25 agosto 2006

O FILHO DA MONTANHA

Suponho que será sempre um esforço baldado que se preconize modéstia e contenção aos dirigentes franceses. Estar-lhes-á na massa do sangue, mas, apesar de me considerar um latino, tenho tendência a compartilhar com anglo-saxónicos e germânicos o desdém para com as atitudes grandiloquentes mas inconsequentes que volta e meia caracterizam a política francesa.

São os primeiros que costumam usar uma expressão idiomática – adicionar o insulto à injúria – que pode muito bem ser adaptada para comentar a prestação protagonizada ontem por Jacques Chirac na televisão. Não bastando passar por toda aquela vergonha, o governo francês ainda pretendeu insultar a opinião pública mundial, tentando dar um cunho de grandioso a um episódio em que se devia estar a desculpar.

Afinal, a França não impediu que se falasse de uma força de interposição rápida e robusta sob o seu comando no Líbano, para a qual contribuiria com 5.000 efectivos... Depois, escutando o discurso do presidente francês ontem, conclui-se que os 5.000 se reduziram a 2.000 e que a rapidez aplicar-se-á a… 200 deles. E pelos vistos, a questão do comando da força, falta de qualquer vergonha na cara e da falha de alternativas à excepção da italiana, fica em aberto…

A França republicana na sua história recente já ouviu os seus dirigentes proferir discursos penosos e de mau presságio (É com o coração despedaçado que informo que se deve pôr termo ao combate…*) e mesmo grandes aldrabices (Compreendi-vos!**). Não será, por isso, pela falta de qualidade e sinceridade dos seus discursos que Chirac terá caído no descrédito em que caiu.

Mas, quem quer que manifeste o seu desconforto pelo actual inquilino da Casa Branca, tem, em consciência, que manifestar um desconforto parecido com este ocupante do Eliseu…

* Discurso proferido por Pétain em Junho de 1940, antecipando a necessidade de assinar um armistício com a Alemanha. Depois da sua assinatura, Pétain viria a encabeçar o chamado Regime de Vichy, colaborante com a Alemanha.

** Discurso proferido por de Gaulle em 1958 em Argel, diante da multidão que se manifestava pela manutenção da Argélia francesa. A partir de 1960, de Gaulle deu início às negociações que culminariam com a independência da Argélia em 1962.

1 comentário:

  1. Há muito tempo que a credibilidade de Chirac anda pelas ruas da amargura! Seria bom que se recandidatasse para perceber... Parece-me que ninguém lhe faz um desenho, para lhe explicar!

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