08 janeiro 2021

O QUE EU DESCOBRI COM A MORTE DE FRANÇOIS MITTERRAND

8 de Janeiro de 1996. Morte de François Mitterrand. Com ele morria o segundo - e, até agora, último - presidente de França que se mostrava naturalmente talhado para exercer os poderes presidenciais postos à sua disposição pela V República francesa (o primeiro fora, naturalmente, o seu fundador, Charles de Gaulle - quanto a Emmanuel Macron, considero que se tem mostrado muito mais competente a esse respeito do que qualquer dos seus três antecessores). Mas a evocação é sobre a morte de Mitterrand e o que ela me ensinou há 25 anos. Ensinou-me que as relações da comunicação social com o poder são de uma enorme dependência e que o poder de escrutínio daquela - comunicação social - sobre aquele - poder - pode revelar-se uma farsa. A Mitterrand fora-lhe diagnosticado um cancro da próstata em 1981, mas os seus boletins clínicos haviam vindo a ser falsificados desde aí, mas o facto só se veio a saber algumas semanas depois da sua morte. Mitterrand possuía, a par da família oficial, mulher e dois filhos, uma família oficiosa, com uma filha, que ele só veio a revelar publicamente existir a seis meses do fim do seu segundo mandato presidencial. E depois havia as sinuosidades - essas conhecidas - da extensa carreira política de Mitterrand, que raramente eram evocadas por razões que, mais tarde, vieram a estar associadas a uma equipa de escutas controladas pelo Eliseu, cuja descoberta, também posterior à morte do visado, são só por si, mais outro escândalo embaraçoso. Em suma, quanto mais o tempo passa, menos simpática parece a figura do antigo presidente francês. Quanto às declarações acima, pronunciadas por Jacques Chirac, o presidente e sucessor de Mitterrand mas também seu rival político, mostram que, se a política é, em geral, uma actividade onde a verdade não faz falta alguma, a política francesa em especial, pode mostrar-se um supra-sumo da hipocrisia.

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