Tão incómoda quanto (mais est)a patranha acima de Marcelo é a veemência e amplificação que foi dada pelos animadores das redes sociais ao desmentido ali publicado por Jorge Silva Melo. Por um lado, Marcelo é Marcelo e a Jorge Silva Melo não conhecemos profecias que é este ano que Portugal vai ganhar o festival da eurovisão. Contudo, no universo distinto e discreto da cultura portuguesa, vai-se ler uma entrevista dada por Jorge Silva Melo vai para dez anos ao Expresso e, mesmo sem a escalpelizar, só com o cruzamento de alguns dados, identificam-se logo uma ou duas (pequenas) caneladas nos factos. Do género do próprio se descrever, com «pouco mais de 30 anos» (de idade, 1978+) e numa fase negativa da sua vida, a ansiar, «como única esperança do dia», «ver um programa da Teresa Guilherme ao fim da tarde» - programas esses que a RTP só começou a emitir uma boa meia dúzia de anos depois (1991)... Ora como tudo isso se passou vários anos depois da estreia da Cornucópia (1973), a memória de Jorge Silva Melo certamente não é assim tão infalível quanto ele a proclama... Aliás, alguém que faz a apreciação desculpabilizadora como ele a fez na referida entrevista a respeito de Vasco Pulido Valente*, é porque é pessoa que tem um relação elástica com a verdade; Vasco é o exemplo nacional da patranha culturalmente pretensiosa e alguém assim com uma memória tão infalível não o poderia passar em claro, como o fez com Marcelo... Assim, é apenas uma ironia deliciosa que a infalibilidade da memória de Jorge Silva Melo seja uma patranha (tão pequena ou tão grande) quanto o bilhete para a estreia da Cornucópia de Marcelo Rebelo de Sousa de há 43 anos. A diferença na sua detecção é que Marcelo está sempre a dizer (e a fazer) coisas...
* «A culpa é, aliás, um sentimento dos intelectuais portugueses. O Vasco Pulido Valente é o exemplo perfeito da pessoa que tem culpa e que, por isso, acha que está tudo errado. Se ele pudesse tinha melhorado isto, mas não é capaz porque só há senhores Silvas à sua volta».
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