31 janeiro 2021

PORQUE É QUE NEM TODAS AS TEORIAS DA CONSPIRAÇÃO MEDRAM

Esta é uma daquelas teorias da conspiração que, ao contrário de várias outras teorias propagadas pelos apoiantes de Donald Trump, não está destinada a prosperar, por muito apetitosa que seja. E não tem nada com o facto de, neste caso, o seu alvo ser Donald Trump. No fim da linha das consequências que haveria (ou haverá...) que extrair do facto de Donald Trump ser realmente um «activo» devidamente controlado pelos serviços secretos russos, contam-se as constatações que o enorme aparelho de segurança norte-americano não sabia disso ou, sabendo-o, se mostrou impotente em alertar o sistema político norte-americano - nomeadamente os republicanos - para esse facto, para que este último neutralizasse as iniciativas eleitorais de Donald Trump ou ainda, e na eventualidade de as duas «válvulas de segurança» anteriores não terem funcionado, que há uma fracção apreciável - embora minoritária... - do eleitorado norte-americano que se dispõe a eleger para a presidência do seu país não importa quem, mesmo apalpando pachachas ou não pagando impostos ou até mesmo, se este caso se vier a revelar verdadeiro, espiando para países estrangeiros. E a nenhum bloco político aproveita demonstrar ao eleitorado que ele próprio, eleitorado, é desesperadamente estúpido...

30 janeiro 2021

O TURISMO IDEOLÓGICO

30 de Janeiro de 1981. Na actualidade (considerando a actualidade a que existia antes da pandemia) era comum assistirmos à promoção daquilo que se pode denominar por turismo religioso, a organização de excursões tendo por destino Roma e o Vaticano ou então Jerusalém e a Terra Santa. Há quarenta anos, e como se comprova pelo anúncio de jornal acima, havia um outro tipo de turismo, parecidíssimo com o que inicialmente descrevi, só que a religião era outra. Esta proposta, apresentada pela associação Portugal - RDA (República Democrática Alemã) em colaboração com a agência de viagens Abreu, oferece excursões visitando várias cidades e «outros centros de interesse» da Alemanha Oriental. O critério que fora colocado para a selecção dos itinerários, influenciado pela ortodoxia comunista, é que era mais do que discutível: em vez de se dar destaque, por exemplo, à arquitectura barroca de Dresden, o ênfase vai todo para «uma excursão especial de 9 dias dando a possibilidade de assistir ao 1º de Maio na RDA!» Quem é que - entre os leitores do Diário de Lisboa - trocaria um espectáculo daqueles por outra coisa qualquer!...

29 janeiro 2021

SOBRE A EXPLICAÇÃO PARA OS CAGALHÕES CÚBICOS DO WOMBAT

Quando escrevo, ainda nenhum órgão de informação português traduziu a notícia científica, preciosa, da descoberta das razões para que o wombat (um bichinho marsupial australiano que a imagem acima exibe) cague aos cubos. Em primeiro lugar, permitam-me assumir a ignorância de que não sabia que os wombats cagavam cubos. Sobre geometrias da merda sabia apenas que as cabras cagam bolinhas e ficava-me praticamente por aí. As dos equídeos são bolas maiores e mais desconjuntadas, mas a maioria dos excrementos dos outros animais, incluindo nós, são mais do género de formas abstractas. Contudo e como se vê, o wombat despacha a coisa num formato que merece respeito pela regularidade das formas, a fazer lembrar - quase - uma encomenda postal dos CTT. E a conferir todo um sentido mais próprio à popular expressão «deixar um presente». Mas o que interessa é que, pelos vistos, até agora não se sabia como é que os wombats faziam aquilo; e agora sabe-se - quem quiser pode ler o abstract do artigo científico. É reconfortante ouvir falar dos sucessos da ciência, numa altura em que, por causa da epidemia da covid, a tenho visto a ser distratada por pessoas que se percebe, pelo que escrevem nas redes sociais, que nada percebem dela e que, na minha modesta opinião, bem mereceriam que, em reacção aos disparates que lhes leio, se lhes enviasse por encomenda postal (já que estamos todos confinados) um cocozinho de wombat, com um laçarote colorido em cima...

A «BATALHA» DE KHAFJI

29 de Janeiro de 1991. Havia quase duas semanas que a ofensiva de bombardeamentos desencadeada a partir de 17 de Janeiro pela coligação liderada pelos Estados Unidos prosseguia, mas a verdade é que a Guerra do Golfo, por muito mediática que estivesse a ser, prosseguia só no ar. No mar e sobretudo em terra, não se anunciavam quaisquer movimentações da parte das tropas aliadas para desalojar o exército iraquiano que invadira e se instalara em território do Koweit, que era afinal, o propósito último daquela guerra. Eis senão quando, nesta guerra que se travava também para proveito das audiências, os iraquianos saem da defensiva e desencadeiam um ataque sobre a cidade fronteiriça saudita de Khafji. Foi uma manobra audaciosa e com que os adversários não contavam. Num dia, a cidade foi conquistada pelos iraquianos, mas a conquista era inconsequente do ponto de vista militar: nos dois dias seguintes, a cidade foi retomada, tendo a coligação tido o cuidado de atribuir os louros da reconquista a unidades militares sauditas e qataris. Objectivamente foi um pequeno recontro de três dias, com o nome pomposo de batalha, mas com as baixas pessoais a rondar as poucas centenas (se tanto) em qualquer dos lados. E no entanto, tornou-se um bom pretexto para, nas semanas que se seguiram, haver uma romaria de equipas de televisão na cidade para filmarem os estragos dos combates. A RTP também teve a sua oportunidade (abaixo), naquela ocasião abrilhantada pela apresentação - o drama, a tragédia, o horror! - de Artur Albarran.

A ÁGATA QUE TINHA UM MONSTRO DAS BOLACHAS LÁ DENTRO

No Brasil, o corte transversal de uma ágata recém minerada revelou, ao corte transversal, que continha lá dentro um genuíno monstro das bolachas...

28 janeiro 2021

O TROCA TINTAS

O senhor que aparece acima em DESTAQUE, notabilizou-se por ter apresentado uma candidatura à presidência da República em que, em vez das 7.500 assinaturas requeridas, apresentou 11. Requinte de malvadez: 5 dessas 11 assinaturas eram inválidas. Teve o seu quarto de hora de fama. Abusou da ironia quando, durante esses quinze minutos, afirmou que «não estava a gozar com o sistema». Eu também, na circunstância improvável para os dias que correm, se me cruzar com ele, nem o insultarei, apenas lhe vou dizer aquilo que penso dele... Para não falar já do prestígio adicional que ele conferiu à instituição militar, como oficial do Exército. É uma maneira ousada de, depois dos longínquos anos de 1976 e 1980, voltar a haver militares na corrida a Belém. Pois bem, no jornal Público não pensam o mesmo que eu sobre o tenente-coronel Eduardo Baptista, pois esgotados os seus quinze minutos, houve quem naquele jornal voltasse à carga - dando-lhe o DESTAQUE que a imagem acima comprova. É novo, inédito, refrescante: eu é que estava habituado a que um troca-tintas fosse apresentado como um troca-tintas.

