Para educar o leitor sobre a escala do assunto, esclareça-se que o Fundo de Estabilização Financeira da Segurança Social a que esta notícia alude tinha 23.180 milhões de euros em 2021. Portanto, estes 2,6 milhões representam qualquer coisa como 0,0001 do total, ou 0,01%. É essa a verdadeira dimensão do rombo. Grande só mesmo o título da notícia e a desfaçatez e mesmo má fé de quem a redigiu desta maneira.
21 março 2023
DOENTES DE PRIMEIRA E DOENTES DE SEGUNDA CLASSE
Daquilo que se percebe sobre as causas da sanção que é aplicada aos dois hospitais particulares, nestes dois hospitais o acesso à saúde não será propriamente igual para todos e será só por uma questão de pudor e de marketing que não o escarrapacham à entrada do estabelecimento, como o faz a CP nas suas carruagens. Há doentes de primeira e segunda classe. Os doentes com ADSE servem para completar a facturação. Não faz mal que assim seja, o que está mal é que esta discriminação seja prática corrente, sem ser assumida por quem a pratica. A multa é pela hipocrisia. O que o artigo não esclarece é qual o montante das multas que a ERS aplicou, não se revelem elas tão (pouco) pesadas quanto aquelas que, em valores ridículos e como aqui vimos há dias neste mesmo blogue, a FPF aplica aos clubes de futebol.
NEM GUERRA NEM PAZ, A POPULARIDADE DA LOTARIA NUM PAÍS DESMORALIZADO
(Republicação)
A 21 de Março de 1943, em França, andava à roda. A França de há oitenta anos era um país estranho e isso não apenas por causa da degradação crescente do estatuto do regime que, só aparentemente, a governava. As prepotências das autoridades alemãs eram comuns e multiplicavam-se, os comboios só circulavam irregularmente, o mesmo acontecia com a circulação postal, a vida quotidiana das pessoas centrava-se na preocupação com o que comer e que vestir, contornando os limites incomportáveis que eram impostos pelo racionamento, havia falta de tudo, até mesmo de papel, mas essas carências não se pareciam reflectir na qualidade e quantidade dos cartazes da publicidade da Lotaria Nacional cujo ritmo das extracções, haviam passado nesse ano, de mensal a semanal. A atenção dada ao jogo ainda é um bom parâmetro para aferir a moral de uma sociedade.
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OS DISPARATES DO COSTUME...
Mesmo se qualquer das moções de censura apresentadas ontem na Assembleia Nacional francesa tivesse passado, Emmanuel Macron continuaria sobrevivo, já que ele é presidente da República. Foi eleito por sufrágio universal. O seu cargo não depende da aprovação parlamentar. A incompetência do jornalismo é isto...
20 março 2023
UMA M**** DE ARTIGO E UM ARTIGO DE M**** SOBRE A PRODUÇÃO DE M****
Além daquilo tudo que se lê em título, o artigo é absurdo por mais do que uma razão. A primeira é que o artigo é fraudulento: destaca uma pergunta para a qual não tem resposta. À pergunta «Quantas vezes por dia?» responde «depende de muitos factores», «as opiniões dividem-se», «não existe uma resposta certa». Em segundo lugar, porque, da leitura do artigo, que assenta nas opiniões de uma tal «Hana Patel, uma médica especialista em saúde feminina», se retira a vaga impressão que existirá um aparelho digestivo distinto para homens e mulheres. E este artigo será só para mulheres - veja-se a sugestão da imagem - e para as suas excreções. Em terceiro lugar, escreva-se aquilo que é óbvio: que o acto de defecar é dos actos mais pessoais e intransmissíveis que existem. Não é por acaso que costuma ser referido polidamente como «uma coisa que ninguém pode fazer por mim». Que sentido fará então o alerta para que a leitora «saiba quando pedir ajuda». Ajuda para quê? Só se for para limpar, mas isso é já depois da coisa feita. Daí talvez a importância dada ao rolo que a cagadora tem nas mãos. Em quarto e último lugar: qual é o problema se nos limitarmos a fazermos apenas quando temos vontade?... Uma merda de artigo. Um artigo de merda. Sobre a produção de merda.
