31 dezembro 2016

O MEU MELHOR DE 2016 NAS REDES SOCIAIS

Numas redes sociais que se têm vindo a caracterizar cada vez mais pelas suas temperaturas extremas, desde as indignações incandescentes ao frio sideral das rupturas discordantes, onde o que ontem aconteceu amanhã já foi esquecido, registe-se este momento de uma tepidez atípica e sem a premência do tempo, em que este prosaico blogue é elegido à categoria de um prazer do dia-a-dia, deixando o seu autor totalmente desarmado nos seus hipotéticos protestos de modéstia. Num outro mundo, o económico, dir-se-ia que se tratava um elogio que não tem preço; neste, o das redes sociais, onde as unidades de conta são outras, é um elogio que não tem equivalente em número de visitas e de likes...

O COMBATENTE CONGELADO

Esta fotografia foi uma das fotografias da Segunda Guerra Mundial que mais me impressionou, apesar de não pertencer às icónicas do conflito. Aparentemente, parece ter-se inspirado directamente numa outra muito famosa que foi feita por Robert Capa em 1936 durante a Guerra Civil espanhola. Só que aqui o conflito é a Segunda Guerra Mundial, a Frente é a do Leste, o ano 1941 ou 1942 e, mais do que a oportunidade do momento captado por Capa no original, o cadáver do soldado soviético permanece erecto porque está congelado pelo frio. A culminar a má sorte, a própria arma que o soldado empunha parece ser uma espingarda anti-tanque do tipo PTRD ou PTRS-41, um daqueles trambolhos ineficazes que as exigências da guerra retiraram rapidamente de utilização.

30 dezembro 2016

A COROAÇÃO DE CARLOS IV da HUNGRIA

Há precisamente 100 anos, 30 de Dezembro de 1916, tinha lugar em Budapeste a cerimónia da coroação de Carlos IV de Habsburgo (1887-1922) como rei da Hungria. Foi a primeira e única vez que tal cerimónia foi filmada (a cerimónia anterior tivera lugar 49 anos antes). A coroa da Hungria é uma das mais facilmente reconhecíveis coroas europeias por causa da cruz torta que a encima. Talvez por causa desse seu carisma estético, a sua imagem encima actualmente o próprio brasão de armas da Hungria. Quanto à coroa propriamente dita ela é de dimensões maiores do que um chapéu normal, o que obriga o rei, na cerimónia que se vê abaixo, a afivelá-la à cabeça, como se se tratasse de um capacete de guerra. Aprecie-se também a cenografia e os figurantes. É uma cerimónia que parece concebida para ter muita gente a assistir, mas destinada a uma certa elite, a monarquia húngara de há cem anos não parece propriamente destinada às massas - em termos lisboetas modernos, o cerimonial parece concebido à dimensão (talvez) de um Meo Arena e não de um Estádio da Luz. Por detrás de tanta magnificência (de fazer ter pena que as imagens não sejam coloridas), dificilmente se percebe que a Primeira Guerra Mundial já decorre há quase dois anos e meio (29 meses), esgotando os recursos de uma Hungria que, como uma das potências centrais, estava militarmente cercada. O fim - da guerra e da monarquia húngara - estava a menos de dois anos de distância.

29 dezembro 2016

DE UMA CAPA ONDE MAIS DE QUATRO SÉCULOS E MEIO CONTEMPLAM O LEITOR

Parafraseando Napoleão naquela famosa frase que, no Egipto, endereçou aos seus soldados, desta capa da edição da Sábado de hoje poder-se-ia dizer que mais de quatro séculos e meio contemplam o leitor! Esses 466 anos correspondem a uma média de 77,7 anos para os seis entrevistados e registe-se a curiosidade de que o mais novo de entre eles (mesmo assim já para lá da idade da aposentadoria com 68 anos), é D. Manuel Clemente, o membro da igreja, uma instituição que, paradoxalmente, sempre nos acostumou às vetustas idades dos seus membros mais proeminentes. Quanto ao conteúdo do título e do subtítulo que consta da capa da revista, sobre o que de mal foi feito em Portugal e sobre as ideias que eles ainda possam ter para o modificar, diga-se muito francamente que os entrevistados já tiveram a sua oportunidade de intervenção na época apropriada e que, se ainda há muito por fazer, é também pela sua incapacidade passada - a de ter transformado a realidade, não a de mandar opiniões sobre ela, não se confunda a primeira com a segunda. O respeito devido a qualquer dos seis entrevistados não nos pode embotar a crítica do que parece não passar de (mais) uma despropositada operação de venda de papel de revista.

O PÉ PROEMINENTEMENTE PENDENTE

Em rigor, importa precisar que o que estraga(rá) a foto é o facto de se tratar de um pé e a cor de pele que se destaca proeminentemente pendente entre as pernas da figura em primeiro plano, não propriamente, como se lê na legenda, o sapato que esse pé calça.

