18 janeiro 2021

QUANDO O «GOD SAVE THE QUEEN» ERA VAIADO

Cardiff, País de Gales, 23 de Março de 1968. Durante as cerimónias preliminares do jogo de rugby que se irá disputar entre as selecções galesa e gaulesa para o tradicional Torneio da Cinco Nações, e depois da execução protocolar do hino dos visitantes (A Marselhesa), segue-se a execução do hino do país anfitrião, o «God Save the Queen» britânico. Mais do que o tradicional silêncio glacial como costumava ser acolhido o toque do hino britânico em terras galesas, tão glacial quanto a chuva picada pelo vento que soprava nesse dia, os acordes do «God Save the Queen» soaram mesclados de assobios e vaiadelas aos ouvidos de espectadores e telespectadores, já que o jogo estava a ser transmitido pela eurovisão). Um incómodo que apenas aumentou quando, a seguir ao «God Save the Queen», e para contraste com o que se passara, a banda interpreta o «hino» nacional galês «Hen Wlad Fy Nhadau» e este último é entoado em uníssono e respeito por uma grande maioria dos presentes. Para o que interessa, a França veio a ganhar dificilmente aquele jogo por 14-9, num terreno que a chuva enlameara para além do razoável, como se nota pelas camisolas dos jogadores nas imagens abaixo. Mais do que isso, a vitória da França nesta última jornada permitia que ela ganhasse o Torneio daquele ano (1968) e, pela primeira vez na história da participação da selecção gaulesa no Torneio, fazia-o ganhando todos os jogos que disputara, o ambicionado Grand Slam.  
Mas a grande lição do jogo fora política e não desportiva: não valia a pena forçar a execução do hino nacional quando dos jogos da selecção galesa de rugby, já que a consequência provável seria a de expô-lo ao ridículo, rebaixado quando em comparação com o desvelo como o hino regional era entoado. No ano seguinte, o «God Save the Queen» deixou de ser tocado quando jogava Gales e anos depois aconteceu o mesmo com a Escócia. E acabaram as vaiadelas. Um símbolo - e é isso que um hino é: um símbolo - só serve de símbolo se promover a coesão nacional. Se o não faz, é apenas uma música irritante - pelo menos, para a parte da audiência que não se reconhece no que representam aqueles acordes. No Reino Unido, há cinquenta anos, desmontou-se o problema. Pelo contrário, em Espanha, não há quem o queira perceber, aprecie-se apenas a vaiadela monumental dedicada ao hino de Espanha que ocorreu na final da Taça do Rei de 2015, disputada em Barcelona entre o clube local (catalão) e o Atlético de Bilbau (um clube basco).

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