Há uns cinquenta anos, também nas bordas do Mediterrâneo e próximo de Israel, mas num outro continente, também havia uma outra comunidade que lutava pela sua existência, sentindo-se também progressivamente cada vez mais isolada: os colonos francófonos da Argélia, de que uma apreciável percentagem nem era de origem francesa, e que eram tratados depreciativamente pelos seus compatriotas franceses metropolitanos por pieds-noirs (literalmente, os pés negros).
Muito embora exista uma flagrante semelhança na situação estratégica entre as duas comunidades, há muitos outros factores que as distinguem como as dimensões demográficas dos dois grupos (um milhão de pieds-noirs para cinco milhões de israelitas judeus na actualidade), os apoios externos de que gozavam (a metrópole francesa versus a superpotência americana) ou a autonomia política formal da comunidade (muito restrita no primeiro caso, total no segundo).
Vale contudo a pena evocar a comparação porque, embora muito mais pequena, a comunidade dos pieds-noirs atingia, mesmo assim, uma massa crítica suficiente para, no quadro político interno francês, ser um agente com a força necessária para condicionar qualquer solução futura para o conflito, a ponto de se ter derrubado o regime da metrópole (IV República Francesa) por causa do problema argelino. E, naquela época, ideologicamente, também se dizia que defender a Argélia Francesa era defender o ocidente e a civilização ocidental em terras africanas.
Ficará para outra altura a análise da gigantesca pirueta política que permitiu ao General de Gaulle chegar ao poder (1958) como um paladino da tal Argélia Francesa, que visitou e onde, num famoso discurso, proclamou ter compreendido os seus habitantes (os pieds-noirs...), para depois acabar a patrocinar as negociações com os nacionalistas da FLN* que culminaram com a independência da Argélia em 1962 e o êxodo de toda a comunidade pied-noir da Argélia.
Evidentemente, são sempre escassas as probabilidades da História se repetir. Israel é uma potência nuclear que não pode ser descartada com a mesma facilidade com que os pieds-noirs o foram outrora. Mas é sempre engraçado evocar as suas ironias: na Argélia dos anos 50 era a França a promover a defesa da comunidade ameaçada enquanto os Estados Unidos assumiam uma posição ambígua; actualmente são estes os grandes defensores de Israel enquanto a França aparece a jogar por fora…
Percebo que pessoas a quem falta lastro de conhecimento histórico e o procurem sublimar em empenhamento ideológico se deixem iludir pelo discurso israelita do papel da defesa avançada da cultura ocidental protagonizado pelo seu país. É bem menos aceitável que outros, que procuram conferir, e de quem por isso é de exigir, mais seriedade ao pensamento produzido utilizem esses mesmos argumentos. Afinal, quantos ainda se lembram da grande derrota do Ocidente ocorrida em 1962?
Muito embora exista uma flagrante semelhança na situação estratégica entre as duas comunidades, há muitos outros factores que as distinguem como as dimensões demográficas dos dois grupos (um milhão de pieds-noirs para cinco milhões de israelitas judeus na actualidade), os apoios externos de que gozavam (a metrópole francesa versus a superpotência americana) ou a autonomia política formal da comunidade (muito restrita no primeiro caso, total no segundo).
Vale contudo a pena evocar a comparação porque, embora muito mais pequena, a comunidade dos pieds-noirs atingia, mesmo assim, uma massa crítica suficiente para, no quadro político interno francês, ser um agente com a força necessária para condicionar qualquer solução futura para o conflito, a ponto de se ter derrubado o regime da metrópole (IV República Francesa) por causa do problema argelino. E, naquela época, ideologicamente, também se dizia que defender a Argélia Francesa era defender o ocidente e a civilização ocidental em terras africanas.
Ficará para outra altura a análise da gigantesca pirueta política que permitiu ao General de Gaulle chegar ao poder (1958) como um paladino da tal Argélia Francesa, que visitou e onde, num famoso discurso, proclamou ter compreendido os seus habitantes (os pieds-noirs...), para depois acabar a patrocinar as negociações com os nacionalistas da FLN* que culminaram com a independência da Argélia em 1962 e o êxodo de toda a comunidade pied-noir da Argélia.
Evidentemente, são sempre escassas as probabilidades da História se repetir. Israel é uma potência nuclear que não pode ser descartada com a mesma facilidade com que os pieds-noirs o foram outrora. Mas é sempre engraçado evocar as suas ironias: na Argélia dos anos 50 era a França a promover a defesa da comunidade ameaçada enquanto os Estados Unidos assumiam uma posição ambígua; actualmente são estes os grandes defensores de Israel enquanto a França aparece a jogar por fora…
Percebo que pessoas a quem falta lastro de conhecimento histórico e o procurem sublimar em empenhamento ideológico se deixem iludir pelo discurso israelita do papel da defesa avançada da cultura ocidental protagonizado pelo seu país. É bem menos aceitável que outros, que procuram conferir, e de quem por isso é de exigir, mais seriedade ao pensamento produzido utilizem esses mesmos argumentos. Afinal, quantos ainda se lembram da grande derrota do Ocidente ocorrida em 1962?
* FLN: Frente de Libertação Nacional, organização política agrupando oa argelinos árabes e berberes de religião muçulmana.
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