30 novembro 2010

RITA PAVONE

Rita Pavone (n. 1945) é uma cantora italiana, que alcançou o apogeu do seu sucesso logo no início da sua carreira, no começo dos anos 60. Frequentemente esquece-se que essa época do rock n’roll também teve a sua expressão na Europa continental. Neste poste associo uma das canções tranquilas de Rita Pavone (acima), que só vim a conhecer muitos anos mais tarde em A Idade da Inocência (programa da TSF dedicado às nostalgias daquele tempo), que se intitula Come Te Non C'e' Nessuno (Como Tu Não Há Ninguém)…
…com uma outra posterior, mais acelerada e que foi provavelmente o seu maior êxito musical (acima): Datemi un Martello (Dá-me um Martelo). Mas, tanto ou ainda mais que as próprias canções, a cenografia e a realização televisiva como aqui as vemos são também um estilo e uma evocação de época, onde não faltam as asneiras ingénuas, como a do programa de variedades abaixo, onde aparecem, lado a lado, o (menos de) metro e meio de Rita Pavone e a enorme Mina (1,78 mts!), uma outra popular cantora italiana de então.

29 novembro 2010

O PÓDIO

José Miguel Júdice sempre foi, desde os tempos em que fazia a página 2 d’ O Diabo, um dos mais argutos analistas políticos do nosso tempo e do nosso país. Só perdia, a meu ver, para Vasco Pulido Valente, pelo estilo e pela ironia, mas frequentemente superava-o no rigor da análise.
A opinião acima, retirada de um blogue da vizinhança, é simplesmente esplendorosa! Mais do que a identidade do seu autor (que se identifica por rui a.), o que me aguça a curiosidade é descobrir a quem ele atribuirá a Medalha de Bronze no pódio da argúcia política que ali define… Enquanto aguardamos por ela, aproveitemos para rever um vídeo com uma das actuações que terá granjeado a Medalha de Prata a José Miguel Júdice:
– (...) António Marinho Pinto – registem o que vou dizer... – vai ser o candidato presidencial da esquerda contra Cavaco Silva em 2011! Registámos: Que argúcia! Que presciência! Que visão!

ALGUMAS FOTOGRAFIAS DE FOGUEIRAS…

Uma das imagens mais fortes da barbárie é a de uma qualquer fogueira de livros. Então se forem os nazis a queimá-los – acima há uma cena do filme Indiana Jones e a Grande Cruzada – consegue-se obter a combinação perfeita para a maldade do gesto.
Contudo, há que recordar que as imagens simbólicas acima foram obtidas em 1933, há mais de 75 anos e que o regime nazi foi exterminado na Alemanha em 1945. Porém, isso não evitou que muitas outras fotografias de fogueiras bárbaras se lhe sucedessem.
Como esta acima, protagonizada por norte-americanos e datada de 1948, em que os artigos de queima são revistas de Banda Desenhada… Ou esta outra abaixo, de outros compatriotas seus e datada de 1966, onde se queimam discos dos Beatles
E, se neste último caso, era invocando a fé religiosa que se procedia àquela cerimónia¹, ao mesmo tempo e do outro lado do Mundo, era invocando uma outra fé, anti-religiosa, que os Guardas Vermelhos da Revolução Cultural chinesa queimavam os Budas…
¹ Tratava-se de uma reacção de ultraje à declaração de John Lennon que afirmara numa entrevista que os Beatles eram, na época, mais populares que Jesus.