SE A PREOCUPAÇÃO DA INFORMAÇÃO FOSSE INFORMAR...

...o destaque destas duas notícias seria igual, já que a segunda pretende demonstrar que os problemas decorrentes da primeira poderiam ser facilmente corrigidos, já que, na perspectiva de quem as recebe, as urgências estão entupidas com casos injustificados. Mas quem escreve estas coisas é, por um lado, joguete fácil dos intervenientes, que lhes «plantam» a notícia que lhes é mais conveniente, e por outro lado, está dominado pela preocupação em conferir aos assuntos o aspecto mais dramático possível, para captar as audiências. A sobriedade deixou de ser «bom jornalismo». O resultado é este desequilíbrio.

A RENDIÇÃO FRANCESA DE PARIS

28 de Janeiro de 1871. Assinatura do armistício que põe fim ao cerco de Paris. O cerco durara quase cinco meses, a defesa fora heróica, mas os franceses perderam. Tanto quanto a proclamação do império alemão alguns dias antes, a cerimónia é a constatação prática que a vitória prussiana na Guerra Franco-Prussiana é total, um aspecto que os livros de história em França raramente mencionam claramente, «entretidos» com os «fait-divers» que irão conduzir à Guerra Civil que se seguirá. É uma técnica de manipular a História como tantas outras.

27 janeiro 2021

...A PAGAR PELA LÍNGUA

Joana Mortágua foi apanhada a pagar pela língua não apenas pela situação de se indignar com exuberância - e responsabilizar Bolsonaro - por algo que acaba de acontecer também - infelizmente - num Hospital português. Sem sabermos se ela pretende estender a sua indignação - «o grau zero da democracia» - aos governantes portugueses. Talvez sim, talvez não... Mas, para quem tiver memória, Joana Mortágua também deve pagar pela língua - neste caso colectivamente - porque aquele mesmo hospital Amadora-Sintra foi objecto de uma perseguição feroz do Bloco de Esquerda enquanto esteve a ser dirigido ao abrigo de uma parceria público-privada, perseguição e escrutínio esses que desapareceram como «por milagre», a partir do momento em que a gestão do Hospital Amadora Sintra regressou à tutela do Estado. Notoriamente, os problemas que ocorriam naquele hospital só interessaram ao Bloco enquanto puderam ser atribuídos à gestão privada... agora parece que já não.

O MONTANTE DAS REPARAÇÕES A SEREM PAGAS PELA ALEMANHA VENCIDA

27 de Janeiro de 1921. Em Paris, os grandes países vencedores da Grande Guerra fixam finalmente o montante das reparações a pagar pela Alemanha: qualquer coisa na ordem dos 228 mil milhões de marcos-ouro. Segundo o plano, a Alemanha começaria por pagar 2 mil milhões por ano nos primeiros cinco anos (1921-1925), 4 mil milhões nos cinco anos seguintes (1926-1930) e 6 mil milhões nos trinta e três anos seguintes, até Maio de 1963. A posição dos Estados Unidos dissociara-se da dos seus antigos aliados e a sua opinião publicada mostrava-se crítica à dimensão das exigências impostas à Alemanha: o desenho acima aparecia publicado por essa altura no New York Times (55 mil milhões de dólares era o valor das reparações totais expresso em dólares). Para os americanos seria indiferente, mas as potências europeias contavam com boa parte daquele dinheiro para honrar, por sua vez, as dívidas que haviam contraído junto dos Estados Unidos.

QUE FORÇA FAZIA A «FORÇA» DA «FORÇA DE UNIDADE POPULAR (FUP)»?

27 de Janeiro de 1981. Com o destaque que a imagem acima documenta, o Diário de Lisboa dava conta aos seus leitores do teor de um comunicado apresentado por uma organização política recém criada que dava pelo nome de «Força de Unidade Popular» cuja «imagem de marca» era a exibição da cara de Otelo. O conteúdo da mensagem não surpreendia - a conversa de palha do costume - mas, para quem pensasse as razões para tanto destaque, impunha-se a pergunta: que critérios de relevância jornalística sustentariam a inclusão e, sobretudo, o relevo noticioso dado ao acontecimento?... Porque a FUP não ficou propriamente para a História, uma consulta à página respectiva da wikipédia recorda-nos que a organização havia sido fundada em Março de 1980 a partir de uma «ideia lançada pelo major Otelo Saraiva de Carvalho» depois concretizada «através de um acordo constitutivo subscrito pelo mesmo e por representantes do MES, OUT, PCP (ml), PC(R), PRP-BR, UC (Unidade Comunista - wtf?), UDP e ainda quatro independentes». «Nunca chegou a ir a votos», o mais próximo que esteve disso foi o apoio incondicional à candidatura presidencial de Otelo Saraiva de Carvalho nas eleições presidenciais de Dezembro de 1980 (portanto, no mês anterior à publicação desta notícia). Otelo recolheu nessas eleições 85.896 votos, correspondentes a 1,5%. Para comparação, esse resultado ter-lhe-ia assegurado o último lugar, atrás de Vitorino Silva, nas eleições deste Domingo que passou... E, no entanto, nem mesmo perante esse comprovado desinteresse popular, Otelo perdia a capacidade de acesso e promoção à comunicação social, tal qual hoje acontece também com Pedro Santana Lopes, que soma desaires eleitorais e nem por isso desaparece dos jornais e da televisão. Cada época com seu «ídolo», mas nos seus estilos superficiais, afinal tão semelhantes, fica a dificuldade de destrinçar se era Otelo que era um Pedro Santana Lopes fardado, ou se afinal é Pedro Santana Lopes que é um Otelo em "casual-chic"...

26 janeiro 2021

A FRANÇA CAMBALEANTE DO APÓS GUERRA

26 de Janeiro de 1946. As notícias dão conta das ondas de choque provocadas em França pela demissão inesperada de Charles de Gaulle como presidente do governo provisório (vídeo com a reconstituição do momento abaixo). O poder político, apesar de combalido pela manobra daquele que representava, como mais ninguém, a França que resistira à Alemanha, vacilou mas não caiu. Há setenta e cinco anos, o socialista Félix Gouin, que fora até ali o presidente da Assembleia Constituinte, era votado por esta por uma maioria esmagadora (497 votos em 555) para suceder ao general. O governo, com 23 ministérios e que integrava comunistas, socialistas e republicanos populares, vai durar cinco meses. Quanto a de Gaulle, vai esperar doze anos até ao seu retorno ao poder como «homem providencial».

QUANDO OS FESTIVAIS ERAM «A SÉRIO»...

26 de Janeiro de 1971. Em duas página contíguas de um diário da capital podem apreciar-se inserções publicitárias - uma delas de meia página - a apoiar duas canções concorrentes ao Festival da Canção que só se disputaria a 11 de Fevereiro. Mas, como se constata, a promoção das canções concorrentes (que, ironicamente, não podiam ser reveladas antes do certame...) já começara a sério. Os anúncios referem-se a Daphne, que iria ser a intérprete da canção «Verde Pino» e a Paulo de Carvalho com «Flor sem Tempo». E, como aqui já recordei faz bastante tempo, o mérito das canções era o que menos parecia estar em causa naquilo tudo. 