O INCIDENTE SUBMARINO DA PENÍNSULA DE KOLA
(Republicação)
A península de Kola tem 100.000 km² e situa-se a Noroeste da Rússia, quase toda ela situada a Norte do Círculo Ártico. A sua importância para a Rússia advém da existência do porto de Murmansk que, apesar da sua localização no Mar de Barents, parte do Oceano Glacial Ártico, dispõe da grande vantagem das suas águas não congelarem durante o Inverno, ao contrário daquilo que acontece com todos os portos russos no Báltico. Apesar da sua localização remota em relação ao núcleo da Rússia (1.500 km até Moscovo), Murmansk é, ainda assim, o quarto porto da Rússia e é por tudo isso que ali se localiza uma das mais importantes bases navais russas, onde nomeadamente se albergam a esmagadora maioria dos seus submarinos. A abertura do filme A Caça ao Outubro Vermelho de 1990 (abaixo) enfatiza essa paisagem gelada que, como se pode observar no mapa acima, rodeia o prolongado fiorde que separa Murmansk do mar aberto.
Mas aquilo que aconteceu perto daquelas paragens a 20 de Março de 1993, há precisamente trinta anos, embora envolvendo também um submarino russo e outro norte-americano, já não foi propriamente do domínio da ficção. Enquanto um submarino russo, o Novomoskovsk de 11.700 toneladas (abaixo, na foto superior) realizava submerso manobras de treino no Ártico, havia um submarino americano, o Grayling de 4.200 toneladas, que o seguia discretamente, evitando ser detectado. Com tanta discrição que, a certa altura, o próprio Grayling perdeu o Novomoskovsk de vista (de ouvido, já que o meio de detecção é o sonar) e quando deu por ele, este fizera uma viragem de 180º e os dois estavam em rota de colisão! O comandante norte-americano ainda tentou desviar a rota e emergir - afinal, o seu navio é que era o prevaricador e, sobretudo, o seu navio tinha apenas ⅓ do deslocamento do seu opositor! - mas a manobra não conseguiu evitar que os dois submarinos colidissem, ainda só que de raspão.
Felizmente, apesar dos danos materiais, não houve danos pessoais em qualquer das tripulações, mas o incidente deixou a imagem dos americanos em péssimos lençóis. Já no ano anterior houvera um incidente semelhante também naquele local e, nessa altura, o secretário de Estado James Baker acorrera a Moscovo para acalmar um irritadíssimo Boris Yeltsin, que constatava que, para a US Navy, aquela história do fim da Guerra-Fria não era afinal para levar a sério. Apesar das promessas então feitas, agora em 1993, sob uma nova administração (Clinton), tudo parecia ter continuado na mesma. Como uma qualquer outra burocracia que funciona por inércia, a máquina de guerra norte-americana recusou-se a abdicar do seu ganha-pão apesar da tão propagada alteração da situação estratégica. E claro que há uma outra burocracia que cuida que não se dê atenção desmesurada a estes incidentes e que a sua memória não se prolongue por demasiado tempo...
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DESCONTANDO A SEMÂNTICA DE CADA ÉPOCA...
...os problemas com que se confrontam os governos têm uma certa tendência para se perpetuar, porque falhos de resolução. Reconheça-se que não estou a imaginar António Costa a empregar o eufemismo «classes menos abastadas» que acima se lê no título do jornal, mas «a necessidade de se resolver o problema da habitação» parece ter permanecido uma constante destes últimos 70 anos. Agora engendram-se uma encenações com trios dinâmicos (de ministros), mas a essência do problema, parece ainda ser sempre a mesma.
19 março 2023
O ACTO ELEITORAL PARA A APROVAÇÃO DA CONSTITUIÇÃO DE 1933
Domingo, 19 de Março de 1933. Tinha lugar o acto eleitoral para a aprovação da Constituição do Estado Novo. O Diário de Lisboa dava destaque de primeira página aos momentos em que Óscar Carmona, presidente da República, e Oliveira Salazar, presidente do Conselho, votavam (entregavam a sua lista, como então se dizia). O ritmo do escrutínio era outro. No dia 11 de Abril o Diário do Governo publicava os resultados oficiais: 1.292.864 a favor, 6.190 contra, 666(?) nulos e 30.538 abstenções. Eram resultados inverosímeis, mas essa era a prática aceite para actos eleitorais em ditaduras onde ocorriam vitórias esmagadoras de 99.5%!
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A ABDICAÇÃO DO PRIMEIRO IMPERADOR DO MÉXICO
19 de Março de 1823. Abdicação do Imperador Agostinho I (Iturbide) do México. O seu reinado durara apenas dez meses, de Maio de 1822 a Março de 1823. Com esta abdicação colapsava um modelo de organização monárquica de inspiração napoleónica* (aprecie-se o estilo do retrato do Imperador...) que fora adoptado por ele e pelos seus apoiantes como modelo político inspirador para aquela que fora a colónia espanhola do México. Como se percebe pelo mapa, este breve Império do México era bastante mais extenso do que o México actual: para além de abranger todo o Sul dos actuais Estados Unidos (incluindo os estados da Califórnia, Texas, Arizona, Novo México e Nevada), incluía também ainda cinco países da América Central (Guatemala, Honduras, El Salvador, Nicarágua e Costa Rica).
