16 julho 2024

O IMPACTO EM JÚPITER DO PRIMEIRO FRAGMENTO DO COMETA SHOEMAKER-LEVY 9

(Republicação)
16 de Julho de 1994. O primeiro de vários fragmentos em que se desagregara o cometa Shoemaker-Levy 9 colidiu com o planeta Júpiter. Ao longo dos seis dias seguintes mais vinte fragmentos viriam a embater com o planeta, sempre no hemisfério meridional, deixando observar, à laia de "cicatrizes", as marcas dos violentos impactos, cada um deles libertando quantidades de energia capaz de desafiar a nossa imaginação. Com o maior deles, o G (cada um dos impactos foi designado pelas letras encadeadas do alfabeto), ocorrido em 18 de Julho, estima-se que terá sido libertada uma energia equivalente a seis teratoneladas de TNT (milhão de milhões de toneladas). Impressionante que seja, trata-se de um valor dezasseis vezes inferior ao que se estima que terá sido libertado há 67 milhões de anos na Terra, com o impacto do corpo celeste que pôs fim ao Cretáceo, muito embora aquilo que presenciámos em Júpiter há trinta anos se tenha multiplicado por vinte fragmentos o que aproximará a dimensão dos dois fenómenos. As cicatrizes dos impactos permanecerem visíveis em Júpiter por meses, criando um novo respeito por tudo aquilo que anda por aí a vogar pelo espaço próximo.

15 julho 2024

DONALD TRUMP VAI GANHAR?...

Eu desconfio que a previsão que Donald Trump vai ganhar as próximas eleições presidenciais americanas terá alcançado o estatuto de axioma no panorama do opinionismo nacional. O homem apanhou um tiro de raspão, fizeram-lhe uma excelente foto na ocasião e o eleitorado norte-americano apresenta-se rendido à evidência mística. Até Miguel Esteves Cardoso, que só costuma escrever sobre fait-divers acha que sim. Pois eu acho que talvez não. Não o faço com aquela assertividade de Vasco Pulido Valente, que avaliava a distribuição relativa de opiniões para depois se engajar resolutamente num artigo onde defendia a minoritária e menos razoável, mas com a precaução de quem já se convenceu do desfecho de eleições envolvendo Trump e se enganou redondamente. Mas isso aconteceu em Novembro de 2016 e a lição ficou-me de emenda. Ao contrário do que terá acontecido com mais figuras gradas do opinionismo nacional que, em 2020 e também ainda a meses das eleições, já manifestava opiniões muito concretas sobre o seu desfecho. Miguel Sousa Tavares, que não escreve só sobre fait-divers e que, se calhar, devia escrever apenas sobre fait-divers, aparece-nos abaixo em Agosto de 2020 a dar as eleições daquele ano decididas de antemão para Donald Trump. por todas as razões que ele lá escreve. Ora, interpretar o comportamento e as prioridades do eleitorado americano aqui deste lado do Atlântico, a ponto de antecipar categoricamente o desfecho do que acontecerá em Novembro de 2024, continua a ser um exercício arriscado. Primeiro porque faltam quatro meses até às eleições e, até lá, muitas outras coisas podem acontecer. Em segundo lugar e sobretudo, porque querer interpretar o pensar do eleitorado norte-americano é um exercício arriscadíssimo: ter presumido, por exemplo, que uma percentagem maioritária deles se indignaria com o patrocínio que Donald Trump deu ao assalto ao Capitólio em Janeiro de 2021 foi apenas o maior erro de um encadeado de mal-entendidos quanto à forma como o americano médio pensará. Porque o comportamento do eleitorado nos Estados Unidos é assim tão errático, nada me parece garantir que o episódio de ter apanhado um tiro transformará em simpatias muitas das antipatias anteriormente geradas por Donald Trump. Pode ser que sim, mas nada melhor do que esperar para ver... Para não fazer a mesma figura que Miguel Sousa Tavares fez aqui há quatro anos.