O (NOVO) TRADICIONAL «NATAL DOS HOSPITAIS»


Esqueça-se lá o clássico Natal dos Hospitais, espaço de entretenimento televisivo tradicional desta quadra, onde outrora tudo o que era alguém no mundo do espectáculo ambicionava aparecer e que a RTP transmitiu há duas semanas mais uma vez, agora na sua 58ª edição, numa inércia que não esconde a vetustez e a decadência do formato. Agora há um novo e cada vez mais tradicional Natal dos Hospitais a passar na televisão, este já não de entretenimento, antes informativo, o que nos dias que correm é mais ou menos a mesma coisa. Sinteticamente descreve-se assim: em toda a quadra natalícia há sempre um hospital escolhido por esse país fora onde as urgências vão dar bronca e/ou os utentes se vão queixar. Veja-se o caso abaixo do moderno Natal dos Hospitais promovido pela SIC Notícias nos últimos três anos e sempre na semana que vai do Natal até ao Ano Novo: em 2013 o programa foi realizado em Abrantes, no ano seguinte no Amadora-Sintra e no ano passado em Faro.
O brinde ou a fava (conforme a perspectiva) do bolo-rei deste outro Natal dos Hospitais este ano foi para - escolhemos, para contrastar, o critério da concorrente RTP 3 - para os hospitais de Vila Franca de Xira e de São Francisco Xavier, Lisboa Ocidental (ver abaixo). Os títulos são apelativos (daquela escola tão popularizada por Artur Albarran: o Drama! a Tragédia! o Horror!). É evidente que não se percebem quais serão os - ou se existem, sequer.... - critérios de proporção quanto à gravidade do que é noticiado. As 5 horas de espera no atendimento dos casos menos urgentes em São Francisco Xavier este ano são publicitadas com o mesmo, senão mesmo mais alarme (situação caótica!), do que o foram as quase 24 horas que haviam sido registadas no Amadora-Sintra de há dois anos, então descrito como estando à beira da ruptura.
Quanto ao formato da reportagem, o fenómeno tem a sazonalidade oposta à dos veraneantes que ficam em terra nos aeroportos por falha do voo charter mas a reacção dos entrevistados assemelha-se totalmente. É o mesmo género de perguntas a suscitar as manifestações previsíveis de saturação de pessoas que se sabe de antemão estarem irritadas.

27 dezembro 2016

OS RATOS E AS RATAZANAS

Assim como não acredito minimamente na sinceridade do pedido de desculpas apresentado pelo ministro (um grande rato da política portuguesa), não acredito na casualidade da captação - e sobretudo da divulgação - da conversa privada de Augusto Santos Silva depois de saber que ela tinha sido feita pela TVI. Ano e meio pode ser uma eternidade nesta nossa política desmemoriada, mas convém recordar agora a forma como o desbocado ministro se despediu do seu espaço de comentário naquela mesma estação em Julho de 2015 (abaixo). Como disse aqui há dias a propósito de José Manuel Fernandes, o espaço mediático cada vez mais se assemelha a uma luta entre políticos assumidos e políticos não assumidos. Sérgio Figueiredo é um destes últimos... e sempre ajuda explicar porque é que estes casos aparecem numas televisões e não noutras...

O TRIGO E O PÃO DA FRANÇA OCUPADA

Entre Junho de 1940 e Junho de 1944 a Alemanha requisitou 2.845.000 toneladas da produção de trigo francesa, o que correspondeu ao equivalente em média de ⅛ de uma colheita média anual para aqueles quatro anos de ocupação. Só que, durante esses anos e devido à guerra, a França esteve sempre longe de conseguir alcançar tal volume de produção. Por causa disso, o governo francês lançou uma campanha para a poupança do pão, conforme se pode ver no cartaz acima, à esquerda: Economizem o pão. Cortem-no em fatias finas... e utilizem as côdeas para pôr na sopa. Mas não eram apenas essas as iniciativas, outras havia mais pró-activas: a taxa de aproveitamento do cereal para farinha panificável aumentou até proporções inimagináveis. Se, em 1939, de 100 quilos de trigo se obtinham 75 de farinha panificável, a que servia de matéria-prima para a conhecida e tradicional baguete francesa (acima, ao centro), em Novembro de 1940 a taxa de aproveitamento subira para os 82 quilos; em Março de 1941, para 85 quilos; em Janeiro de 1942 para 90 quilos e em Abril desse ano, já se atingiam taxas de aproveitamento de 98%! O senão de tanta parcimónia era a qualidade do produto, que escurecera até uma cor que transmitia uma impressão de sujidade desagradável, a que acrescia o notável defeito de não ensopar, um defeito potenciado pelo tradicional costume francês de molhar o pão no café da manhã.
Serviria de consolo (relativo) o facto de também não haver café, substituído pela pulverização e torrefacção de produtos como o tremoço, a castanha, a bolota... - mas isso são outras frentes de batalha da grande guerra alimentar travada pelos franceses durante esses anos. Para o que interessa, a partir de 1942/43 todo o francês médio se alimentava de um pão escuríssimo, sem adivinhar a ironia de que os seus bisnetos iriam tomar um sucedâneo algo parecido como o paradigma do pão saudável! Outro fosso de incompreensão (mas esse já não inter-geracional) era o que existia entre os alemães e os franceses Os primeiros não conseguiam compreender porque é que, entre os segundos, alguns se dedicavam a sabotar as colheitas de trigo, incendiando-as e prejudicando-se a si próprios, conforme se pode ler no cartaz da direita mais acima: menos trigo = menos pão. Que esperam para reagir? A racionalidade subjacente à incompreensão manifestada ali pelas autoridades alemãs de ocupação, faz-nos lembrar a das autoridades modernas de Bruxelas em toda a sua arrogância ignorante: a questão não é o volume do que se produz; o mais importante passou a ser a percepção da injustiça da forma como se reparte aquilo que se produz. E é isso que leva a que as votações populares nos países da União Europeia sejam cada vez mais frequentemente contra o status quo.

