05 agosto 2006

A COCA-COLA NA LUA

Correndo o risco de insistência em excesso no mesmo tema, volto ao do meu cepticismo sobre a eficiência de qualquer força de interposição que venha a ser destacada para o Líbano – mesmo quando possuindo todos os atributos ali publicados e aqui bem sintetizados – se não houver, na prática, vontade intrínseca das duas partes numa solução pacífica.

Aliás, lendo com atenção os objectivos propostos pelo articulista do Wall Street Journal (WSJ), mais parece tratar-se de uma força destacada ao serviço de Israel (desarmando o Hezbollah mas persuadindo Israel a retirar, por exemplo) e não propriamente da ONU. Mais adiante, quando se fala da capacidade para aceitar baixas severas é quase do domínio do hagiográfico… E, no que diz respeito a efectivos (25.000) e da sua qualidade (NATO) arriscamo-nos a cair no domínio do onírico...

Tanto rigor teórico acompanhado de uma preocupação tão escassa com as realidades faz lembrar a história do reputado consultor de Marketing que, contratado pela Coca-Cola Company, lhes propôs que, sendo uma marca com uma verdadeira imagem mundial, deviam fazer uma campanha baseada num gigantesco anúncio luminoso colocado na Lua…

Só que, quando lhe perguntaram como isso podia ser feito, respondeu que isso já ultrapassava a sua função de consultor de Marketing… Também aqui, ao distinto articulista do WSJ parecem ultrapassar as respostas aos problemas de que países estão dispostos a participar, destes, quais são os aceites pelas partes, quem pagará os custos de um grande contingente e, sobretudo, quem é que estará disposto a aceitar baixas severas…

Nos seus comentários finais, que me parecem incontroversos, o articulista conclui que quaisquer esforços, quando excessivamente moderados na aparência de que se está a fazer qualquer coisa, acabam por se tornar mais lesivos do que não fazer nada. Estava a referir-se às forças de manutenção de paz, mas podia referir-se também ao cerne da questão: às forças que têm de negociar a paz.

1 comentário:

  1. Uma força de paz dá que pensar! Consegue-se a paz à força? Qualquer contingente internacional, designado para servir de tampão, não deixará de ser um alvo preferencial para qualquer dos lados...
    Convém que o contingente seja elevado: as baixas vão ser muitas!

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