco contradizem-se absolutamente, mas isto é que é bom jornalismo. É indício que existem duas opiniões entre as cúpulas sauditas quanto à questão da abertura do capital da grande petrolífera estatal saudita. E que as duas correntes se disputam. Mesmo que o assunto não nos interesse minimamente, reconhece-se quando um tópico se torna apelativo. E é diferente de ler a mesma coisa, redigida de forma subtilmente diferente nos vários jornais.

A PROFECIA D'«A HUMANIDADE»

Edição de 25 de Agosto de 1939 (Sexta Feira) do L'Humanité, «órgão central do Partido Comunista Francês». Apoiado na assinatura do Pacto Nazi-Soviético assinado dois dias antes em Moscovo, o jornal comunista destaca que «A acção da União Soviética através do pacto de não-agressão com a Alemanha CONCORRE PARA CONSOLIDAR A PAZ GERAL». Parecia uma coisa daquelas que hoje dizem os apaniguados de Trump em sua defesa. Era (quase) gozar à conta da enorme pirueta táctica que os soviéticos haviam acabado de protagonizar e, em jeito raivoso, a publicação do jornal iria ser interditada pelo governo francês daí por dois dias. Pior quanto à paz geral (assunto que afinal era o mais importante): a Segunda Guerra Mundial iria começar numa semana. Compare-se a capa do L'Humanité com a de um jornal normal desse mesmo dia e as preocupações que lá estão expressas (abaixo, o Diário de Lisboa). É até uma pesada ironia, considerando a comparação feita acima com a propaganda Trump, que o destaque desta última vá para os esforços de Paz feitos por um outro presidente americano.

24 agosto 2018

O «BULLSHITISMO» EM VERSÃO LÍQUIDA

Passei pela prateleira onde a promoviam e o encanto foi imediato. As garrafas de uma água denominada Healsi são um arrebatamento, multicoloridas e em forma de diamante. Mas também são um arrebatamento caro (quase dois euros por uma garrada de litro) e com parcas explicações quanto ao conteúdo, pelo menos se se contar com as que estão imediatamente disponíveis na (arrebatadora!) embalagem (abaixo): Um pH perfeitamente neutro (7,0), uma forte presença de silicatos (61 mg/l)*, uma proveniência algo obscura: Ulme. A investigação posterior veio a revelar que Ulme é uma das freguesias da Chamusca, vila do Ribatejo. Como local de nascente de águas minerais, a Chamusca faz-me lembrar uma outra vila a jusante do vale do Tejo e uma passagem do filme «O Pátio das Cantigas», onde António Silva anuncia que vai de férias, «numa cura de águas para o Cartaxo»... ao que Vasco Santana, lhe replica, ironicamente (por causa da reputação dos vinhos do Cartaxo), «cura de águas para o Cartaxo? Compreendi-te...» Mesmo que não compartilhe da mesma fama vinícola para se prestar ao mesmo trocadilho, também a localização geográfica da Chamusca não indiciará possibilidades geológicas da existência de veios aquíferos de grande personalidade. Mas isso é para quem esteja interessado no que está dentro da (magnífica!) garrafa. Para quem não esteja, é importante saber que aquela marca de água esteve presente na ModaLisboa. Ler no Marketeer que se trata de uma água regeneradora. Ou oferecê-la de presente Gourmet. Eu provei o que lá estava dentro e continuo a insistir que a garrafa é um espanto e que não quero mal a quem quer vender aquilo por um euro e tanto o litro. Haja quem compre.
* Para comparação, a conhecida água do Luso tem um pH (ácido) de 5,8 e a concentração de silicatos é de 14,0 mg/l. E é sete vezes mais barata.

