I've seen horrors... horrors that you've seen. But you have no right to call me a murderer. You have a right to kill me. You have a right to do that... but you have no right to judge me*.
Coronel Kurtz, Apocalypse Now
Numa altura em que as forças armadas israelitas procedem às detenções de mais alguns parlamentares palestinianos pertencentes ao Hamas, justificadas porque são dirigentes de uma organização terrorista e quando os apoiantes ideológicos de Israel espalhados pelo mundo se dedicam a escalpelizar detalhadamente as aberrações constantes do programa do mesmo Hamas para justificar as acções israelitas, penso valer a pena regressar ao passado e aos anos que precederam a fundação de Israel e evocar o Irgun.
O Irgun foi uma organização terrorista judaica - pode-se até consultar o seu site oficial (em inglês) – que desenvolveu as suas actividades entre 1931 e 1948, fundamentalmente contra os árabes, mas também contra os britânicos, que eram naquela altura a potência administrante da Palestina. Foram os britânicos, de resto, os responsáveis pela classificação do Irgun como uma organização terrorista, atributo que não era aliás um exclusivo seu: também havia o Haganah, maior, mais moderado e percursor da actual FDI (forças armadas) israelita ou o Lehi, no extremo do espectro, ainda mais radical que o Irgun.
Quanto aos propósitos e à ideologia da referida organização penso ser um bom esforço de sintetização o cartaz da época que elegi para ilustrar este post. Nele se pode ver como as suas ambições territoriais englobavam não só toda a Palestina como também toda a Transjordânia (actual Jordânia). Sabendo-se as características religiosas do estado que pretendiam fundar – e que foi efectivamente fundado em 1948 – deixo à especulação do leitor o destino que o Irgun preconizaria para as populações árabes residentes na região…
O dirigente de maior nomeada do Irgun foi Menachen Begin. A ele se deve o rapto de dois sargentos britânicos - este episódio soa-nos vagamente familiar, não soa? - quando, recusando reconhecer a soberania dos tribunais britânicos que estavam a julgar – e a executar - membros seus por actos de terrorismo, o Irgun, em retaliação, veio a executar os seus dois reféns… Outras acções são-lhe atribuidas até à constituição do estado de Israel em 1948, quando o seu braço militar veio a ser absorvido nas forças armadas israelitas e o seu braço político veio a constituir o grupo mais importante da ala direita do novo estado.
Coronel Kurtz, Apocalypse Now
Numa altura em que as forças armadas israelitas procedem às detenções de mais alguns parlamentares palestinianos pertencentes ao Hamas, justificadas porque são dirigentes de uma organização terrorista e quando os apoiantes ideológicos de Israel espalhados pelo mundo se dedicam a escalpelizar detalhadamente as aberrações constantes do programa do mesmo Hamas para justificar as acções israelitas, penso valer a pena regressar ao passado e aos anos que precederam a fundação de Israel e evocar o Irgun.
O Irgun foi uma organização terrorista judaica - pode-se até consultar o seu site oficial (em inglês) – que desenvolveu as suas actividades entre 1931 e 1948, fundamentalmente contra os árabes, mas também contra os britânicos, que eram naquela altura a potência administrante da Palestina. Foram os britânicos, de resto, os responsáveis pela classificação do Irgun como uma organização terrorista, atributo que não era aliás um exclusivo seu: também havia o Haganah, maior, mais moderado e percursor da actual FDI (forças armadas) israelita ou o Lehi, no extremo do espectro, ainda mais radical que o Irgun.
Quanto aos propósitos e à ideologia da referida organização penso ser um bom esforço de sintetização o cartaz da época que elegi para ilustrar este post. Nele se pode ver como as suas ambições territoriais englobavam não só toda a Palestina como também toda a Transjordânia (actual Jordânia). Sabendo-se as características religiosas do estado que pretendiam fundar – e que foi efectivamente fundado em 1948 – deixo à especulação do leitor o destino que o Irgun preconizaria para as populações árabes residentes na região…
O dirigente de maior nomeada do Irgun foi Menachen Begin. A ele se deve o rapto de dois sargentos britânicos - este episódio soa-nos vagamente familiar, não soa? - quando, recusando reconhecer a soberania dos tribunais britânicos que estavam a julgar – e a executar - membros seus por actos de terrorismo, o Irgun, em retaliação, veio a executar os seus dois reféns… Outras acções são-lhe atribuidas até à constituição do estado de Israel em 1948, quando o seu braço militar veio a ser absorvido nas forças armadas israelitas e o seu braço político veio a constituir o grupo mais importante da ala direita do novo estado.