25 janeiro 2021

IDI AMIN TOMA O PODER NO UGANDA

25 de Janeiro de 1971. Naqueles anos, os golpes de estado eram uma banalidade nos países africanos. E este caso no Uganda não pareceria possuir razões para ser diferente dos demais. Como era comum, os efectivos dos exércitos destes novos países que se apropriavam do poder eram ridiculamente poucos: havia dois batalhões no caso ugandês, o que representaria no máximo 2.000 homens. Mas os seus comandante costumavam exibir patentes desproporcionadas. No caso a de major-general, chamado Idi Amin (1925-2003). Grande e corpulento (1,93), intempestivo, estúpido, Idi Amin tornar-se-á conhecido à escala mundial devido pelo seu comportamento insólito, errático e inconsequente. Foi derrubado em 1979 depois de oito anos no poder em que conseguiu adquirir o estatuto do ditador boçal. Até à eleição (democrática) de Donald Trump em 2016 foi convicção entranhada que aberrações daquele género só podiam acontecer em países do terceiro mundo.

24 janeiro 2021

A MODERNIZAÇÃO DO PROCESSO ELEITORAL

Hoje, ao exercer o meu direito de voto, não pude deixar de notar (com muito agrado) que as fotografias dos candidatos passaram a ser a cores! Deve ser isto a resposta às críticas (contundentes) que os mecanismos eleitorais continuam a ser essencialmente os mesmos desde há quarenta e cinco anos. E que resposta! Não há nada como dar cor às coisas para dar alegria às pessoas...

O ACIDENTE NUCLEAR DE GOLDSBORO

Em 24 de Janeiro de 1961 um bombardeiro B-52 norte-americano cumpria uma missão de alerta de 24 horas sobre o Atlântico voando junto à costa das Carolinas com dois engenhos termonucleares Mark 39 a bordo. Quando de uma das missões de reabastecimento no ar notou-se que o aparelho estava a vazar combustível por uma das asas mas decidiu-se prosseguir a missão até que o B-52 consumisse o combustível restante e pudesse aterrar mais leve e, por isso, em maior segurança. Porém, em minutos se percebeu que a fuga era crescentemente mais importante do que o que inicialmente se previra (o B-52 perdera 17 toneladas do combustível) e que o avião teria de regressar de imediato à sua Base Aérea de Seymour Johnson em Goldsboro na Carolina do Norte.
Nunca lá chegou. A aeronave tornou-se progressivamente mais difícil de controlar e voava já a 9.000 pés de altitude e sobre terra quando o comandante foi obrigado a dar ordem de a abandonar. Dois dos oito tripulantes nunca o chegaram a fazer. O B-52 desintegrou-se a 600 metros de altitude e ainda a 20 km da pista e os destroços – incluindo as duas Bombas H que transportava, que foram ejectadas de forma automática sustentadas em para-quedas – espalharam-se por uma área de 500 hectares. Além dos dois tripulantes que ainda permaneciam no avião, um dos outros seis que saltaram também faleceu. Pior, as descobertas das equipas de salvamento e de investigação que se precipitaram para o local em busca de homens e bombas não foram nada reconfortantes, conforme as revelações de um relatório que só se tornou publico em 2012.
Num dos casos daquelas, o para-quedas não se abriu e a bomba atingiu o solo como se se tratasse de uma bomba convencional. Felizmente, as características do solo, esponjoso, fizeram com que os explosivos convencionais que possuía não detonassem no impacto e que os diferentes componentes da arma se enterrassem solo abaixo, desde uma profundidade mínima de 6 metros (a cauda) até aos 16 (o núcleo mais pesado com o combustível). Todavia, o outro caso foi muito mais grave pois, se o para-quedas se abriu, descobriu-se, à posteriori, que todos os redundantes dispositivos de segurança (há quem fale em quatro, há quem mencione seis dispositivos) concebidos para impedir que a bomba se armasse inadvertidamente falharam, à excepção de um
Gostaria de ajudar o leitor a especular sobre quais teriam sido os caminhos da História Alternativa se a Bomba H tivesse efectivamente detonado naquele dia sobe os céus da Carolina do Norte. Dada a natureza rural do território, o número de vítimas até poderia ser comparativamente diminuto se se considerar a capacidade de destruição de armamento que fora concebido para detonar sobre concentrações urbanas e matar milhões. Mas o simbolismo do acontecimento superaria isso tudo: recorde-se que o 11 de Setembro de 2001 provocou apenas 3.000 vítimas. Mas é sobretudo a data do acontecimento que o torna potencialmente passível de poder ter mudado toda a história da Humanidade: em 24 de Janeiro de 1961, John F. Kennedy havia tomado posse há apenas quatro dias

23 janeiro 2021

O «PEIXINHO DE ÁGUAS PROFUNDAS»

Acima temos um excelente exemplo do que é ter-se boa imprensa. 23 de Janeiro de 1971. Mesmo numa página bem interior da edição do Diário de Lisboa, e até depois das notícias da necrologia, dos falecimentos e dos sufrágios, uma pequena notícia dá nota que o ministro da Eduacação Nacional (Veiga Simão) revogara um despacho anterior do subsecretário de Estado da mesma pasta que retirara a «autorização para ensinar» a um «finalista de Filosofia da Faculdade de Letras» chamado... Jaime Gama. Entre as múltiplas demonstrações de prepotência do regime visando obscuros cidadãos (e um «finalista de Filosofia» de 23 anos seria um exemplo canónico de um desses...), cidadãos esses sem capacidade de as contestar, este caso era revertido por decisão ministerial(!), quiçá pela fundamentação da reclamação apresentada pelo próprio, como pretende a notícia, quiçá pela desenvoltura de Jaime Gama em mover-se nestes meios, não viesse ele a receber anos depois de Mário Soares a celebrada alcunha de «peixe de águas profundas». Nesta época, apenas um peixinho... 

A SEMI-HISTÓRIA DO ASSALTO AO SANTA MARIA


23 de Janeiro de 1961. Henrique Galvão com 24 homens sequestram o navio de passageiros Santa Maria em pleno Mar das Caraíbas. A história do assalto ao Santa Maria está mais do que contada, foi até objecto de um filme. O episódio foi um grande golpe de propaganda anti-regime, com o regime a organizar um grande golpe de contra-propaganda aquando do retorno do navio a Lisboa. Mas depois da versão oficial de 1961 (que vigorou até 1974), a versão que vigora desde aí é de uma indulgência para com as acções de Henrique Galvão e do seu comando que me incomoda, para não dizer que me irrita. A começar pela pomposidade de lhe conferir uma designação de Operação Dulcineia. Um dos aspectos que nunca se vê bem esclarecido é o da composição do comando que tomou o navio: dos 25 homens que assaltaram o navio, quantos é que eram portugueses? Pela omissão, desconfia-se que seriam uma minoria. Que história é aquela de uma organização vagamente ibérica para justificar o contributo de mercenários espanhóis numa operação político-militar com objectivos predominantemente portugueses num navio português? Denominaram essa organização de Directório Revolucionário Ibérico de Libertação, mas nunca mais se deu por cá pela actuação de tal directório (para não dizer que a denominação me faz lembrar uma daquelas organizações inventadas pelo Artur Baptista da Silva...). Por que é quase nunca se menciona o morto e os dois feridos entre os membros da tripulação que resistiram ao assalto? E a que exército pertencerão aqueles rutilantes galões que Henrique Galvão ostenta nos ombros? (recorde-se que ele era apenas capitão do exército) Há em todas estes detalhes indícios de uma megalomania disparatada e inconsequente: os assaltantes esperavam desencadear a revolução só por aparecerem com o Santa Maria na baía de Luanda?... São intenções e desejos tão disparatados que eles não podem ser ignorados, por benevolência, pelas simpatias políticas de quem hoje evoca os acontecimentos. Significativamente, existindo em outros idiomas, não existe página da wikipedia em português especificamente dedicada ao sequestro do Santa Maria.