23 agosto 2018

O QUE PARECE SER UMA VERDADEIRA NOVIDADE CIENTÍFICA

Desde ontem à tarde que a notícia estava disponível no El País. Em jornais portugueses até agora não dei por nada, mas estou convencido que a mesma notícia acabará por cá chegar, a da descoberta de uma adolescente que viveu há cerca de 90.000 anos cuja sequenciação genética terá mostrado que era o resultado de um cruzamento entre espécies: uma Neandertal e um Denisovano. O assunto aparece um pouco mais desenvolvido na Nature. Normalmente guardo a descoberta destes assuntos para mim, mas destaco-o porque ainda anteontem gozei com uma daquelas notícias científicas recauchutadas, a da existência de água na Lua. Convém dar destaque às que são verdadeiramente interessantes.

UM VERDADEIRO DESASTRE DE RELAÇÕES PÚBLICAS

23 de Agosto de 1990. Depois de ter invadido o Koweit no princípio do mês, e de ter sido surpreendido pela amplitude da reacção hostil dos Estados Unidos, Saddam Hussein protagoniza na televisão iraquiana uma reportagem de 30 minutos (que ele sabia destina a ser retransmitida para todo o mundo) onde aparece a visitar uma família de expatriados britânicos, conversando com alguns deles. Três semanas depois do inicio do conflito, centenas de ocidentais permaneciam impedidos de viajar para fora do Iraque e do Koweit. A mensagem de Saddam mediava entre o aparentemente simpático e o subtilmente ameaçador, mas o resultado entre as opiniões públicas ocidentais, que ele procurava assim cortejar e condicionar, foi um colossal desastre mediático. Tanto, que o momento da reportagem em que Saddam Husseim (que até largara o uniforme para a ocasião!) afaga uma criança visivelmente tensa, rapidamente foi posto a circular, mas pela propaganda adversária! O episódio mostrou a completa falta de consciência, por parte da liderança iraquiana, quanto à imagem pública que ela própria possuía fora das suas fronteiras.

A REVERSÃO DE UM LONGO PERCURSO

23 de Agosto de 1968. A edição de há cinquenta anos da revista LIFE publicava uma reportagem fotográfica de choque, mostrando o grau de poluição que se atingira nos Grandes Lagos. A questão ambiental começava então a ser uma preocupação social. Já muito se evoluiu desde então no que diz respeito ao assunto, mas o momento parece ser agora de reversão, quando se percebe o sentido das reformas da administração Trump. Ainda anteontem, os Estados Unidos adoptaram novas medidas estimulando novamente o recurso ao carvão como fonte de energia.

22 agosto 2018

A MELHOR PROMOÇÃO QUE SE PODE FAZER A UM QUADRO É ROUBÁ-LO (1)

Manhã de 22 de Agosto de 1911. No Museu do Louvre, o pintor Louis Béroud, que tinha planeado executar uma cópia da Mona Lisa encontra o sítio vazio. Ainda se pensou que alguém do Museu a levara e foi só por volta das 11H00 da manhã, depois de se ter esgotado a última hipótese disso ter acontecido com o fotógrafo oficial do Louvre, é que o famoso quadro foi dada como roubado, há 107 anos. Contudo, o roubo tivera lugar no dia anterior, logo de manhã cedo. O ladrão, veio-se a saber depois, fora um operário de origem italiana do próprio museu chamado Vincenzo Peruggia. O quadro esteve desaparecido por dois anos, foi recuperado em Dezembro de 1913 em Florença e regressou ao seu lugar no Louvre em 4 de Janeiro de 1914. Subsiste o mito urbano que, durante esses vinte e oito meses, o local vazio onde o quadro estivera exposto foi visitado por mais pessoas do que o havia sido nos anos precedentes em que ele lá estivera (recorde-se que o roubo só foi detectado ao fim de mais de 24 horas...). Quanto às razões que haviam estado por detrás do roubo, a mais difundida - e que consta da história de BD que abaixo se publica - é a do patriotismo, o ladrão teria querido que o quadro regressasse a Itália. Isso não conseguiu, mas, como evento promocional, o quadro é o mais famoso do mundo.