28 novembro 2010

REFLEXÕES SOBRE POPULISMO

António Marinho Pinto foi reeleito Bastonário da Ordem dos Advogados. Que a sua vitória tem um forte conteúdo pessoal percebe-se pelo facto de, tendo ganho claramente com 46% dos votantes a sua disputa eleitoral para aquele cargo, a lista sua aliada que concorria para o Conselho Superior da Ordem acabou sendo derrotada. E o destaque dado por jornais como o Correio da Manhã a este ultimo aspecto das eleições apenas realça quão indigesta terá sido a sua reeleição junto de alguns estômagos mais sensíveis (abaixo)…
É engraçado acompanhar o percurso e a crescente projecção mediática de Marinho Pinto, quando comparado com outros vultos do corporativismo nacional, que se tornaram, como ele, presenças regulares da televisão – como Pedro Nunes (Médicos), João Palma (Magistrados do Ministério Público), João Cordeiro (Farmácias), José Manageiro (GNRs), António Martins (Juízes), Hélder Silva (Pilotos), Ferraz da Costa e Francisco Van Zeller (patrões em geral) ou Carvalho da Silva e João Proença (trabalhadores em geral).
Adoptando um estilo genuinamente populista durante as suas aparições televisivas, Marinho Pinto parece ter adquirido uma aura de simpatia junto de uma certa faixa da sociedade que excede em muito a classe profissional que representa. Para isso, produz afirmações evidentes – que o Caso Freeport era uma aberração jurídica que só se sustinha por causa da possibilidade de associação de José Sócrates ao assunto ou que a própria classe também devia punir os seus próprios escroques como João Vale e Azevedo – ou…
…engaja-se em combates televisivos contra aqueles que serão percebidos do outro lado do ecrã como poderoso(a)s e abusadore(a)s desse poder, qual Robin dos Bosques mediático (acima). Embora não exista qualquer sondagem sobre a popularidade de Marinho Pinto, parece que o estilo lhe granjeia francas simpatias, pelos menos as suficientes para o destacar dos outros protagonistas corporativos. Suponho que este resultado deva ser motivo de reflexão para aqueles que tratam da imagem dos nossos políticos de ponta.
O sucesso do populismo de Marinho Pinto é a demonstração que os mecanismos desse fenómeno vão muito para além da imagem e que ele não pode ser substituído pelas trivialidades tontas que costumamos ver associadas tanto a José Sócrates como a Passos Coelho. Em concreto, não se faz a mínima ideia onde Marinho Pinto passa as férias, se faz jogging ou prefere cantar nos seus tempos livres, se é poupado ou gastador, quais as prendas que irá dar no Natal ou se alguma vez já deixou de fumar depois de ter sido recriminado

27 novembro 2010

IDEIAS SIMPLES

Combine-se aquilo que era um dos clássicos ícones britânicos dos anos 60, o actor Laurence Olivier representando a peça Ricardo III de Shakespeare (acima) com outro ícone britânico da época, imensamente mais popular do que o anterior, só que no estilo moderno, The Beatles tocando e actuando em A Hard Day’s Night (abaixo)…

…e obteremos uma paródia genial (abaixo), em que Peter Sellers decalca o estilo do primeiro para declamar sentidamente a letra da canção dos segundos. Não se chega a perceber – e é essa a subtileza maior do quadro – se a paródia é ao estilo pomposo assumido por Olivier, se à superficialidade da letra dos Beatles, se aos dois, simultaneamente.

26 novembro 2010

GUERRAS DO SÉCULO XXI – Guerras a sério comentadas em televisões habituadas às guerras do Faz-de-conta

aqui falei mais do que por uma vez do tema e da Guerra, mas ela continua a ser muito menos comentada e analisada que a do Afeganistão – lembremo-nos da publicidade a esta última durante esta recente Cimeira da NATO em Lisboa… Contudo, a Guerra das Favelas do Rio de Janeiro é um exemplo tão ou mais flagrante quanto a outra daquilo para onde evoluíram as guerras subversivas típica do Século XXI. No seu episódio mais recente, forças governamentais da polícia e do exército brasileiro, envolvendo efectivos superiores a um batalhão, precedidas de blindados e com apoio aéreo invadiram a Vila Cruzeiro, que é uma das favelas mais subvertidas do Rio de Janeiro.

O vídeo acima, que foi feito a partir de um helicóptero da TV Globo que acompanhava em directo o assalto das forças governamentais à favela demonstra-nos uma das facetas mais peculiares das batalhas destas novas guerras: o público acompanha-a ao mesmo tempo e provavelmente com meios de observação semelhantes aos que o comandante das forças atacantes dispõem... No caso deste vídeo, observa-se um reagrupamento e uma retirada escalonada dos traficantes atacados (que um veterano esclarecido da nossa Guerra na Guiné poderia estimar num efectivo de cerca de dois bigrupos), enquanto o repórter faz considerações sobre as tácticas – literalmente – empregues...

Não sei se o repórter está a ver bem o filme que a coisa até nem se perceberá muito bem quando vista cá de cima, mas a ocasião não é de fazer de conta, no jeito de um treinador de futebol de bancada. Aquilo que andará pelo ar que faz com que aqueles traficantes caminhem curvados são munições verdadeiras, daquelas que matam. E se o plano de operações se limitava a desalojá-los era porque não os queria cercar completamente de armas na mão, incentivando-os a resistir até ao fim... E como a opção de bombardear os traficantes com napalm, feito Coronel Kilgore (I love the smell of napalm in the morning¹) do Apocalypse Now (acima) não deve ter sido autorizada, restavam poucas mais hipóteses operacionais...

