25 dezembro 2020

O CONGRESSO DE TOURS

Tours, França, 25 de Dezembro de 1920. Começava (e, não por acaso, no dia de Natal) o 18º Congresso dos socialistas franceses, aqueles que constituíam a Secção França da Internacional Operária (SFIO), como então se denominava a sua organização, ainda muito impregnada do espírito internacionalista dos tempos de Marx e Engels. Esse internacionalismo doutrinário fora posto à prova em 1914, com a eclosão da Grande Guerra. A grande maioria dos socialistas franceses (e, do outro lado, alemães) apoiaram os esforços de guerra das respectivas nações, enquanto uma corrente neutral-pacifista veio quebrar a unidade das esquerdas. Outra fractura, menos teórica e mais consequente, foi a tomada do poder pelos bolcheviques na Rússia, em Novembro de 1917. Estes últimos formaram uma outra Internacional onde eram dominantes (a III), e uma das questões mais prementes do congresso que há cem anos começava era o de saber se a Secção Francesa aderiria a essa nova Internacional. Dois dirigentes franceses (Cachin e Frossard) foram enviados a Moscovo para conferenciar com os bolcheviques as condições de adesão dos socialistas franceses à III Internacional. Ainda hoje existe uma controvérsia quanto às condições formuladas pelos bolcheviques: há uma primeira versão mais soft com 9 cláusulas e depois há uma versão hard com 21 condições, mais draconianas, e com a legitimidade dos acrescentos terem sido redigidos pelo próprio Lenine. O que importa é que, quando os trabalhos se iniciam, há precisamente um século, os socialistas estão divididos em três blocos: o pró-bolchevique, o neutralista, que aceita a filiação na III Internacional mas não aceita todas as 21 cláusulas e pretende discutir as mais controversas, e o histórico, que reúne os mais proeminentes dirigentes do movimento, a começar por Léon Blum, Jules Guesde e Albert Thomas. Contudo, a maioria dos congressistas haviam sido eleitos nos meios sindicais das concentrações industriais da Grande Paris e do Norte de França e isso vai-se fazer sentir no resultado das votações das moções apresentadas: o bloco pró-bolchevique representava cerca de 3.200 votos e os outros dois, reunidos, apenas uns 1.000. As teses comunistas foram aprovadas todas, sem negociação, e as duas facções derrotadas abandonaram os trabalhos do congresso ainda antes do seu término (30 de Dezembro de 1920), para reconstituir a organização sem a tutela moscovita. Mas, para a história política da esquerda francesa, regista-se este momento único, em que os comunistas conseguiram tomar a organização histórica do socialismo francês por dentro, e com ela, também o seu jornal histórico, o L'Humanité. Isso é verdade, mas denominar o comunismo de «uma paixão francesa», não pode ser levado senão à conta de um exagero.

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