Em toda a polémica que rodeia o fenómeno dos famosos Objectos Voadores Não Identificados (OVNIS), sempre me deixou surpreso pelos terrenos onde se disputava a polémica: se existiriam ou não e, à falta de provas materiais para sustentar esse fogo sagrado, a descomunal teoria da conspiração com que os defensores da sua existência têm mantido a sua causa.
O que me surpreende nem é a própria questão nuclear em si (se existem ou não), é a falta de imaginação dos grupos que argumentam pela existência de OVNIS têm demonstrado na defesa da causa. Parece que entre as características assentes dos tripulantes dos tais ovnis se contam uma origem extraterrestre, um aspecto humanóide, uma tecnologia avançada, uma enorme discrição e uma bondade imensa para com a nossa espécie.
Não me parece um prodígio de imaginação especular que os referidos tripulantes poderão ser viajantes terrestres do futuro que, depois de dominaram a tecnologia das viagens temporais, nos visitassem. Com essa hipótese, tudo se explicaria: o aspecto humanóide, a tecnologia avançada, a discrição das suas visitas – não querem alterar o seu passado – e a sua bondade – é a sua espécie.
Estivesse esse debate lançado com algumas bases científicas e esta hipótese (embora nunca a tenha visto, não tenho qualquer pretensão de ter sido o primeiro a pensar nela…) seria discutida com toda a seriedade. Mas presumo que a esmagadora maioria dos que se interessam pelo fenómeno encaram-no pelo lado religioso, para quem a questão da origem extraterrestre do mesmo é fundamental.
Em suma, para efeitos de propaganda mediática, se não fossem extraterrestres, se não fossem seres superiores com poderes (tecnológicos) sobrenaturais e se não houver a vitimação de uma enorme conspiração governamental para os esconder do público, o fenómeno dos OVNIS nunca gerará a religiosidade necessária para provocar as adesões à sua causa.
Ontem, também em termos de propaganda mediática, assistimos a algo de muito parecido a isso, quando o Hezbollah organizou uma reportagem televisiva devidamente filmada da tradicional forma acrítica pela equipa de reportagem, mostrando a forma eficiente como já está a prestar o seu apoio aos desalojados pelo conflito, concedendo-lhes subsídios à sua reinstalação.
O subsidiado (um espontâneo que acabou o discurso a agradecer e a encomendar Nasrallah…), depois de nos informar que se tinha inscrito há dois dias, aparece a receber um maço de notas verdes (dólares norte-americanos…) que a locução nos informa corresponder a cerca de 10.000 euros e que se destinam ao aluguer de um apartamento em Beirute, cujo valor mensal médio ronda os 230 dólares*.
Um dos responsáveis (presumivelmente pelo sector financeiro) do Hezbollah, depois entrevistado, afirmava confiante para a câmara, que o dinheiro não era problema (seria por isso que pagariam o subsídio todo logo ao princípio e em notas americanas?), enquanto a reportagem continua a mostrar um apartamento onde se distribuía dinheiro com a mesma sofisticação tecnológica da nossa saudosa Dona Branca…
Reconheço que é muito difícil para o Hezbollah dar relevância televisiva à concessão de subsídios. Normalmente, trata-se de um processo chato, burocrático, discreto, vagaroso, com muito papel e pouco que valha a pena filmar – a não ser quando algum agricultor mais atrevido converte o seu subsídio num jeep mais vistoso! Ali, fez-se o que se pôde, usando os maços de notas americanas – claro que as notas libanesas ninguém conhece…
Mas, tal como o problema dos OVNIS sem origem extraterrestre, sem a cobertura televisiva para o Ocidente da magnanimidade do Hezbollah, esta não terá servido para nada. E aqui acaba a analogia: o assunto dos OVNIS é uma daquelas trivialidades típicas das notícias da época de verão; o do Hezbollah não, e, ao assistir à transmissão da reportagem de ontem, parece que quem lida com as notícias não sabe dar pela diferença…
* Se fosse para levar a reportagem a sério, então, como consequência, o preço médio do aluguer de um apartamento em Beirute iria disparar, tanto por escassez da oferta como por pressão da procura de casas para alugar, havendo tanta gente com os bolsos cheios de dólares à sua procura.