26 dezembro 2016

O MUNDO DAS PATRANHAS DA CULTURA PORTUGUESA

Tão incómoda quanto (mais est)a patranha acima de Marcelo é a veemência e amplificação que foi dada pelos animadores das redes sociais ao desmentido ali publicado por Jorge Silva Melo. Por um lado, Marcelo é Marcelo e a Jorge Silva Melo não conhecemos profecias que é este ano que Portugal vai ganhar o festival da eurovisão. Contudo, no universo distinto e discreto da cultura portuguesa, vai-se ler uma entrevista dada por Jorge Silva Melo vai para dez anos ao Expresso e, mesmo sem a escalpelizar, só com o cruzamento de alguns dados, identificam-se logo uma ou duas (pequenas) caneladas nos factos. Do género do próprio se descrever, com «pouco mais de 30 anos» (de idade, 1978+) e numa fase negativa da sua vida, a ansiar, «como única esperança do dia», «ver um programa da Teresa Guilherme ao fim da tarde» - programas esses que a RTP só começou a emitir uma boa meia dúzia de anos depois (1991)... Ora como tudo isso se passou vários anos depois da estreia da Cornucópia (1973), a memória de Jorge Silva Melo certamente não é assim tão infalível quanto ele a proclama... Aliás, alguém que faz a apreciação desculpabilizadora como ele a fez na referida entrevista a respeito de Vasco Pulido Valente*, é porque é pessoa que tem um relação elástica com a verdade; Vasco é o exemplo nacional da patranha culturalmente pretensiosa e alguém assim com uma memória tão infalível não o poderia passar em claro, como o fez com Marcelo... Assim, é apenas uma ironia deliciosa que a infalibilidade da memória de Jorge Silva Melo seja uma patranha (tão pequena ou tão grande) quanto o bilhete para a estreia da Cornucópia de Marcelo Rebelo de Sousa de há 43 anos. A diferença na sua detecção é que Marcelo está sempre a dizer (e a fazer) coisas...

* «A culpa é, aliás, um sentimento dos intelectuais portugueses. O Vasco Pulido Valente é o exemplo perfeito da pessoa que tem culpa e que, por isso, acha que está tudo errado. Se ele pudesse tinha melhorado isto, mas não é capaz porque só há senhores Silvas à sua volta».

25 dezembro 2016

«JOYEUX NOËL (3)»


A AMADORA CONTA!


(...a partir dos 3:00)
- Nós no Senegal, toda a gente fala hebraico.
- ...o professor não é do Senegal.
- Sou do Zaire.
- ...o Senegal não é nada perto do Zaire. O professor já esteve em África?
- A Amadora conta?...
- ...
- Então não estive, mas vi fotografias e é bonito.
Há dez anos o professor Chibanga revelava-se um charlatão, mas o teste do tempo veio a revelá-lo um verdadeiro profeta: a Amadora agora conta como África!

24 dezembro 2016

OS «ANTI-NATAL»

Uma pequena história cómica de Natal de Frank Margerin de há muitos anos (1989). A tradução é aqui deste vosso. As páginas podem-se ampliar, clicando-lhes em cima.

23 dezembro 2016

FELIZ NATAL ou «JOYEUX NOËL (2)»

Ajudado pela mestria e ternura dedicadas por Hergé a um Natal de há muitos anos, os meus votos de Feliz Natal de 2016 a todos os que por aqui passam.

A PARTIDA E A CHEGADA DAS CARAVELAS

Fotografias de um embarque e de um desembarque no aeroporto da Portela há cerca de uns cinquenta anos. O avião é um SE 210 Caravelle dos TAP (como então se dizia, respeitando o plural da sigla: TAP = Transportes Aéreos Portugueses), por cá aportuguesado para Caravela. Ainda ontem fui esperar alguém ao aeroporto e as coisas não se passaram com esta magnificência... Os tempos estão bastante mudados.

22 dezembro 2016

O DESCARAMENTO DO DESCARADO QUE CLAMA CONTRA O DESCARAMENTO

É evidente que, pelo protocolo instalado, a montagem abaixo é uma ficção e que, seja qual for a opinião que António Costa tem sobre José Manuel Fernandes, o primeiro-ministro não lhe vai responder simetricamente. Mas é pena, pois em termos de lata e quando nos dá para fazer um balanço retrospectivo da actividade profissional deste, escapa-me a última vez em que José Manuel Fernandes se fingiu comportar sequer como um jornalista. Ouvem-se por aí muitas críticas a políticos assumidos que ocupam cada vez mais o espaço de opinião; as críticas dever-se-ão a aqueles roubarem o pão para a boca de profissionais politicamente independentes como José Manuel Fernandes?...

«JOYEUX NOËL (1)»

Capa da revista Tintin francesa de há precisamente 50 anos - 22 de Dezembro de 1966 - com tema apropriado de Natal. O seu autor é William Vance. Era tão bom quando os Natais, por terem sido tão poucos, eram assim tão vividos, como se não viesse a haver mais nenhuns.