¹ Adoro o cheiro do napalm pela manhã.

25 novembro 2010

25 DE NOVEMBRO SEMPRE! COMUNISMO NUNCA MAIS!

Se a data de 25 de Abril aparece frequente e justamente proclamada acompanhada dos votos de um não retorno a um certo tipo de sociedade do passado, a data de 25 de Novembro deveria ser tão frequentemente proclamada quanto a outra, só que o seria acompanhada dos votos por se ter conseguido evitar a adopção entre nós de um certo modelo social de futuro
Recorde-se, a propósito do dia de hoje e para que Não apaguem a Memória como sob esse modelo social de futuro, já depois da fase em que se cometeram mais erros, a psiquiatria era usada como um instrumento para o combate político e para abafar a dissidência, usando-se os seus diagnósticos para o internamento daqueles que se manifestassem discordantes…
Estas ilustrações que aqui se vêem são de documentos da era soviética sobre a esquizofrenia (Шизофрения). Era com esse diagnóstico, embora ele fosse classificado numa vaga categoria denominada gradualmente progressiva (categoria que era apenas reconhecida pelos psiquiatras do Leste…), que os dissidentes dos anos 60, 70 e 80 eram internados para tratamentos

24 novembro 2010

AS TRÊS UTOPIAS

Esta sobreposição da colagem dos cartazes esquecidos numa anónima parede de um dos prédios de Lisboa, tal qual ela se apresentava no Outono de 1975 podia contar, para quem a quisesse e pudesse entender, como fora a sucessão de utopias para onde Portugal se vira arrastado nos últimos dois anos. No fundo de tudo estava um cartaz já muito envelhecido e rasgado, de que apenas nos apercebemos do título – Moçambique – mas que podemos apreciar melhor na fotografia abaixo, datada do próprio dia 25 de Abril de 1974, cerca de dezoito meses antes…
Praias de Sol, Praias de Sonho. Era o que se podia ler no rodapé de uma fotografia encenadamente multirracial numa campanha de promoção ao turismo pluricontinental, enquanto os soldados do lado esquerdo da fotografia acima se preparavam para pôr fim a essa utopia… Às praias de Moçambique da nossa parede anónima, sobrepunha-se um cartaz onde se podia identificar uma cara de um velhote com uma castiça expressão popular. Era um cartaz do PCP afixado por ocasião das eleições da Assembleia Constituinte, cerca de seis meses antes...
Por nós e por ti, Vota PCP, junta a tua à nossa voz. Porém, a esmagadora maioria do povo português não juntou a sua voz à dos comunistas naquelas eleições e com isso a utopia de uma revolução socialista em Portugal também deveria ter desaparecido. Só que houve quem não o quisesse compreender assim… e as frases do cartaz seguinte já se podem ler directamente na fotografia e dizem: revolução socialista, PRP-BR, armar, armar. Estava-se no prelúdio de uma última utopia, a de quem queria usar as armas para se impor como intérprete da vontade popular...

Estava-se nas vésperas do dia 25 de Novembro de 1975...

23 novembro 2010

O TROVADOR, A CIGANA E A CERVEJA

No enredo, o Trovador que dá o título à ópera – da autoria de Guiseppe Verdi (1813-1901) – fora raptado outrora pela cigana. A cena passa-se no acampamento destes últimos e, embora a cerveja não participasse originalmente da história, o resultado final da montagem fazia com que no trecho musical (denominado o Coro dos Ferreiros - Vedi le fosche notturne) soasse apropriada a sua inclusão… Acima está a versão promocional da Carlsberg e abaixo a versão depurada de bebida…

22 novembro 2010

A REESTRUTURADA TRANSBORDANTE NATO

Encarada de uma certa perspectiva, a NATO, que foi a vencedora indiscutível da Guerra-Fria também se tornou uma das suas vítimas depois da sua conclusão. Após a Queda do Muro houve uma certo embaraço e inércia por parte dos seus países-membros em reconhecer que a sua Missão havia sido concluída com sucesso. Ao invés, os Estados Unidos que a domina, quiseram criar-lhe uma outra vida.
Isso envolveu o alargamento da organização a outros países (mais acima) e à criação de Operações de Marketing como o anúncio de um Novo Conceito Estratégico que foi recentemente aprovado em Lisboa (acima). Contudo, a coexistência de tantos interesses contraditórios faz lembrar esta nova NATO como algo saturado, tal qual a cena do camarote de Uma Noite na Ópera dos irmãos Marx (abaixo).

