03 novembro 2010

AS VANGUARDAS DO PROCESSO REVOLUCIONÁRIO EM TRÊS CARTAZES DE ÉPOCA

Vladimir Lenine estabeleceu categoricamente que a classe operária precisaria de uma vanguarda que a conduzisse pelas vicissitudes da Revolução e que decidisse por ela quando das grandes decisões. Ora os portugueses são genética e sociologicamente mais propensos a mandar palpites do que a escutá-los, o que resultou que a nossa Revolução, que durou de Março a Novembro de 1975 e que ficou mais conhecida por Processo Revolucionário Em Curso (PREC), se tornasse conhecida por ser riquíssima em vanguardas mas paupérrima em retaguardas. Analisemos então essas vanguardas esclarecidas em cartazes de época:
Havia a vanguarda clássica do marxismo-leninismo pró-soviético. Neste cartaz acima, por entre a multiplicação de siglas (na parte de baixo) que se produzira durante o PREC, o Partido Comunista Português (PCP) podia aparecer em diversas encarnações: a original, a da Bayer como a Aspirina, uma herança de uma comissão eleitoral formada por eles expressamente para eleições ainda durante o Estado Novo (MDP/CDE), os resquícios de uma tentativa comunista de conquistar por dentro o Partido Socialista (FSP) e uma versão da coisa para intelectuais e católicos progressistas (MES). Lembro-me de quem os chamava por PC1, PC2, PC3 e PC4.
Seguiam-se as vanguardas representadas por organizações como as do cartaz acima, no caso do PRP-BR, mas que incluíam, além da de cima, uma miríade de outras siglas, em quantidade superior às quatro do primeiro cartaz, e em que até apetece dizer que haveria casos onde as siglas teriam mais letras que membros da sua vanguarda… Variadas e dispersas (i.e., nada de centralismos democráticos…), havia um denominador comum nessas vanguardas que, sem hesitações, assumiam a frontalidade de um Baptista Bastos (acima): eliminado o fascismo, para quê andar a perder tempo com eleições burguesas? Poder Popular! Outro nome para rebaldaria.
Finalmente havia os membros de uma terceira vanguarda que se ia inspirar ao maoismo e por isso manifestava assim uma reverência bizarra pela figura do seu líder, sem mostrar acolhimento às famosas críticas produzidas pelo XX Congresso do PCUS sobre o culto de personalidade. Como se lê acima, esse timoneiro dessa vanguarda (Arnaldo Matos) não só dirigia como educava o proletariado português… Porém, contas burguesas feitas a tanto vanguardismo, nas eleições legislativas de Abril de 1976, as primeiras em que todas estas formações políticas puderam concorrer, elas obtiveram respectivamente e apenas 15,7%, 2,1% e 1,2% dos votos populares...

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