28 de Novembro de 1943. Início da Conferência de Teerão, a primeira vez em que se reuniam os três Grandes: Churchill, Staline e Roosevelt (a ordem não é a de grandeza, mas a da entrada de cada um dos respectivos países na Segunda Guerra Mundial). Por esta vez, não vamos cuidar da Estratégia mas antes de um acontecimento mais prosaico: a oferta de Jorge VI a Estaline de uma longa espada cerimonial e cravejada de joias, a que foi dado o nome de Espada de Stalinegrado, homenageando a conduta soviética nas operações que culminaram com a primeira grande derrota do III Reich naquele conflito. No meio das conversações lá se arranjou uma ocasião para que Churchill procedesse à entrega da espada. Mas deixemos a nossa preciosa testemunha Alan Brooke contar o que aconteceu: «(...) Ás três e meia da tarde fomos para a embaixada russa para assistir a Winston (Churchill) entregando a Espada de Stalinegrado a Staline. Meteu banda, guarda de honra, hinos nacionais, etc. Discurso de Winston após o qual ele procedeu, em nome do rei, à entrega da espada a Staline. Staline recebeu-a, beijou a espada e apressou-se a entregá-la a (Kliment) Voroshilov a seu lado, que imediatamente deixou a espada cair da bainha! Contudo, rapidamente lá a transferiram para as mãos do comandante da guarda de honra russa que se apressou a levá-la dali para fora, pondo-a em segurança.» Voroshilov não era apenas desajeitado, Alan Brooke considerava-o um incompetente, e a sua descrição da cena sublima essa opinião.
Já não se pode dizer que seja por falta de repetidas explicações que os jornalistas persistem em querer extrair conclusões de sondagens quando a ciência da estatística não autoriza que se conclua aquilo que eles querem publicar. Até pode ser malícia, mas eu acho que é mesmo incapacidade da classe em não compreender o que é que quer dizer (acima) empate técnico dentro da margem de erro.Empate implica que não se pode assegurar quem seja o vencedor e atribuir a vitória ao PSD como acima o fazem os jornalistas e editora de política do Público. É um erro. Científico. Já vi esta explicação repetida uma dezena de vezes, pelo menos, mas a repetição leva-me à resignação de concluir que estes artigos são escritos por mentecaptos para serem lidos por estúpidos.
Eu só despertei para a coreografia das manifestações de rua depois do 25 de Abril, como não poderia deixar de ser com todos os da minha geração. E uma das regras indiscutíveis que aprendi dessa coreografia foi que o número de pessoas que se manifestam, contava. Quando em 19 de Julho de 1975, o PS, em ruptura com as chefias militares comunistas do MFA, convocou uma manifestação para a alameda dom Afonso Henriques, enchendo-a com muitas dezenas de milhares de pessoas (imagem acima), o PS lançou um repto implícito de militância aos partidos da extrema esquerda comunista: tentem lá fazer vocês agora a mesma coisa? (Eles não tentaram, pelo menos não em local tão amplo...)
Eu aprendi por essas regras do século XX, mas também me apercebi que depois de chegados ao século XXI, não apenas as pessoas deixaram de comparecer e a preferir ver quem comparecia, como aquela mesma coreografia podia ser subvertida desde que houvesse cumplicidade das câmaras de televisão. Nesta outra fotografia, de Fevereiro de 2016, por curiosidade envolvendo João Soares, um militante destacado do mesmo PS da fotografia acima, vemos como o efeito que um plano fechado das câmaras de TV (no canto superior direito) induz no telespectador a falsa sensação de que estará uma multidão por detrás do orador que não passa, afinal, de meia dúzia (se tanto!) de gatos pingados...
Fazendo uma síntese do que ocorrera previamente, em 8 de Novembro de 1953, haviam tido lugar as eleições legislativas para a Assembleia Nacional. Como se pode ler acima, a oposição (Lista «B») apresentara-se em 3 círculos (Aveiro, Lisboa e Porto), onde alcançara, respectivamente, 14,2%, 16,5% e 18,2% dos votos entrados, segundo os números oficiais do ministério do Interior (as percentagens que acima se vêem, estão calculadas em relação ao número de inscritos). Estivesse em vigor o princípio da proporcionalidade da eleição de deputados (como aquela que agora usamos), e a oposição teria eleito 4 deputados - 2 em Lisboa e 2 no Porto. Mas até nisso a lei eleitoral estava viciada, fora concebida para que não houvesse «representação das minorias»...
É assim que os 120 deputados proclamados na primeira sessão da legislatura, que teve lugar há 70 anos, haviam sido todos os eleitos que constavam das listas da União Nacional. A Assembleia Nacional eleita pelos votos dos portugueses não era para ser uma câmara que representasse a sua diversidade de opiniões, como Carlos Borges, um dos históricos da fundação da União Nacional de 1934, deputado por Santarém, presidindo à sessão, fez questão de frisar no seu discurso:
- A Assembleia Nacional não foi vasada (sic) nos velhos e desacreditados moldes do parlamentarismo, não oferecia aos amadores de escândalos e de emoções fortes o espectáculo das lutas, ambições, vaidades e ódios pessoais; e não cabem nela o ódio sectário dos partidos nem maquiavelismos e intrigas para a conquista da Poder.
Pela descrição, estaríamos na presença de um grupo alargado de tertulianos que escolhera aquele lugar para se reunirem e dizerem umas coisas uns aos outros. Se a coisa descambasse, o presidente da mesma, Albino dos Reis, agiria e, nas palavras do mesmo Carlos Borges, as suas decisões seriam acatadas sempre prontamente. Era isto a Assembleia Nacional do Estado Novo. A nação era um colégio de pessoas complacentes e concordantes. As ideologias totalitárias têm esta maneira muito própria de, usando os mesmos nomes, esvaziar os conceitos de conteúdo.
