05 janeiro 2021

A DISCRETA OPERAÇÃO «EASTERN EXIT»

5 de Janeiro de 1991. As atenções internacionais concentravam-se no que poderia acontecer no Kuwait, que fora invadido e estava ocupado desde Agosto pelo Iraque. Havia a pressão crescente dos Estados Unidos sobre Saddan Hussein e os ocupantes, a perspectiva de uma guerra pairava no ar, mas a história que aqui se evoca desenrola-se com alguns desses mesmos protagonistas (a Marinha e o Corpo de Fuzileiros dos Estados Unidos) mas a 3.000 km dali, em Mogadíscio, capital da Somália. O governo somali colapsara e isso incluía a incapacidade de manter mínimos de segurança na sua própria cidade principal. As várias representações diplomáticas acreditadas junto do governo somali corriam riscos, e foram os meios aero-navais dos Estados Unidos, que estavam com uma presença reforçada na região por causa da guerra que se aprestava a começar, que se encarregaram da evacuação, que foi baptizada de operação «Eastern Exit». Nela participaram dois navios anfíbios norte-americanos, o USS Guam e o USS Trenton, e também um punhado de helicópteros pesados, do tipo CH-46 e CH-53 que não apenas trouxeram aqueles que havia a evacuar (no total 281 pessoas) como também levaram e trouxeram os 60 militares que formaram um perímetro de segurança à volta das instalações da embaixada americana em Mogadíscio para que a evacuação pudesse ser feita em segurança. «Eastern Exit» foi, do ponto de vista operacional; um retumbante sucesso: não houve nem uma única baixa a registar e evacuaram-se oito embaixadores, o corpo diplomático de uma dúzia de embaixadas e ainda nacionais de 31 países que residiam em Mogadíscio. Mas nem assim ela foi muito promovida pelos autores, a Marinha e o Corpo de Fuzileiros dos Estados Unidos. É que, desde 1975 e do abandono (também em helicópteros...) do pessoal da embaixada norte-americana em Saigão (que ficou conhecida por operação «Frequent Wind»), este género de evacuações tinham adquirido uma reputação simbólica e amarga entre os militares. Dar brado a algo conotado com a derrota vietnamita nas vésperas de uma previsível ofensiva contra o Iraque não vinha mesmo nada a calhar... Acrescente-se, em nota de remate, que aqueles eram tempos em que os Estados Unidos e a União Soviética pareciam viver uma lua-de-mel: um dos oito embaixadores resgatados era o soviético e com ele vieram mais 38 compatriotas.

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