21 novembro 2010

LA BOHÈME – A SAUDADE DE TER SAUDADES


Je vous parle d'un temps
Que les moins de vingt ans
Ne peuvent pas connaître
Montmartre en ce temps-là
Accrochait ses lilás
Jusque sous nos fenêtres
Et si l'humble garni
Qui nous servait de nid
Ne payait pas de mine
C'est là qu'on s'est connu
Moi qui criais famine
Et toi qui posais nue

La bohème, La bohème
Ça voulait dire on est heureux
La bohème, La bohème
Nous ne mangions qu'un jour sur deux
Dans les cafés voisins
Nous étions quelques-uns
Qui attendions la gloire
Et bien que miséreux
Avec le ventre creux
Nous ne cessions d'y croire
Et quand quelques bistros
Contre un bon repas chaud
Nous prenaient une toile
Nous recitions des vers
Groupés autour du poêle
En oubliant l'hiver

La bohème, La bohème
Ça voulait dire tu es jolie
La bohème, La bohème
Et nous avions tous du génie

Souvent il m'arrivait
Devant mon chevalet
De passer des nuits blanches
Retouchant le dessin
De la ligne d'un sein
Du galbe d'une hanche
Et ce n'est qu'au matin
Qu'on s'asseyait enfin
Devant un café-crème
Epuisés mais ravis
Fallait-il que l'on s'aime
Et qu'on aime la vie

La bohème, La bohème
Ça voulait dire on a vingt ans
La bohème, La bohème
Et nous vivions de l'air du temps

Quand au hasard des jours
Je m'en vais faire un tour
A mon ancienne adresse
Je ne reconnais plus
Ni les murs, ni les rues
Qui ont vu ma jeunesse
En haut d'un escalier
Je cherche l'atelier
Don't plus rien ne subsiste
Dans son nouveau décor
Montmartre semble triste
Et les lilas sont morts

La bohème, La bohème
On était jeunes, on était fous
La bohème, La bohème
Ça ne veut plus rien dire du tout...

La Bohème tornou-se um sucesso musical pela voz de Charles Aznavour em meados da década de 60. E já então falava de um tempo que os que tinham menos de 20 anos não podiam conhecer, ou seja Aznavour, nascido em 1924, evocava naquela canção os seus tempos de juventude, tão cheios de fervor criativo quanto de dificuldades materiais (nós só comíamos dia sim, dia não). E um bom livro para descrever a Paris desses anos (1944-1949) é o que aparece abaixo, da autoria de Antony Beevor e Artemis Cooper.
Mas não deixa de ser irónico que, tratando-se de uma canção com um cunho acentuadamente nostálgico, ainda hoje ela seja escutada, já não provavelmente em evocações saudosas aos tempos que ali são descritos, que os poucos sobreviventes que os viveram directamente serão hoje, como o próprio Aznavour, mais do que octogenários, mas evocando os tempos em que a canção se tornou num sucesso musical, que foram outros tempos criativos, mas já não propriamente de penúria material …

20 novembro 2010

JOMBA, O HERÓI INCOMPREENDIDO

Esta entrevista radiofónica já tem anos e anos, circulou de um lado para o outro muito antes das redes sociais serem redes sociais. É, por isso, provável que muitos dos que lêem o blogue já a conheçam. Mas creio que sempre vale a pena recordá-la. Deixando-nos de merdas, há que reconhecer que Jomba é um dedicado funcionário municipal de Cabo Delgado (nordeste de Moçambique) a quem as autoridades provinciais entregaram uma tarefa que o ultrapassa... E para quem considere a sua tarefa ridícula, informo que ontem foi o Dia Internacional da Latrina, ocasião em que a ONG homónima pediu às pessoas que, ao meio-dia e em solidariedade, se agachassem por um minuto (abaixo).

PS: Há uma versão mais desenvolvida da entrevista de Jomba (abaixo) em que o entrevistado se alarga em outros comentários, alguns de crítica social em que realça que, associado a esse aspecto fisiológico que é comum a todos nós, haveria em Cabo Delgado uma certa diferença entre as praias dos ricos e as dos pobres...