26 de Novembro de 1983. Os astros ter-se-ão conjugado para que aparecesse no mesmo dia e no mesmo jornal, previsões para o futuro do doutor Francisco Salgado Zenha e do professor doutorLesagi Gimes Zandinga. Obviamente que mais políticas as do primeiro e mais futebolísticas as do segundo. Porém, o futuro viria a revelar que estavam quase totalmente erradas, as previsões de um e de outro.
Assim, o advogado, numa entrevista que dera naquele mesmo dia ao Diário de Notícias, descartara a hipótese de ele próprio vir a ser candidato presidencial em 1986, manifestara-se contra a candidatura de Mário Soares, e sugerira mesmo, em alternativa, um conjunto de quatro candidatos possíveis à sucessão de Ramalho Eanes: Miller Guerra, Henrique de Barros, Ferrer Correia e Nobre da Costa.
Um dos candidatos presidenciais que Zenha não contemplara era o bruxo Zandinga, que se anunciava como tal na outra página. Para além disso, também anunciava uma visita muito difícil do Benfica ao campo do Penafiel, quem seria o campeão nacional para a época 1983/84 (o Sporting) e os vencedores de cada uma das zonas (Norte, Centro e Sul) da 2ª Divisão: Chaves, Académica e União da Madeira.
26 de Novembro de 1933, numa cidade chamada San José, na Califórnia. Este estranho hábito norte-americano de fazer justiça pelas próprias mãos foi motivo para que se compusesse uma estranha canção irónica intitulada «Strange Fruit» (fruta estranha), em alusão ao que aparecia dependurado das árvores...
Suponho que pouca gente queira ouvir falar do assunto, mas, numa época em que somos bombardeados com as mensagens demagógicas e populistas protagonizadas pelo líder da extrema-direita, André Ventura, creio que vale muito a pena recordar, a pretexto da data de hoje, como eram as mensagens demagógicas e populistas do outro extremo do espectro em Novembro de 1975. Datado de quatro dias antes do golpe e contragolpe de Estado de há 48 anos, vale a pena ler com muita atenção o que propunham os 18 «oficiais revolucionários» que elaboraram e assinaram este «manifesto» destinado «aos soldados e marinheiros, à classe operária e ao povo trabalhador» que incluo aqui em baixo. Como então se rematava no manifesto: «Nós estamos com o PODER POPULAR ARMADO, COM SOLDADOS, COM OS MILITANTES, até à vitória, até à tomada do poder». Ora se há quem hoje defenda que aquilo era somente retórica, então também haveria que aceitar a opinião das almas benfazejas que defendem a inocuidade das bojardas que agora ouvimos proferidas a André Ventura. Discordo. Tanto se devem cobrar as proclamações de Ventura como, naquela conjuntura, a destes «oficiais revolucionários». Acho que não se deve ter tolerância para qualquer dos totalitarismos extremistas. Quando há eleições e essas eleições são justas, os extremistas raramente alcançaram os 50%+1 dos votos que lhes permitem derrubar o regime que os leva ao poder: foi assim com Adolf Hitler na Alemanha (44% para os nazis), na Checoslováquia do após guerra (38% para os comunistas) ou nos Estados Unidos em 2016 (46% para Donald Trump). Aos extremistas não lhes interessa a base eleitoral de que dispõem e o que é importante para eles é o comportamento dos aliados de circunstância que, por acção ou demissão, lhes permitem a tomada do poder. Pois bem, o que aconteceu há 48 anos é que alguns oficiais - talvez nem todos os signatários abaixo, mas adicionando certamente outros que não assinaram - promoveram uma iniciativa militar, até à vitória, até à tomada do poder. E foram derrotados por aqueles que não queriam ser seus aliados de circunstância. E, em minha opinião, ainda bem. Passados todos estes anos, é irritante ver alguns dos signatários abaixo a tentarem minimizar o que aconteceu, como se a sua iniciativa tivesse sido uma grande brincadeira que correu mal. Mas, confesso que ainda mais irritante, é a atitude de um outro grupo, que se permite agora pairar majestaticamente por cima dos acontecimentos daqueles dias, quando na época ficaram sabiamenteem cima do muro, à espera de ver como é que as coisas evoluíam. O nosso agradecimento deve-se cingir àqueles que se sabe que fizeram alguma coisa para os conter, aos extremistas totalitários, naquela data.
Há precisamente 70 anos a Hungria derrotava a Inglaterra por uns claros 6-3 no estádio de Wembley, diante de 105 mil espectadores. Qualificado de "Match of the Century" pela imprensa local, atribuía-se grande expectativa ao jogo antes de se realizar, porque a Hungria era então considerada a melhor selecção de futebol do continente europeu, e grande significado depois dele, porque a Inglaterra fora derrotada pela primeira vez em casa por uma equipa continental. O tempo encarregou-se sozinho de comprovar que a qualificação da imprensa londrina era um disparate: como em tantas vezes que eles se empregaram, estes séculos (century) dos cabeçalhos duravam meses e poucos. Mais irritante ainda para quem não fosse inglês, estava a pretensão - falsa - de que a selecção inglesa de futebol era uma referência a abater. Ora os ingleses estavam cheios de manias, mas no relvado jogavam muito pouco: tinham ido ao Mundial de 1950 no Brasil e sido eliminados logo na fase inicial. Mas terem apanhado 6-3 ainda não lhes tirou as peneiras: pediram desforra, que se disputou dali por seis meses em Budapeste, quando apanharam 7-1. E no campeonato do Mundo de 1954, que se disputou no mês seguinte (Maio) na Suíça, a Inglaterra acabou eliminada nos quartos de final pelo Uruguai. Por seu lado, a Hungria foi derrotada na final pela Alemanha.