22 janeiro 2021

A SUSPENSÃO DOS JORNAIS COMUNISTAS BRITÂNICOS POR DERROTISMO

22 de Janeiro de 1941. Repare-se que a notícia da suspensão dos jornais comunistas ingleses nem precisa de ser justificada: depois da assinatura do Pacto em Agosto de 1939, alemães e russos tornaram-se aliados e os comunistas, fosse qual fosse a sua nacionalidade, eram considerados uma extensão dos segundos. A notícia não o identifica, mas «o ministro do Interior» que deu a ordem de suspensão era Herbert Morrison, já por mim aqui referenciado como um dos Big Five do partido trabalhista britânico, a tal esquerda britânica que nunca teve complexos de tratar os comunistas como eles merecem quando eles merecem.

21 janeiro 2021

VAI PELA SOMBRA! E QUANDO LÁ CHEGARES MANDA SAUDADES QUE É COISA QUE CÁ NÃO DEIXAS!

Uma boa parte das conversas do presidente Trump com a imprensa foram tidas sob o barulho encenado dos rotores do helicóptero por detrás, como se os jornalistas estivessem a interromper um homem muito ocupado (não estava, fartava-se de jogar golfe) e também um óptimo pretexto para acabar com a conversa se esta estivesse a enveredar para assuntos a que o presidente não queria responder. Como já aqui escrevera, o helicóptero chegou a estar ali a queimar combustível mais do triplo do tempo do que durava a viagem da Casa Branca até à Base Aérea de Andrews, onde estava estacionado o avião presidencial. Ontem, por uma última vez e também pela primeira vez em muitos anos, o som do helicóptero teve uma ressonância agradável...

O CENTENÁRIO DA FUNDAÇÃO DO PARTIDO COMUNISTA ITALIANO

21 de Janeiro de 1921. Fundação do Partido Comunista Italiano. Vale a pena comparar a história que aqui se conta com aquela que foi contada neste mesmo blogue no mês passado, a propósito da fundação do Partido Comunista Francês. Também aqui o acontecimento detonador foi a realização do congresso (o XVII, fotografia acima) do Partido Socialista italiano. Só que, simplificando uma história bem mais complicada, a correlação de forças das facções em presença eram diferentes em Livorno das de Tours. Os trabalhos do congresso socialista - que decorreu de 15 a 21 de Janeiro de 1921 - conduziram à vitória da facção que se pretendia manter mais distanciada das directivas de Moscovo. Por causa disso, e quando viram a sua moção derrotada, os membros da facção derrotada abandonaram os trabalhos para se reunirem num outro local de Livorno e daí anunciarem a constituição do Partido Comunista Italiano (abaixo). Como se deduz da comparação entre estes dois casos distintos no detalhe, mas idênticos no desfecho, a unidade entre socialistas e comunistas em cada um dos países onde actuavam, terminou no momento em que os russos, senhores do poder em Moscovo, tentaram controlar hegemonicamente todo o marxismo.

20 janeiro 2021

EM PORTUGAL, A ESTAS ATITUDES DEVÍAMOS CHAMÁ-LAS «DEMISSÕES À JORGE COELHO»

Por entre os interstícios do covid (que abafa noticiosamente quase tudo o que de mais acontece pelo Mundo), ficámos a saber que o chefe do governo holandês apresentou a sua demissão. Há uma explicação acoplada à notícia mas, quando aprofundamos o assunto porque essa explicação nos parece insuficiente, mais todo o assunto se reveste de despropósito. Vejamos: o escândalo tornou-se público há mais de dois anos em Setembro de 2018 e aplicava-se à conduta dos ministérios de um governo anterior do primeiro-ministro Mark Rutte; o ministro mais exposto, Lodewijk Asscher, não só já não faz parte do governo desde 2017, como o seu próprio partido (Trabalhista) também já não faz parte deste governo; para mais, um membro júnior do actual executivo já se demitira por causa do escândalo em Dezembro de 2019. O que terá acontecido de novo que possa justificar esta evolução será, portanto, do foro político e não do conhecimento de novos factos: foi em Dezembro de 2020, no mês passado, que a comissão parlamentar de inquérito ao escândalo concluiu o seu relatório e, na sequência da publicação do mesmo, um dos líderes de um dos partidos da oposição anunciou que iria apresentar uma moção de censura. E os outros partidos que compõem a coligação governamental dissociaram-se do de Mark Rutte (VVD). Como se estava a dois meses de eleições, o primeiro-ministro limitou-se a precipitar os acontecimentos. Na prática, nada mudará: o governo demissionário continuará em funções até lá. É inútil ir à procura de ética naquilo que não passa de uma manobra política. O que é irritante é quando se percebe perfeitamente que isso aconteceu e depois se insiste na mentira, como aconteceu em Março de 2001 com Jorge Coelho, que aproveitou a ocasião da queda da ponte de Entre-os-Rios para se demitir de um governo que se estava a esfarelar. A percepção disso ainda não chegara ao grande público quando o fez, mas, dali por seis meses, o governo que Jorge Coelho abandonara entrava em crise e tinha que ser penosamente remodelado (Guilherme Oliveira Martins ficou com a pasta das Finanças porque ninguém queria aceitar o cargo...) e três meses passados, em Dezembro de 2001, o primeiro-ministro António Guterres aproveitou umas eleições autárquicas para se demitir. Como acontece agora com Mark Rutte, Jorge Coelho foi esperto em abandonar o barco mais cedo, antes do afundamento; mas, sendo esperto, não insista em fazer de nós parvos. (Uma nota final para criticar uma vez mais aquela habilidade recorrente de Mark Rutte se fazer fotografar sempre a andar de bicicleta, sem que se vejam seguranças por perto, como se não houvesse problemas desse género na Holanda...)

COMO SE NOTICÍAM AS CERIMÓNIAS DA TOMADA DE POSSE DO PRESIDENTE DOS ESTADOS UNIDOS

20 de Janeiro de 1941, 1961 e 1981. O mosaico acima permite comparar a forma como o Diário de Lisboa noticiou as cerimónias das tomadas de posse de Franklin Roosevelt (a terceira), John Kennedy e Ronald Reagan. O espaço que lhes é dedicado é muito diferente, o destaque também, com o apogeu - primeira página e foto do empossado - a situar-se em 1961. Tal evolução pode dizer-nos algo sobre a importância e o interesse jornalístico das relações entre a Europa-América de há oitenta anos para cá, mas também nos diz necessariamente alguma coisa sobre a evolução política do próprio Diário de Lisboa.