19 novembro 2010

JAYNE MANSFIELD, UMA «MARYLIN MONROE» EXCESSIVA

Já aqui aparecera uma fotografia dela, por ocasião de um poste a respeito de olhares oblíquos, contracenando com Sophia Loren, mas Jayne Mansfield (1933-1967) merece um poste a seu respeito que seja profusamente ilustrado…
Como já aqui havia escrito a propósito da estandartização da beleza feminina (no caso, dos padrões franceses dos anos 60, inspirados em Brigitte Bardot), Jayne Mansfield é um exemplar dos padrões de beleza norte-americanos dos anos 50.
O expoente dessa época foi indiscutivelmente Marylin Monroe, mas assistiu-se naquela época à multiplicação de louras platinadas de formas acentuadas e opulentas, designadas colectivamente por bombshells, lote onde se incluía Jayne Mansfield.
Porém, Jayne não se comparava a Marylin. Podia copiá-la, adoptar o mesmo tipo de voz mas não tinha a mesmas capacidades de representação e usava a sua figura, igualmente vistosa, de uma forma ainda mais óbvia, que chegava a roçar a grosseria...
Os vestidos com decotes generosíssimos e com alças que caíam produziam essa imagem e podiam tornar-se pretexto para trocadilhos divertidos. Mickey Rooney, na situação da fotografia acima, perguntava: - Quem é que (nesta situação) quer ser (mais) alto?...
Mas também era muito fácil que o humor e as alusões à sua silhueta descambassem e que ela pudesse ser apresentada (como foi…) num programa de televisão da seguinte forma: - Senhoras e senhores, aqui estão elas, Miss Jayne Mansfield!...
Mas a fotografia de Jayne Mansfield que prefiro é esta acima, onde ela aparece a tocar violino e se fica à espera que os cães desatem a uivar, numa reacção animalesca, como nos cartoons, não ao som do instrumento mas à sensualidade ostensiva da violinista…

18 novembro 2010

O CADÁVER DE BISMARCK COMO METÁFORA DESTE PROJECTO EUROPEU

Otto von Bismarck (1815-1898) tornou-se uma das figuras incontornáveis do nacionalismo alemão e do processo de unificação da Alemanha do Século XIX. Mas também é uma figura emblemática da forma como esse nacionalismo tende a exprimir-se e a ser percebido pelos restantes povos da Europa: arrogante e inflexível! Por muito estereotipada que essa imagem seja, ela mantêm-se até hoje, e o contraste da fotografia dele de cima com a de baixo, datada de 1898 e mostrando a fragilidade de um Bismarck no seu leito de morte, prestes ou acabado de falecer, não podia ser maior nem mais actual.
Habituados como estamos, latinos e suínos¹, a demonizar desde sempre os dirigentes do outro lado do Reno, nem nos apercebemos das fragilidades políticas desses responsáveis políticos do lado de lá. Apesar dos indicadores económicos favoráveis, Ângela Merkel, o seu partido (CDU) e o seu aliado (FDP) estão com uma popularidade de 36% nas sondagens versus 59% da oposição. Mais do que fulanizar as culpas da situação actual é mais honesto reconhecer que, dos dois lados do Reno, há uma esmagadora maioria de europeus que, nas circunstâncias actuais, não estão interessados no aprofundamento deste projecto
¹ Por sermos considerados PIGS (porcos).

17 novembro 2010

TV NOSTALGIA – 55

Dois factos se conjugam para que eu faça esta evocação televisiva. Por um lado o aparecimento dos canais de televisão via satélite no final da década de oitenta que adicionavam uma meia dúzia de canais à oferta até então disponível da RTP 1 e 2. Por outro, a minha condição de pai de uma jovem criança que ainda não incorporara os ciclos semanais e para quem os sábados eram dias como outros quaisquer, o que me fez redescobrir as alegrias de saborear as manhãs de Sábado desde bem cedinho…

Com os canais da RTP ainda desligados pelas 8H30 da manhã, descobri na Sky One (acima o logótipo daquela época), um canal via satélite, uma série de Desenhos Animados que me entretinha o suficiente para aguentar a pedalada do meu filho. A série intitulava-se Inspector Gadget e, não fossem as circunstâncias que descrevi, nada teria de memorável, a não ser a voz rouca de ameaçadora do Mau, conforme se pode ouvir no final do vídeo abaixo – I´ll get you next time, Gadget! Next time…

