07 dezembro 2016

NETANYAHU DE OURO

Aparentemente, o assunto não terá interesse suficiente para despertar o interesse a um só órgão de informação cá em Portugal, por isso dou eu relevo aqui no blogue à ideia de um artista israelita que, nesta Terça-Feira de madrugada e clandestinamente, resolveu içar esta estátua dourada de 4 metros de altura, representado o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, numa praça central de Telavive - a praça Rabin. Segundo o autor da estátua e da proeza, um escultor que se chama Itay Zalait, a sua intenção era a de desencadear o debate sobre a liberdade de expressão em Israel, usando um modelo de expressão - estátuas em grandes dimensões dos líderes políticos - que é muito conotado com os regimes ditatoriais. Aliás, Israel não será estranho a este género de humor satírico, episódios associados a obras (pseudo) públicas erigidas sem autorização alguma, como foi exemplo o filme O Canal Blaumilch (1969 - filme que já aqui referi no Herdeiro de Aécio), cujas cenas finais foram até filmadas nessa mesma praça Rabin que ontem recebeu a beneficiação inesperada da estátua dourada de Netayahu.
Durante o dia de ontem e enquanto permaneceu erecta a estátua foi repetidamente fotografada isoladamente ou em selfies. Segundo as declarações do autor à agência France-Press, a sua questão era a de verificar - quiçá em comparação com o que (não) aconteceu a Blaumilch, o protagonista do filme, que era louco, mas escapa impune - se era possível fazê-lo: erigir uma estátua à noite, clandestinamente, num dos locais mais centrais de Telavive e ao arrepio das autorizações municipais. Será que as autoridades a iriam lá deixar ficar? E por quanto tempo? E quais serão as sanções para si, autor confesso da transgressão? Cada coisa a seu tempo. Para já, a estátua foi derrubada, no momento que a foto e o vídeo mostram, com um certos retoques reminiscentes de cenas parecidas com estátuas de Saddam e de Lenine. O problema - e aqui vê-se a pertinência da polémica lançada por Zalait - pôs-se em saber que atitude tomar para com a estátua: pode-se pisá-la e batê-la como se fazia com os outros ditadores derrubados ou há que respeitar a figura do primeiro ministro, mesmo sabendo que ela foi esculpida como uma paródia provocadora?

Do ponto de vista estético, como escultura, a estátua é verdadeiramente medíocre, nem se parece com Netanyahu, mas como operação de autopromoção de Zalait acho o incidente não só interessante como também imaginativamente engraçado. O que eu não percebo são os critérios editoriais da comunicação social portuguesa que o ignoraram até agora: vale não sei quantas vezes, tanto do ponto de vista noticioso quanto até mesmo do de audiências, aquelas esforçadas coisas nenhumas a respeito de Kim Kardashian...

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