Considero Ridley Scott um excelente realizador, mas de ficção científica. Quanto o tema é história, ele continua a ficcionar e o resultado, em termos de rigor histórico, é uma desgraça. Como Gladiador se passa no século II, poucos se aperceberam de todos os anacronismos que aquele filme continha. Mas agora, com Napoleão, que se passa já no século XIX, parece haver muitos mais a aperceberem-se das liberdades tomadas pelo realizador e de como elas estragam a verosimilhança da história, nomeadamente para quem já a conhece de antemão. Na foto acima temos os actores Joaquin Phoenix e Vanessa Kirby que interpretam os papéis principais de Napoleão e Josefina. Phoenix tem mais 14 anos que Kirby e a diferença nota-se. Contudo, historicamente e na realidade, era Josefina que era 6 anos mais velha que Napoleão*. Em conjunto, são 20 anos de discrepância etária. A notarem-se as rugas de expressão, seriam as dela e não as dele. E para quem saiba isto, lá se vai a ilusão. Mas o segredo parece ser que se fale do filme - nem que ele seja uma merda quanto ao rigor histórico. OGladiador era-o mas foi um sucesso.
24 de Novembro de 1963. Dois dias depois do assassinato do presidente John F. Kennedy, aquele que era considerado o mais provável suspeito, Lee Harvey Oswald, é assassinado por sua vez à frente das câmaras de televisão, em directo, diante de uma plêiade de jornalistas policiais. Uma das constatações dessa triste estreia televisiva de há 60 anos é que o directo televisivo é o que de mais pode haver em cima do acontecimento, mas não é por isso que é esclarecedor quanto ao que aconteceu e como aconteceu: as fotografias publicadas nos jornais do dia seguinte eram muito mais explícitas...
Esta recente entrevista do jornalista britânico Piers Morgan à congressista americana (pela Geórgia) Marjorie Taylor-Greene é uma verdadeira reencenação de um famoso sketch dos Monty Python, o do papagaio morto (Dead Parrot sketch). Esse sketch representa um auge da escola de comédia surreal, um diálogo entre um cliente insatisfeito que vem reclamar porque lhe venderam um papagaio morto, pregado ao poleiro, e um vendedor que se recusa a aceitar conversar com o cliente, pelo menos baseado nos factos óbvios que o primeiro lhe vai mostrando. O diálogo a que assistimos acima entre o jornalista inglês e a congressista americana assenta nesse mesmo caos de que um dos intervenientes se evade a aceitar a realidade com que o outro a confronta. A congressista foi ao programa com a intenção confessa de promover o seu ultimo livro(! - uma verdadeira surpresa para quem conhece a densidade intelectual da pessoa em causa). O jornalista quere-a lá para a confrontar com um rasto de disparates que a congressista, uma das mais entusiasmadas apoiantes de Donald Trump, foi largando ao longo da sua breve, mas efusiva, carreira política. Nomeada e anteriormente, e para além de incitamentos directos à invasão do Capitólio a 6 de Janeiro de 2021, uma abstrusa alusão a uns lasers espaciais judaicos que em 2018 provocavam incêndios na Califórnia... É um daqueles disparates que agora não vem nada a jeito recordar, já que os tempos vão todos a favor de uma atitude o mais pró-israelita possível por parte da ala trumpista dos republicanos... Mas provavelmente o mais confrangedor será mesmo o primarismo como a entrevistada tenta deflectir e evadir-se a responder ao que lhe é perguntado. A senhora é mesmo muito estúpida. São doze minutos de espontaneidade que suponho que, daqui por uns 50 anos, esta entrevista poderá estar arquivada tantos outros sketches de comédia surreal, com outros dos Monty Python... e com outros de Donald Trump.
23 de Novembro de 1963. Na continuação daquele que ontem aqui publiquei, este poste concentra-se nas suas repercussões jornalísticas. As duas fotografias são de Carl Mydans e o mistério a respeito do desinteresse da comunicação social norte-americana de ontem, quando se assinalava o 60º aniversário do acontecimento, vai juntar-se ao outro mistério, omnipresente, o da verdadeira autoria do assassinato de John F. Kennedy.
...que a comunicação social americana iria dedicar muito espaço ao 60º aniversário do assassinato de John Kennedy. Por arrasto, como é habitual, a nossa comunicação social iria a reboque, e por isso me abstive de evocar a data, gesto que consideraria desnecessário no meio de tanta cacofonia. Afinal enganei-me. São mistérios das prioridades da programação informativa internacional que me escapam de todo. 22 de Novembro de 1963: o presidente Kennedy foi assassinado em Dallas, no Texas.