19 janeiro 2021

...NUNCA É TARDE DEMAIS PARA JULGAR UM EX-PRIMEIRO MINISTRO

Como se pode ler pela notícia acima do Le Monde, começa hoje em Paris o julgamento do ex-primeiro-ministro Édouard Balladur e do ex-ministro da Defesa François Léotard. Os factos aconteceram já há mais de 25 anos e os dois réus comparecem em tribunal acusados de terem utilizado o dinheiro de subornos de vendas de armamento ao estrangeiro (ao Paquistão - daí o título dado ao escândalo: Affaire de Karachi) para o financiamento da campanha presidencial do primeiro dos réus, em 1995. Mais de 25 anos transcorridos, Balladur conta hoje 91 anos e Léotard é um jovem de 78. Uma súmula da história do escândalo pode ser lida (sem pagar, mas em inglês) no jornal britânico The Guardian, já que não encontrei nenhum jornal português que tivesse achado o assunto interessante a ponto de publicar a notícia. Nem o facto de se dar a coincidência de, também nós cá por Portugal, termos o ex-primeiro-ministro José Sócrates a aguardar a instrução de julgamento há mais de seis anos. E quando as acusações que sobre ele pairam também se assemelham, versando dinheiros de proveniências obscuras (embora para fins mais pessoais...). Considerando, para mais, esta sua recente tendência para se fazer lembrado, não teria sido despropositado alguém se ter lembrado de escrever um artigo evocando José Sócrates a pretexto do julgamento de Balladur, tomando, por causa dele, a referência do ano de 2036 (i.e., 25 anos depois de Sócrates ter perdido o poder em 2011) para que o seu julgamento ( o de Sócrates...) finalmente comece. Para mais porque em 2036 Sócrates ainda será, comparativamente, um jovem: terá 79 anos...

O PEDIDO DE AUDIÊNCIA AO MINISTRO

19 de Janeiro de 1971. Como se escrevia aqui há dias a propósito de alguns discursos contundentes na Assembleia Nacional, aquelas expectativas de uma dinâmica transformadora da sociedade portuguesa, que fora propiciada pela chegada de Marcello Caetano ao poder no Outono de 1968 - a denominada Primavera Marcelista - essas expectativas começavam a desaparecer. Uma das vertentes onde isso mais se fazia ver e sentir era na relação das autoridades com os estudantes universitários. Paradoxalmente, fora através deles, estudantes, e da denominada Crise Académica de 1962 que Marcello Caetano, que era então reitor da Universidade de Lisboa, adquirira uma reputação de simpatizante da abertura do regime. Mas a população estudantil de 1970-71 já era muito diferente da de 1962. E Marcello Caetano tinha outras prioridades. A (difícil) pasta da Educação fora atribuída a José Veiga Simão que, quando a notícia acima é publicada, ocupava a pasta há quase precisamente um ano. O conteúdo da notícia não é muito explícito quanto à situação (intervenção da censura?), mas o curioso nela é que, sendo o ministro a pessoa destacada pelo título, aquela a quem a delegação de estudantes pediu a audiência, ele só apareça nomeado quase no fim da notícia e, mesmo assim, não se percebe se a concederá e, se o fizer, quando é que isso acontecerá...

18 janeiro 2021

QUANDO O «GOD SAVE THE QUEEN» ERA VAIADO

Cardiff, País de Gales, 23 de Março de 1968. Durante as cerimónias preliminares do jogo de rugby que se irá disputar entre as selecções galesa e gaulesa para o tradicional Torneio da Cinco Nações, e depois da execução protocolar do hino dos visitantes (A Marselhesa), segue-se a execução do hino do país anfitrião, o «God Save the Queen» britânico. Mais do que o tradicional silêncio glacial como costumava ser acolhido o toque do hino britânico em terras galesas, tão glacial quanto a chuva picada pelo vento que soprava nesse dia, os acordes do «God Save the Queen» soaram mesclados de assobios e vaiadelas aos ouvidos de espectadores e telespectadores, já que o jogo estava a ser transmitido pela eurovisão). Um incómodo que apenas aumentou quando, a seguir ao «God Save the Queen», e para contraste com o que se passara, a banda interpreta o «hino» nacional galês «Hen Wlad Fy Nhadau» e este último é entoado em uníssono e respeito por uma grande maioria dos presentes. Para o que interessa, a França veio a ganhar dificilmente aquele jogo por 14-9, num terreno que a chuva enlameara para além do razoável, como se nota pelas camisolas dos jogadores nas imagens abaixo. Mais do que isso, a vitória da França nesta última jornada permitia que ela ganhasse o Torneio daquele ano (1968) e, pela primeira vez na história da participação da selecção gaulesa no Torneio, fazia-o ganhando todos os jogos que disputara, o ambicionado Grand Slam.  
Mas a grande lição do jogo fora política e não desportiva: não valia a pena forçar a execução do hino nacional quando dos jogos da selecção galesa de rugby, já que a consequência provável seria a de expô-lo ao ridículo, rebaixado quando em comparação com o desvelo como o hino regional era entoado. No ano seguinte, o «God Save the Queen» deixou de ser tocado quando jogava Gales e anos depois aconteceu o mesmo com a Escócia. E acabaram as vaiadelas. Um símbolo - e é isso que um hino é: um símbolo - só serve de símbolo se promover a coesão nacional. Se o não faz, é apenas uma música irritante - pelo menos, para a parte da audiência que não se reconhece no que representam aqueles acordes. No Reino Unido, há cinquenta anos, desmontou-se o problema. Pelo contrário, em Espanha, não há quem o queira perceber, aprecie-se apenas a vaiadela monumental dedicada ao hino de Espanha que ocorreu na final da Taça do Rei de 2015, disputada em Barcelona entre o clube local (catalão) e o Atlético de Bilbau (um clube basco).

A PROCLAMAÇÃO DO II REICH

18 de Janeiro de 1871. Proclamação de Guilherme I como imperador da Alemanha no palácio de Versailles, aproveitando a dinâmica da vitória contra a França. Estes gestos de consequências políticas profundas (a unificação alemã) têm que ser realizados quando há circunstâncias propícias. Por exemplo: com a pandemia, com a boa imagem que ela entretanto alcançou, e porque os ingleses estão fora da União, também seria possível nos dias que correm proclamar Angela Merkel uma coisa importante qualquer à escala europeia. Se mais não fizer, para a História, Angela Merkel conseguiu dissipar o efeito traumático dos europeus aceitarem um alemão - qualquer alemão - a conduzir os destinos da Europa, efeito esse provocado por aquele senhor de bigode de broxa...

