20 agosto 2018

AI ALDRABA, ALDRABA

Um dos subprodutos dos grandes falecimentos é o cortejo de elogios que obrigatoriamente se seguem na comunicação social, alguns deles oficiais, institucionais e obrigatórios, complementados por outros que, pelo estilo excessivo, se perfilam como um campeonato sobre a autoria dos maiores encómios a respeito do falecido. É de mau gosto refrear tais excessos. Também é uma boa ocasião para quem anda desaparecido se fazer recordado, como acontece na notícia acima, em que o falecido é Pedro Queiroz Pereira, mas a fotografia que a ilustra é a do depoente, Fernando Ülrich, de quem agora se ouve falar muito menos do que era hábito. Ülrich que, como acontece sempre nestas ocasiões, terá conhecido intimamente e desde há muito o defunto: «Andámos no mesmo colégio». E sempre dele terá tido uma imagem muito positiva: «O Pedro era um sobredotado para o desporto.» «Era fenomenal em todos os desportos que praticava, do futebol ao voleibol, passando pelo ténis.» O Observador não a tinha, mas até apetece ilustrar a narrativa com uma fotografia de época, tirada por volta de 1960, com a turma do Colégio Militar a que pertenceu Pedro Queiroz Pereira (nº 140/59). O sobredotado, devidamente assinalado, não parece destacar-se particularmente dos demais camaradas. Quiçá tratar-se-ia de uma sobredotação discreta. Honestamente: mais vale um genuíno voto de Paz à sua Alma do que todo aquele discurso gongórico de Ülrich. Quanto ao resto, não existem registos de que Fernando Ülrich alguma vez tenha frequentado o Colégio Militar; eles terão andado certamente num «mesmo colégio», mas terá sido em outro.

1 comentário:

  1. Normal que para ele todos os que frequentaram aquele Colegio sejam sobredotados

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