16 novembro 2010

QUEM VÊ CARAS…

Stanley Baldwin (1867-1947) estará longe de ser considerado um dos mais notáveis Primeiros-Ministros da História do Reino Unido... Refira-se, por curiosidade, que Baldwin até desempenhou o cargo em três ocasiões distintas: de Maio de 1923 a Janeiro de 1924, de Novembro de 1924 a Junho de 1929 e, finalmente, de Junho de 1935 a Maio de 1937.
É ao período desta sua última passagem pelo cargo que estão associados os aspectos mais controversos da sua carreira política, fosse a Crise provocada pela abdicação do rei Eduardo VIII fosse, sobretudo, a continuação das políticas britânicas de apaziguamento à medida que a política externa alemã se tornava progressivamente mais agressiva.
Ao contrário de Churchill, a História veio a tornar-se implacável para Baldwin pelas suas más opções nos momentos históricos. Mas são outros aspectos da sua carreira que quero aqui destacar nomeadamente a promoção da sua imagem, de que fazia parte o seu inseparável cachimbo, então aproveitado pelos cartazes das campanhas eleitorais (acima).
Contudo, vigorassem os critérios exigentes da actualidade e a gestão da imagem de Baldwin certamente levantaria certamente dificuldades acrescidas, e para o perceber basta apreciar-se a fotogenia natural do casal Baldwin nomeadamente a que resultou concretamente da operação fotográfica promovida em sua casa em pose em frente à lareira…
Porém, invisível à vista e um pormenor esquecido, é o facto significativo de Stanley Baldwin ter doado 20% da sua fortuna pessoal em 1919 para contribuir para amortizar a dívida contraída pelo Reino Unido em consequência da Primeira Guerra Mundial… Esse gesto permanece uma incómoda referência para os salvadores das pátrias de todas as épocas…

15 novembro 2010

ALGUMAS FACES DE «OS MERCADOS»

Se por um lado, atendendo à descrição que deles faz a comunicação social, os mercados, por se movimentarem dissimulados e atacarem abarbatadores sem aviso prévio, se assemelham aos sandworms de Dune como abaixo descrevi, por outro, gramaticalmente devem ser classificados como um substantivo colectivo, e assim os mercados pertencem à mesma família de palavras como manadas, rebanhos ou cardumes ou ainda, trocando agora a perspectiva zoológica pela ideológica, os mesmos mercados situar-se-ão nos antípodas de expressões como operários e camponeses, trabalhadores, soldados e marinheiros
Contudo, de quando em vez há aqueles que se destacam do anonimato desses conjuntos como foram os casos do pequeno Nemo (acima) em relação a os cardumes ou, mais a sério, de Alexei Stakhanov (1906-1977) em relação a os trabalhadores. E o mesmo se passa com os mercados… Curiosamente, para se conseguir adquirir notoriedade em os mercados, não é importante ganhar dinheiro obscenamente – isso é o esperado e torna-se trivial. A notoriedade conquista-se perdendo obscenas quantias de dinheiro a ponto de precipitar pequenas crises financeiras. Vejamos cronologicamente alguns casos históricos:
Em primeiro lugar, o britânico Nick Leeson. Este rapaz de aspecto jovial da fotografia acima foi um funcionário do Barings Bank, um dos mais antigos bancos ingleses, fundado em 1762, e fora destacado em 1992 para trabalhar em Singapura. Contudo, em Fevereiro de 1995 e a dois dias de celebrar o seu 28º aniversário, Nick desapareceu (deixando uma nota pedindo desculpa…) pouco antes de se descobrir que criara um buraco avaliado em 1.400 milhões de dólares. Com um prejuízo dessa dimensão quem acabou por não celebrar o seu 233º aniversário foi o Barings Bank que abriu falência a 26 de Fevereiro de 1995… A fotografia de Yasuo Hamanaka, com os seus 45 anos, mostra uma pessoa muito mais séria e responsável do que o estouvado Leeson. Porém, veio-se a descobrir em Junho de 1996 que, durante os onze anos anteriores, Hamanaka havia conseguido manipular a cotação mundial do cobre em benefício da Corporação Sumitomo para quem trabalhava só que o fizera à custa de um prejuízo acumulado que escondera até àquele momento de, pelo menos, 1.800 milhões de dólares. Maltratada, ainda assim a Sumitomo sobreviveu e o episódio motivou até o futuro Nobel Paul Krugman a escrever um artigo a esse respeito. Se Leeson parece jovial e Hamanaka compenetrado, a descrição que melhor se aplica à fotografia do francês Jérôme Kerviel é um casual chique, mas simpático. Ele acabara de fazer 31 anos quando, em Janeiro de 2008, o escândalo rebentou na sociedade que o empregava: a centenária Société Générale. Fruto da década entretanto decorrida depois dos dois casos anteriores e quiçá demonstrativo da pujança da evolução de os mercados, o buraco criado por Kerviel foi equivalente ao quádruplo do cavado por Hamanaka: 7.200 milhões de dólares! Neste caso, a Société Générale também aguentou o embateDe uma forma mais sóbria que afinal os mercados são compostos por centenas de milhares de operadores e não só estes, seria preferível que a comunicação social, em vez de os demonizar ou os endeusar (como costuma fazer) ou os trate como algo autónomo possuído de uma vontade própria, desse de os mercados uma imagem mais sóbria, o somatório de indivíduos de uma banalidade comum, que formam a maioria das suas decisões a partir das mesmas ideias e imagens públicas que a todos nós são fornecidas. Como Estela Barbot (acima), conselheira económica do FMI mas opinadora de trivialidades em televisão