17 janeiro 2021

AINDA A PROPÓSITO DA GUERRA DO GOLFO, UMA INVOCAÇÃO SAUDOSA D(E MAIS UMA D)AS «TRETAS» DE NUNO ROGEIRO

Ainda a propósito da madrugada televisiva que acompanhou o início da Guerra do Golfo, a invocação acaba por se tornar pretexto para regressar aos protagonistas, uns já desaparecidos (Virgílio de Carvalho), outros discretos (Manuel Menezes), os outros ainda activos e mais proeminentes, como José Rodrigues dos Santos e Nuno Rogeiro. Nem de propósito, calhou que no trecho do arquivo da RTP para onde linkei, e logo no primeiro minuto do vídeo, aparece o último dos referidos (Nuno Rogeiro) a abrilhantar-se naquilo em que a guerra o popularizará: nas referências desenvoltas aos equipamentos de combate e no conhecimento pormenorizado das suas especificidades técnicas (alcance dos mísseis, tectos de actuação dos aviões, sistemas de armamento das fragatas)... Citemo-lo numa passagem em que se refere a uns aviões de construção soviética tratando-os por tu:
«- ...e se tiver intactos alguns aviões, nomeadamente os SU-24, os Fencer, usá-los também. Eu devo lembrar que esses aviões SU-24 foram considerados há cerca de dez anos, os aviões mais perigosos que a União Soviética tinha para ameaçar a NATO, porque são aviões do tipo dos F-111, podem voar baixo e podem ser armados com misseis de longo alcance. O grande problema do Iraque é que só tem (segundo se crê) menos de dez SU-24. Mas se os tiver intactos ainda poderá fazer alguns estragos. Agora tenho a impressão que tudo o que vier a fazer a partir de agora são estragos simbólicos
O escrutínio dos trinta anos transcorridos não é nada abonatório para as avaliações de Nuno Rogeiro. À época, o SU-24 era um daqueles aviões de combate soviéticos sobre o qual se especulava imenso, conforme se comprova pelas páginas (acima e abaixo) que lhe eram dedicadas num manual publicado na época (1986), que eu ainda guardo cá em casa. Como é muito frequente naquele meio, na dúvida, atribuíam-lhe capacidades técnicas que o avião não teria. Quando ao emprego que os iraquianos deram aos 30 SU-24 que possuíam, inseri por debaixo da fotografia de Rogeiro aquilo que a Wikipedia contém a esse respeito: 24 deles foram evacuados para o Irão (que ficou com eles); outros 5 foram destruídos no solo  e só 1 último sobreviveu. Ao contrário do que Rogeiro anunciava, os SU-24 não fizeram quaisquer «estragos», nem, pior, parece ter havido sequer intenção que os fizessem, ao fugirem para o Irão... Claro que aqui se aplica como uma luva o ditado que estabelece que «em terra de cegos quem tem um olho é rei», e ele era ali insubstituível naquelas circunstâncias para aquele género de comentários, mas convém nunca se perder de vista que Nuno Rogeiro é um daqueles caolhos que esconde a cegueira parcial atrás de umas magníficas armações... 

A GUERRA DO GOLFO ATRAVÉS DA RTP

17 de Janeiro de 1991 (melhor: madrugada de 16 para 17 de Janeiro). Acompanhamento do começo da Guerra do Golfo através da RTP (que era então o único canal de televisão), com os comentários em estúdio dos jornalistas da casa, José Rodrigues dos Santos e Manuel Meneses e ainda do comandante Virgílio de Carvalho e de Nuno Rogeiro. Em breve a guerra deixaria de ser acompanhada apenas pela palavra, substituída pela imagem, espectacular, porém desprovida de substância.

16 janeiro 2021

O «ENDOSSO» DE JOSÉ SÓCRATES

Aproveitemos este instantâneo televisivo antigo de José Sócrates, mais a sua expressão desagradada para nos reavivar a memória que a simpatia que ele eventualmente granjeara junto da opinião pública - e que até lhe dera mesmo uma maioria parlamentar absoluta em 2005 - já há muito se dissipara quando veio a abandonar o poder em 2011. Agora, depois de um amplo período de nojo por causa da sua prisão e com uma insistência crescente que considero despropositada, dão novamente promoção às suas opiniões - embora num formato estúpida e estranhamente estandartizado (repare-se que acima, sete dos nove títulos de jornais diferentes sobre este mesmo assunto andam à volta das mesmas palavras: «Sócrates ataca brutalidade da extrema-direita e maledicência de Ana Gomes»). Não sei se o próprio o considerará assim ou se os jornais também, mas, vindo de alguém com a reputação de José Sócrates, uma crítica sua tende a funcionar como elogio. Nomeadamente no caso daqueles que estejam tentados a votar em Ana Gomes.

MORRER DE FRIO

16 de Janeiro de 1931. Há noventa anos morria-se de frio em Lisboa. Literalmente.

15 janeiro 2021

VINTE ANOS DE WIKIPEDIA

15 de Janeiro de 2001. Início da Wikipedia. Por ser um seu utilizador frequente, não me sinto capaz de avaliar objectivamente o impacto da sua existência nos vinte anos que hoje completa.

O AFUNDAMENTO DA TORRE «OFFSHORE» DE RADAR

15 de Janeiro de 1961. Afundamento de uma torre de radar offshore ao largo do estado americano de Nova Jérsia. Diga-se que a história deste acidente de há sessenta anos se torna mais interessante pela descrição do equipamento acidentado do que pelo próprio acidente. Na segunda metade da década de 1950 e com a agudização das ameaças soviéticas sentidas pelos americanos no quadro da Guerra Fria, o Pentágono decidiu construir um conjunto de torres com radares ao largo da costa Leste dos Estados Unidos. Estimava-se que o dispositivo permitiria ganhar cerca de 30 minutos de antecipação na eventualidade de um ataque aéreo soviético àquela que era na época, com 20% da população total, a maior concentração urbana dos Estados Unidos, uma megalópolis conhecida hoje por BosWash (que se entende de Boston à capital, Washington, passando por Nova Iorque, Filadélfia e Baltimore). A ideia parecia boa, a engenharia para a concretizar é que era todo um outro problema: uma torre de radar é tanto mais eficaz quanto mais elevada for; mas, quanto mais elevada ela for, tanto mais instável será a sua estabilidade, especialmente se a torre estiver fundeada numa zona oceânica sujeita a frequentes tempestades. Como era o caso. Em Setembro de 1960 a Texas Tower 4 (TT-4) apanhara com o furação Donna, que a deixara em estado periclitante. Tão mau estado, que se decidira a reduzir a equipa que a operava a um mínimo: 14 técnicos da Força Aérea, em vez da guarnição de 70, a que se juntavam outros 14 trabalhadores da empresa construtora, a fazer trabalhos de reparação dos danos. Mas, apesar de todos os alertas dos operadores ao longo das tempestades daquele Inverno, parecia estar fora de questão evacuar a torre, não se desse o caso de algum navio russo se aproveitasse da situação para se apoderar do material de radar que ela continha, enquanto os ocupantes a consideravam uma «ratoeira da morte». Ao fim da tarde de 15 de Janeiro de 1961 a torre emitiu um último apelo de socorro. Não houve quaisquer sobreviventes e apenas se recuperaram dois dos vinte e oito cadáveres. Houve inquéritos e sanções, mas o aspecto mais irónico da tragédia é que a evolução tecnológica já então havia tornado as torres obsoletas para o fim para o qual haviam sido concebidas: o aparecimento em 1957 do primeiro míssil intercontinental soviético (ICBM) neutralizara os 30 minutos de antecipação conseguidos pelas torres-radar. Em 1963, as restantes torres viriam a ser retiradas de serviço.

