17 dezembro 2023

VOCÊ JÁ REPAROU QUE, NA NOTÍCIA ABAIXO, NÃO NOS DIZEM «QUANDO» É QUE AQUILO ACONTECEU?

É dos manuais do jornalismo que toda a notícia bem feita tem que responder a um conjunto de perguntas; Quem? O quê? Onde? Quando? Como? Porquê? Ora, no caso desta notícia acima, que nos conta que os soldados israelitas terão morto três dos próprios reféns e cujo resgate é uma das razões da operação que estão a desenvolver em Gaza há dois meses, por muito que eu já tenha consultado até as notícias originais oriundas de Israel, em lado algum é especificado quando é que esse infeliz incidente teve lugar. Pelo que se pode ler, embora todas as outras questões apareçam respondidas, não é límpido concluir se o que nos é narrado acabou de acontecer ou se, pelo contrário, teve lugar já há vários dias. O quando é importante para tirar as dúvidas se houve uma admissão espontânea do erro por parte da IDF ou se se terá tratado de uma fuga (controlada e cirúrgica) de informação por parte de sectores mais moderados da política israelita. A ideia mais plausível que atribuímos a estes últimos seria a de refrear a facção dos hardliners capitaneada pelo primeiro-ministro Netanyahu. Uma outra hipótese para que a notícia da morte involuntária dos reféns tivesse sido libertada com um timing seleccionado, associa-se às notícias do reatar das negociações para a libertação de outros reféns detidos pelo Hamas. Enfim, qualquer destas hipóteses enfatiza o facto de os israelitas não se comportarem em uníssono, como um bloco - como o mesmo acontecerá também do lado dos palestinianos. Só que estas construções, para além de necessariamente especulativas por tentarem perceber os assuntos por detrás do fumo da propaganda de guerra, têm o inconveniente para o jornalismo mais apelativo, de nos estragar a clareza maniqueísta dos acontecimentos: quem são os bons - e esses têm sempre razão - e quem são os maus.

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