22 de Novembro de 1943. Início da Conferência do Cairo, reunindo o presidente norte-americano (ao centro, sentado), o 1º ministro britânico (ao seu lado, de fato claro) e o generalíssimo Chiang Kai-shek pela China. Nas páginas do seu diário pessoal, o Chefe de Estado Maior Imperial, Alan Brooke (assinalado atrás de Churchill) confessava o frete inútil que representava toda aquela cimeira com os chineses, apenas uma semana antes da verdadeira cimeira que interessava, a que reuniria os dois líderes anglo-saxónicos com Estaline, em Teerão. «Toda a conferência começou a descarrilar com a chegada prematura de Chiang Kai-shek. Nunca deveríamos ter começado a conferência com Chiang; ao fazê-lo estamos a pôr a carroça à frente dos bois. Não nos traz nada que contribua para a derrota da Alemanha e, já agora e valha a verdade, também traz muito pouco que contribua para a derrota do Japão. Nunca descobri porque é que os americanos dedicam assim tanta atenção a Chiang. (...) O que devíamos estar a fazer era a acertar com os americanos uma conduta política e estratégia conjunta para a derrota da Alemanha. Com ela negociada, deveríamos apresentar uma frente negocial comum a Estaline. E à volta e se houver tempo, é que poderíamos reunir com Chiang e Madame*.»
* Com o pretexto de o servir de tradutora, Chiang levava a esposa às negociações, onde era sabido que ela fazia muito mais do que apenas traduzir.
21 de Novembro de 2014. É para recordar que há precisamente nove anos as televisões domésticas estavam todas histéricas com a notícia da prisão de José Sócrates no aeroporto (acima). As televisões estrangeiras davam por garantido que houvera fuga de informação para a comunicação social portuguesa (abaixo) para que esta soubesse com antecedência o que é que se iria passar. Esta evocação serve para recordar em primeiro lugar que, porque o tenho por culpado por corrupção, retiraria um grande gosto que José Sócrates fosse devidamente julgado e condenado por isso. Serve para recordar em segundo lugar que o seu julgamento ainda não começou sequer e que nunca ouvi qualquer dos mais eminentes responsáveis judiciais mostrar publicamente desconforto com esse facto que é um facto que, se não embaraça, devia embaraçar toda a magistratura. E muito menos vi alguém sancionado por esta inadmissível demora de nove anos que se agrava todos os dias que passam. E serve para esclarecer que em nove anos já se esgotou qualquer crença naquelas teses que culpam poderes políticos e económicos por bloqueios que impeçam que a justiça faça justiça, que hoje se percebem que não passam de desculpas para toda a incompetência do poder judicial. Tudo isto configura a conclusão que todos ficámos a saber que o homem - José Sócrates - é um vigarista que se fartou de sacar dinheiro enquanto ocupou o poder, mas que os magistrados deste país não o conseguem provar em tribunal. Ora isto não é uma explicação aceitável num país que se preze.
O Éder dispensa apresentação. A senhora que aproveitou a popularidade do Éder para se promover como tendo sido a sua "mental coach", essa talvez precise: é uma aldrabona profissional, que se assume como «coach de alta performance» (sic). Já houve quem tivesse denunciado a sua actividade, a sério (a revista Sábado) ou em jeito de brincadeira (rádio Renascença - as 3 da Manhã). Mas, para mim, nada é mais cómico do que ver um aldrabão exposto, quando se compara a sua narrativa com a do protagonista (no caso o Éder, que é indispensável para conferir pujança à história). Aqui em baixo, temos o Éder nas mesmas 3 da Manhã da RR, a pronunciar-se sobre a veracidade da versão dos acontecimentos da sua antiga "mental coach".
À primeira vista, a fotografia suscita um sorriso. À segunda, o sorriso torna-se irónico, quando se sabe que a fotografia foi tirada em Hillbrow, nos arredores de Joanesburgo, e Hillbrow era então um bairro só para brancos, na África do Sul do apartheid - a fotografia data de Novembro de 1963. Sabendo desse detalhe, e porque muito que a criança seja inocente na sua brincadeira, é apenas natural que deixemos de encarar o seu gesto com a benevolência inicial. A subtileza da crítica está em consonância com outros trabalhos do autor da fotografia, o sul-africano David Goldblatt. Numa reviravolta longínqua e ainda mais irónica dos desenvolvimentos da violência na mesma cidade de Joanesburgo, ainda há 15 dias, no passado dia 6 de Novembro de 2023, foi notícia um assalto à viatura onde seguia o ministro dos transportes sul-africano, Sindisiwe Chikunga. Roubaram-nos a todos os quatro (ministro, motorista e seguranças), e ainda levaram as armas dos dois seguranças de bónus, uns seguranças que, pelos vistos, não seguravam nada.
Estas imagens de um político português a discursar num comício de Espanha só aparentemente é que são neutros. Por norma, quando ultrapassam as banalidades tradicionais, as imagens de políticos espanhóis a discursar em comícios portugueses e a dizerem coisas demasiado concretas sobre os nossos assuntos deixam-me - e creio que não só a mim... - assaz desconfortável(is). E a coerência de não fazer aos outros aquilo que não gostamos que nos façam a nós é uma virtude que prezo muito.
Comunicado publicado há precisamente 90 anos pelo proprietário da alfaiataria Bon Marché da Praça dos Restauradores e que bem poderia ser recuperado hoje para republicação pelos membros do staff do primeiro-ministro António Costa. Confesso que não sei o que aconteceu à alfaiataria Bon Marché...
19 de Novembro de 1983. O cabeçalho da primeira página da edição daquele dia do Diário de Lisboa sintetiza tudo o que há para recordar a respeito do acontecimento que aqui se evoca.