A TELENOVELA DA POLÍTICA EXTERNA AMERICANA QUANTO À NÃO PROLIFERAÇÃO NUCLEAR

Em Maio passado, e mesmo depois do anúncio pelos Estados Unidos de que estes se iriam retirar do Acordo Nuclear firmado entre o Irão e a comunidade internacional, a Agência Internacional de Energia Atómica (IAEA) confirmava a atitude iraniana de continuar a cumprir os compromissos do Acordo, apesar do que acontecera. Em contrapartida, em Junho passado houve uma cimeira histórica em Singapura, de onde se saiu com a impressão que houvera uma promessa norte-coreana de desnuclearização futura da península. Mas dois meses depois aquela mesma IAEA vem anunciar que, pelo contrário, a Coreia do Norte não estará a cumprir os compromissos que então assumiu. Tirando a retórica e alguma cenografia em excesso, tudo se mantém como estava antes de Donald Trump ter chegado à Casa Branca. Ou seja, a política externa da administração norte-americana, e no que à questão do combate à proliferação nuclear diz respeito, é como uma daquelas telenovelas para encher horário: parece que acontece imensa coisa, mas tudo o que acontece não é para alterar o fio condutor da história, que já vinha de trás e que tem que se arrastar para aí por uns 200 episódios - sem que nada aconteça de verdadeiramente importante que possa perturbar o sentido tradicional das histórias canónicas daquelas novelas.

21 agosto 2018

ÁGUA NA LUA E «ÁGUA DE LUA»

Em chegando Agosto e as férias, quando os assuntos secam, tornou-se tradição que alguns tópicos jorrem para os cabeçalhos da imprensa, de que exemplo recorrente é a história da existência de água na Lua. Como se pode apreciar mais abaixo, é um desafio anual à imaginação dos jornalistas redigir a mesma notícia num formato que pareça diferente (2009, 2010, 2012, 2013, 2015, 2017). A versão deste ano, pelo menos a do Observador, de onde se recolheu o cabeçalho acima, é que desta vez é a primeira «prova directa e definitiva» da existência de gelo na lua. Ora, como muito bem assinala o primeiro comentário à notícia supra, «prova directa e definitiva seria ir lá e encontrá-lo» (ao gelo). Ora essa façanha, até agora, e como eu assinalei em paródia à mesmíssima notícia publicada naquele mesmo jornal no ano passado, só mesmo o Tintin a terá feito quando andou por aquelas paragens. Enfim, tanta é a repetição, que eu também me sinto obrigado a invocar novas paródias para acompanhar tanta descoberta científica, e a deste ano é «Água de Lua», interpretada por Djavan...

AS ELEIÇÕES AUSTRALIANAS ELEGEM UM PARLAMENTO FRANCAMENTE TRABALHISTA

21 de Agosto de 1943. Para resolução (nas urnas!) de uma crise política que surgira dois meses antes, tinham lugar há setenta e cinco anos eleições gerais na Austrália. Os resultados foram uma maioria expressiva para os trabalhistas do primeiro-ministro em exercício, John Curtin (1885-1945), quando alcançaram ½ da votação e conquistaram ⅔ dos 74 lugares em disputa. A interpretação política dos resultados podia ser contraditória: ou se tratara de um endosso substantivo do seu líder de guerra, ou então estava-se diante de uma inflexão à esquerda do eleitorado australiano. Não se sabia então, mas o líder de guerra não viria a ter oportunidade de se reapresentar ao eleitorado: John Curtin morrerá subitamente em 5 de Julho de 1945 (menos de três meses depois de Franklin D. Roosevelt), ainda a Segunda Guerra Mundial não terminara na Frente do Pacífico, precisamente aquela a que a Austrália dava a principal importância.