RALPH POMODORI, A VEDETA EM ASCENSÃO

Spaghetti e o Ídolo é uma história de BD concebida por Attanasio e Goscinny. Spaghetti é um herói para o qual o genial René Goscinny também escreveu argumentos. Sem terem o reconhecimento artístico (e o volume de vendas...) das aventuras de Asterix ou de Lucky Luke, as de Spaghetti (que é acompanhado pelo seu estúpido e persistente primo, conhecido em Portugal por Pomodoro) também produziram alguns momentos que considero emblemáticos, como é o caso da imagem final desta história, aparecida em 1964, por ocasião da eclosão do fenómeno de popularidade exuberante que acompanhava os The Beatles e outras bandas afins.
O ídolo é um desses cantores rock chamado Pietro Alcatra mas com o nome artístico de Ross Biff... Que leva uma existência miserável de estúdio de gravação para concerto, sem conseguir comer sequer decentemente (um ovo cozido e uma banana...), continuamente assediado pelos fãs e sob os ditames de um empresário explorador, o que desperta a compaixão de Spaghetti. Nem nos interessa os detalhes da aventura, apenas o remate: Spaghetti consegue que o empresário rescinda o contrato com o ídolo, com aquele anunciando que encontrara alguém melhor para o substituir. E quando se Spaghetti se procura escapulir de tudo e do chato do primo também, percebe-se que o alguém melhor era o próprio primo sob o nome artístico de Ralph Pomodori, a Vedeta em Ascensão.
Publicada em Portugal na revista Tintin em finais de 1973, esta última imagem com Pomodoro no outdoor de parede confere à fama e à popularidade, depois de a termos observado do outro lado, um indiscutível cunho trágico. Mas, por outro lado e ao contrário do predecessor, Pomodoro é uma personagem tão estúpida que não chega a despertar a nossa compaixão. Desde ali, tenho observado imensos casos de quem se bate por uma notoriedade a qualquer custo e a minha empatia para com eles, pela tolice que exibem, é a mesma que (não) posso dedicar a Ralph Pomodori, a Vedeta em Ascensão. Muitos Ralphs Pomodoris tenho eu visto desde então.

21 dezembro 2016

O FOLHETIM DE BERLIM (por cortesia de Nuno Rogeiro)

Como um daqueles romances de mistério do Século XIX - evoque-se, a propósito, O Mistério da Estrada de Sintra, escrito em parceria por Eça de Queirós e Ramalho Ortigão - o acompanhamento que, no facebook, Nuno Rogeiro está a fazer dos acontecimentos de Berlim também se presta a essa visão rocambolesca dos acontecimentos, as reviravoltas de que aquilo que fora dado por adquirido no capítulo anterior do folhetim, acaba por ser desmentido no capítulo actual.
Veja-se como inicialmente o assassino presumido já confessara, embora se tivesse posteriormente desdito. E como corajosa fora a atitude cívica de um anónimo que o denunciara e miserável fora a campanha de culpar o motorista polaco do camião.
Só que depois o presumido assassino confesso, paquistanês, veio a ser despromovido ao estatuto de cúmplice menor, ou nem tanto, já que acabou por ser libertado. E ficou por dedicar umas palavrinhas ao corajoso anónimo que afinal denunciara um inocente...
A hipótese do principal responsável pelo ataque andar AINDA a monte deixa o ser, para se tornar numa certeza. Armado de um revolver de pequeno calibre e uma arma cortante. O novo suspeito é um tunisino de 23 anos. Não perca os próximos capítulos desta emocionante saga no facebook de Nuno Rogeiro...
Amanhã (quem sabe?), as suspeitas podem passar a recair não num individuo, mas numa quadrilha de iemenitas que podem estar armados de bazucas... Fora de ironias: se fosse para emitir uma opinião que fosse substantiva, Nuno Rogeiro devia ter permanecido calado, à espera que o fumo se dissipasse; se fosse para produzir uma informação que fosse apurada, Nuno Rogeiro devia permanecer calado, à espera que as informações se consolidassem. Assim, fica um pouco difícil distinguir o que escreve das obras de ficção... Dito de outro modo e apesar de ser um amador, entre dizer «coisas» e dizer «coisas acertadas», Nuno Rogeiro também tem o mesmo «medo do silêncio», afinando pelo diapasão do resto da comunicação social.