A partir da Quarta-Feira transacta, a SIC passou a transmitir o primeiro de quatro episódios de uma «Grande Reportagem» intitulada «Quem são os políticos na agenda de Ricardo Salgado?». É assunto para despertar a curiosidade indignada das audiências, mas começou por me desagradar logo a referência neste primeiro episódio à associação de Marcelo Rebelo de Sousa com Ricardo Salgado. Ele haverá mais do que um ponto nebuloso na relação entre ambos, ele há a fotografia dos dois de chapelico do BES na cabeça a assistirem a um torneio de ténis em Maio de 2009, mas a história da contradição em que apanharam Marcelo não tem ponta por onde se lhe pegue. A contradição consiste no facto de Marcelo ter dito em 2015 que nunca havia trabalhado para o BES, quando agora, na agenda, o apanharam a produzir um parecer para o grupo. Só que, da própria narrativa da reportagem da SIC, se percebe que o parecer de Marcelo era afinal um texto sintético, onde a conclusão ia directamente contra as pretensões do BES. Ou seja, para quem conhece a personagem, tratou-se de uma marcelisse em todo o seu esplendor: em vez de dizer que não a Ricardo Salgado, Marcelo Rebelo de Sousa pregou-lhe uma partida, presenteando-o com um parecer que não lhe serviria de nada. E depois ainda se deu ao desfrute de clamar que nada recebera por isso! Portanto, não será por aí que os da SIC o apanharão. Quanto a fotografias com Ricardo Salgado, como se pode ver mais acima com Salgado e Balsemão, o próprio patrão da SIC, e parafraseando Vasco Santana: «Fotografias há muitas, políticos há muitos, seu palerma!...» A agenda de Ricardo Salgado deve estar recheada de outros nomes sonantes e não só de políticos.
18 de Novembro de 1963. A primeira página do Diário de Lisboa publica uma fotografia de família do novo primeiro-ministro britânico, «sir» Alec Douglas-Home, tirada na famosa residência oficial, o nº 10 de Downing Street. (Ao lado da original do jornal inseri uma outra versão maior, mais nítida e mais ampliada da foto) Na legenda pode ler-se:
"O primeiro-ministro britânico na intimidade do lar: Uma das primeiras fotografias autorizadas na histórica residência de Downing Street, 10, desde que «sir» Alex (sic) Douglas-Home (ex-Lord Home) se tornou seu habitante oficial, mostra o novo chefe do Governo inglês com sua esposa e seu filho David, em conversa amena, na sala de fumo."
Alec Douglas-Home tomara posse do cargo precisamente um mês antes. Fora um sucessor surpresa de Harold Macmillan e, porque de origem aristocrática e com assento na Câmara dos Lordes, tivera que renunciar ao título para se poder sentar na dos Comuns, onde decorriam, de facto, as sessões legislativas fundamentais para a governação do Reino Unido. Mas, como se percebe pela legenda, não havia qualquer justificação para a notícia. Tratava-se de uma apresentação... A comunicação social actual continua a fazer fretes, só que já não os faz tão óbvios quanto estes.
Em jeito de remate, acrescente-se que «sir» Alec Douglas-Home esteve apenas cerca de um ano em funções como primeiro-ministro (Outubro de 1963 - Outubro de 1964). Num gesto muito raro na política inglesa, depois daquelas funções e depois de abandonar a liderança dos conservadores (1965), o antigo primeiro-ministro voltou a ocupar um posto ministerial seis anos depois, o de ministros dos Negócios Estrangeiros entre Junho de 1970 e Março de 1974. Episódio tanto mais raro que só se voltou a repetir 53 anos depois e ainda há dias, quando David Cameron ocupou aquela mesma pasta, depois de ter deixado de ser primeiro-ministro há sete anos.
Confesso que tenho curiosidade em ver qual a amplitude da cobertura mediática que a comunicação social irá dar a este (obrigatório) retorno das atenções à guerra na Ucrânia. Tenho uma expectativa, mas preferia estar enganado. Recorde-se que a questão ucraniano-russa é incomensuravelmente mais importante para a Europa do que a israelo-palestinana.
Alguma informação europeia - a Euronews acima - parece já falar do assunto. A norte-americana ainda não. Como aqui em Portugal somos alimentados predominantemente pelo que vem do outro lado do Atlântico, e os alinhamentos seguem o que vem da América, ira demorar certamente mais um bocado até eventualmente a SIC Notícias, a CNN (doméstica) ou a RTP 3 começarem a dedicar mais atenção ao assunto.
Depois de Richard Nixon, este outro poste é também dedicado a um outro escroque, de seu nome Nuno Ribeiro (acima), que foi notícia no princípio deste mês, quando foi sancionado com uma suspensão de 25 anos, por causa das acusações que sobre incidem de «tráfico, administração e posse de substâncias proibidas e métodos proibidos». A sanção é a mais elevada que pode ser aplicada administrativamente pela Autoridade Antidopagem de Portugal e é independente de outras sanções que lhe possam vir a ser aplicadas num julgamento que virá a decorrer em Penafiel por aquelas mesmas acusações e mais outras, de que ele será um dos principais réus entre 26 acusados. Conhecendo-lhe a biografia, Nuno Ribeiro é um corrécio incorrigível quanto à prática da dopagem no ciclismo desde há 20 anos, quando ainda era atleta e o seu percurso na modalidade, desde aquela fase de ciclista até posteriormente à de treinador, está manchada de desqualificações, sempre por causa do uso de substâncias não autorizadas. É difícil ter-se pena dele por aquilo que lhe possa vir a acontecer em consequência desta sanção e das que o tribunal decidir aplicar-lhe. E contudo, mesmo um completo desqualificado como Nuno Ribeiro, parece precisar de ser apresentado aos leitores com um outro escroque ao lado, daqueles que as pessoas - pelo menos algumas... - gostam de detestar: Jorge Nuno Pinto da Costa, cuja aparição na foto acima, se justificará pelo facto de que a equipa treinada por Nuno Ribeiro e onde a prática da dopagem era endémica, ser o FC Porto. Fica a nota que os escroques não são apenas aqueles que nós adoramos detestar.