O GOLPE DE ESTADO EM CHIPRE

15 de Julho de 1974. Com o patrocínio da Junta Militar grega a Guarda Nacional cipriota dá um golpe de Estado em Chipre. A ilha de Chipre, que se tornara independente da tutela britânica em 1960, vivia desde então um equilíbrio político periclitante. Os seus habitantes dividiam-se entre uma comunidade grega significativamente maioritária (quase 80% da população), onde, para mais, existia uma facção política que militava pela sua união com a Grécia; mas também existia uma comunidade turca (quase 20%) que recebia uma protecção ostensiva da Turquia, que era o país geograficamente mais próximo. O equilibrista no meio desta situação era um arcebispo ortodoxo, Makarios III, que fora eleito e reeleito e presidia aos destinos da ilha desde a independência. É esse arcebispo-presidente que é dado como morto na notícia acima. Não estava e o assunto irá ter várias outras repercussões, mas dentro de dias regressaremos ao assunto.

POR CAUSA DA ORELHA DE TRUMP, DEVE TER HAVIDO MILHARES QUE SE LEMBRARAM DESTE EPISÓDIO DE «BREAKING BAD»...

...e vieram a este vídeo recordar como ficou a pontinha da orelha descaída de Mike Ehrmantraut depois do tiroteio... Isto de apanhar um tiro na orelha pode ter muito que se lhe diga.

14 julho 2024

O APARECIMENTO DA QUINTA VÍTIMA DE JACK-THE-STRIPPER

Se quase todos ouvimos falar de Jack the Ripper (Jack o Estripador), um assassino em série que, em 1888, se notabilizou por assassinar e esventrar prostitutas em Londres, quase ninguém conhece esta história de um outro assassino em série que apareceu em Londres em 1964. O seu alvo eram também as prostitutas, só que, em vez de as estripar depois de mortas, estrangulava-as e depois despia-as, o que levou a imaginativa imprensa local a baptizá-lo de Jack the Stripper. Porém, a denominação menos imaginativa do caso que perdurou foi a de Hammersmith nude murders. E como o caso precedente do século XIX, a sucessão de assassinatos também parece ter cessado sem qualquer explicação e sem qualquer remota suspeita de quem possa ter sido o seu autor. Mas os contornos da história vieram a ser aproveitados para o argumento de um filme de Alfred Hitchcock.

13 julho 2024

CONSIDERAÇÕES SOBRE A SENILIDADE DOS AUTORES DOS ARTIGOS DE OPINIÃO

Esta piada da edição de hoje do Expresso, publicada naturalmente na secção de o Inimigo Público, e que tem por alvo simultaneamente Cristiano Ronaldo e Joe Biden, teve a virtude de me chamar a atenção para que, caso o actual presidente norte-americano abandonasse a política activa e se remetesse apenas à opinião escrita, os problemas associados às suas condições mentais, que agora suscitam tanta controvérsia, desapareceriam como por milagre. É um milagre dispormo-nos a aceitar por genuínos textos atribuídos a pessoas que vemos, noutras circunstâncias, com visíveis dificuldades em exprimirem-se coerentemente. Assim também é cá em Portugal, onde a opinião de antigos presidentes e de outras venerandas figuras políticas costuma ser publicada com uma deferência acrítica que apenas descredibiliza os responsáveis da comunicação social que lhes dão repercussão (no exemplo abaixo, ironicamente, o protagonista é o mesmo Expresso da piada acima).

CRIAÇÃO DO COPCON, GRADUAÇÃO DE OTELO SARAIVA DE CARVALHO EM BRIGADEIRO

13 de Julho de 1974. Tem lugar a cerimónia de graduação em brigadeiro de Otelo Saraiva de Carvalho, para que este, como oficial general, possa assumir o comando do Comando Operacional do Continente, que virá a ser conhecido por um expoente político-militar do PREC sob a sigla de COPCON. Mas isso seria depois, há cinquenta anos era ainda «uma força militar para defesa do programa do MFA» embora a soberba do seu comandante - abaixo - nada prognosticasse de bom para depois desse Verão de 1974, que ainda foi ameno...

12 julho 2024

«QUANDO SE FIZER A HISTÓRIA DOS ACONTECIMENTOS...»

12 de Julho de 1934. No noticiário internacional, lê-se que Adolf Hitler se tenta demarcar da autoria da purga interna do seu partido, acção essa que ocorrera duas semanas antes e que veio a ficar conhecida pelo título de «Noite das Facas Longas» e que tivera a sua maior expressão política e mediática na execução de Ernst Röhm, o dirigente supremo das SA (Sturmabteilung). Como se pode ler acima, Hitler concedera uma entrevista a um jornal italiano, proclamando a sua impotência em deter a horda de sublevados que assassinara Röhm, nomeadamente porque Röhm não seguira os seus conselhos. No remate da mais despudorada hipocrisia, Adolf Hitler vai ao ponto de dizer que «quando mais tarde se fizer a história dos acontecimentos se verá que ele não é o culpado do fuzilamento de Röhm»... Este é um caso exemplar de quanto a mentira tem a perna curta, muito curta. No dia seguinte ao desta notícia, a 13 de Julho de 1934, Adolf Hitler proferia um discurso no Reichstag que foi radiodifundido e em que ele justificou os assassinatos alegando uma teoria da conspiração e um suposto golpe de Estado iminente por parte das SA: afinal, e ao contrário daquilo que estivemos a ler acima, Röhm fora muito bem assassinado...