Três décadas depois, o outrora clandestino e implacável Begin era o primeiro-ministro de Israel, preparava-se para assinar um tratado de paz com o Egipto e para receber, em consequência disso, o Prémio Nobel da Paz (1978)… Pelos vistos, com Begin, ficou demonstrado que, alterando as circunstâncias políticas, até um ex-terrorista se pode converter numa pessoa civilizada. Os israelitas é que não quiseram dar a mesma oportunidade aos dois co-fundadores do Hamas - o Xeque Ahmed Yassim (1937-2004) e Abdel Azziz al-Rantissi (1947-2004) - para que se pudesse, futuramente, comprovar essa mesma teoria...
Tenho-me tentado distanciar e denunciar o fervor futebolístico com que estão a ser tratados, ultimamente, os assuntos do Médio Oriente. Sobre a situação actualmente existente tenho muito mais dúvidas que certezas. Mas entre estas últimas conta-se a de que naquela região, nenhum dos actores tem moral para a andar a pregar aos outros…Os defensores ideológicos de cada uma das partes só se expõem ao ridículo quando invocam a moral, sendo ela descaradamente apenas instrumental na guerra feroz que ali se trava.
Quanto a moral e segundo parece, o último que, naquela região, a tinha e achava que a podia pregar aos outros, acabou pregado numa cruz e consta para aí que até reapareceu ao terceiro dia, mas apenas de passagem porque, segundo as escrituras, foi-se logo embora...
*Tenho visto horrores… horrores que estão à vista. Mas não têm direito de me chamar assassino. Têm direito a matar-me. Têm direito a isso… mas não têm direito a julgar-me.
*Tenho visto horrores… horrores que estão à vista. Mas não têm direito de me chamar assassino. Têm direito a matar-me. Têm direito a isso… mas não têm direito a julgar-me.
"Sic transit memoria"... e, como se pode imaginar, o latim não tem nada a ver com o canal de Carnaxide!!!
ResponderEliminarAliás, a tradução de "haganah" é "defesa", uma causa inquestionável.
E quem foi que disse que a melhor defesa é o ataque?
Pois, também houve uma bomba colocada num hotel cheio de militares britânicos... e não foi o IRA...
ResponderEliminarMas pergunte-se ao José Manuel Fernandes o que acha disto, e ele certamente assobiará para o ar, à espera de instruções da Embaixada de Israel...
E foi uma operação conjunta Irgun/Haganah que provocou, segundo consta, 91 mortos, entre os quais até estavam uns militares britânicos...
ResponderEliminarNa minha opinião, o maior problema do ataque bombista do Irgun ao Hotel King David em Jerusalém em 1946 é que ele tem sido regular e repetidamente invocado pelos simpatizantes da facção palestiniana para amenizar o impacto dos atentados bombistas oriundos desse lado.
ResponderEliminarÉ um incidente que é uma aberração em si, que não deve servir de alibi para outras e que foi e tem sido, aliás, um desastre em termos de imagem da causa sionista e sujeito a um esforço intenso de revisionismo para o "limpar": já não se percebe muito bem quem ordenou o atentado, se o Irgun, se o Haganah, afinal os terroristas tinham alertado para a presença das bombas, os britânicos é que não ligaram nenhuma, etc.
E, concordo com o nosso anónimo em fazer uma pergunta ao José Manuel Fernandes, mas mais concreta: de que forma é que ele enquadra este atentado na - segundo a sua versão - luta de vanguarda que os israelitas estão a travar em nome do ocidente?
Ou naquela altura o movimento sionista ainda não era amigo do ocidente e só foi depois? Ou nunca foi amigo do ocidente?
Caro A. Teixeira:
ResponderEliminarNessa altura, o Estado de Israel era apoiado pelo Estaline e sus muchachos, pelo que dificilmente seria um baluarte do Ocidente...
Mas o José Manuel Fernandes explicará facilmente que se tratam de erros de juventude - não foi ele maoista (ou marxista) na sua tenra idade? O tempo tudo perdoa, para certas cabecinhas pensadoras...
Caro Anónimo:
ResponderEliminarAgradeço-lhe o seu esclarecimento, talvez se ele fosse enviado a JMF lhe provocasse alguma pausa reflexiva para moderar a paixão que põe nas suas análises.
Suspeito que não, mas afinal, embora altamente qualificado, é preciso não esquecer que JMF é "apenas" um jornalista generalista, dedicadamente engajado a uma causa... Note-se que considero que o jornal de JMF tem um excelente jornalista especializado nestes temas, na pessoa de Jorge Almeida Fernandes.
Sou muito mais crítico em relação a quem não é "apenas" jornalista de generalidades e tem obrigação de ser mais profundo nas análises que faz como José Pacheco Pereira e Miguel Monjardino, que critiquei num destes posts.
Eles sabem (devem saber) que os líderes israelitas sempre demonstraram que o nascimento, a existência e a sobrevivência do Estado de Israel é, para eles, o valor supremo. Se se tinham de aliar com Staline, aliaram-se; se se tiverem de aliar com o Diabo, aliam-se.
Toda esta conversa de cultura ocidental é apenas instrumental e pessoas com a lucidez das supracitadas tinham obrigação de sabê-lo...
ATx