08 agosto 2006

TRATADO SOBRE A ROBUSTEZ

Deus quer, o Homem sonha, a Obra nasce.
Fernando Pessoa

Segundo os desejos de Deus, o mesmo Deus que é invocado repetidamente pelo homem sonhador, que acontece ser actualmente o homem mais poderoso do nosso Mundo, a obra prometida acabou por não nascer e o Iraque livre e democrático acabou por não acontecer.

Ontem, o mesmo sonhador preconizou o envio de uma força de interposição robusta para separar os contendores no Líbano. Já conhecendo a ideia, que já havia sido adiantada em alguns jornais, pus-me a especular sobre as intenções do sonhador ao invocar a robustez da dita força.

Será um expediente para, dada a escassez de contingentes militares de qualidade disponíveis para integrar a referida força, forçar a participação norte-americana (tida por demasiado facciosa) no Líbano? Mas os norte-americanos estão aflitos para manter o mesmo nível de efectivos no Iraque… Onde arranjariam os do Líbano?

Mas retive sobretudo a expressão robusta. Interpretei-a como um qualificativo quer da quantidade, quer da qualidade dos integrantes da força. Registei também o desejo que eles possuíssem uma outra atitude em relação aos beligerantes no terreno, disponíveis para os sancionar em caso de incumprimento.

Pressuponho que estas definições foram utilizadas para desencorajar os tradicionais países habituados a viver das subvenções dos soldados capacetes azuis (Bangladesh ou as Fiji). Mas gostei de ouvir a expressão robusta porque a associei, não sei bem porquê, aos robustos lutadores de sumo, o desporto japonês.

Como nos combates de sumo, as forças de imposição de paz precisam sempre de uma coreografia preparada – a disposição das partes em as aceitar – a partir da qual devem actuar. Esquecer isso, é imaginar um lutador de sumo, mesmo muito robusto, que se depara de repente com um boxeur: arrisca-se a acabar mal…

1 comentário:

  1. Há sempre a possibilidade do Sr. Bush não saber o que significa "robust"... tenho sinceras dúvidas que saiba escrever a palavra...

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