16 agosto 2006

A GRANDE HISTÓRIA DE UMA PEQUENA ILHA

Serão muito poucos aqueles a quem o nome Nauru poderá dizer alguma coisa. Trata-se de um país, daqueles mesmo remotos, fadados para as perguntas difíceis de geografia dos concursos de televisão, situado do outro lado do Mundo, no Oceano Pacífico, a 40 km do Equador, com 13.000 habitantes e 21 km2, tão pequeno que consegue caber inteiro numa fotografia aérea.

Embora a população residente seja de ascendência micronésia e polinésia que colonizou a ilha há uns 3.000 anos, não se sabe quem, nem quando, os primeiros europeus a terão visitado pela primeira vez. Possivelmente poderão ter sido navegadores espanhóis no século XVI o explorarem as ligações no Oceano Pacífico entre as suas possessões americanas (México e Peru) e as Filipinas.

Mas o primeiro registo da ilha é de 1798 e de um navegador inglês. Contudo, a ilha permaneceu politicamente sob uma vaga suserania espanhola (muito mais teórica que prática) conjuntamente com outros arquipélagos da Micronésia (como as Carolinas e as Marianas) cujos direitos vieram a ser vendidos em 1888 pela Espanha à Alemanha que, no mesmo espírito da Conferência de Berlim, procedeu à ocupação efectiva das ilhas.

Mesmo sob domínio alemão, em 1906 foram sociedades britânicas que iniciaram a extracção e exportação de fosfatos – matéria-prima para a produção de fertilizantes – de que a ilha continha uma das maiores jazidas conhecidas do Mundo, à época. Por causa disso, e da conveniência dessa matéria-prima para a agricultura australiana e neozelandesa a ilha foi logo ocupada em Novembro de 1914 pelos australianos.

No fim da 1ª Guerra Mundial, ao contrário das restantes ilhas da Micronésia, que passaram da tutela alemã para a japonesa, Nauru ficou sob a administração conjunta do Reino Unido, da Austrália e da Nova Zelândia. Ocupada pelos japoneses em Agosto de 1942, por ocasião da 2ª Guerra Mundial, a ilha veio a ser libertada, regressando ao mesmo estatuto em Setembro de 1945.

No pós-guerra, a prosperidade crescente da ilha combinada com as lacunas de mão-de-obra causadas pela ocupação japonesa, levou à sua importação das ilhas vizinhas que se veio a traduzir numa alteração da composição da população de Nauru até à actualidade: só um pouco mais de metade da população da ilha (58%) é de ascendência nauruana, 26% descendem desses imigrantes e o restante é de ascendência europeia e asiática.

Sendo 90% da ilha uma mina de fosfato, em meados dos anos 60 Nauru parecia um emirato do petróleo, só que em vez de ter petróleo tinha fosfatos. Na época, era o 5º maior produtor mundial, com 1,8 milhões de toneladas, o rendimento per capita de uma população exígua (6.000 habitantes) era superior ao das potências administrantes que reconheceram que a comunidade tinha potencialidade para alcançar a independência.

Nauru tornou-se independente em 31 de Janeiro de 1968. Não havia impostos no novo país. Constitui-se um gigantesco fundo financeiro para acautelar o futuro da nação, quando se atingisse a fase de esgotamento das minas, prevista para dali a uns 30 anos e o país tornou-se conhecido pela sua pequenez e pelos seus problemas de saúde pública: 90% da população adulta é obesa e mais de 40% tem diabetes.

Nos anos 90, ao aproximar-se o fim do ciclo da exploração do fosfato (que durou quase um século), descobriu-se que, devido a corrupção e a má gestão, os incontáveis milhares de milhões dos fundos, gerados por anos consecutivos de exportação de fosfatos, se haviam esfumado. A possibilidade de recorrer à mesma fonte de outrora já é pequena: Nauru produz agora 487.000 toneladas por ano (2000) e é o 21º produtor mundial.

Mas o esgotamento das minas está agora calculado para 2008. A imaginação dos nauruanos tem-nos levado a inventar expedientes para aumentar as receitas do país: um paraíso fiscal que tem atraído o dinheiro da Máfia russa, um depósito dos imigrantes ilegais que a Austrália rejeita, mas que se dispõe a sustentar enquanto lhes arranja um outro destino. O desemprego é endémico e o estado é o empregador de quase todos os que restam.

Eloquente! Um exemplo de onde os vários pequenos países produtores de petróleo do Golfo Pérsico estarão a retirar os seus ensinamentos...

1 comentário:

  1. Os países do Golfo Pérsico nunca terão esses problemas! Quando acabar o petróleo continuarão a existir camelos que lhes vão comprar areia (à comissão!) para aumentar as praias!
    Só tenho pena de não viver o suficiente para ver os batelões arábicos no Algarve!!!

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