Cardiff, País de Gales, 23 de Março de 1968. Durante as cerimónias preliminares do jogo de rugby que se irá disputar entre as selecções galesa e gaulesa para o tradicional Torneio da Cinco Nações, e depois da execução protocolar do hino dos visitantes (A Marselhesa), segue-se a execução do hino do país anfitrião, o «God Save the Queen» britânico. Mais do que o tradicional silêncio glacial como costumava ser acolhido o toque do hino britânico em terras galesas, tão glacial quanto a chuva picada pelo vento que soprava nesse dia, os acordes do «God Save the Queen» soaram mesclados de assobios e vaiadelas aos ouvidos de espectadores e telespectadores, já que o jogo estava a ser transmitido pela eurovisão). Um incómodo que apenas aumentou quando, a seguir ao «God Save the Queen», e para contraste com o que se passara, a banda interpreta o «hino» nacional galês «Hen Wlad Fy Nhadau» e este último é entoado em uníssono e respeito por uma grande maioria dos presentes. Para o que interessa, a França veio a ganhar dificilmente aquele jogo por 14-9, num terreno que a chuva enlameara para além do razoável, como se nota pelas camisolas dos jogadores nas imagens abaixo. Mais do que isso, a vitória da França nesta última jornada permitia que ela ganhasse o Torneio daquele ano (1968) e, pela primeira vez na história da participação da selecção gaulesa no Torneio, fazia-o ganhando todos os jogos que disputara, o ambicionado Grand Slam.
Mas a grande lição do jogo fora política e não desportiva: não valia a pena forçar a execução do hino nacional quando dos jogos da selecção galesa de rugby, já que a consequência provável seria a de expô-lo ao ridículo, rebaixado quando em comparação com o desvelo como o hino regional era entoado. No ano seguinte, o «God Save the Queen» deixou de ser tocado quando jogava Gales e anos depois aconteceu o mesmo com a Escócia. E acabaram as vaiadelas. Um símbolo - e é isso que um hino é: um símbolo - só serve de símbolo se promover a coesão nacional. Se o não faz, é apenas uma música irritante - pelo menos, para a parte da audiência que não se reconhece no que representam aqueles acordes. No Reino Unido, há cinquenta anos, desmontou-se o problema. Pelo contrário, em Espanha, não há quem o queira perceber, aprecie-se apenas a vaiadela monumental dedicada ao hino de Espanha que ocorreu na final da Taça do Rei de 2015, disputada em Barcelona entre o clube local (catalão) e o Atlético de Bilbau (um clube basco).
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