14 janeiro 2021

O DISCURSO DE SÁ CARNEIRO

Lisboa, 14 de Janeiro de 1971. Numa sessão da Assembleia Nacional que fora inicialmente concebida para decorrer a «meio gás» como era tradicional (75 deputados presentes em 130), os trabalhos foram dominados por um discurso do deputado Sá Carneiro a respeito da Concordata, discurso que ao fim da tarde já aparece destacado nas primeiras páginas de alguns vespertinos, devidamente transcrito nos trechos mais significativos e contundentes para o poder. Para que se possa transportar mais facilmente o leitor de agora para a posição do de há cinquenta anos, procedi à transcrição na íntegra da notícia acima, que, como se percebe na imagem acima, prosseguia no interior do jornal:

« A revisão da Concordata entre o Governo português e a Santa Sé foi esta tarde pedida, na Assembleia Nacional, pelo deputado Sá Carneiro, para que se ponha termo a «mal-entendidos, ambiguidades e situações injustas» «O Estado português admite o divórcio; logo deve reconhecer o respectivo direito a todos os portugueses, independentemente da fé que professem» - disse o deputado, acrescentando que, à Igreja, porque condena o divórcio, compete, no plano moral, procurar afastar dele todos os homens. Na sua intervenção, uma das mais ousadas até agora escutadas no hemiciclo de São Bento, o deputado Sá Carneiro, figura de relevo nos meios católicos do Porto, recordou o contexto em que, em 25 de Maio de 1940, o Presidente Salazar apresentou á Assembleia Nacional a Concordata: «O Presidente do Conselho afirmou expressamente o carácter anticomunista, antidemocrata, antiliberal, autoritário e intervencionista do regime» - frisou Sá Carneiro. Salientou o orador que «a existência de acordos com a Santa Sé não deriva do carácter tradicionalmente católico da Nação», pois pode, «pelo contrário emergir de conflitos a solucionar e, até, de uma certa hostilidade á Igreja», ou ainda, «da inexistência de reais liberdades fundamentais». «Em França, como em muitos outros países de população predominantemente católica, a Igreja vive saudável, pujantemente, sem concordata, enquanto acordos desse tipo em países comunistas» - salientou Sá Carneiro. Segundo o deputado, a Concordata vigente é do tipo das que visam a «regulamentação do conjunto de relações entre a Igreja e o Estado», como o são «as estabelecidas com os Estados em que, por razões da direita ou da esquerda, não se encontra assegurado o exercício efectivo das liberdades fundamentais». «No nosso caso, o acordo estabelecido em 1940 visou a regulamentação geral das relações entre a Igreja e o Estado e o saneamento de uma série de pendências anteriores, cuja solução havia sido antes tentada sem resultado; mas teve também como fim colocar a Igreja em posição excepcional pelo que se refere ao exercício de algumas liberdades» - afirmou o orador, lembrando que «no mesmo dia em que a Constituição de 1933 iniciou a sua vigência, surgem os decretos do Governo, ainda hoje em vigor, relativos á supressão de liberdade de expressão de pensamento pela Imprensa e o condicionamento estrito do direito de reunião, completados depois por toda uma legislação fortemente restritiva, e frequentemente impeditiva do exercício das liberdades enunciadas no art.º 8º nº2 da mesma Constituição». O dr. Sá Carneiro disse ainda que «se toda essa legislação referente aos direitos de expressão de pensamento, do ensino, da reunião e da associação fosse estritamente aplicada á Igreja e ao culto católico, desapareceria para os católicos a liberdade religiosa, que não tem existido para os fiéis de outras confissões». Recordando ainda, as circunstâncias e as concepções da época em que foi assinada a Concordata, o orador disse acreditar que «essas não são as concepções de hoje, nem para a Igreja, nem para o Estado», apontando as perspectivas abertas pelo Concílio Vaticano II e a atitude do próprio Governo português «especialmente ante as propostas de lei de revisão da Constituição, (...) da referente á liberdade religiosa». Por outro lado, abordando o problema do divórcio, o deputado Sá Carneiro, um dos mais proeminentes membros da ala liberal da actual Câmara, disse que «em matéria de dissolução do casamento, os portugueses estão sujeitos a uma dualidade de estatutos: há divórcio para uns, mas não o há para outros». Sublinhando que essa «dualidade» tem como fundamento «a fé que explicitaram ao adoptar a forma canónica para o seu casamento», Sá Carneiro lembrou que «podem abandonar essa fé, converter-se a outra religião, tornarem-se ateus», mas «ficarão sempre vinculados a essa opção, ficarão sempre privados de um direito que é reconhecido aos demais». O problema dos filhos dos casais nessas circunstâncias foi também evocado pelo orador, dizendo que «a desigualdade estabelecida pela actual solução, que traduz imposição civil em matéria religiosa e ingerência da Igreja em matéria civil, conduz assim, a desigualdades chocantes na vida corrente, em que casais e filhos na mesma situação de facto, são havidos como legítimos uns e ilegítimos outros».»

O texto pode ser extenso e denso pelos padrões de leitura das redes sociais de agora, mas o que eu queria que se concluísse, sucintamente e pelo que acima se lê, é que para se ser o Sá Carneiro do século XXI é preciso ter, pelo menos, uma consistência intelectual que André Ventura não tem.

13 janeiro 2021

SE OS AMERICANOS FAZEM MESMO QUESTÃO, NÓS ASSINAMOS...

13 de Janeiro de 1946. É a data da assinatura do primeiro de uma série de acordos firmados entre os nacionalistas do Kuomintang e os comunistas chineses. Tratava-se de uma trégua, negociada entre um antigo ministro dos Negócios Estrangeiros do governo nacionalista, Zhang Qun, o indispensável e incontornável Zhou Enlai pelos comunistas, e a mediação do enviado especial do presidente americano (Truman), nada mais, nada menos que o general George Marshall. No caso, a trégua permitiria que as unidades nacionalistas pudessem movimentar-se na Manchúria (onde os comunistas operavam por detrás da protecção concedida pelas tropas de ocupação soviética). Adicionalmente, as duas partes chinesas manifestavam a intenção de reduzir os seus efectivos militares até, respectivamente, 700.000 (nacionalistas) e 140.000 (comunistas) num prazo vindouro de 18 meses. Era tudo uma encenação, tão forjada e hipócrita quanto os sorrisos e o brinde que acima vemos a ser trocados entre Chiang e Mao. A insistência da América é que obrigava à farsa. Os norte-americanos não tinham - e será que já têm?... - a consciência de quais eram os limites da sua capacidade de influência, nomeadamente junto de Chiang e dos nacionalistas do Kuomintang. George Marshall chegara em Dezembro de 1945, para substituir um embaixador americano - Patrick J. Hurley - que se revelara um fiasco. Era intenção dos Estados Unidos apostar na subsistência do regime face à ameaça comunista, apoiada pela União Soviética de Estaline. O problema é que os nacionalistas queriam o apoio material dos americanos mas dispensavam o resto, a começar pelas lições de George Marshall. Que também não escondia o desprezo pelos interlocutores e pela corrupção e falta de crédito e de escrúpulos do regime nacionalista. Na América havia quem percebesse a impossibilidade da missão de Marshall, como o autor do cartoon abaixo, publicado no New York Times, onde um Marshall contempla os cacos da «nossa política para a China» ao lado de uma latas de cola. Mas isso era num jornal de Nova Iorque. Na administração de Washington ainda se irá perder três anos e 2.200.000.000 dólares para descobrir o mesmo...

