03 dezembro 2016

A VERDADEIRA OPINIÃO POPULAR (1) - «Atribui algum significado à realização de um Congresso da Oposição Democrática?»

A 16 de Dezembro de 1972, o Diário de Lisboa foi para as ruas de Aveiro questionar os aveirenses sobre o III Congresso da Oposição Democrática que iria ter lugar naquela cidade no próximo mês de Abril (de 1973). O texto abaixo é o conteúdo do artigo relatando o resultado das entrevistas.
 
Aveiro, cidade onde decorrerá o I (sic) Congresso da Oposição Democrática, está a viver o acontecimento de maneira especial. Não só porque os anteriores Congressos também decorreram em Aveiro, como, também, porque durante as reuniões preparatórias se deslocam aquela cidade muitas personalidades cuja presença tem sido naturalmente motivo de conversa. Daí a nossa pergunta feita a pessoas que encontrámos, ao acaso, na rua «Atribui algum significado à realização de um Congresso da Oposição Democrática?»
 
Acho que é uma coisa boa, afirma Carlos Peixinho profissional de seguros. Penso que o Congresso pode ajudar a encontrar novas soluções para os problemas porque, quanto a mim, é preciso remodelar o modo de vida que a gente leva. É da discussão que nasce a luz e eu sempre acreditei nos resultados positivos da discussão.
Um Congresso desta natureza representa sempre uma melhoria para o País, responde Acácio dos Santos Pires, fiel de armazém.
Uma vez que se aproximam as eleições o Congresso justifica-se, segundo a dr.ª Maria Albuquerque, professora liceal. Todas as opiniões devem ser escutadas quando se trata de resolver os problemas que a todos interessam.
Eu estou muito fora da política, diz Maria Manuela Silva, dactilógrafa. Sinceramente não sei o que hei-de responder. Não sei porque não sei mas, de facto, não me interessa responder.
Não atribuo qualquer significado à realização do Congresso da Oposição Democrática, afirma António Manuel Algés, estudante do ensino técnico.
Desde que seja para o bem do País, acho bem, responde Manuel, empregado de estação de serviço.
Dou grande importância à realização de um Congresso da Oposição Democrática, até porque não é usual que a Oposição se possa reunir a nível nacional, é a opinião de Carlos Marques, profissional de futebol.
Acho tudo isto um pouco teatral, afirma Maria Helena Branco Lopes, decoradora. Este Congresso e os que os outros realizam. Sou apolítica. Há anos que me deixei disso. Cheguei à conclusão que nada está certo.
Não atribuo significado especial mas, se não for para mal, até acho bem. É a opinião do capitão Ferreira da Silva, armador de barcos.
O Congresso poderá ter um significado extraordinário, segundo o eng.º Carlos Henrique, industrial. Não estamos habituados a reuniões deste género que deviam ser organizadas com muito mais frequência.
Finalmente conversámos com um grupo de três jovens: Maria do Amparo Picado, empregada de escritório; Maria da Conceição Santos, empregada de escritório; e Virgínia Maria Santos, estudante liceal. Eis as opiniões que manifestaram:
M.A. – Acho que é bastante interessante.
M.C. – A malta jovem também participa? Acho que devíamos estar representados. A nossa opinião é muito importante.
V.M.S. – Mais que a dos mais velhos.
M.A. – Pena é que não ponham a idade de votar aos 18 anos. Assim aumentaria a participação dos jovens.
 
Entre truísmos, trivialidades, algum desinteresse confesso mas também algum entusiasmo, embora pouco substanciado, esta amostra sociológica do que pensaria o português típico do antes do 25 de Abril da disputa política, desmentem o retrato mítico que actualmente se pretende fazer da Oposição ao Estado Novo: tratava-se de uma elite restrita e distanciada do português comum.

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