* Em contraste com o Brasil, onde o monarca (também Imperador) Pedro I ia buscar a sua legitimidade ao facto de pertencer à casa real da antiga metrópole portuguesa.
NÃO É UM (DES)"CONSOLO PARA A ALMA" LER ESTA NOTÍCIA A DEZ ANOS DE DISTÂNCIA?...
19 de Março de 2013. Estes dois «melhores CEO da Europa» de há dez anos tornaram-se hoje pessoas de interesse de algumas investigações em curso... Isso sim, é que é um assunto que se segue com interesse. Quanto aos concursos para melhor CEO da Europa, esses deixaram de ser interessantes para a comunicação social portuguesa. Estamos numa equilíbrio medíocre: ainda não temos nenhum CEO ou aparentado condenado pela justiça, mas também os jornais já se deixaram de os promover como dos melhores da Europa.
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18 março 2023
LEGENDAS DE FOTOS QUE DESCREDIBILIZAM O ARTIGO E A AUTORA
Vale a pena esmiuçar a legenda que o Público escolheu para a fotografia que ilustra este seu artigo acima sobre a desclassificação das actas do Conselho Superior de Defesa do tempo do Marcelismo. António de Spínola com as tropas na Guiné já depois de ter sido demitido de vice-chefe do Estado Maior General das Forças Armadas por Marcello Caetano na sequência da publicação do livro Portugal e o Futuro. Há aqui tanto erro que é difícil saber por onde começar a crítica. Optei por o fazer pela ordem em que os disparates são mencionados. António de Spínola foi demitido do seu cargo de vice-chefe do Estado Maior das Forças Armadas em Março de 1974. O pretexto invocado para a sua demissão foi a sua falta de comparência a uma cerimónia em que todos os oficiais generais vieram manifestar junto de Marcello Caetano o seu apoio à política ultramarina prosseguida pelo presidente do Conselho. A cerimónia e os seus participantes ficaram ironicamente conhecidos pela «brigada do reumático». Mas o que importa reter é que medeia um escasso mês entre essa demissão e o 25 de Abril de 1974. Conceber que, nesse mês, o demitido general Spínola regressasse à Guiné (onde aliás havia um novo comandante-chefe...) para se envolver em operações, é um disparate indicativo que quem escreve esta legenda não faz a mínima ideia sobre o que está a falar. E depois há a fotografia, que é relativamente conhecida, data de Outubro de 1969 - ou seja quatro anos e meio antes da demissão do general Spínola! - e foi publicada numa das edições de Novembro da revista francesa Paris-Match. A jornalista que assinava a reportagem associada à foto é precisamente Geneviève Chauvel, cujo nome aparece referido em rodapé. Podemos perceber que a fotografia foi ali colocada apenas com o propósito de ilustrar a guerra colonial, cujas actas desclassificadas são o verdadeiro tema do artigo. Mas escrever tanta asneira ignorante numa legenda que precede a leitura do artigo propriamente dito, descredibiliza obrigatoriamente tudo aquilo que a jornalista - Helena Pereira - venha a escrever sobre o assunto.
OS PRIMÓRDIOS DO «CASO PROFUMO»
18 de Março de 1963. O Diário de Lisboa dá o destaque que a imagem acima documenta àquilo que denomina por «um "mistério" que envolve um diplomata russo (e que) apaixona a opinião pública britânica». O dito "mistério" envolve «um manequim de 21 anos» (uma designação de salão para uma prostituta de luxo), «um diplomata soviético (entretanto) chamado a Moscovo», «um cidadão da Jamaica ciumento» (por sinal, era antiguano, mas isso é pormenor), mas o protagonista verdadeiramente interessante que os jornais britânicos ainda não se atreviam a mencionar pelo nome era John Profumo, o secretário de Estado da Guerra do governo conservador de Harold Macmillan. Era ele que conferia todo o interesse ao "mistério" e será ele que emprestará o seu nome ao caso, o «Caso Profumo», caso esse que terá como consequência, dali por dois meses e meio, a demissão do titular que há 60 anos ainda não se mencionava(abaixo), por ele ter mentido ao Parlamento quando à questão do seu envolvimento com a «manequim» Christine Keeler. Todo o episódio veio a constituir mais um factor de desgaste do governo britânico de então.
