«ESTAMOS A VIVER UM MOMENTO MUITO HISTÓRICO»

Não é todos os dias que assistimos a uma cena com pessoas empunhando armas e dispostas a utilizá-las na sala plenária de uma assembleia de representantes populares democraticamente eleitos. Aconteceu ontem no Capitólio dos Estados Unidos em Washington e, para demonstrar que as memórias destes episódios não se desvanecem com facilidade, recorde-se abaixo o que aconteceu há quase quarenta anos em Madrid, Espanha. Por sinal, as circunstâncias porque as armas são empunhadas são até antagónicas, as que vemos nas fotografias de ontem (acima) foram-no para defender a Democracia, em 23 de Fevereiro de 1981 (abaixo) haviam-no sido para a destruir, mas o desconforto provocado pela anomalia das imagens afigura-se-me único e imorredouro. Aquilo não é um sítio para se andar aos tiros e afigura-se-nos quase sacrílego exibir a intenção de o fazer.   

Note-se que os trumpers já haviam feito uma gracinha parecida em Lansing, no capitólio estadual do estado do Michigan, quando o invadiram e ocuparam em finais de Abril, mas, pelos vistos, ontem, em Washington, os responsáveis pelos dispositivos de segurança não estavam à espera de uma reedição do episódio ou, para recuperar uma premonitória piada dos Monthy Python a respeito de fanatismos e de fanáticos: «Nobody expect(ed) the Spanish Inquisition»... Contudo, a citação que melhor descreve o momento presente vou-a recordar à figura de um sempre composto António José Seguro que, quando confrontado numa entrevista televisiva com a importância histórica do momento que então se vivia, agarrou a frase com o ar sério que Deus lhe deu e, à falta de melhor que dizer, a repetiu em superlativo: «Estamos a viver um momento muito histórico»...