17 de Novembro de 1973. Em Orlando, Florida, na presença de uma plateia de 400 quadros da Associated Press, mas dirigindo-se ao auditório televisivo de muitos milhões, o presidente Richard Nixon assume um discurso estranhamente auto-confessional que, de tão deslocado, acaba apenas por aumentar as suspeitas que incidem sobre si: «...Quero dizer isto à audiência televisiva. Cometi os meus erros, mas em todos os meus anos na vida pública nunca beneficiei dos meus cargos, mereci o que ganhei, até ao último tostão. E em todos os meus anos na vida pública nunca coloquei entraves à justiça. E penso, também, que posso dizer que nos meus anos de vida pública sempre acolhi bem este género de escrutínio, porque as pessoas têm de saber se o seu presidente é ou não é um escroque. Bom, eu não sou um escroque! Tudo o que tenho ganhei-o com o suor do meu rosto.» Dali por nove meses, perante indícios cada vez mais comprometedores da sua interferência pessoal no curso das investigações sobre o Escândalo Watergate, Richard Nixon ver-se-ia obrigado a demitir da presidência dos Estados Unidos.
Mas, pelos vistos, cada país terá os seus cromos deste género, nós é que desconhecemos que eles existem. Nos Estados Unidos descobri esta semana um deles, um senador do Oklahoma de 46 anos chamado Markwayne Mullin. É um senador noviço, já que assumiu o cargo em Janeiro deste ano, mas nada disso pode justificar o seu comportamento acima, quando de uma audição no Senado há dois dias. Veio-se a descobrir que a altercação com uma testemunha, convocada para uma audição de um comité do Senado já começara havia oito meses. A testemunha, um sindicalista de 51 anos chamado Sean O'Brien comporta-se da mesma maneira confrontativa que o senador. O que os deve frustrar aos dois, já que a coreografia intimidatória do bullyingnão funciona quando são dois a praticá-la. Em qualquer dos casos, são as marteladas vigorosas do senador Bernie Sanders, que põem fim aos incidentes.
Onde esta última história começa a divergir das nossas é que na América parece haver quem se mostre preocupado com o controlo de danos à reputação. A do senador Markwayne Mullin, por muito valentão que se tenha mostrado no vídeo, afundou-se subitamente, já que não é bem aquilo que se espera de um senador dos Estados Unidos. A tournée televisiva incidiu sobre os canais conservadores trumpicos - já que Mullin é um daqueles republicanos que apoia a ideia que as eleições presidenciais de 2020 foram roubadas - mas que incluiu canais mais abertos como (acima) a CNN. Quem preparou a justificação a Mullin foi buscar exemplos a episódios apropriadamente esquecidos de meados do século XIX (1856, abaixo) em que episodicamente senadores chegaram a vias de facto com colegas. Parece-me evidente o quão despropositado será invocar, como justificação para o que aconteceu, episódios com 167 anos.
Mas o que me frustra é a comprovada falta de cultura das televisões que deixam passar impunes e sem contraditório estes argumentários preparados de antemão: as referências históricas de Mullin invocadas em seu abono, incluíram também uma referência aos (supostos) nove duelos travados pelo presidente Andrew Jackson (1829-37) antes da sua eleição para presidente. Esta era indiscutivelmente a ocasião ideal para a jornalista Dana Bash da CNN perguntar-lhe pelo mais famoso duelo da história dos Estados Unidos, travado em 1804 (219 anos) entre o vice-presidente dos Estados Unidos, Aaron Burr e o antigo Secretário do Tesouro, Alexandre Hamilton, que se saldou pela morte do segundo. Dada a estrutura da argumentação do senador Markwayne Mullin, defendendo a agressão física, era caso para lhe pregar uma rasteira irónica, perguntando-lhe se se ficava por ali, ou se, como no duelo Burr-Hamilton, se podia ir um bocadinho mais longe?...
16 de Novembro de 1963. Mais de dois anos e meio passados, já se havia esgotado o fervor patriótico dos primeiros tempos das guerras subversivas nas províncias africanas, e já se assentara na rotina do serviço militar incluir uma comissão de serviço de dois anos numa delas. Mais do que incómodo, podia ser perigoso. Sinal desses novos tempos, evitar que isso acontecesse passou a ser uma «actividade», uns com mais sucesso, outros (como o caso abaixo) mais fraudulentos.
Os destaques mediáticos vão todos para a demissão mais recente de João Galamba mas, como se percebe pelo comunicado acima, no comunicado que exonera o ex-ministro das Infra-estruturas, o presidente anuncia outra demissão simultânea no governo. Pedro Miguel Ferreira Jorge Cilínio era secretário de Estado da Economia, e tornou-se mais um a abandonar o executivo. A fórmula adoptada para o explicar foi também um opaco "a seu pedido". Recorde-se que Pedro Cilínio tornara-se secretário de Estado da Economia há menos de um ano. Fora escolhido para ser o sucessor de João Neves, que entrara em confronto de ideias com António Costa Silva, o ministro da Economia, por causa da descida do IRC, numa remodelação que incluíra também o outro titular de outra secretaria de Estado sob a alçada do mesmo ministro. Essa remodelação simultânea prestara-se a alguns comentários em surdina sobre a capacidade de liderança de António Costa Silva ou o seu discernimento sobre as escolhas a respeito daqueles de que se rodeia. A saída do governo de Pedro Cilínio surpreende porque, ao que se sabe, não se reveste dos contornos dos vários outros casos que abalaram o governo. Do Ministério da Economia indicou-se apenas que esta demissão nada tem a ver com os “temas que têm vindo a público nos últimos dias”. A fórmula "a seu pedido" é tão abrangente que nada esclarece se o motivo terá sido pessoal, profissional ou outro. Mas, fosse a conjuntura outra, e estivesse o palco mediático mais desimpedido, o episódio estaria a ser detonador de alargadas especulações sobre a (in)capacidade de António Costa Silva fazer-se respeitar pelas suas chefias adjuntas.
