Lembro-me de ter lido, num daqueles antigos almanaques mundiais, que descreviam o Mundo e as relações internacionais sobre o mais estrito ponto de vista comunista (apesar de eufemisticamente designado por Almanaque do Terceiro Mundo), numa entrada que pretendia resumir a história da Coreia, a descrição da invasão militar que a Coreia do Norte fez à Coreia do Sul começando assim: Em 1950, veio a Guerra… Era como se a guerra tivesse chegado tipo chuva ou qualquer outro fenómeno meteorológico e a Coreia do Norte não tivesse tido nada a haver com o assunto…
Terá sido talvez por ler almanaques daqueles a mais quando era pequenino que Bernardino Soares ainda hoje anda com aquelas dúvidas (que nunca nos esclareceu) sobre a natureza democrática do regime norte-coreano. Parece ser do socialismo científico que os parentes próximos sejam os mais habilitados a ocupar os cargos deixados vagos por grandes líderes, como aconteceu na Coreia do Norte, está a acontecer em Cuba e será talvez um inaceitável desvio de direita do PCP a justificação para que Ana Cunhal não tenha ocupado o lugar que é hoje de Jerónimo de Sousa.
Falando de alguém que diz não gostar deles, mas que adora estudá-los (aos comunistas), atente-se agora, para comparar, a esta preciosidade composta por dois trechos de um mesmo texto, separados apenas por um parágrafo:
(…) ou essa força impede os ataques contra o território de Israel e favorece um diálogo para a paz, enfraquecendo a actuação dos grupos que pretendem exterminar Israel, ou constituirá um falhanço da ONU e da “comunidade internacional”. Tudo indica que poderá verificar-se a segunda hipótese, o que levará Israel à guerra de novo (…)
Mas convém não ter ilusões, o mandato das tropas da ONU só será eficaz se estas estiverem dispostas a actuar militarmente contra quem tomar a iniciativa de violar o cessar-fogo, e isso vai significar agir contra o Hezbollah. Em bom rigor, também significaria agir contra Israel, mas parece-me pouco provável que o problema seja essa, pelo menos em teoria. Na prática, situações complexas podem surgir, em particular porque Israel aceita a resolução com ressalva do direito de resposta, (…)
Percebe-se que José Pacheco Pereira (é ele o autor do texto que pode ser aqui lido na totalidade) tenha as suas simpatias no conflito. Não é nenhuma novidade o seu alinhamento. Qualquer opinião favorecendo Israel na disputa sobre quem ganhou esta Guerra entre Israel e o Hezbollah é defensável ainda que suspeite que tenha de ser um pouco rebuscada. A sua, apesar de ter sido objecto de troça, facto que parece tê-lo aborrecido, até pode ser ainda mais rebuscada, o que não pode é ser feita daquela forma excessivamente distorcida – a fazer lembrar exactamente o estilo da propaganda comunista que acima descrevi - com que o faz:
Porque as forças da ONU não poderão ser uma versão suave do exército israelita, enviadas para o Líbano com o encargo de proteger e ajudar Israel a fazer aquilo que ele próprio não conseguiu fazer – nomeadamente desarmar o Hezbollah. Porque existem hipóteses sérias de qualquer das duas partes vir a romper o cessar-fogo – Israel já o fez hoje - e não adianta disfarçar as violações do lado israelita por detrás do eufemismo situações complexas. Ou porque a Realpolitik, que José Pacheco Pereira reconhece nortear os dois contendores, também é o fio condutor das decisões dos tais países da União Europeia dispostos (?) a enviar tropas para o terreno, que por isso duvidosamente se arriscarão a ter baixas militares por causa da causa do Médio Oriente.
Ninguém pediu a José Pacheco Pereira que presidisse a um julgamento imparcial da disputa mas esperaria ver dele um posicionamento que fosse melhor fundamentado e, talvez por causa disso, menos desequilibrado. Já foi tempo em que era típica a caricatura do general belicista, do falcão sedento de glória, à custa do sacrifício dos seus subordinados. Hoje, que os generais parecem ser mais civilizados, parece ser entre os civis (entre os neoconservadores, por exemplo) que se descobrem os falcões mais assanhados. E convém frisar que, ridículo por ridículo, uma imagem ainda mais ridícula do que a dos generais à volta dos mapas e longe das realidades da guerra, será esta de filósofos e historiadores em especulações abstractas sobre a necessidade do emprego da força militar e do recurso à violência.