Este é o tipo de actuação política típica da extrema direita (como agora temos oportunidade de apreciar em Portugal com André Ventura): um dia dizem uma coisa, no dia seguinte dizem outra completamente distinta, sem se incomodarem sequer a explicar as razões da pirueta.

11 julho 2024

«PASSOS (COELHO) RECUSA NECESSIDADE DO ESTADO INTERVIR NO BES»

11 de Julho de 2014. Ocasião para lembrar como foi a conduta dos responsáveis políticos e financeiros no caso do colapso do Banco Espírito Santo, neste caso concreto o então primeiro-ministro Pedro Passos Coelho. E para relembrar que o tão propagado escrutínio alternativo da comunicação social (o tal quarto poder...) foi uma vergonha. Claro que não se pode pedir à própria comunicação social que agora faça - pelo décimo aniversário - uma evocação séria do seu próprio fiasco.

UM INCIDENTE DE «FOGO AMIGO»

No quadro de uma profunda opacidade informativa quanto a muitos dos acontecimentos associados às guerras que as tropas portuguesas travavam então em Angola e na Guiné, não deixa de ser surpreendente ver esta admissão publicada, de um incidente por «fogo amigo», quando tropas portuguesas dos fuzileiros foram alvejados pela própria FAP no Sul da Guiné, incidente esse de onde haviam resultado três mortos e um número não publicado de feridos. Não é o género de notícia que qualquer serviço de informação de quaisquer forças armadas goste de dar publicidade. O incidente teve lugar em 8 de Julho, três dias antes desta notícia, depreende-se que a presença de forças anfíbias no Sul da Guiné seja ainda uma consequência da Operação Tridente, que decorrera nos três primeiros meses de 1964, mas nada de mais substantivo encontrei sobre o assunto nas pesquisas que efectuei na internet.

10 julho 2024

OS «BOLETINS CLÍNICOS» QUE DEFINEM A «SAÚDE» DO REGIME (2)

Em contraste com os boletins clínicos de Franco do poste anterior, o problema que se põe actualmente com Joe Biden é a pretensão por parte da sua administração de que não são precisos boletins clínicos a respeito das capacidades do presidente. E é assim que nos deparamos com esta situação insólita, sugestiva de que os responsáveis estão a esconder informação, onde as páginas de informação mais honestas a respeito desse assunto serão as do showbiz (acima). É que a George Clooney confesso que tenho uma certa dificuldade em lhe descobrir taticismos políticos que condicionem a manifestação da sua opinião. Acho-o genuíno quando pede que Joe Biden desista. O que não acontece com as restantes grandes figuras do partido democrata. A esses tenho ouvido argumentos sobretudo contra a oportunidade da troca do candidato presidencial nesta altura e nestas circunstâncias, não a favor da prossecução da candidatura.

OS BOLETINS CLÍNICOS QUE DEFINIAM A «SAÚDE» DO REGIME (1)

Dois meses e meio depois do 25 de Abril, Portugal podia agora contemplar de forma distanciada a importância pessoal de um ditador quando ele personificava o regime (como acontecera no próprio país com Salazar). Era só preciso acompanhar as notícias que, a 10 de Julho de 1974, chegavam de Espanha e a importância noticiosa que era concedida ao internamento do caudillo Francisco Franco, e tudo por causa de uma tromboflebite. «Comeu gaspacho, frango e fruta e viu, depois, um programa de televisão a cores num aparelho que foi colocado especialmente no seu quarto» (a televisão a cores era então uma novidade em Espanha). A Espanha entrava então numa fase em que os boletins clínicos a respeito do ditador se tornavam progressivamente mais importantes para a definição de qual era a saúde do regime franquista. Franco contava então 81 anos, a idade com que morrera Salazar.

09 julho 2024

VALE A PENA RECORDAR...