A DOÇARIA DE DONA GUIOMAR

Apesar do nome, Maria Guiomar de Pina (1664-1728) nasceu e passou toda a sua vida na Tailândia. A sua ascendência era indubitavelmente asiática, apesar de misturada: uma mãe de ascendência japonesa, que fugira do seu país quando ali começara a perseguição aos cristãos e um pai que viera de Goa (daí o nome português), mas cuja ascendência era, por sua vez, bengali e japonesa. O que a conotava culturalmente com o Ocidente, e eventualmente com Portugal, era a religião, assertivamente católica romana. Tanto assim que, quando Guiomar casou em 1682, teria então 18 anos, foi o marido que adoptou a religião da esposa. Fosse outra a ocasião e a história do marido também merecia ser aqui contada, um grego das ilhas jónias chamado Konstantinos Gerakis (1647-1688) que chegara à Ásia ao serviço da Companhia britânica das Índias Orientais em 1675 mas que depois se reconvertera num conselheiro do rei Ramathibodi III da Tailândia. Entretanto aportuguesara o nome para Constantino Falcão e convertera-se ao catolicismo romano, ele que já fora ortodoxo e anglicano. Durante uma meia dúzia de anos, sob os nomes/títulos de Thao Thong Kip Ma e Chao P'raya Vichayen, o casal gozou de influência e prestígio na corte tailandesa. Mas se o apogeu da passagem do marido pelas altas esferas do poder é hoje um episódio esquecido da História da Tailândia, o mesmo não acontece com Dona Guiomar, reconhecida doceira, a quem ainda hoje se atribui a introdução na cozinha tailandesa de vários pratos adaptados da doçaria conventual portuguesa, que Dona Guiomar aprendera sem nunca ter visitado as origens. Os dois exemplos das fotos acima são o foi thong (à esquerda), a versão tailandesa dos nossos fios de ovos e o thong yip (à direita), as nossas trouxas de ovos embora com outro formato. Há ainda mais pratos de doçaria, normalmente à base de gemas de ovo, que também são atribuídos à inventividade de Dona Guiomar (khanom mo kaeng, a versão tailandesa da tigelada, ou sangkhaya, uma espécie de marmelada de coco), mas só a maternidade dos dois primeiros doces é incontroversa. Contudo, é indiscutível reconhecer que nos séculos XVI e XVII a nossa gastronomia portuguesa chegou até ao Extremo Oriente (Japão) para depois se repropagar (não nos esqueçamos que Dona Guiomar era ¾ japonesa) para outras regiões da Ásia. E depois é uma gastronomia com estes pergaminhos que se presta à submissão a uns inspectores espanhóis que vêm cá atribuir umas estrelinhas a uns restaurantes?... Devíamos é ser nós a atribuir o Prémio Dona Guiomar de Pina aos restaurantes estrangeiros por esse mundo fora que se esmerem na feitura da tradicional doçaria conventual portuguesa!

20 dezembro 2016

OS PERUS E OS «PERUS»

Aqui os vemos, aos perus, palmilhando as ruas de uma Lisboa de outrora, para um destino que se adivinha, o de figurante principal, de barriga para cima (mais o recheio e o molho!), sobre a mesa composta da ceia natalícia de uma família burguesa da capital. Em contraste, nesta sociedade pós-factual dos nossos dias, os perus de agora já não virão assim arregimentados a pé, até foram eles que se inscreveram voluntariamente lá no clube recreativo do aviário para uma excursão gratuita à capital, onde, se calhar, lhes acenaram com uma opulenta ceia incluída no programa...

19 dezembro 2016

OS «CONFORTOS» DE SANDRA FELGUEIRAS

Convém não esquecer que na origem do Caso Pedro Dias estarão, pelas descrições veiculadas pela imprensa, quatro homicídios tentados. Talvez à-vontade e conforto não sejam as expressões mais adequadas para descrever um mais do que provável homicida. Pode ser giro fingir que se encontrou o Hannibal Lecter cá da paróquia, mas a jornalista merece ser embaraçada pela ironia de lhe pegarem nas palavras à letra e aludir-se sarcasticamente ao conforto que as vítimas de Pedro Dias deves estar a gozar nos respectivos caixões... Mas isto até será a versão séria, porque há quem tenha levado o assunto para a palhaçada total...

OS CISNES TAMBÉM FAZEM INTERVALOS

Fotografia tirada durante o intervalo de um ensaio na cafetaria do palácio dos Congressos no Kremlin em Moscovo em 1963. O autor da foto foi Evgueny Umnov.

18 dezembro 2016

...SOBRE AS TEORIAS DA GESTÃO

Tradução do artigo da revista The Economist de 17 de Dezembro de 2016
No próximo ano assinalar-se-á o 500º aniversário de um acontecimento que, mais do que qualquer outro, terá dado origem ao mundo moderno: quando Martinho Lutero elaborou as suas 95 teses e com elas questionou a Igreja Católica sobre os seus erros teológicos e os seus pecados institucionais. O revisionismo de alguns historiadores quis complicar inevitavelmente a história dos acontecimentos (até mesmo o pormenor de saber se ele havia realmente pregado as sua teses à porta da igreja de Todos-os-Santos de Wittenberg), mas o essencial do que aconteceu é claríssimo. A Igreja estava madura para se transformar. Afundara-se em corrupção e divorciara-se do que estava a acontecer em paralelo na sociedade de então. E, ao desencadear tal processo de mudança, Lutero trouxe à Fé Cristã, e até ao próprio Catolicismo Romano, um novo ciclo de vida.
 
As semelhanças entre o Cristianismo medieval e o mundo das teorias de Gestão podem não parecer óbvias, mas procurem-se que se hão-de achar. Os teóricos da Gestão santificam o capitalismo à semelhança que os clérigos de outrora santificavam o feudalismo. As Business Schools são as modernas catedrais do capitalismo. Os consultores são os seus frades evangelizadores. Assim como o clero medieval se exprimia em Latim para dar às suas palavras uma aparência de autoridade, os teóricos da Gestão da actualidade usam um linguajar repleto de bullshitismo sem significado. A venda medieval de indulgências pelo clero, através das quais os crentes podiam adquirir efectivamente o perdão dos seus pecados, é reproduzido na actualidade pelos teóricos da Gestão que impingem modas de duração efémera que se propõem resolver todos os problemas de gestão com que se confrontam as empresas. Ultimamente, evidenciou-se mais uma semelhança: é que os gurus perderam contacto com o mundo sobre o qual procuram explicar. As teorias de Gestão parecem prontas para a sua Reforma.