20 agosto 2018

AI ALDRABA, ALDRABA

Um dos subprodutos dos grandes falecimentos é o cortejo de elogios que obrigatoriamente se seguem na comunicação social, alguns deles oficiais, institucionais e obrigatórios, complementados por outros que, pelo estilo excessivo, se perfilam como um campeonato sobre a autoria dos maiores encómios a respeito do falecido. É de mau gosto refrear tais excessos. Também é uma boa ocasião para quem anda desaparecido se fazer recordado, como acontece na notícia acima, em que o falecido é Pedro Queiroz Pereira, mas a fotografia que a ilustra é a do depoente, Fernando Ülrich, de quem agora se ouve falar muito menos do que era hábito. Ülrich que, como acontece sempre nestas ocasiões, terá conhecido intimamente e desde há muito o defunto: «Andámos no mesmo colégio». E sempre dele terá tido uma imagem muito positiva: «O Pedro era um sobredotado para o desporto.» «Era fenomenal em todos os desportos que praticava, do futebol ao voleibol, passando pelo ténis.» O Observador não a tinha, mas até apetece ilustrar a narrativa com uma fotografia de época, tirada por volta de 1960, com a turma do Colégio Militar a que pertenceu Pedro Queiroz Pereira (nº 140/59). O sobredotado, devidamente assinalado, não parece destacar-se particularmente dos demais camaradas. Quiçá tratar-se-ia de uma sobredotação discreta. Honestamente: mais vale um genuíno voto de Paz à sua Alma do que todo aquele discurso gongórico de Ülrich. Quanto ao resto, não existem registos de que Fernando Ülrich alguma vez tenha frequentado o Colégio Militar; eles terão andado certamente num «mesmo colégio», mas terá sido em outro.

19 agosto 2018

NOVOS TEMPOS REVOLUCIONÁRIOS: DOS «SANS CULOTTES» FRANCESES AOS «BRAINLESS» AMERICANOS

Com distanciamento, acredito que se vivem tempos verdadeiramente revolucionários na América, reminiscentes daqueles que há quase 220 anos (1789) se viveram em França. Só que, o enfâse que era dispensado aos apoiantes populares recebido pela Revolução francesa, incidia sobre aquilo que tinham, ou melhor, sobre aquilo que eles não tinham, conhecidos como eram por «sans culottes», sendo a culotte a peça de vestuário que, naquela época, conferia distinção social. Em contraste, os apoiantes populares da actual Revolução americana (2016) são também uns destituídos, mas já não de bens materiais, antes de cultura, educação e/ou inteligência, enfim de tudo aquilo que remotamente possam ser considerados bens intelectuais. Se as convenções tradicionais obrigavam os revolucionários das revoluções delfins da francesa a serem - ou passarem-se por - pobres, a partir de agora, pelos cânones da verdadeira Revolução americana, os revolucionários têm que ser - ou fingirem-se - altivamente ignorantes e estúpidos, impermeáveis a qualquer argumentação racional¹. Aos «sans culottes» parisienses (que seguiram acriticamente as derivas cada vez mais radicais de Maximilien de Robespierre até à sua perdição), sucedem-se-lhes agora os «brainless» americanos, a quem nada na conduta política e moral de Donald Trump parecerá incomodar - uma maioria silenciosa, como se exibe no cartaz acima, incluindo não apenas os que votam nele e o apoiam, como todos os outros a quem a sua conduta não os impele sequer a ir votar pelo outro (seja ele qual for...).

¹ É por causa dessa óptica que há que considerar Kellyanne Conway, criadora da expressão «factos alternativos» e da tecnologia dos «microfones a micro-ondas», uma das grandes revolucionárias do Século XXI.

18 agosto 2018

A GESTÃO (NOTICIOSA) DA DÍVIDA PÚBLICA - A NOSSA E, AGORA, A DOS OUTROS

Eu sempre gostei aldrabices quando nos são pregadas com a regularidade de um folhetim mensal. E o Observador é um jornal com muito estilo para elas. Já aqui, aliás, falei disso. O tema é a evolução da dívida pública portuguesa, a que todos os meses o Observador dedica um cabeçalho pessimista (veja-se acima...) a não ser que a dívida diminua e aí esquece-se de publicar a notícia dando conta da evolução da dívida pública nesse mês. Como aconteceu este mês.
E a informação até estava disponível... Mas é preciso consultar um jornal concorrente para saber o que aconteceu à dívida pública portuguesa. Já houve tempos - quando Pedro Passos Coelho era o primeiro-ministro - em que a prática do Observador era precisamente ao contrário: sonegava a notícia nos meses em que havia crescimento da dívida e enfatizava as diminuições. No fundo, nada que nos surpreenda, se conhecermos o engajamento da publicação.
Porém, verdadeiramente surpreendente acabou por ser esta muito recente inflexão do Observador, ao dar em preocupar-se com a dívida pública espanhola. Naquele jornal e mostrando o mesmo zelo em acompanhar os detalhes das finanças de um dos nossos parceiros europeus, só mesmo a Grécia, em que José Manuel Fernandes passou até todo o ano de 2015 a rogar-lhes pragas. Cobriu-se de ridículo. E agora, caído Rajoy, é que lhes deu em preocuparem-se com o endividamento público espanhol. Será que se trata de um caso de urticária congénita do Observador às geringonças?...