ADENDA: Uma boa prova do equilíbrio (de saudar) do Público em relação à questão libanesa, apesar do engajamento ardente do seu director pelo lado israelita, comprova-se na página 14 de hoje (dia 19) do jornal. Lá aparece a versão para jornal (não assinada) da reportagem televisiva comentada neste poste.
O que me surpreende nem é a própria questão nuclear em si (se existem ou não), é a falta de imaginação dos grupos que argumentam pela existência de OVNIS têm demonstrado na defesa da causa. Parece que entre as características assentes dos tripulantes dos tais ovnis se contam uma origem extraterrestre, um aspecto humanóide, uma tecnologia avançada, uma enorme discrição e uma bondade imensa para com a nossa espécie.
Não me parece um prodígio de imaginação especular que os referidos tripulantes poderão ser viajantes terrestres do futuro que, depois de dominaram a tecnologia das viagens temporais, nos visitassem. Com essa hipótese, tudo se explicaria: o aspecto humanóide, a tecnologia avançada, a discrição das suas visitas – não querem alterar o seu passado – e a sua bondade – é a sua espécie.
Estivesse esse debate lançado com algumas bases científicas e esta hipótese (embora nunca a tenha visto, não tenho qualquer pretensão de ter sido o primeiro a pensar nela…) seria discutida com toda a seriedade. Mas presumo que a esmagadora maioria dos que se interessam pelo fenómeno encaram-no pelo lado religioso, para quem a questão da origem extraterrestre do mesmo é fundamental.
Em suma, para efeitos de propaganda mediática, se não fossem extraterrestres, se não fossem seres superiores com poderes (tecnológicos) sobrenaturais e se não houver a vitimação de uma enorme conspiração governamental para os esconder do público, o fenómeno dos OVNIS nunca gerará a religiosidade necessária para provocar as adesões à sua causa.
Ontem, também em termos de propaganda mediática, assistimos a algo de muito parecido a isso, quando o Hezbollah organizou uma reportagem televisiva devidamente filmada da tradicional forma acrítica pela equipa de reportagem, mostrando a forma eficiente como já está a prestar o seu apoio aos desalojados pelo conflito, concedendo-lhes subsídios à sua reinstalação.
O subsidiado (um espontâneo que acabou o discurso a agradecer e a encomendar Nasrallah…), depois de nos informar que se tinha inscrito há dois dias, aparece a receber um maço de notas verdes (dólares norte-americanos…) que a locução nos informa corresponder a cerca de 10.000 euros e que se destinam ao aluguer de um apartamento em Beirute, cujo valor mensal médio ronda os 230 dólares*.
Um dos responsáveis (presumivelmente pelo sector financeiro) do Hezbollah, depois entrevistado, afirmava confiante para a câmara, que o dinheiro não era problema (seria por isso que pagariam o subsídio todo logo ao princípio e em notas americanas?), enquanto a reportagem continua a mostrar um apartamento onde se distribuía dinheiro com a mesma sofisticação tecnológica da nossa saudosa Dona Branca…
Reconheço que é muito difícil para o Hezbollah dar relevância televisiva à concessão de subsídios. Normalmente, trata-se de um processo chato, burocrático, discreto, vagaroso, com muito papel e pouco que valha a pena filmar – a não ser quando algum agricultor mais atrevido converte o seu subsídio num jeep mais vistoso! Ali, fez-se o que se pôde, usando os maços de notas americanas – claro que as notas libanesas ninguém conhece…
Mas, tal como o problema dos OVNIS sem origem extraterrestre, sem a cobertura televisiva para o Ocidente da magnanimidade do Hezbollah, esta não terá servido para nada. E aqui acaba a analogia: o assunto dos OVNIS é uma daquelas trivialidades típicas das notícias da época de verão; o do Hezbollah não, e, ao assistir à transmissão da reportagem de ontem, parece que quem lida com as notícias não sabe dar pela diferença…
* Se fosse para levar a reportagem a sério, então, como consequência, o preço médio do aluguer de um apartamento em Beirute iria disparar, tanto por escassez da oferta como por pressão da procura de casas para alugar, havendo tanta gente com os bolsos cheios de dólares à sua procura.
ADENDA: Uma boa prova do equilíbrio (de saudar) do Público em relação à questão libanesa, apesar do engajamento ardente do seu director pelo lado israelita, comprova-se na página 14 de hoje (dia 19) do jornal. Lá aparece a versão para jornal (não assinada) da reportagem televisiva comentada neste poste.
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