15 de Novembro de 1948. O Diário de Lisboa dedicava nas suas três principais páginas (primeira, segunda e última) extensos espaços dedicados à exploração da notícia do nascimento do primeiro neto do rei de Inglaterra, o actual rei Carlos III. Realce-se que as três páginas exibidas abaixo representam 25% da edição de 12 páginas daquele dia do vespertino lisboeta. Hoje parece-nos um absurdo a existência de tais desenvolvimentos noticiosos que não numa publicação especializada. Tudo aquilo que é pueril degrada-se ao gosto das modas. Daqui por muitos anos hão de chegar os dias em que as pessoas se perguntarão porque é que as televisões dispensavam mais de meia hora do seu tempo de emissão a escutar treinadores e jogadores de futebol a dissertar sobre as suas antevisões a respeito de um jogo de futebol que ainda nem sequer se disputara e que iria durar apenas hora e meia...
Eu não estranharia que João Galamba acabasse a cena da sua demissão a exigir-nos desculpas a todos, como o faz acima o tenente Steven Hauk no filme Good Morning, Vietnam. É o que se depreende daquilo que ele escreveu na sua carta (abaixo). Duas figuras igualmente patéticas, a diferença substancial será que Hauk tinha a ilusão de ter piada e não conseguia compreender que a não tinha de todo. Em contraste, Galamba não compreende a imagem de irresponsabilidade que se formou de si e, tem tanto a pretensão de ser levado a sério, que acaba por ter involuntariamente piada.
“O trabalho feito, os seus bons resultados e o desempenho das minhas funções com absoluto respeito pela lei e com total dedicação ao país e aos portugueses são, em meu entendimento, as condições políticas necessárias para o desempenho de funções governativas." (...) "Enquanto secretário de Estado da Energia, empenhei-me, em total consonância com as prioridades da União Europeia e do Programa do Governo, na transição energética que sempre considerei, e publicamente defendi, um desafio que abria ao país oportunidades únicas de desenvolvimento tecnológico, industrial e de maior independência energética”. (Empenhei-me) “em assegurar as condições para que as matérias-primas críticas como é o caso do lítio e a fixação no país de toda a cadeia de valor das baterias, incluindo a refinaria de lítio, pudessem trazer novos investimentos, tecnologia e empregos altamente qualificados”, (com o objectivo de desenvolver as) “vantagens competitivas de que o país dispõe ao nível da digitalização, descarbonização e industrialização dos seus portos comerciais, em particular na cadeia de valor do eólico offshore, e também ao nível da amarração e interligação de cabos submarinos”, (fazendo de Portugal) “um hub competitivo de conectividade, armazenamento e processamento de dados” (...) “Quero transmitir que este pedido de demissão não constitui uma assunção de responsabilidades quanto ao que pertence à esfera da Justiça e com esta não se confunde”, (considerando-se) “totalmente disponível para esclarecer qualquer dúvida que haja a respeito do desempenho” (das suas funções). “A acção de um membro do governo impõe a ponderação de todos os interesses públicos presentes e a obrigação de desenvolver todos os esforços para os compatibilizar ou maximizar a sua realização quando não seja possível alcançar a realização plena de todos eles, e sempre com total obediência à lei”. (...) “Saliento e destaco que me refiro a todos os projectos de investimento inseridos na minha área de actuação enquanto governante porquanto essa corresponde à governação legítima num Estado democrático, trabalhando a bem de todos os projectos e respondendo à necessidade de a todos eles se assegurarem condições de concretização. Repito: de a todos eles se assegurarem condições de concretização”. (...) “Por fim, reitero o agradecimento à minha família, que me tem acompanhado e que tem sido a mais prejudicada nos últimos tempos, o que não posso ignorar e cuja protecção, como referido, me faz apresentar, sem mais, a presente demissão”.
Em 14 de Novembro de 1963, um navio pesqueiro que navegava a algumas milhas ao largo da Costa sudoeste da Islândia (mapa acima) deparou-se com uma enorme coluna de fumo que resultava da erupção de um vulcão submarino. Com o cume do vulcão situado originalmente a uma profundidade de 130 metros, dada a potência da erupção, veio-se a assistir então, pela primeira vez depois do aparecimento da vulcanologia, ao nascimento de uma ilha em pleno Oceano.
Mais do que uma explicação geológica sumária do fenómeno, este poste pretende ser uma pequena compilação de fotografias sempre espectaculares da gigantesca luta ali travada entre os elementos primitivos da água e do fogo.
A erupção prolongou-se por cerca de três anos e meio até cessar. Nessa altura, Junho de 1967, a nova ilha, que havia sido baptizada Surtsey, atingira uma área de 270 hectares e uma altitude máxima de 173 metros (abaixo).
De então para cá, apenas a água e o ar têm permanecido activos e a ilha, enquanto é colonizada por flora e fauna (focas, aves e insectos), tem também vindo a diminuir por causa da abrasão: a sua área actual já está reduzida a metade da original.