17 agosto 2018

A ÚLTIMA REMODELAÇÃO GOVERNAMENTAL DE SALAZAR

Edição do Diário de Lisboa de 17 de Agosto de 1968. Já se haviam passado duas semanas depois do então desconhecido, mas hoje imensamente invocado, episódio da queda da cadeira do presidente do Conselho, quando se noticia que Salazar procedera à que seria a última remodelação ministerial do seu governo. Tudo normal, portanto, tratava-se de uma daquelas remodelações de fundo e alargadas, sem a pressão política dos acontecimentos, aproveitando o período de férias (como fora a de 1958, depois da posse de Américo Tomás), remodelação essa que passava pelo aparecimento de seis novos ministros para as pastas do Interior, Educação, Saúde, Finanças, Exército e Marinha. Também haviam sido escolhidos outros quatro novos subsecretários de Estado. A aparência da situação política estava, por isso, muito longe de deixar adivinhar aquilo que estaria para acontecer daí por um mês. Reforço formalmente anacrónico da continuidade do regime, esclareça-se que o governo estava em funções há trinta e dois anos e meio (tomara inicialmente posse a 18 de Janeiro de 1936*). Desde lá, todos os seus titulares já haviam (naturalmente) rodado, com excepção do omnipresente presidente do Conselho...

* Nessa altura, e só para dar um exemplo, o recém empossado ministro do Exército, brigadeiro Bettencourt Rodrigues, então com 17 anos, ainda frequentaria o sétimo ano do liceu.

16 agosto 2018

CERTAS RELATIVIDADES CULTURAIS SÃO ACEITÁVEIS. OUTRAS NÃO.

Há uma diferença enorme (que muitos porém confundem) entre aquilo para o qual devemos até ter a modéstia de nos mostrarmos abertos e empáticos, e aquilo para o qual não há tolerância possível. O quadro acima evidencia o quanto (se se abandonar a nossa tradicional perspectiva eurocêntrica) nos podemos consciencializar que, em certas circunstâncias, podemos passar por analfabetos - naquela página da wikipedia nem conseguimos identificar sequer de que idiomas se tratam, já que se ignora em que alfabetos estão escritos os textos. Mas não será esse analfabetismo (que nos obriga, por sua vez, a entender o aviso abaixo só quando escrito no internacional inglês) que nos deve induzir a aceitar de forma casual e displicente a prática de impedir as mulheres de aceder a um mero estabelecimento de fast-food. É retrógrado, está mal. E, como se deduzirá pelos logotipos à vista (que esses não mudam com os alfabetos...), casos do McDonald's, dos cartões Visa ou MasterCard, o capitalismo, manifestando ter uma moral, tem-na muito específica.