12 janeiro 2021

AFINAL OS PRESIDENTES IMPORTANTES NÃO PRECISAM DE SE PÔR EM TRONCO NU PARA RECEBER VACINAS...

Há coisa de uns três meses houve um episódio ridículo associado à vacinação de Marcelo Rebelo de Sousa e à encenação do próprio para a cerimónia, qual prometedor striper para as velhotas que constituem o núcleo da audiência dos programas de TV a manhã, estrato populacional que o presidente tanto acarinha. Um tronco nu presidencial que até teve direito a editorial no dia seguinte e tudo. Contudo, e porque os assuntos não estão arrumados até o estarem, hoje conjuga-se a fotografia de Joe Biden a ser vacinado com a segunda dose da vacina contra a covid (em poses mais sóbrias!), com a notícia de que o mesmo Marcelo está infectado com o vírus. Ou então, e porque Marcelo é Marcelo, com a notícia de que Marcelo estava infectado mas afinal não está, porque já fez vários testes e uns disseram que sim e outros disseram que não, e todos sabem o quanto ele é hipocondríaco... 

A ESTREIA DE «ALL IN THE FAMILY»

12 de Janeiro de 1971. Estreia na CBS americana a comédia «All in the Family» que se tornará uma série televisiva de culto, representativa da época de Nixon nos Estados Unidos, o choque das gerações que vivera a Grande Depressão dos anos 30 versus a dos «baby-boomers». Curiosamente, e pouco sabido ainda hoje em dia, a inspiração da série viera de uma outra série, essa britânica, «Till Death Us Do Part» (1965). Claro que os protagonistas não eram precisamente os mesmos, tanto mais que os guionistas eram distintos, mas há cinquenta anos, as sociedades dos dois lados do Atlântico, especialmente no após-guerra, ainda se assemelhavam o bastante para que uma comédia de televisão de crítica social fizesse uma viagem de avião por sobre o Atlântico para vir a obter sucesso dos dois lados do Oceano. Não sei se tal ainda seria possível nos dias que correm...

11 janeiro 2021

AQUILO QUE A JS ACONSELHA, AO JEITO DAS PREVISÕES DO PROFESSOR CHIBANGA ou... O FREAMUNDE NÃO GANHA!

Segundo (mais) uma daquelas costumeiras notícias plantadas na Lusa, a Juventude Socialista resolveu aconselhar publicamente o voto aos seus militantes para as próximas presidenciais. Um primeiro comentário, em jeito de pergunta pertinente, é a de questionar a razão para que a «recomendação» fosse feita desta forma publicitada, quando um simples e-mail dirigido a cada um dos jovens camaradas teria tido o mesmo efeito, e em formato mais personalizado. O meu segundo comentário já tem a ver com o teor do «conselho»: havendo sete candidatos no total, o «conselho» da JS reduz a indecisão para três. Desconfio que a apurada análise política dos dirigentes da JS não terá contribuído para ajudar as indecisões dos seus militantes - pelos menos, os dispostos a escutar os «conselhos» e »recomendações» da direcção nacional. O episódio valerá pela oportunidade de afixar o "boneco" de Miguel Costa Matos para dizer umas trivialidades (acima, a posar na escadaria), mas, por outro lado e pelo ridículo inerente, faz-me lembrar um episódio antigo dos «Gato Fedorento» em que se questionava um bruxo, o professor Chibanga (abaixo), os seus vaticínios sobre quem ganharia o próximo campeonato de futebol: - «Porto... ou Benfica... ou Sporting... ou uma das outra equipas.» Mas, mesmo assim, excluíam-se muitas: «...as equipas da Segunda Liga não vão ganhar Superliga nenhuma: Freamunde não ganha!...». Neste caso, suponho que o Freamunde se chamará... Marcelo Rebelo de Sousa. Mas também suponho que, da direcção política da JS, se esperaria muito menos imprecisão quanto à identidade do futuro campeão nacional...

O QUE A NOTÍCIA DIZ E O QUE A NOTÍCIA NÃO DIZ - A NOTÍCIA E A VERDADE

11 de Janeiro de 1961. De Tanger, Marrocos, chega a notícia do naufrágio na noite anterior de um iate de luxo (sic) de bandeira hondurenha. Não havia notícias dos 40 passageiros (de nacionalidade israelita) nem de 2 dos 5 tripulantes da embarcação. Apreciada assim, a notícia suscita interrogações, a começar pelo facto de não se perceber o que andariam a fazer 40 passageiros israelitas num iate de luxo em pleno mês de Janeiro, às portas do Mediterrâneo, na época baixa dos cruzeiros turísticos... A notícia era estranha e a verdade, como se veio progressivamente a descobrir, era completamente outra. As discrepâncias começam logo pelo nome do navio que se afundara, que nunca se chamara «Prince», mas sim «Pisces»; porém, na altura do naufrágio, mudara o nome para «Egoz». E percebe-se porquê: o navio não era afinal nenhum iate de luxo; era um antigo draga-minas da II Guerra Mundial, com uma tripulação espanhola, alugado pelos serviços secretos de Israel para transportar clandestinamente judeus marroquinos de Marrocos para Gibraltar. A emigração para Israel dos judeus marroquinos fora proibida pelas autoridades locais depois de 1956, mas o êxodo prosseguira de forma clandestina. Esta fora a décima terceira viagem do navio, trazendo mais uma leva de 44 fugitivos (e não 40, como acima se notícia). E correra mal: o mau tempo fizera com que o navio se partisse e afundasse em pouco tempo. A verdade, substituindo a notícia, foi-se sabendo aos poucos, o capitão do Egoz, o espanhol Francisco Morilla, que fora um dos três sobreviventes, ficou preso em Marrocos. Em reacção e a partir de Israel, organizou-se uma campanha mediática internacional condoída com o destino daqueles emigrantes clandestinos judeus, criticando os marroquinos por bloquearem a emigração judaica, uma operação destinada a chamar a atenção para um dos aspectos do episódio, mas também para que se esquecesse as circunstâncias arriscadas (um navio sobrelotado em mau tempo...) em que o naufrágio ocorrera. Essas circunstâncias, as autoridades israelitas só as tornaram públicas em... 1993. Mas este é um daqueles exemplos de como há quem se apresse a fazer correr uma versão (conveniente) dos acontecimentos, e de como vale a pena, por vezes, esperar pelos desenvolvimentos das notícias para que a possamos compreender verdadeiramente. No computo final, e apesar das vicissitudes e das proibições, entre 1948 e 1967 cerca de 250.000 judeus marroquinos haviam emigrado, a grande maioria deles para Israel, onde hoje os marroquinos constituem a segunda maior comunidade de origem. Quanto à tragédia de há sessenta anos, tem-se vindo a repetir com uma regularidade inusitada - quase todos os meses. A cobertura mediática é que é outra...