02 agosto 2006

ZBIGNIEW BRZEZINSKI

Como é natural, devido às circunstâncias, tem-se estado a escrever imenso sobre os conflitos no Médio Oriente. Descontando aquilo que, de um lado e doutro, é tão radicalmente faccioso que chega a ser desonesto intelectualmente e nem pode por isso ser levado a sério, tenho lido aqui e ali textos bem conseguidos sobre o tema, embora possam ser discordantes entre si e com aquilo que penso. De saudar, o reequilíbrio alcançado pelo Público na sua cobertura noticiosa do tema.

Tirando um texto alertando para o registo histórico de Israel malbaratar as vantagens obtidas no terreno quando se senta à mesa das negociações, com a sua atitude que a cultura portuguesa designa – passe a ironia – pela de dar um chouriço à troca de um porco, não houve qualquer outro aspecto no conflito a que pretendesse dar relevo, nem me deparei com qualquer análise a que pretendesse fazer o mesmo.

Mas ocorreu-me dar o devido realce a uma pequena entrevista de Zbigniew Brzezinski sobre o mesmo tópico. Além de ter um nome verdadeiramente impronunciável (é de origem polaca), Brzezinski foi conselheiro de segurança nacional do presidente norte-americano Jimmy Carter (1977-1981). Considerado como um falcão, a sua nomeação deve ter sido o resultado dos jogos de equilíbrios de uma administração democrata considerada na época como demasiado branda.

Na pequena entrevista (acessível aqui), Brzezinski mostra-se terrivelmente critico para a forma como a administração Bush – executantes e mentores – tem conduzido a politica externa naquela região, proclamando como dogma a associabilidade dos vários conflitos da região até conseguirem tornar isso realidade. Actualmente, parece que o iraquiano e o iraniano (que mostravam tendências a enredar-se) já estão misturados com o israelo-palestiniano, num gigantesco novelo.

Há muitos anos, em terras próximas, diz a lenda que Alexandre Magno cortou o enorme nó górdio com uma espadeirada. Antes que nos Estados Unidos se dê em ter mais ideias marialvas, relembrem-lhes quem foi Alexandre e que as lendas nem sempre são rigorosas. Apesar das aparências, no fim, os israelitas até poderiam agradecer, uma vez que o enfraquecimento da posição dos Estados Unidos se reflecte também no enfraquecimento do apoio que eles podem propiciar a Israel.

Entretanto, talvez fosse interessante que os Estados Unidos fossem seguindo alguns conselhos que Brzezinski propõe na referida entrevista, hierarquizando prioridades, retirando importância imediata ao problema nuclear iraniano, evitando alargar ainda mais a coligação dos que se lhe opõem…

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