30 agosto 2006

DETECTOR DE CAPITAIS

Não me lembro que se tenha devidamente evidenciado que os acontecimentos de 11 de Setembro também serviram, colateralmente, para pôr a nu a relativa inutilidade de um enorme e aparatoso dispositivo de segurança que durante 25 anos parece ter servido apenas para atormentar todos os que foram passageiros de avião.

Depois do zénite da época dos desvios de aviões, logo nos inícios dos anos de 1970, tornou-se evidente que seria necessário verificar previamente os pertences dos passageiros antes de entrarem na aeronave: nos grupos palestinianos que se evidenciaram naquela actividade só ninguém chegou a usar bazookas por falta de saco jeitoso para a acomodar…

Como parece ser costume nas burocracias, o bicho da segurança das aeronaves tomou o freio nos dentes e saiu em perseguição do canivete, da lima de unhas, da pistolazita de cow-boy do puto e do desgraçado que usava inserções de metal a mais nas suas calças de ganga e que acabava a via sacra do detector de metais humilhantemente de calças nos tornozelos…

Mas no dia em que verdadeiros profissionais quiseram desviar aviões (a 11 de Setembro de 2001) fizeram-no, e logo a quatro simultaneamente. A desculpa para o fiasco foi, como seria de prever, decalcada da dos Serviços de Contra Espionagem Britânicos (MI5)*: se aconteceu aquilo que aconteceu com o dispositivo instalado imagine-se o que teria acontecido se eles lá não estivessem…

É um absurdo argumentativo invocar e tentar refutar situações hipotéticas como essas. Ninguém poderá saber o que teria acontecido e por isso também ninguém o pode negar, a única certeza é que a segurança dos aparelhos acabou sendo prestada por serviços que se assumiam como profissionais para fazer frente a profissionais do terror, não apenas a desequilibrados que querem levar uma faca de trinchar perus para bordo e ameaçar a hospedeira… E aí, entre iguais, foi um fiasco!

Outra forma de defender esse fiasco das medidas de segurança aérea foi o recurso a outro absurdo, passando-se ao contra ataque, como se a censura fosse sobre todo dispositivo de segurança aérea (então não se faz nada?) e não sobre os seus excessos que, além de morosos e incomodativos, ainda por cima, se vieram a revelar completamente ineficazes. A polícia pode continuar a sua luta contra o crime sem abusos de autoridade de revistar traseuntes à discrição...

De resto, que o tradicional processo de revista exaustiva do passageiro que vai embarcar está bem próximo do ponto de ruptura, a ponto de tornar inviável o transporte aéreo, percebeu-se claramente este verão quando, depois do alerta da posse eventual de explosivos binários, o ritmo de verificação detalhado levou os passageiros em férias à beira do desespero e os aeroportos britânicos à beira do caos.

Como o passageiro ideal para a segurança (que embarcasse de tanguinha e sem bagagem de mão) é difícil de encontrar e mesmo perigoso para a (sua) saúde nos aeroportos escandinavos ou canadianos no pino do Inverno, as actuais medidas extremas de revista dos passageiros deverão vir a ser gradualmente abandonadas, provavelmente com muito menos espavento do que o usado quando foram anunciadas…

Não parece, mas nem era propriamente da segurança de aviões que pretendia falar, mas sim de medidas excessivas e desapropriadas de segurança. Por coincidência, em dois dias seguidos, desloquei-me a duas agências bancárias de entidade distintas onde tenho conta. Nas duas – é preciso azar – aproveitaram a minha presença para preencher uma ficha (enorme!) segundo as normas que o Banco de Portugal (BP) está a impor – informaram-me.

Para além do ligeiro incómodo de quem está contar resolver um problema e acaba a perder tempo a resolver outro que nem sabia que existia, os campos a preencher na tal ficha que fará o regalo do BP descambaram das trivialidades (nome, morada, número de contribuinte), que eu suponho que já lá devem estar há muito tempo, até outras que eu considero de resposta facultativa (profissão, entidade patronal, rendimentos anuais).

Em conversa com o gerente do segundo banco - já trazia balanço da chatice do primeiro... - que, ao princípio e por distracção, até achou imensa piada ao meu pedido recíproco de informações (nome, idade, morada e rendimentos anuais de todos os membros do Conselho de Administração do banco…) fiquei a saber que estas directivas do BP, para além de virem a chatear toda a gente que tem conta bancária, se destinam a combater o chamado branqueamento de capitais.

A ser verdade, pulo de impaciência a imaginar o volume de todos aqueles capitais que emergirão a embranquecer depois de se completar o preenchimento daqueles impressozitos… Mas o meu ar devia ser o mesmo com que costumo depositar as chaves no chaveiro ao lado do detector de metais, rezando para que aquela merda não desate para ali a apitar…

* O MI5 britânico não conseguiu descobrir a existência de diversos agentes infiltrados nos seus serviços secretos e diplomáticos que espiavam para a União Soviética: Kim Philby, Donald Maclean, Guy Burguess, Anthony Blunt e John Cairncross, conhecidos colectivamente como os Cinco de Cambridge.

2 comentários:

  1. Que falta de originalidade tem o Banco de Portugal!
    Circula na "Net" um inquérito (creio que semelhante...) com pseudo-origem na CGD, escrito em luso-romeno e produzido por uma equipa de vigaristas.
    CUIDADO!!!!

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  2. Já cá chegou esse inquérito e, como já li a alguém aqui na blogosfera, está tão mal redigido que, se alguém o levar a sério, é porque merece ser enrolado...

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