As teorias de Gestão estruturam-se à volta de quatro ideias básicas, que são repetidas ad nauseam em qualquer livro a respeito que se leia ou em qualquer conferência a que se assista, mas que não têm quase nenhuma correspondência com a realidade. A primeira ideia é que a competição é maior que nunca. Folheie-se títulos populares como The End of Competitive Advantage (Rita Gunther McGrath) ou The Attacker’s Advantage (Ram Charam) e fica-se com a impressão de um mundo hiper-competitivo em que os gigantes instalados estão permanentemente a ser desafiados e derrubados por forças hostis.
 
Uma vista de olhos pelos números (ou mesmo uma análise ao cada vez mais oligopolístico mercado das companhias de aviação norte-americanas) deverá ser suficiente para mostrar quanto isso não passa de ficção. A estratégia empresarial prevalecente é a da consolidação, nunca a da competição. Nos Estados Unidos, os anos que se têm sucedido a 2008 têm assistido a uma emergência como nunca antes de fusões e aquisições, com uma média de 30.000 negócios desses por ano a valerem 3% do PIB. A consolidação tem sido particularmente prevalecente na América, como se pode ler no relatório de 2016 do Council of Economic Advisers, onde se demonstra como as empresas engajadas nesse processo de consolidação têm registado lucros sem precedentes. As tecnológicas situam-se em lugar cimeiro na lista das actividades em processo de concentração. Na década de 1990 Silicon Valley era um território de startups. Agora é um feudo de um punhado de colossos.
 
Uma segunda (e também relacionada) dessas ideias moribundas é que vivemos numa era de empreendedorismo. Há muito que gurus como Peter Drucker e Tom Peters vêm pregando as virtudes de se ser empreendedor. E houve governos que tentaram encorajar isso como uma contrapartida do declínio previsível das grandes corporações. Os factos mostram-nos uma outra história. Na América, o ritmo da criação de novos negócios tem vindo a declinar desde os finais da década de 1970. Em alguns destes últimos anos, houve mais empresas que desapareceram do que aquelas que foram criadas. Na Europa, as que crescem exponencialmente são muito raras e muitas das startups permanecem pequenas, em parte porque os sistemas fiscais as começam a punir quando elas assumem mais do que uma certa dimensão, mas também porque os empreendedores privilegiam os equilíbrios das suas vidas pessoais em detrimento do crescimento do negócio. Um número substancial de pessoas que acreditaram no culto do empreendedorismo acabaram por fracassar e estão remetidos a uma existência marginal com poucas seguranças quando à sua velhice.

A terceira ideia dominante dos teóricos é que os ritmos da economia têm vindo a acelerar-se. Há alguma verdade nisso. As firmas da internet podem agora fidelizar centenas de milhões de clientes num punhado de anos. Mas o fenómeno, quando observado num certo enquadramento, pode perder uma boa parte do significado aparente: bem mais de metade das famílias americanas passaram a ter automóvel apenas duas décadas depois de Henry Ford ter instalado a primeira cadeia de montagem na sua fábrica, em 1913. E, em muitos outros aspectos, a economia tem vindo até a desacelerar-se. As empresas perdem frequentemente meses e mesmo anos a validar as suas decisões pelos seus vários departamentos (jurídico, auditoria, compliance, privacidade, etc.) ou a lidar com as (sempre em expansão) burocracias governamentais (como a do ambiente). A internet tira com uma mão aquilo que dá com a outra. Agora que se tornou tão mais fácil adquirir informação e contactar o exterior (os fornecedores e os clientes), as organizações tornam-se paradoxalmente mais hesitantes na acção.

A quarta noção errada é que a globalização é, simultaneamente, inevitável e irreversível – o produto de forças tecnológicas que meras decisões humanas não conseguem reverter. É o que tem sido repetido num encadeado de bestsellers – caso notável de Thomas Friedman com o seu The World is Flat de 2005 – e amplificado pela própria publicidade corporativa como a campanha do HSBC The World’s Local Bank. Mas basta olhar para a História para se perceber o disparate que tudo isso constitui. No período de 1880-1914 o mundo estava de muitas formas tão globalizado quanto hoje; e mesmo assim veio a tornar-se vítima da guerra e da autarcia. Actualmente, a globalização está a dar cada vez mais sinais de se poder reverter. Donald Trump preconiza um nacionalismo musculado e ameaça a China com tarifas aduaneiras. O Reino Unido votou pelo abandono da União Europeia. As multinacionais mais precavidas estão a preparar-se para um futuro crescentemente dominado pelos nacionalismos.

A reversão contra a globalização indicia uma nítida fraqueza subjacente às teorias de Gestão: a sua ingenuidade Política. Estas modernas ortodoxias da Gestão foram criadas desde 1980 até 2008, quando o liberalismo esteve em ascensão e os políticos moderados do centrão estiveram dispostos a aderir a regras globais. Contudo, o mundo actual é muito diferente. O crescimento da produtividade no Ocidente é deprimente, as empresas fundem-se a um ritmo impressionante, o empreendedorismo perdeu a sua dinâmica, o populismo está em alta, e as velhas regras dos negócios estão a ser desmontadas. Os teóricos da Gestão precisam de examinar a sua doutrina com a mesma iconoclastia atenta com que Lutero examinou a sua no século XVI. Senão arriscam-se a ser denunciados como tantos outros vendedores de banha da cobra.