15 agosto 2018

PEDRO SANTANA LOPES NA AMÉRICA ERA UM MENINO


Se a leitura atenta da carta de despedida de Pedro Santana Lopes aos militantes do PPD/PSD pode realçar o ridículo de uma redacção superficial e de uma revisão desatenta, como aqui outro dia mostrei, ocorreu-me recuperar um outro caso mais exuberante, porque televisivo e porque em vez de enumerar tópicos em excesso e depois esquecer-se de os desenvolver, no caso o protagonista sabia que eram três, mas depois esqueceu-se de qual era um deles... Veja-se acima o momento em que o candidato presidencial norte-americano Rick Perry, em pleno debate, está embalado a comprometer-se a um programa de equilíbrio financeiro do estado, que passará pela extinção de três ministérios (departamentos na nomenclatura americana) da sua futura administração. O problema é que, ao enumerá-los, já não sabe qual é o terceiro dos departamentos que quer extinguir... Ridículo, ficou conhecido pelo momento «Oops». Neste caso, reconheça-se que Pedro Santana Lopes se safou melhor porque mais vale enumerar a mais do que a menos... Mas o ridículo da história de Perry ainda não acabou: convidado por um Donald Trump quiçá sarcástico, Rick Perry aceitou vir a dirigir o departamento de Energia da sua administração, precisamente o departamento que ele queria extinguir e de que se esquecera o nome... Por muito que ele se esforce para arranjar pretextos para figurar nas notícias, na América, Pedro Santana Lopes era um menino.

14 agosto 2018

FOTOGRAFIA DE UMA PRAIA CHEIA DE INGLESES, COMO ELES GOSTAM

Circula por aí uma notícia típica de silly season, que nos conta as desventuras de uma avózinha inglesa de 81 anos, que foi passar um par de semanas de férias a Benidorm, Espanha, em Maio passado e que veio de lá muito desapontada. Aparecida inicialmente num jornal local britânico, o Lancashire Telegraph, a notícia propagou-se rapidamente aos tablóides e a outros jornais de maior circulação em Inglaterra, acabando por regressar aos jornais do país da origem da questão, a Espanha. Por cá, a coisa também não escapou ao Correio da Manhã. Toda a «popularidade» da notícia deve-se à forma como a velhota redigiu a reclamação que endereçou à agência de viagens que contratara. Segundo a senhora, Benidorm, e especialmente o hotel em que ficou alojada, estaria «repleto de espanhóis» e estes, na sua opinião, não se sabiam comportar (os clientes, os empregados não...). Em abono do seu cosmopolitismo, na reclamação, ela refere que já fizera férias na Grécia, Turquia, Portugal e (sic) Tenerife e que esta seria a primeira vez que reclamava por umas férias que qualificou de «desastrosas do principio ao fim». A acrescer, e como os tablóides britânicos não gostam de abandonar um assunto destes sem o explorar até ao tutano, houve um deles que foi investigar as reviews do hotel em causa, para concluir que já vários compatriotas da avózinha se haviam queixado da profusão de espanhóis alojados naquele hotel (que se situa em Benidorm, Espanha, relembre-se...). Eu sempre suspeitei que existe em todo o inglês em férias aquela opinião secreta, escondida, que os verdadeiros destinos turísticos ideais seriam aqueles que só eles os frequentariam. Já todos nos teremos cruzado com vários ingleses no Algarve que nos exprimem de uma forma inequívoca que quem está ali a incomodá-los seremos nós. E no entanto... os ingleses têm destinos turísticos deles e só para eles no seu próprio país: a fotografia acima é de Frank Horvat e foi tirada em 1960, da magnífica praia de Brighton que se estende por mais de 8 quilómetros. É verdade que o Sol - que é escasso - não impressiona nesta foto pela sua luminosidade. É verdade também que areia, nem vê-la, já que o solo é pedregoso, polvilhado de calhaus. Reconheço que também não se vê ninguém na água. Mas aqueles pontões são uma beleza e o conjunto tem a ineludível vantagem da frequência, já que, para além das duas banhistas que, em primeiro plano, compostamente se mudam, estou tentado a apostar que, até aonde a vista alcança, não haverá banhistas de uma nacionalidade diferente que não a britânica. Porque é que eles não ficam por lá? É que isto de vagar os nossos países só para que eles se instalem ao Sol mais à vontade é logisticamente complicado, não é?...