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17 março 2023
EXPLOSÃO DE ALEGRIA
Republicação





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UM VULGAR METEORITO LUNAR
(Republicação)
Desde 2005 que a NASA tem um programa que monitoriza os meteoritos que atingem a face visível da Lua. O ritmo tem-se cifrado na ordem de uns 30 a 40 por ano. São acontecimentos de uma espetacularidade interessante. Ao contrário do que acontece na Terra, em que a atmosfera os desbasta, muitos deles até ao total desaparecimento, na Lua, a sua ausência, faz com os meteoritos cheguem pristinos ao ponto de impacto na superfície, ocasionando explosões espectaculares - é preciso é que haja um dispositivo a observá-las... A 17 de Março de 2013, cumprem-se hoje precisamente dez anos, houve um calhau que vogava pelo espaço, com uns 30 a 40 cm de diâmetro e um peso estimado de 40 kg, que chocou contra a superfície lunar. Por muito insignificante que fosse a dimensão do objecto, a questão é que o calhau viajava a uma velocidade de 25 km por segundo. A explosão do impacto, que terá equivalido ao efeito da detonação de 5 toneladas de TNT, foi momentaneamente visível da Terra (abaixo), deixando na superfície uma cratera com 18 metros de diâmetro.
O 20º ANIVERSÁRIO DA CIMEIRA DAS LAJES
17 de Março de 2003. Visto a esta distância de 20 anos, parece assentar a conclusão que a Cimeira das Lajes terá sido uma mera operação de relações públicas, em que a administração republicana de George W. Bush quis mostrar à opinião pública americana que não estava isolada internacionalmente, quando anunciava a sua intenção de invadir o Iraque. Para a ocasião, houve certas figuras da política europeia que se prestaram a fazer de figurantes nessa operação de relações públicas. Qualquer dos três figurantes europeus aparecia ali por razões muito próprias e confrontando-se com resistências severas nos seus próprios países. Por exemplo, Robin Cook, o ministro dos Negócios Estrangeiros britânico demitia-se naquele mesmo dia por causa do alinhamento com os Estados Unidos. E a solidariedade recíproca também não imperava: num gesto de humilhação pública para com Durão Barroso a imprensa espanhola referia-se ao encontro como Trío de las Azores, pondo de parte, insultuosamente, o anfitrião português. Passados 20 anos, se, do outro lado do Atlântico, sempre se notou uma certa indulgência para com a conduta de Bush, deste lado nunca se terá perdoado a qualquer dos figurantes: Aznar, Barroso e Blair.
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16 março 2023
A ARMADILHA DA RELATIVIZAÇÃO DOS ASSUNTOS
Como em resposta ao relatório sobre os abusos, a reacção da hierarquia da igreja católica portuguesa tem sido tão descoroçoante, uma notícia como esta acima, publicada esta tarde, até parece ser razoável. Só que convém frisar que não é. É como o milagre bíblico dos pães, mas ao contrário: se na Bíblia Jesus Cristo usou cinco pães para alimentar 5.000 pessoas, aqui 4.800 casos estimados de abusos sexuais de crianças, concretizam-se na suspensão de meia dúzia de padres...
O PORTA MOEDAS DO AVÔ BONDOSO...
Depois da Geringonça, passámos a dever a inventividade de Mário Centeno um novo modelo de funcionamento das finanças públicas em Portugal. Desde finais de 2015, elabora-se e aprova-se formalmente um Orçamento, mas aquilo que estiver lá estabelecido não serve para nada, porque há uma espécie de pai severo (o ministro das Finanças) que cativa a despesa. O verbo chave é precisamente esse: cativar. No papel a verba pode ser despendida, na prática, não. Os resultados têm sido notáveis do ponto de vista da redução da despesa pública - o ministro das Finanças exulta: Impressionante! Só que às vezes as coisas não correm bem, quando se torna patente à custa de quê se conseguem esses resultados. Foi o caso evidente do recente episódio da insubordinação de parte da tripulação de um navio da Marinha, por alegada falta de condições do navio. E é aqui que chegamos ao ponto principal desta história. O sistema implantado permite que o primeiro-ministro apareça nestes percalços como uma espécie de avôzinho bonacheirão que contraria a severidade paterna e descativa as verbas para alegria da pequenada! Veja-se a notícia do Público no lado esquerdo, acima. Quem a ler em pormenor percebe que aquilo que é sugerido em título não é o que consta do corpo da notícia. Afinal a decisão de António Costa dos 39 milhões já fora tomada no princípio deste mês e dá-se apenas a coincidência - judiciosamente aproveitada - dela hoje ter sido publicada em Diário da República, tanto mais que o navio no centro da polémica nem sequer será um dos contemplados. Mas o melhor do artigo será mesmo a fotografia escolhida, onde se pode apreciar a expressão prazenteira e de bonomia do primeiro-ministro com os navios por trás... Digam lá se não poderia ser a imagem do avô traquinas que acabara de tirar o porta-moedas e nos dar dinheiro para comprar o gelado que os pais não queriam que nós comêssemos?...