...que se Joana Marques Vidal tivesse sido reconduzida no cargo em 2018, como toda a comunicação social e os comentadores do costume asseveraram que sim, então era muito provável que a procuradora geral da República tivesse hoje morrido em funções. 

A SÉRIO? NÃO ENCONTRARAM MAIS OUTRAS PESSOAS QUE COMPARTILHASSEM A OPINIÃO DO «HACKER PORTUGUÊS RUI PINTO»?

Dando uma vista de olhos à página do Google Notícias deparamo-nos com as reacções à entrevista dada ontem à noite pela procuradora Lucília Gago à RTP. Entre as reacções em destaque, uma que se afigura assaz razoável, muito do senso comum, criticando aquilo que de mais embaraçoso ela ontem disse - a ausência de qualquer contrição pelos erros cometidos pelo ministério público durante algumas destas últimas investigações mais mediatizadas. «PGR "deve ser responsabilizada quando comete erros flagrantes"» É só pena que, naquela página, a opinião não venha acompanhada da identificação do autor... Accionada a conexão para a página original, descobre-se que afinal o autor é o «hacker português Rui Pinto» e que a opinião foi repescada de um tweet que ele publicou... A sério? Lá no Notícias ao Minuto não encontraram mais ninguém que exprimisse aquela mesma ideia? Outras pessoas que não tivessem sido condenadas a quatro anos de prisão com pena suspensa? Pessoas que tivessem o cadastro limpo, por exemplo? Há por aí uma grande confusão entre os jornalistas, quando se decidem a dar destaque à opinião de pessoas só porque elas são conhecidas, quando o que acontece é que as razões pelas quais elas são conhecidas são precisamente as razões que desqualificam as opiniões que elas possam ter.

THE ECONOMIST: UM ENGANO EM GRANDE E UM DISFARCE EM MAIOR

Mesmo para o jornalismo de qualidade é valido aquela princípio que as avaliações dos erros próprios só se conseguem ler nas páginas da concorrência... Foram os próprios que anteciparam resultados que depois os deixaram chocados ao não se concretizarem. E quanto ao problema da governabilidade da França, ele já existia de antemão, as premissas para a sua resolução é que são completamente distintas daquilo que havia sido antecipado por eles.

O DESMENTIDO DOS RUMORES DO ROMANCE DE GINA LOLLOBRIGIDA COM ROCK HUDSON

9 de Julho de 1964. Os jornais dão destaque a uma daquelas fofocas sobre estrelas de cinema que o futuro se encarregará de desmentir implacavelmente. O romance de actriz italiana Gina Lollobrigida com o actor norte-americano Rock Hudson - que haviam acabado as filmagens de Strange Bedfellows - era impossível porque - como se veio a descobrir mais de 20 anos depois - o actor era homossexual. No entanto, estes rumores podiam não ser involuntários, já que dispersavam os outros rumores.

08 julho 2024

«GANDA CAPA. GRANDE VERDADE.» ENORME FIASCO. DESCOMUNAL PIRUETA.

Não me costumo referir por aqui às actividades dos blogues da vizinhança, mas hoje creio justificar-se a excepção, tanto mais que o autor do blogue em causa até dá na televisão. E aquilo para que quero chamar a atenção é para a descomunal pirueta que foi protagonizada pelo autor do blogue em pouco mais de uma semana. Ainda na semana passada Seixas da Costa socorria-se da - inspirada - capa da The Economist para subscrever a tese que o centro político em França iria colapsar. A culpa era do Macron, mas isso já não tinha nada a ver com as opiniões da The Economist, é apenas uma implicação antiga e persistente do embaixador-comentador com o presidente francês. Se ontem terá sido um dia muito feliz para o comentador-embaixador, porque ganhou o seu clube, colateralmente as previsões de Francisco Seixas da Costa a respeito do enterro do centro político francês e de Emmanuel Macron mostraram-se manifestamente exageradas como o havia sido a famosa notícia da morte de Mark Twain. O que os profissionais do palpite costumam fazer nestas ocasiões é ignorarem o assunto, fingirem que não tinham dito nada, mudarem de tema. Ora o bom do nosso embaixador ignorou a gaffe, esqueceu-se do que dissera, mas não mudou de tema. E ainda por cima, fá-lo depois das eleições, para enfatizar - «uma coisa que tem sido pouco dita» - que muitos dos eleitos do centro político («macronistas e LR») devem a sua eleição à desistência dos candidatos de esquerda. Eu não sei quantos foram, teria sido bem melhor e mais intelectualmente honesto que Seixas da Costa os tivesse contado, nem que fosse para comparar esse número com o número de deputados de esquerda eleitos que «devem esse resultado à desistência dos candidatos do centro». Tenho a certeza absoluta que nesse jogo eleitoral táctico contra o Rassemblement National nenhum dos blocos fez um favor ao outro, nem ninguém se terá mostrado mais generoso do que o antagonista.

