02 dezembro 2016

LISBOA, AVENIDA DA LIBERDADE, NOVEMBRO DE 1942

Os livros de História assinalam que no mês de Novembro de 1942 os exércitos soviéticos executaram com sucesso a Operação Úrano, de que resultou o cerco das unidades do exército alemão que estavam engajadas na conquista de Estalinegrado. Mais perto de nós mas também ainda no quadro da Segunda Guerra Mundial, os mesmos exércitos alemães, executando por sua vez a Operação Anton, haviam ocupado militarmente a parcela da França que ainda se mantivera até aí autonomamente administrada pelo regime de Vichy. É com a consciência deste contrastes das sortes da guerra que se adiciona mais este contraste, o propiciado por esta fotografia, que apetece qualificar de bucólica (um bucolismo urbano), de uma Lisboa que, a uma primeira vista, se apresenta distante das convulsões que dilaceram a Europa. O distanciamento talvez, as consequências nem tanto. Estamos a ver uma das artérias mais concorridas da capital e não se vê um único automóvel em circulação - consequência mais do que provável do racionamento de combustível. E, quem for mesmo curioso, há de reparar que o filme em exibição no cinema Tivoli se intitula O Ídolo, com Gary Cooper, a história de Lou Gehrig, astro do beisebol, modalidade que por cá não tinha (nem nunca virá a ter) popularidade alguma. Portugal vivia sob uma prudente neutralidade. Aquilo que acabara de acontecer à França de Vichy era mais um reforço no sentido da precaução. Mas uma vistoria pelos filmes em cartaz em Lisboa (hoje isso seria qualificado como uma avaliação do soft power relativo das potências) desvendaria facilmente a que esfera de influência o país se submetia.

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