«I'LL HAVE WHAT SHE'S HAVING»


A técnica de escolher o prato do menu indo inspirar-se ao que a vizinhança está a comer sofreu uma inflexão significativa e contornos mais subtis depois da famosa cena do restaurante de When Harry met Sally, sobretudo por causada punchline final, dita pela mãe do próprio realizador, Rob Reiner. Ontem, aconteceu comigo num restaurante da Baixa lisboeta que não quero identificar, terá sido do meu ar prazenteiro enquanto me batia com as minhas escolhas de almoço, depois de ter descortinado um olhar cobiçoso de um vizinho do lado apontado para o que estava à frente da minha barriga (grande, identificativa de apreciador...), vejo, passados alguns minutos, uma reprodução exacta daquilo que eu estava a comer e beber a ser servida para o tal ocupante inquisitivo da mesa do lado. E, porque me lembrei inevitavelmente da cena e do seu remate, uma coisa garanto: não estava, nem de longe, a ser tão exuberante quanto Meg Ryan...

17 dezembro 2016

...POUPEM-ME...

Não, ao contrário do que se pretende acima, nós não somos todos cúmplices do massacre de Aleppo. a) Primeiro, porque não dei por que o debate sobre a oportunidade e a justificação de uma insurreição contra o regime sírio (e outros regimes árabes) tivesse tido previamente lugar nestas mesmas redes socias que agora apostam nesta nossa culpabilização colectiva. b) Por outro lado, já sou suficientemente crescido para me recordar de, esses sim, verdadeiros genocídios que, ao contrário desta chacina e porque as vítimas não tiveram patrocinadores, decorreram sem qualquer interferência substantiva da comunidade internacional (em baixo à direita, as catanas do genocídio dos tutsis no Ruanda em 1994). c) Finalmente, e quanto à coreografia da fotografia acima (obviamente encenada), essa mesma minha veterania serve-me para lembrar outra precisamente com o mesmo tema do adulto a correr com um bebé ao colo, já usada em 2009 pelos palestinianos contra Israel (à esquerda). 
Respeitarei imenso as 2.400 pessoas que reagiram no facebook ao comentário do ex-campeão de xadrez Garry Kasparov, as 149 que o comentaram, as 846 partilhas. Mas não me tentem manipular os sentimentos de ultraje ou de indignação... Eu não me disponho a ser um peão de um jogo de Kasparov. E, como diria o almirante Pinheiro de Azevedo (só que aí era a respeito de sequestros), tentarem-me manipular é uma coisa que me chateia, pá!

OS TRADUTORES SEMI AUTOMÁTICOS

Havia os tradutores tradicionais. A internet facultou-nos o acesso a tradutores automáticos: inserem-se parágrafos de um lado num idioma que não dominamos e sai-nos do outro amálgamas de palavras descontextualizadas. Os órgãos de informação usam agora uma categoria intermédia: a do tradutor semi-automático. É de carne e osso e sabe gramática como os tradutores tradicionais, mas não tem qualquer capacidade de avaliação técnica do resultado das suas traduções, como acontece com os automáticos. E o resultado é o que se pode constatar sublinhado acima: oficiais não-comissionados (NCO) é uma expressão específica do inglês mas que se traduz para português e para muitos outros idiomas pela designação suboficiais ou, no caso concreto de Portugal, por sargentos. Mas isso implicaria que o tradutor semi-automático ao serviço do Diário de Notícias percebesse vagamente qualquer coisa sobre o tema sobre o qual estava a fazer a tradução do inglês para português...

16 dezembro 2016

OLHÓ BONECO!

Duas notícias do Jornal de Negócios separadas por 48 horas e referentes ao mesmo tema: a compra/venda do Novo Banco. A mais antiga, a da esquerda, a que está associada ao rigor do pedido de uma garantia extra ao promitente comprador mais bem colocado tem a ilustrá-la Sérgio Monteiro, a vedeta da operação, o homem que ficou encarregue de vender o banco até ao fim deste ano; a notícia de hoje, de conteúdo não tão favorável quanto a anterior, e que anuncia (a falta de rigor d)a derrapagem da decisão para fora de prazo, já é enfeitada por uma fotografia de... Carlos Costa. Quase que aposto que foi só por coincidência. Querem-me lá convencer que há um critério editorial naquele jornal de ilustrar as notícias positivas sobre aquele tema com imagens de Sérgio Monteiro e as desfavoráveis com imagens de Carlos Costa?...