Como se depreenderá, ontem interrompi o acompanhamento das eleições francesas nos canais franceses e vim ver o que estava a acontecer nos canais informativos nacionais. Num deles pontificava Seixas da Costa a celebrar umas coisas de cachecol posto e a esquecer-se de outras que ele vaticinara. No caso, e em contraste com a atitude dele, eu não tenho qualquer pudor em admitir que ter vindo ver os canais nacionais foi uma péssima decisão e que me enganei redondamente.

A INAUGURAÇÃO DO AEROPORTO DO FUNCHAL

8 de Julho de 1964. Com a pompa e a circunstância como estas ocasiões eram vividas durante o Estado Novo, inaugurava-se na tarde daquele dia o novo aeroporto do Funchal, como se dá conta na primeira página do Diário de Lisboa do mesmo dia. O inauguração foi presidida pelo almirante Américo Thomaz e o primeiro avião comercial a ali aterrar foi um Lockheed L-1049G Super Constellation da TAP (veja-se a fotografia com a assistência ao fundo). Contudo e talvez por causa dos seus quase 70 anos e ainda da sua formação como oficial de Marinha, naquilo que não pode deixar de ser considerado como um anacronismo, o presidente da República deslocara-se para a Madeira... de navio. Não se pode dizer que Américo Thomaz se incomodasse muito a tentar galvanizar os portugueses, dando um exemplo pessoal de adaptação aos tempos modernos, utilizando o transporte aéreo e o novo aeroporto. Ou isso, ou então a confiança na segurança da obra não seria nada por aí além e não quiseram pôr a segurança do presidente em risco - o aeroporto veio a ser local de um grande acidente em Novembro de 1977.

O DIA DO 7-1 DA ALEMANHA AO BRASIL

8 de Julho de 2014. O placard do jogo acima acabou com um Brasil 1 x Alemanha 7. Acresce à humilhação do muito mau aspecto da derrota, o facto de ela ter ocorrido em Belo Horizonte, durante o Mundial de Futebol, em que o Brasil estava a ser o anfitrião e quando as duas selecções disputavam já a meia-final, visando o jogo que decidiria o título. Para além da tragédia nacional que aquele placard representou, o Brasil destacou-se pela rapidez como fizeram humor da situação e como arranjaram logo um bode expiatório, o treinador Felipão.
E como é costume no Brasil, o(s) paineleiro(s) é que tinha(m) explicação para tudo! (abaixo) Aquele é um país em que o que é bom é ser-se paineleiro. Aliás, ontem e a propósito dos comentários nacionais às eleições franceses e aos golpes de rins a que se assistiu, percebeu-se que Portugal também é um bom país para se ser paineleiro

07 julho 2024

JEAN-LUC MÉLENCHON, RUI RIO E A ARTE DE SABER REAGIR A BUSCAS DOMICILIÁRIAS

Quando há poucas horas vi Jean-Luc Mélenchon a antecipar-se a todos na reacção à vitória eleitoral da esquerda nas eleições legislativas francesas, não pude deixar de me recordar desta sua cena a reagir às buscas policiais que, há cinco anos e meio, fizeram, quer a sua casa, quer à sede do seu partido. Foram cenas que, pela sua exuberância insólita (acima e também aqui), percorreram a Europa, e disseminaram uma imagem ridícula, mesmo caricata, daquele político francês. Por muito pertinentes que fossem as suas razões para protestar. Concebê-lo a encabeçar um governo de França é inimaginável, também, ou talvez sobretudo, fora de l'Hexagone. E, porque nestas coisas os jornalistas portugueses se esquecem sempre de fazer comparações com o estrangeiro, especialmente quando essas comparações nos são favoráveis, vale a pena recordar, pela positiva, a atitude contida mas cínica e sarcástica de Rui Rio quando lhe aconteceu precisamente o mesmo, há quase precisamente um ano.