Quem preconiza, como José Pacheco Pereira, um envolvimento dos europeus nos conflitos do Médio Oriente nem que seja para ter uma prova de vida e receber um banho de realidade precisa, definitivamente e na minha opinião, de apresentar outras razões que sejam mais substantivas, além de que o comentário parece conter uma indicação forte que foi feito por alguém que nem sequer suspeita o que será receber um banho de guerra na realidade...
Terá sido talvez por ler almanaques daqueles a mais quando era pequenino que Bernardino Soares ainda hoje anda com aquelas dúvidas (que nunca nos esclareceu) sobre a natureza democrática do regime norte-coreano. Parece ser do socialismo científico que os parentes próximos sejam os mais habilitados a ocupar os cargos deixados vagos por grandes líderes, como aconteceu na Coreia do Norte, está a acontecer em Cuba e será talvez um inaceitável desvio de direita do PCP a justificação para que Ana Cunhal não tenha ocupado o lugar que é hoje de Jerónimo de Sousa.
Falando de alguém que diz não gostar deles, mas que adora estudá-los (aos comunistas), atente-se agora, para comparar, a esta preciosidade composta por dois trechos de um mesmo texto, separados apenas por um parágrafo:
(…) ou essa força impede os ataques contra o território de Israel e favorece um diálogo para a paz, enfraquecendo a actuação dos grupos que pretendem exterminar Israel, ou constituirá um falhanço da ONU e da “comunidade internacional”. Tudo indica que poderá verificar-se a segunda hipótese, o que levará Israel à guerra de novo (…)
Mas convém não ter ilusões, o mandato das tropas da ONU só será eficaz se estas estiverem dispostas a actuar militarmente contra quem tomar a iniciativa de violar o cessar-fogo, e isso vai significar agir contra o Hezbollah. Em bom rigor, também significaria agir contra Israel, mas parece-me pouco provável que o problema seja essa, pelo menos em teoria. Na prática, situações complexas podem surgir, em particular porque Israel aceita a resolução com ressalva do direito de resposta, (…)
Percebe-se que José Pacheco Pereira (é ele o autor do texto que pode ser aqui lido na totalidade) tenha as suas simpatias no conflito. Não é nenhuma novidade o seu alinhamento. Qualquer opinião favorecendo Israel na disputa sobre quem ganhou esta Guerra entre Israel e o Hezbollah é defensável ainda que suspeite que tenha de ser um pouco rebuscada. A sua, apesar de ter sido objecto de troça, facto que parece tê-lo aborrecido, até pode ser ainda mais rebuscada, o que não pode é ser feita daquela forma excessivamente distorcida – a fazer lembrar exactamente o estilo da propaganda comunista que acima descrevi - com que o faz:
Porque as forças da ONU não poderão ser uma versão suave do exército israelita, enviadas para o Líbano com o encargo de proteger e ajudar Israel a fazer aquilo que ele próprio não conseguiu fazer – nomeadamente desarmar o Hezbollah. Porque existem hipóteses sérias de qualquer das duas partes vir a romper o cessar-fogo – Israel já o fez hoje - e não adianta disfarçar as violações do lado israelita por detrás do eufemismo situações complexas. Ou porque a Realpolitik, que José Pacheco Pereira reconhece nortear os dois contendores, também é o fio condutor das decisões dos tais países da União Europeia dispostos (?) a enviar tropas para o terreno, que por isso duvidosamente se arriscarão a ter baixas militares por causa da causa do Médio Oriente.
Ninguém pediu a José Pacheco Pereira que presidisse a um julgamento imparcial da disputa mas esperaria ver dele um posicionamento que fosse melhor fundamentado e, talvez por causa disso, menos desequilibrado. Já foi tempo em que era típica a caricatura do general belicista, do falcão sedento de glória, à custa do sacrifício dos seus subordinados. Hoje, que os generais parecem ser mais civilizados, parece ser entre os civis (entre os neoconservadores, por exemplo) que se descobrem os falcões mais assanhados. E convém frisar que, ridículo por ridículo, uma imagem ainda mais ridícula do que a dos generais à volta dos mapas e longe das realidades da guerra, será esta de filósofos e historiadores em especulações abstractas sobre a necessidade do emprego da força militar e do recurso à violência.
Quem preconiza, como José Pacheco Pereira, um envolvimento dos europeus nos conflitos do Médio Oriente nem que seja para ter uma prova de vida e receber um banho de realidade precisa, definitivamente e na minha opinião, de apresentar outras razões que sejam mais substantivas, além de que o comentário parece conter uma indicação forte que foi feito por alguém que nem sequer suspeita o que será receber um banho de guerra na realidade...
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