PELAS BODAS DE DIAMANTE DA «HALTEBEFEHL!» DE ADOLF HITLER

A 16 de Dezembro de 1941 Adolf Hitler emite uma instrução expressa para que a Wehrmacht não recuasse das posições que conquistara até então, quando começava o Inverno soviético, esconjurando o enorme precedente histórico da retirada napoleónica de 1812. Escrevia Hitler: «Sob o impulso dos comandantes das unidades, dos oficiais, os soldados devem ser obrigados a uma defesa fanática, mesmo se o inimigo se encontrar nos flancos e na retaguarda. Só esta orientação da batalha pode ganhar o tempo necessário à chegada dos reforços cujo envio ordenei. (...) Cada oficial e cada soldado deve estar convicto de que um recuo torna o Inverno russo muito mais perigoso do que uma defesa no local. O espectro da retirada napoleónica deve ser exorcizado
A situação no terreno era o colapso quase completo da mecanização de um exército moderno, sob temperaturas que chegavam a atingir os -30º celsius. Para que a guerra prosseguisse, especialmente do lado alemão, onde as vias de abastecimento haviam sido esticadas até à exaustão nos meses precedentes atrás da progressão dos exércitos, houve que recorrer aos meios de transporte ancestrais, cavalos e carroças russas, para que os homens da frente de combate mantivessem as suas posições, num colossal esforço logístico que as histórias da guerra normalmente subvalorizam. A fotografia acima, que bem poderia ter sido pintada por um mestre, é a de uma dessas anónimas mas indispensáveis colunas de reabastecimento, onde a luta entre os homens se subordina à luta destes contra a Natureza extrema.

15 dezembro 2016

Os pequenos obedecem aOS GRANDES

Vietname do Sul, 26 de Outubro de 1966. A meio de um extenso périplo de 17 dias por vários países asiáticos e da Oceânia, o presidente Lyndon Johnson (à esquerda na fotografia) faz uma visita, pretensamente de surpresa e apenas por algumas horas, à base aeronaval de Cam Ranh no Vietname do Sul. A surpresa era tanta que, a aguardar Johnson estavam, apesar da base distar 300 km da capital Saigão, o comandante dos 385.000 soldados norte-americanos ali destacados, o general William Westmoreland (a seu lado na foto), o presidente do Vietname do Sul, o general Nguyễn Văn Thiệu (de fato cinzento), e o primeiro-ministro sul-vietnamita, o general Nguyễn Cao Kỳ (de fato castanho). Tratava-se da primeira visita de um presidente norte-americano ao Vietname, país que passara a constituir uma das prioridades da política externa dos Estados Unidos nessa década. Mas o que me interessa destacar nesta foto (já com cinquenta anos) é a habilidade como as fotografias oficiais dos norte-americanos favorecem os seus nestas ocasiões, quando justapostos aos outros. Já havíamos comentado a habilidade muito recentemente quando Marcelo esteve na Casa Branca. Mas, neste caso, o palmo e meio de diferença de estaturas entre americanos e vietnamitas a que a perspectiva da fotografia induz, acaba por ter um efeito pernicioso quanto ao estatuto que a política externa dos próprios Estados Unidos pretendia conferir ao Vietname do Sul.

Adenda: Esclareça-se que, com o seu 1,92, Lyndon Johnson era muito alto. A questão é que os dois vietnamitas não eram tão baixos quanto o plano cuidadosamente escolhido para a fotografia parece induzir o observador, como se comprova facilmente por esta outra fotografia abaixo.

O ASTEROIDE DESCONHECIDO QUE ESPERA POR SI

A verdade é que as notícias deste género esquecem-se sempre de enquadrar o tema, lembrando que a Terra e a Humanidade viveram sempre, desde há milhares de milhões de anos, sob este género de ameaça. E que, se a Terra não está preparada para o impacto inesperado de um asteroide, também nunca esteve. Se não há Plano B, também não há Plano A. Não se percebe o objectivo do texto, a não ser o de assustar quem incautamente o ler. Foi só há menos de quarenta anos que o desenvolvimento tecnológico possibilitou as primeiras detecções deste género de objectos espaciais que se aproximam da Terra, embora com probabilidades ínfimas de a atingir (os que havia mais predispostos a cair, já caíram nos milhares de milhões de anos precedentes...). Verdade é que os artigos descrevendo o cenário do possível impacto desses pequenos corpos celestes na Terra começaram a substituir progressivamente os artigos sobre marcianos e ovnis que tinham sido a moda até aí. A Ufologia morreu mas os artigos sobre o perigo dos asteroides prosperam, de quando em vez lá vem mais um... - veja-se abaixo. Deixámos de correr o perigo de ser invadidos, passámos a correr o risco de ser obliterados por uma catástrofe. Isto é um disparate total, mascarado de ciência.

14 dezembro 2016

OS BEATLES NA ÍNDIA

Entre Fevereiro e Abril de 1968 os membros dos Beatles passaram algumas semanas na Índia a estudar meditação transcendental com o maharishi Mahesh Yogi. Foram os quatro com mais umas centenas atrás, entre esposas e namoradas (abaixo), o staff que sempre os acompanhava e o batalhão de jornalistas e fotógrafos que era o complemento indispensável de qualquer das suas deslocações.
Ringo Starr ficou por dez dias, Paul McCartney um mês e John Lennon e George Harrison seis semanas. A versão - edulcorada, como de costume - da estadia que consta da wikipedia não nos diz nada de concreto sobre os hipotéticos ensinamentos apreendidos pelos Beatles durante o período, antes da inspiração que os impregnou e que os levou a compor de enfiada nada menos do que trinta canções!
A página da wikipedia e a placa comemorativa que hoje lá está afixada recordando o evento (acima), esquecem-se também de realçar o impacto que aquela estadia teve na promoção mundial da actividade espiritual do santo homem... Durante uns tempos foi chiquíssimo meditar... mas de modo transcendente, não imanente.