20 agosto 2006

PONTO DE VISTA

Dizem os ditados antigos que mais vale cair em graça do que ser engraçado. Mas, porque o ditado é antigo, precisa da actualização das novas tecnologias, onde o cair em graça é substituído pelo aparecer na televisão. Ontem dediquei um post a um texto deplorável da autoria de alguém com muita notoriedade e que costuma aparecer na televisão.

Hoje quero dedicar este post a um texto formidável da autoria de alguém com pouca notoriedade e que não me recordo de aparecer na televisão: Jorge Almeida Fernandes, jornalista do Público, que assina hoje (dia 20) uma excelente análise sobre o debate que se está a travar actualmente em Israel (p. 23) (link não disponível) na sequência das tréguas e do impasse alcançado no Líbano.

Julgo ser perceptível uma certa inclinação do autor por Israel, mas isso até parece ser utilizado em benefício da análise que é feita, uma vez que se consegue encontrar um certo grau de empatia sua com os dilemas com que os israelitas se defrontam (tenho as mais sérias dúvidas que o autor pudesse escrever uma análise assim tão íntima em relação às perspectivas da parte contrária...).

É também um exemplo concreto de como a eventual simpatia por uma das partes não se revela prejudicial para a objectividade com que é analisada a situação, antes é usada em benefício da qualidade do artigo. Para mais, a análise é feita em redor de protagonistas e analistas do conflito, o que lhe confere um lado humano, que tem estado normalmente ausente de outras análises mais radicais - nos dois sentidos.

Um dos melhores elogios que se pode fazer aos artigos da imprensa nos dias que correm é considerá-los merecedores de tradução para inglês. Para que a sua leitura seja mais vasta. Este é indiscutivelmente um desses casos. Mesmo neste mundo globalizado, por muito poliglotas que sejamos, por muito tempo disponível, só podemos especular sobre a quantidade dos textos de qualidade que diariamente nos escapam.

2 comentários:

  1. Concordo consigo relativamente aos artigos de Jorge Almeida Fernandes, muito claros e sempre actuais.
    O que não merece, certamente, tradução para inglês são certos nacos de prosa de alguns pseudo-experts, como o famoso (melhor dizendo, infamous...) Gorjão - veja-se este extracto das sua entrada 1152:
    "Ou o reconhecimento de que as análises suporíferas de Adriano Moreira & Cia são unsubstituíveis?"

    O "unsubstituíveis" é gralha, mas o "suporíferas" é um erro grosseiro... Este cavalheiro ainda tem de encher muito para ser um Pacheco Pereira ou mesmo um Prof. Marcelo...
    Evidentemente, não tem nível nem para atar os atacadores do Prof. Adriano Moreira, mas quanto a isso...

    ResponderEliminar
  2. Meu-Caro-Anónimo-que-não-gosta-do- Paulo-Gorjão:

    O estilo do blogue de Paulo Gorjão não me parece ser daqueles que se enquadre muito com a produção de artigos de fundo que pudessem ser premiados com a sua tradução.

    O seu estilo de blogue - que é um estilo de sucesso, pois ele parece ter muitos leitores - é mais o de um sinaleiro - e aqui a metáfora é para ser entendida no bom sentido - alertando para problemas e sugerindo leituras.

    Quanto aos artigos, tenho para mim (e concordará comigo), que os há bons e maus. E às vezes o autor de uns e outros é o mesmo. Ainda no post anterior "flagelei" alguém que escreve excelentes artigos sobre quase todos os outros temas mas que me parece que raciocina como um touro que "visse tudo vermelho" quando o assunto se trata da "Praça do Médio Oriente".

    Sendo Adriano Moreira um colaborador regular do DN, obrigado à apresentação de um artigo com peridiocidade e podendo-lhe faltar um tema de oportunidade, os seus textos tendem a ser muito desiguais. Alguns, do tipo recapitulação da matéria dada, para quem os costuma ler com regularidade (e já recapitulou a matéria...) podem-se tornar... pesados. Agora, quando há tema "a jeito", são indispensáveis.

    Agora, apesar da agressividade, tenho que reconhecer e dar razão à sugestão de Paulo Gorjão para que se renove e alargue o quadro das contribuições de artigos de opinião para o DN. Eu suspeito que aquelas páginas são ainda menos lidas que as do horóscopo e da necrologia, mas mesmo assim...

    ResponderEliminar