14 novembro 2010

«OS MERCADOS» TRANSPOSTOS PARA A FICÇÃO CIENTÍFICA

Não sei quantos ainda se lembrarão de Dune, que era originalmente uma novela de ficção científica da autoria de Frank Herbert e que se veio a tornar ainda mais popular depois da transposição da história para o cinema através de um filme homónimo realizado por David Lynch e protagonizado por Kyle MacLachlan nos anos oitenta (acima). Ora um dos aspectos mais inesquecíveis de Dune são os sandworms (vermes de areia), membros da fauna do planeta onde decorre a acção, que são uma espécie de gigantescas ameaçadoras lampreias omnívoras (abaixo), só que, em vez da água, evoluem por debaixo da areia.

É verdade que há que confessar que nunca antes os pensara como tal mas, quando mais o tempo passa e pela forma como eles são repetidamente evocados, mais me convenço que os tais sandworms bem podem passar por ser personagens metafóricas equivalentes aos mercados… Seja pela forma dissimulada como eles se movimentam debaixo da areia – haverá alguém que se preocupe quotidianamente em saber quais são as cotações do ouro, do cacau ou o Nikkei 225? – seja pela forma inesperada e portentosa como eles atacam – já que a capacidade para escapar à fatalidade das suas investidas é só mesmo para heróis!...

13 novembro 2010

QUANDO OS PIGS ERAM SCHWEINS

Conhecer aprofundadamente a História ajuda-nos muitas vezes a colocar os problemas, tantas vezes explorados empolados e adulterados por conveniências políticas, na perspectiva que, de facto, merecem. Observar um troço de 100 anos da História, ou por vezes um período ainda menor, pode permitir-nos constatar atitudes ridículas de paradoxais. Já aqui me referi a Menachem Begin, membro da organização terrorista judaica Irgun (acima) que, como Primeiro-Ministro de Israel e 30 anos passados depois do fim dessa sua actividade (1931-48), veio-se queixar da actividade terrorista palestiniana… Neste caso, pretendo fazer um pequeno resumo daquele outro tempo em que os problemas financeiros e de disciplina orçamental na Europa ainda não eram causados pelos PIGS mas antes pelos SCHWEINS

Depois do fim da Primeira Guerra Mundial há quase precisamente 92 anos (o armistício data de 11 de Novembro de 1918), um dos principais problemas da Conferência magna que teve lugar em Paris para o estabelecimento da Paz (abaixo), que culminou com a assinatura do Tratado de Versalhes, foi o cálculo das indemnizações que a Alemanha vencida teria que pagar aos países vencedores. Reuniões sucessivas de uma Comissão especialmente nomeada para as calcular, onde se misturaram processos ostensivos de humilhação da comitiva alemã (o seu lado da mesa de negociações não tinha cadeiras e assim eles tinham que permanecer de pé...) a manobras dilatórias por parte dessa mesma comitiva de negociadores alçados para que os pagamentos efectivamente realizados começassem o mais tarde possível.
Um primeiro valor, apurado pelos vencedores em meados de 1920, cifrou-se nos 350 mil milhões de marcos-ouro¹. A esse montante que lhes parecia absurdo, a equipa de economistas alemães respondeu com uns cálculos tão grosseiramente forjados do que fora pago por conta, que conseguiu pôr a sua equipa de negociadores em Paris a fazer figuras tristes diante dos seus interlocutores… O número daqueles eram uns escassos 80 mil milhões, o que levou o irónico Primeiro-Ministro britânico, David Lloyd-George(acima, à esquerda), a comentar que, àquele ritmo e melhorando os cálculos, na próxima fase de negociações já seriam os alemães a exigir que lhes pagassem… Mais a sério, o montante da dívida acabou por ser estabelecido em Maio de 1921 nuns 138 mil milhões de marcos-ouro, sensivelmente o PIB alemão em 1914.