ADMITAMOS QUE É SÓ POR INCOMPETÊNCIA E NÃO POR MALÍCIA...
...que a comunicação social portuguesa costuma dar estas notícias, envolvendo números astronómicos, sem ajudar as audiências a aperceberem-se da sua colossal dimensão. O empréstimo de 50,7 mil milhões de euros que o Banco Nacional da Suíça acabou de conceder para salvar o Credit Suisse, corresponderá a quase ⅔ do montante dos empréstimos que foram concedidos pela Troika a Portugal em 2011. Foram 79 mil milhões de euros que, relembre-se, vieram acompanhados de incontáveis advertências e admoestações, replicadas na nossa agenda político-mediática de então. Haverá quem diga que a comparação será forçada, comparar um empréstimo concedido a um banco com um empréstimo concedido às finanças públicas de todo um país, e eu tenderei a concordar com o argumento, embora desconfie que o faça por razões muito distintas daqueles a quem incomodará - mais por razões ideológicas do que por razões lógicas! - que se façam estas comparações entre quanto custa salvar um grande banco internacional e as finanças públicas de um país de média dimensão. Contudo, não gostaria de terminar este texto sem uma nota irónica, perguntando-me se os 50.000 funcionários do Credit Suisse também virão a ser admoestados por «terem vivido acima das suas possibilidades»?...
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QUANDO AS NOTÍCIAS MEXERIQUEIRAS VINHAM DE LONDRES
16 de Março de 1948. Era preciso ter lido o jornal londrino «Star» (hoje Daily Star) para se ficar a saber do noivado de Carmen, a filha única do Generalíssimo espanhol. Os acontecimentos virão a comprovar a fidedignidade das fontes do jornal inglês, muito embora o casamento só viesse a ter lugar dali por um pouco mais de dois anos, a 10 de Abril de 1950. Mas o que é aqui interessante é ver como este mundo específico da informação mundana era diferente há 75 anos, neste caso concreto quiçá por causa da censura férrea que então vigorava em Espanha. Contudo, hoje seria algo completamente impensável que um acontecimento desta magnitude houvesse escapado à revista espanhola ¡Hola!, a referência europeia das revistas do género.
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15 março 2023
A APROXIMAÇÃO IRANO-SAUDITA MEDIADA PELA CHINA: AS FOTOGRAFIAS E O RESTO
As fotografias que se publicaram da cerimónia da assinatura deste último acordo entre a Arábia Saudita e o Irão, mediado pela China, são espectaculares, parecem plenas de simbolismo. As reacções dos órgãos de informação deste lado de cá do Mundo dividem-se entre as apreciações mais entusiásticas e outras apreciações mais prudentes. Estas parecem-me muito mais consistentes: é melhor esperar para ver o que acontece de concreto. O Médio Oriente é uma região conhecida por ter responsáveis políticos que assinam muito facilmente tratados que depois permanecem letra morta. (Exemplo recente: o plano de paz gizado por Jared Kushner, genro de Donald Trump, em Setembro de 2020, envolvendo Israel e alguns países do Golfo, foi declarado letra morta seis meses depois de assinado) A acrescer a isso, sabe, quem acompanha os assuntos da região com outra profundidade, que a Arábia Saudita e o Irão mantêm uma rivalidade e uma clivagem profundas desde há décadas, de um nível idêntico às que separam Israel dos seus vizinhos árabes, e que ultrapassá-las não será tarefa fácil para os dois rivais signatários (para melhor compreender essa rivalidade sugere-se a leitura do livro abaixo de 2020). Considerando isto e, por muito que a China seja a novidade da equação, aparecendo pela primeira vez a protagonizar uma iniciativa nesta região e desta dimensão, manda a experiência que nos mantenhamos prudentes quanto à evolução dos acontecimentos.
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