13 agosto 2018

HÁ CINQUENTA ANOS: UMA ÚLTIMA REUNIÃO ENTRE DUBČEK E ULBRICHT

Em contraste com o que acontecera três dias antes com a visita de Tito da Jugoslávia, o encontro de Alexander Dubček com Walter Ulbricht caracterizou-se pela discrição. Os checoslovacos estavam interessados em promover encontros com os socialismos desalinhados (das directivas de Moscovo) da Jugoslávia e da Roménia. Mas o alemão, incomodado - quiçá ciumento - com as aproximações mais recentes da Checoslováquia à Alemanha Ocidental, fizera-se convidado, para passar um último recado. Como se lê na notícia abaixo, o encontro teve lugar em Karlovy Vary, uma «sossegada estância termal, situada a 160 quilómetros de Praga», que tinha a vantagem (para o visitante) de se localizar a uns escassos 25 quilómetros da fronteira com a Alemanha. A impopularidade de Ulbricht - considerado a face da linha mais dura anti-reformista do Bloco Leste - era evidente entre checos e eslovacos, e aquele novo formato de socialismo de rosto humano até permitia que o exprimissem: da última vez que Ulbricht estivera na Checoslováquia, em Bratislava, em vez das entusiasmadas bandeirinhas que acolhiam obrigatoriamente os estadistas dos países socialistas, o líder alemão fora vaiado! Com uma curta viagem de 25 quilómetros em território hostil permitir-se-ia assim reduzir as hipóteses que essa desagradável cena se repetisse. Do lado dos checoslovacos e em contraste com a discrição dos soviéticos e dos seus títeres, registe-se o interesse a publicitar as enormes pressões a que estavam a ser submetidos. Terminada há cinquenta anos, nada de construtivo sairá da reunião e aquilo que hoje se sabe ser a contagem decrescente para a invasão continuará até ao dia 21 de Agosto. Uma nota curiosa a respeito da notícia abaixo: o jornalista consegue-a redigir sem por uma vez utilizar aquela que era a designação oficial da Alemanha Oriental, República Democrática Alemã, talvez por imposição da Censura.

12 agosto 2018

OS DOIS MIGS SÍRIOS QUE ATERRARAM POR ENGANO EM ISRAEL

12 de Agosto de 1968. Há cinquenta anos, dois caças Mig-17 da Força Aérea síria aterravam inesperadamente num antigo aeródromo militar no Norte de Israel. Apesar de as autoridades israelitas terem noticiado que se devera a causas acidentais, a explicação foi acolhida com um cepticismo que se justificava por vários precedentes. Em 1962, numa operação de espionagem que correra mal, os israelitas haviam tentado aliciar um piloto egípcio de um Mig-17 a desertar para Israel. A operação correra mal, a rede de espionagem foi denunciada e três agentes acabaram executados. Porém, em 1964, uma operação semelhante foi bem sucedida, quando o capitão Mohammad Abbas Helmy  da Força Aérea egípcia desertou com o seu Yak-11 de treino para Israel. O desertor veio a ser executado no Cairo dois anos depois. E em Agosto de 1966, realizara-se uma terceira operação do mesmo género, protagonizada agora pelo capitão Munir Redfa da Força Aérea iraquiana, tendo em vista a obtenção de um caça Mig-21. Perante este historial, percebe-se o cepticismo internacional que acolheu as explicações oficiais de que o a aterragem dos Migs-17 do tenente Walid Adham e do 2º tenente Radfan Rifai, da Força Aérea síria, se devera a erros de navegação. Contudo, os pilotos sírios haviam aparentemente usado mapas datados de 1945, haviam entrado no espaço aéreo libanês, haviam-se desorientado e pensavam estar a aterrar numa base aérea do Líbano, quando estavam a aterrar num aeródromo praticamente desactivado em Israel, numa manhã soalheira (eram 08H45), e sem combustível suficiente para tornar a descolar . Era uma história suficientemente estúpida para ser verosímil. Não abonava nada em favor da preparação da navegação que era ministrada pela Força Aérea síria aos seus quadros, mas os factos posteriores vieram corroborá-la: os dois pilotos permaneceram aprisionados até 1970, aquando da realização de uma troca de prisioneiros entre israelitas e sírios. Acrescente-se que, em Outubro de 1989, um major sírio virá a desertar aos comandos de um Mig-23.