A pagar em prestações de uns 6 mil milhões por ano, contando com os juros que entretanto se acumulariam, o plano de pagamentos antecipava que a última prestação da dívida seria paga em 1983. O problema é que as autoridades financeiras alemãs nunca acreditaram que pudessem cumprir esse calendário e nem sequer se esforçaram seriamente por o fazer. Os governos da Alemanha do início da década de 1920 consideravam ter muito mais que fazer do que preocupar-se com rigores orçamentais. A época era de despesas acrescidas, desde as pensões às viúvas de guerra, às compensações e apoios para aqueles que haviam sido expulsos e expropriados dos territórios perdidos pela Alemanha, às despesas sociais, como subsídios de desemprego e de saúde, aos operários reivindicativos, etc.
Não havendo receitas fiscais para cobrir as despesas o Reichsbank passou a emitir cada vez mais papel-moeda. Em 1914, o dólar norte-americano (US$) equivalia a 4,2 marcos. Em 1920, já depois do fim da Guerra e do consequente desequilíbrio monetário provocado pelo seu financiamento, a relação passara a ser de 65 marcos por 1 US$. Curiosamente, durante os 18 meses seguintes, os mercados (como agora se designam os movimentos especulativos) apostaram na famosa reputação da disciplina e organização germânica e terão injectado quase o equivalente a 20 mil milhões de marcos-ouro na economia alemã, apostando em futuros ganhos cambiais do marco em relação às outras divisas e o ritmo de desvalorização da moeda alemã até se reduziu substancialmente.

Porém, estando fundamentada numa expectativa que cada vez mais tardava em se concretizar, bastaram alguns incidente triviais – num deles, os alemães falharam uma entrega de uma encomenda de cem mil postes telefónicos e os franceses, em retaliação, invadiram parcialmente a Alemanha e ocuparam parte da Renânia – para que os mercados entrassem em pânico e começassem a retirar os capitais anteriormente injectados na economia alemã. Foi o descalabro e o ritmo da inflação tornou-se algo de indescritível. Por essa altura, havia 39 fábricas de papel e 1782 máquinas em 133 tipografias que se dedicavam exclusivamente à produção de papel-moeda. Em princípios de 1922 o US$ valia 190 marcos mas multiplicara-se 40X em Dezembro - para 7600 marcos por US$.
Depois disso, os números deixaram de fazer sentido. Em meados de Agosto de 1923 o US$ valia 600 mil marcos (80X) e em princípios de Novembro desse mesmo ano 600 mil milhões (1000000X)!! A economia alemã deixara de ser monetária, o dinheiro passara a ser uns maços de papel – como se observa pela fotografia mais acima – que se trocavam por qualquer coisa que não se desvalorizasse de um dia para o outro. Ainda hoje é controverso responder porque é que os responsáveis políticos alemães de então conjuntamente com os responsáveis financeiros, nomeadamente o então presidente do Reichsbank Rudolf Havenstein (acima), deixaram que a situação se arrastasse até àquele limite absurdo. A resposta mais plausível é que ninguém quis assumir o preço da austeridade!...

Aos olhos da opinião pública alemã, a questão da redução do deficit orçamental nas suas finanças públicas estava profundamente associada à questão do pagamento das reparações dos seus antigos inimigos e naquele clima político ninguém quisera assumir a responsabilidade da necessidade de uma muito maior austeridade orçamental e de uma reestruturação financeira até que se chegou ao apocalipse financeiro de Novembro de 1923. Ou seja, na sua essência, e apesar da evolução que o sistema financeiro internacional entretanto sofreu nos últimos 90 anos, trata-se de uma situação que se equivale muito à que atravessam hoje os países periféricos da União Europeia alcunhados de PIGS. Como se vê, a Alemanha tem um passado que, havendo moral, não a recomendava para exigências. Mas a moral nada tem a ver com isto...


¹ A divisa em que se calculou a indemnização (marco-ouro) estava indexada a um determinado valor de ouro para que a inflação - como se verá com a continuição do poste - não a viesse a reduzir.