24 novembro 2010

AS TRÊS UTOPIAS

Esta sobreposição da colagem dos cartazes esquecidos numa anónima parede de um dos prédios de Lisboa, tal qual ela se apresentava no Outono de 1975 podia contar, para quem a quisesse e pudesse entender, como fora a sucessão de utopias para onde Portugal se vira arrastado nos últimos dois anos. No fundo de tudo estava um cartaz já muito envelhecido e rasgado, de que apenas nos apercebemos do título – Moçambique – mas que podemos apreciar melhor na fotografia abaixo, datada do próprio dia 25 de Abril de 1974, cerca de dezoito meses antes…
Praias de Sol, Praias de Sonho. Era o que se podia ler no rodapé de uma fotografia encenadamente multirracial numa campanha de promoção ao turismo pluricontinental, enquanto os soldados do lado esquerdo da fotografia acima se preparavam para pôr fim a essa utopia… Às praias de Moçambique da nossa parede anónima, sobrepunha-se um cartaz onde se podia identificar uma cara de um velhote com uma castiça expressão popular. Era um cartaz do PCP afixado por ocasião das eleições da Assembleia Constituinte, cerca de seis meses antes...
Por nós e por ti, Vota PCP, junta a tua à nossa voz. Porém, a esmagadora maioria do povo português não juntou a sua voz à dos comunistas naquelas eleições e com isso a utopia de uma revolução socialista em Portugal também deveria ter desaparecido. Só que houve quem não o quisesse compreender assim… e as frases do cartaz seguinte já se podem ler directamente na fotografia e dizem: revolução socialista, PRP-BR, armar, armar. Estava-se no prelúdio de uma última utopia, a de quem queria usar as armas para se impor como intérprete da vontade popular...

Estava-se nas vésperas do dia 25 de Novembro de 1975...

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