Esclareça-se ainda que esta última referência à inexorabilidade das forças abrasivas da Natureza não é uma alusão indirecta a outros desgastes em episódios vulcânicos ocorridos noutras ilhas Atlânticas…
14 de Novembro de 1943. Nesse dia de há 80 anos o grande couraçado USS Iowa (46.000 toneladas) navegava em pleno oceano Atlântico, a umas 50 milhas a Oriente das Bermudas, transportando um conjunto de passageiros muito especiais: o presidente dos Estados Unidos, Franklin D. Roosevelt, acompanhado dos seus conselheiros políticos e militares mais próximos: o secretário de Estado Cordell Hull e o conselheiro pessoal Harry Hopkins, os generais Marshall e "Hap" Arnold, os almirantes Leahy e King. Depois de uma primeira viagem ao outro lado do Atlântico que fora feita em avião, para a conferência de Casablanca de Janeiro de 1943, desta vez, para se vir a encontrar no Cairo com Churchill e Chiang Kai-shek e depois em Teerão com Churchill e Estaline, o presidente Roosevelt preferira viajar de uma forma mais relaxada, aproveitar nove dias de viagem até ao Mediterrâneo para descansar. O preço a pagar eram nove dias em que era preciso gerir o seu desaparecimento (e o dos seus colaboradores próximos) de Washington DC. O USS Iowa navegava sob um silêncio rádio absoluto. Mas, à tarde, e também para entretenimento dos convidados ilustres, o USS Iowa e os navios que o escoltavam iniciaram um conjunto de exercícios em alto mar.
Começou-se pela demonstração da precisão das anti-aéreas, derrubando balões previamente largados. Lá furaram os balões. Depois o exercício passou para os torpedos e aí é que as coisas se vieram a revelar memoráveis. Um dos navios da escolta, o destroyer USS William D. Porter (2.050 toneladas), largou involuntariamente um torpedo real dirigido ao USS Iowa que, naquele dia, transportava toda a elite político-militar norte-americana... Seguiram-se alguns minutos bastante tensos. Os do USS William D. Porter tiveram que romper o silêncio rádio para que o USS Iowa se apercebesse o que lhes haviam enviado e adoptasse manobras evasivas para evitar o torpedo, muito embora os relatos digam que o presidente, ao ser informado da situação, ganhou um interesse acrescido nas manobras e pediu até a um dos membros dos serviços secretos que o empurrasse na sua cadeira de rodas até às amuradas, para ver directamente o torpedo que poderia atingir o navio onde viajava! Felizmente para a história dos Estados Unidos, as manobras evasivas foram suficientes e o torpedo acabou por detonar a uma distância segura, à popa do USS Iowa.
Todo o calafrio durara uns meros quatro minutos - os diários de bordo registam o incidente entre as 14:36 e as 14:40 locais. Ironicamente, e por causa do secretismo de que a viagem se revestia, a tripulação do USS William D. Porter ignorava que "fizera pontaria" para um navio onde viajava o presidente dos Estados Unidos! Uma história, que bem pode ser apócrifa, atribui ao general Arnold uma pergunta irónica dirigida ao almirante King logo após o fim do incidente, quando este último estava naturalmente furioso com tudo o que acontecera: «Isto convosco, na Marinha, é sempre assim tão animado?...» Mas, as ironias não se ficaram apenas pela rivalidade tradicional entre soldados e marinheiros, porque, no próprio ramo e depois de se saber do incidente, o USS William D. Porter passou a ser saudado pelos outros navios da frota com o cumprimento brincalhão: «Não disparem! Somos republicanos!*» A piada não perdurou porque o USS William D. Porter acabou por ser afundado por um kamikaze em 10 de Junho de 1945.Mas interessa constatar que, embora fosse conhecido pelos do meio o incidente de há 80 anos, aquele momento em que estiveram para afundar o navio onde viajava o presidente dos Estados Unidos só veio a ser oficialmente assumido pela US Navy em 1970.
* O presidente Roosevelt fora eleito pelo partido democrático.
Acima, publicamos uma notícia em que o Polígrafo escrutina Ventura a desdizer-se frontalmente em quatro dias. Mas, fica-nos a impressão que, se o Polígrafo escrutinar Montenegro em quatro semanas, obtém-se o mesmo resultado. E a mesma impressão se aplicará a Costa se o mesmo Polígrafo se dispuser a comparar coisas que Costa diga com quatro meses de distância. Isto que aqui escrevo não é para credibilizar Ventura: ele não merece. Mas escrevo-o para descredibilizar o Polígrafo e o critério como selecciona os tópicos que eles se dispõem a "denunciar". Há tantos episódios como este acima, que é só uma questão de escolherem aqueles a que se dá relevo, o que em si me é suspeito: os jornalistas não me transmitem mais confiança do que os políticos...
Mas, para que aqui fique mais do que uma «impressão» minha, veja-se este exemplo abaixo, de ontem à noite. São duas notícias afastadas por dez semanas, publicadas no mesmo jornal, o tópico é o mesmo. E o que constava da primeira era que o ministro da Saúde «acreditava» que iria ser «possível cumprir meta» «até ao fim (do) mês» (Setembro). A notícia de ontem (e estamos a meio de Novembro!) diz-nos que «faltam» (ainda!) «15 municípios para se cumprir meta». (por sinal, alguns deles são os maiores do país!). No caso a que o Polígrafo dedica a sua atenção acima, André Ventura diz-se e contradiz-se, neste, Manuel Pizarro não cumpre galhardamente o que prometera ainda há semanas, o processo está atrasado mais de um ano, e o Polígrafo não parece encontrar ali nada que escrutinar...
ET: Quando o optimismo de Manuel Pizarro é desmentido tão ostensivamente pela realidade dos factos, perpetuar esse optimismo fá-lo mudar de nome, passando a denominar-se vigarismo.